
CAPÍTULO I
"Nós enxergamos tudo num espelho,
obscuramente. Às vezes conseguimos espiar através do espelho e ter uma visão de
como são as coisas do outro lado. Se conseguíssemos polir mais esse espelho,
veríamos muito mais coisas. Porém não enxergaríamos
mais a nós mesmos. Jostein Gaarder".
Posso começar a falar? Obrigado. O medo levou o
homem ao encontro de Deus para ajudá-lo a enfrentar os seus monstros,
imaginários ou não, apenas com a sua fé, tanto é que bastou ele saber de sua
coragem para ir de encontro a Deus e achar que por si só aniquilaria todos os
seus monstros. Há monstros que mesmo destruídos permanecem em nós, como se a
maldade que nos fizeram quisesse se revelar através de nossos atos. É por isso
que estou aqui, querendo o seu perdão para aniquilar de uma vez o meu monstro,
antes que ele toma conta de mim. Quem é o meu monstro? Eu o chamo de Demônio. Só
pronunciar o seu nome me vem uma vontade de arrancar a pele do meu corpo, assim
eliminaria as manchas maculadas por ele. Licença, preciso sair agora, limpar
minhas mãos, os meus dedos, pois a vontade que eu tenho é de cortá-los. Por
quê? Ele usou os dedos para entrar em mim. Quem? O meu monstro, o Demônio. Tudo
bem, usarei o banheiro. À direita?
A água estava quente. Melhor assim. Limpou
as sujeiras embaixo da epiderme, e essas são as piores, maculam até a alma. Sabe,
as pessoas trocaram o confessionário pelo divã achando que uma analise
psicológica dos seus problemas destravará os caminhos da mente, mal elas sabem
que o demônio já os conhece muito bem, até os seus desvios. Sabe, Padre, o mal
da humanidade é a falta de fé, a total descrença em Deus, é achar que a solução
para as suas doenças, seja física ou psicológica, está somente em uma ciência. O
homem se acha Deus de si mesmo. Sim, Padre, eu acredito em Deus. Sim, estou
aqui para confessar os meus pecados.
Sabe, Padre, às vezes duvido que o homem seja
uma criação divina, ele parece mais uma obra do diabo. Olha em nossa volta, a
perfeição na natureza. As plantas não precisam daquilo para... Não, Padre, só
de ouvir essa palavra me dá nojo. Então, as plantas não precisam daquilo para
se multiplicar, elas são Deus em essência. Enquanto o homem vive por e para
aquilo, os animais irracionais só fazem aquilo quando estão no cio, apenas para
a sua multiplicação. Por que eu tamborilo o dedo médio na mão quando falo
daquilo? Foi com o dedo que o Demônio entrou em mim, Padre. Se ele fez aquilo
comigo? Sim. Sim, ele fez sexo. Desculpa, Padre, eu vou vomitar. Eu sei, à
direita, não macularei o chão da sua Igreja.
Minha mãe? Ela ganhava dinheiro fazendo uso
daquilo. Sim, Padre, ela era prostituta. A desgraçada... Desculpa, não falarei
mais palavrão. A minha mãe me abandonou
em uma caçamba de lixo. Me responda, Padre, pode haver Deus em uma pessoa
assim? Não, Padre, nós não somos uma extensão de Deus, as pessoas não são assim
por não exteriorizar o Deus em si, por deixá-Lo interiorizado. Não, Padre, elas
não sente a presença de Deus em todas as coisas, mas somente em si e se acham
onipotentes. Deus, para elas, inicia e encerra em si. Eu? Como eu sinto Deus? Deus,
Padre, para mim, está em tudo, até numa simples formiga que leva uma folha para
o formigueiro, pois, aquela folha será para o proveito de todas. Deus é isso,
Padre, a liga que nos une ao todo, a uma só corrente, sem distinção dessa ou
daquela espécime, sem individualismo, sem um querer ser maior do que o outro,
por que grandeza só há uma, a de Deus. Por que eu estou chorando? Me sinto um
elo quebrado dessa corrente. Esperança? Padre, é o que mais tenho desde os
cinco anos. Quantos anos eu tenho agora? Vinte e cinco.
Não, Padre, uma mendiga me achou pensando
que eu era algum alimento... Engraçado, né? Quando viu que eu era um
recém-nascido, ela me deixou na primeira porta que encontrou. Isso mesmo, na porta
do prostíbulo. Noutro dia, após ser abandonado em uma caçamba de lixo, eu
voltei para os braços da minha mãe. Se tivesse que escolher, preferia ter
permanecido no lixo. Quando completei cinco anos, ela casou com um cafetão, o
Demônio. Posso descansar um pouco, Padre?
Continua
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Continua
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
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Olá!
ResponderExcluirGostei muito do texto.
Você é escritor?
Passando para deixar um excelente domingo e um bom descanso merecedor.
Quando nos visitar, aproveita para votar em nosso Livro Revelação:
http://clubnovosautores.blogspot.com/p/promocao-livro-revelacao.html
Precisamos muito do apoio da população brasileira como incentivo à literatura nacional.
Um grande beijo!
Esse foi um dos textos que mais me abalou ao escrevê-lo, tentei abandoná-lo várias vezes, mas ele urgia dentro de mim, necessitava ser parido. Por ser um conto longo, espero que todos chegam até o final da história, é um dos melhores final que dei a uma história. Valeria passar novamente pela angústia que passei para escrevê-lo, somente pela satisfação do final. Boa leitura a todos.
ResponderExcluirObrigada pela visita e participação!
ResponderExcluirVolte sempre!
Um beijo.
Oi, Eder, o conto está muito interessante, aguardo a próxima parte. Valeu, bjos ;)
ResponderExcluirEder, obrigada pela retribuição da visita lá no blog.
ResponderExcluirSobre seu post, sinceramente esse assunto que vc irá tratar no blog me abala muito, pois na minha infância eu fui tentar ler "a cor púrpura" (não sei se conhece) e a partir de então, tomei um ódio grandiso rsrs. Espero consegui chegar ao final da história e não abandonar como fiz com o tal livro.
Uma ótima semana :)
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http://e-raumavez.blogspot.com
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ResponderExcluirÉ uma história forte, que consegue mexer com a emoção...Gosto das especulações através da alma... Mostra-nos os conflitos que muitas vezes, tentamos "fazer dormir"... Voltarei, querido Eder, para ler a continuação... Beijos de luz e carinho!
Zélia(Mundo Azul)
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Olá, agora fiquei curiosa,rsrs o conto prendeu a atenção desde a primeira frase. Muito bem escrito.
ResponderExcluirJá tenho um conto muito longo escrito, então acho que vou aproveitar tua idéia e dividi-lo em partes...
Beijos
Que texto forte! São nossas histórias que nos fazem enxergar a vida desse ou daquele jeito...Mas perder a fé e a esperança, sem dúvida, me parece o fim da linha. Vou aguardar ansiosa o próximo capítulo. Um abraço!
ResponderExcluirUma história forte....
ResponderExcluirAguardando a continuação.
Abraços
...eu fico aqui imaginando o desenlace
ResponderExcluirdesta trama que a tantos se assemelha,
nos corredores da vida.
fico só de butuca pra seguir...rs
bj, meu querido!
Adoro ler algo sabendo que haverá continuidade, já estou com minha imaginação a mil aqui...rsrs.
ResponderExcluirSei escrever contos não, mas adoro ler.
Aguardando a continuação.
A história é atraente.
:)
Beijos.
Oi Eder...
ResponderExcluirUm conto que prende nossa atenção...Gostei muito...voltarei para saber o desenrolar dessa história...Ótima Semana!
Beijos!
San...
forte demais...deixar uma criança...e todo o resto...eu mtas vezes duvido de Deus..
ResponderExcluirum forte abraço
Eder,
ResponderExcluirAgradeço a dica quanto ao ter abreviado a palavra "você" no meu conto lá no meu bloguinho.
E olha que eu li otexto várias vezes antes d e publicar e mesmo assim nem percebi.
Essa mania que a gente pega da net, tampa até a visão,rs.
Já consertei lá!!
Muuito obrigada!!! =)
Abraços
Todos precisamos de ajuda em algum momento da vida e seu personagem dessa narração procurou alguém que hoje em dia anda muito menos procurado e tanto menos preparado.Sim é crítica,não a você,mas aos confessores modernos sem vocação . Vou tentar seguir o enredo até o fim.
ResponderExcluirQuando colocamos à tona as nossas dores intimas, quanto questionamos Deus, a ponto de sentirmos transtornos emocionais, psicológicos e espirituais... desse assunto há de se sair algo doloroso e intenso.
ResponderExcluirVocê é meu escritor (sou egoísta..rs), tua escrita me cativa, como sempre, bom saber que tenho contato com você.
Um dia terei livro teu em minhas mãos, ah acredito sim!..rs
Beijo Eder, desculpe a ausência, loucuras de Sampa e vida.
Olá, Eder! Passei novamente aqui para convidá-lo a participar de um Meme, é uma brincadeira entre blogueiros sobre perguntas e respostas, e eu indiquei você. Se não quiser fazer não tem problema, se o fizer, não deixe de me avisar para que eu possa conferir as respostas. Um abraço!
ResponderExcluirPosso descançar um pouco? Sim, estamos todos esgotados, de um jeito ou de outro. O sofrimento mesmo que do outro esgota a todos. Haveremos de resistir = re-existir. Nós podemos. E ofereceremos, onde estivermos, com quem estivermos, um abraço de descanço para todo mundo.
ResponderExcluirValeu!
Eder querido
ResponderExcluirterminei de ler doendo inteira, pensei não vou acompanhar este, subi lendo os comentários até que cheguei no seu, se você sofreu e persistiu, persistirei nem que seja sofrendo,acho que nossos fantasmas precisam ser encarados para serem exorcizados. A dureza do texto ressalta ainda mais a sua imensa qualidade como escritor, a genial estruturação de texto que você cria, prendendo-nos até quando queremos sair correndo, impossível não te ler, Eder.
Ps: Se vier a inspiração do esquadrinhar os homens com o olhar e congelar gestos e cenas, vou gostar muito rsrs, invente história, é o que você sabe fazer melhor que ninguém.
Beijos
OI EDER!
ResponderExcluirPRIMEIRA VEZ AQUI, LI O PRIMEIRO CAPÍTULO, VOU VOLTAR PARA LER O SEGUINTE.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com/
Olá, Éder! Texto emocionante, que me envolveu durante a narrativa. Parabéns! Abraço!
ResponderExcluirBom dia. Eder,
ResponderExcluirNossa! fiquei gaga quando li o trecho, menino você não está escrevendo só um retalho, é a colcha inteira. Bendita sensibilidade, abençoada percepção, santa inspiração.
Um beijo
Existem monstros que nem a psicologia, nem a fé, conseguem fazer esquecer. Podemos resignificá-los, tentar torná-los menos monstros, mas eles sempre retornam, sempre se fazem vivos.
ResponderExcluir(meu comentário não era assim, mas não lembro tudo que disse)
beijo
Olá Eder!
ResponderExcluirLi e reli, esta bela narrativa, que faz parte de muitos seres,que vivem dias e dias, tentando destruir os monstros que conseguiram se instalar na alma destes... Prometo voltar! Para ler o que ainda tens a nos revelar. E assim,enteder melhor á alma deste excelente escritor.
Abraços
Oi Mano! Comecei a ler o conto agora. Já me pegou, aliás como todos os seus textos. De início já dá para compartilhar as voltas no estômago que a personagem descreve no começo da confissão. Vou ler os capítulos já publicados na sequência agora, para ir relatando o que fui sentindo e pensando a cada um deles! Parabéns! Beijos, Deia.
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