Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

sábado, 30 de novembro de 2013

Cosedura



   Não sei se é  a vida que costura parte de nós para formar o todo ou se são pessoas de nosso convívio que alinhavam essas partes para que possamos  dar o acabamento. Creio na segunda afirmativa,  assim, a peça toda, com defeito ou não,  será fruto de nossa costura. 
   Foi na opulência que o molde do meu todo foi forjado. Nessa época, o ter só meu deu agulha e linha para a costura, mas foi a solidariedade dos meus pais que guiaram as minhas mãos para a cosedura. Após sair da opulência, perdendo a agulha e a linha, a costura continuou sendo feita baseada na mesma solidariedade. 
   Minha mãe, que nunca havia trabalhado, tendo uma empregada doméstica e uma babá, se viu - após a falência do meu pai - obrigada a uma dupla jornada exercendo a profissão de costureira para ajudar no orçamento familiar e cuidando dos afazeres domésticos. 
   Minha mãe tem um positivismo de causar inveja, talvez isso foi imbuído em seu ser para a nossa própria sobrevivência. E foi o que nos salvou. Meu pai, a princípio, deixou-se abater pela falência de sua panificadora,  ela, tomando rédeas da situação, pedalou literalmente os nossos destinos. 
   Quando olho o pedestal da velha Singer, comigo para que eu não esqueça como o meu todo foi costurado, vejo minha mãe pedalando a máquina de costura para ganhar os primeiros trocados e alimentar de pão - outrora feito pelo meu pai - a família. 
   Aos poucos ela foi crescendo e eu a seguia. Quando me dei conta, ela já tinha três máquinas industriais  de bordar, outras de costurar e eu,   aos treze anos, ajudando-a ora em uma máquina de bordar, ora em uma de costura. Bordamos e costuramos durante muito tempo vestido de noiva para as lojas da Rua São Caetano no centro velho de São Paulo. 
   Foi nessa época que ela me deu uma lição de vida inesquecível. Um dia lhe cobrei explicação por que ela, além de ensinar outras pessoas a bordar e costurar,   passava clientes e emprestava uma das máquinas sem nada cobrar. Essa foi a sua resposta: “Por que é da minha natureza ajudar os outros, e se chegamos até aqui foi por que fomos ajudados, aprenda isso”. 
   Eu tenho uma imagem da minha mãe que é símbolo de toda a sua maternidade. Meu irmão mamou até os seis anos de idade, e ela, impossibilitada de largar a máquina, pois haviam muitos pedidos, amamentava-o enquanto bordava. 
   Hoje, aos setenta e seis anos continua ativa, em uma cooperativa de artesanato vendendo suas peças e ajudando os outros. 
   Sinto como se fôssemos o mesmo espírito dividido em corpos diferentes, ela em grau evolutivo muito acima de meu. Sem ela não teria costurado o meu todo, pois alem de dar agulha e linha, foi mão principal para o alinhavo. 

Imagem de arquivo



domingo, 24 de novembro de 2013

Herói sem livro



   Fui introduzido na leitura pelo padeiro da panificadora do meu pai ainda na infância. Contumaz leitor de livros de bolso de bang e bang, ele me mostrou um mundo onde não se confundia os vilões com os mocinhos e vice-versa, tão diferente do mundo real por ser da natureza do homem a vilania e a hombridade no mesmo ser. 

   Costumo dizer que o meu pé não é de laranja lima, mas de amêndoas. Antes mesmo de conhecer as letras e o fascínio que elas exerceriam sobre mim, foi através da audição que um mundo fantástico foi me apresentando pelo meu avô. Nas tardes quentes do verão baiano, ele trazia o seu tamborete de jacarandá com assento de couro de vaca, colocava-o sobre a sombra do pé de amêndoas em frente da panificadora do meu pai, chamava-me e pegando-me pelos braços, colocava-me em seu colo para em seguida me apresentar personagem cuja bondade incutiu em mim a crença no ser humano, pois, mais do que ninguém, ele fazia de seus heróis pessoas comuns.  Meu avô desencarnou em 2001 aos 94 anos, deixou como herança o seu tamborete, mas riqueza maior ele deixou incutida em minha alma, e é tão forte que o sinto vivo, passando com seu jeito simples os seus ensinamentos, até os dias de hoje. 

   Nas visitas que faço na casa dos meus pais no interior de São Paulo, sinto como voltando ao passado, pois a minha família sempre será o meu ninho, o meu refrigério. Quando meu pai pegou o tamborete e colocou ao lado da rede que eu estava deitado com o meu filho e me disse que se arrependia de ter saído da Bahia, mas o que lhe confortava era que nós, os seus filhos, não seríamos o que somos hoje se na Bahia permanecêssemos. Percebi em sua voz uma tristeza incontida e nos seus olhos perdidos no horizonte uma tentativa de encontrar-me criança tendo-o como herói.  Da mesma forma que veio, ele se foi,  levando o tamborete e entrando na casa. Vi naquele gesto um pedido de desculpa por ter destruído os sonhos dos seus filhos. 

   Eu estava construindo os meus sonhos e não usava apenas areia e água, mas também tijolo, cimento e cal. Quando a panificadora do meu pai, em Brasília, faliu, não apenas implodiu os meus sonhos, desestruturou a família de seis filhos, pois ela foi dividida ao meio, metade voltando para a Bahia, a outra metade, meus pais, eu e duas irmãs mais velhas, indo se aventurar em São Paulo. Foi nesse momento que o meu herói passou a ser vilão, e humano. 

   O meu vilão, semianalfabeto, foi trabalhar de servente de pedreiro na construção civil, estudou, fez curso de mestre de obra e exerceu essa profissão até se aposentar. Estruturou a família,  construiu a casa da maioria dos filhos. Homem de mão forte, meu pai, nunca deixou de enfiar as mãos na massa para dar alimento para o corpo com o pão, para a alma com os livros comprados, e, aos quarenta e cinco anos, enfiou as mãos na areia, cal e cimento para dá guarida. 
   O meu pai é um herói que não está nos livros. 





sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sobre pratos e sob lençóis


                                                      Imagem Getty images

Eles formavam um casal que no século passado era chamado de par perfeito. Anelados há meio século, amam diferentes dos casais do século atual, com pudores e amores. 
Ele engabelava-se tanto com o cozido de sua esposa, carne suculenta servida em pratos da mais pura porcelana chinesa, mexida e remexida em talheres de prata, satisfazendo o seu paladar; quanto com outras partes de carne untadas em cremes importados, mexidas e remexidas sob lençóis lavados com fragrâncias florais, satisfazendo as suas concupiscências.

Quer saber o final dessa história, clique AQUI, curta a minha página no Facebook, ou então curta a minha página no Google+ clicando  AQUI.

Deixo também o link da minha página na Amazon Kindle para quem quiser adquirir os meu E-books, clique AQUI

Palavras mortaisInimigo meu

Leia a opinião de quem já comprou e leu.

''Uma característica marcante do autor Eder Ribeiro, velho conhecido por suas crônicas, é levar o leitor consigo em suas tramas sempre criativas. Pois eis que seu primeiro ebook vem corroborar isso! Gostei muito, e avalio com o incentivo máximo. - Por Célia Lima''.

sábado, 9 de novembro de 2013

Aquele quarto

   
  Ninguém havia me falado qual era a linha que separava o sonho da realidade, porém, quando atravessei essa linha não estava preparado para sair de uma e entrar na outra. 

   Meu pai foi um grande fabricador de sonhos, aprendera com o meu avô a arte de fabricar barcos e navegá-los pelos rios Grande, São Francisco e Preto transportando mercadorias, contudo, foi quando aprendeu a arte da panificação que os sonhos se realizaram.

   Vivíamos na casa dos sonhos, enorme, ia de uma rua a outra. Na Rua Desembargador Montenegro ficava a entrada da casa e na Rua paralela, Sete de Setembro,  ficava a entrada da fábrica de sonhos, a panificadora do meu pai. E existia um corredor enorme que ligava a casa a fabrica, aquele corredor, cujos rastros, meu e de meu pai, passados quarenta anos, ainda devem permanecer nele se ele ainda existir. São passos indo, primeiro do meu pai, na madrugada,  para a fábrica e depois os meus seguindo-o para em seguida só os dele, pois ele me pegava no colo e me colocava na rede, armada com esse intuito, no salão da fábrica. Tentando driblar o sono, eu via uma névoa branca provocada pelo trigo cobri-lo na feitura da massa do pão e, antes de homem-aranha, super-homem e batman, ele se transformou em meu super-herói. Os passos de volta eram somente dele, pois eu ia dormindo em seu colo. Enquanto a massa do pão descansava para a fermentação, seu corpo descansava também para se preparar para a segunda etapa de sua lida. Amanhecia, e dessa vez, íamos de mãos dadas para fábrica. As suas mãos amassavam a massa, cortavam-na e enrolavam-na para o ultimo descanso e, enfim, ir ao forno à lenha, enquanto as minhas esperava a assadura da massa para prover do bom alimento. 

   As mãos, aquelas mãos, que tão bem sabiam fazer o pão, abriram as portas de nossa casa para a parentela estudar na melhor escola de nossa cidade. Aquelas mãos, que tão bem deram o pão ao corpo,  deram os livros para deleite da alma, sem nem mesmo conhecerem bem as letras. 

   Aquelas mãos, benditas mãos, com o suor de sua lida construíram um quarto acima do telhado de nossa casa e o encheram de livros e revistas. Era lá que meu pai descansava após a lida na madrugada enquanto eu atendia os freguês na padaria durante a manhã. Foram doze anos que ele tentou me ensinar a fabricar sonhos, porém, um sonho maior fez com que ele saísse do interior da Bahia e fosse tentar a sorte em Brasília com toda a família, mas isso é uma outra história.

   Aquele quarto era o meu esconderijo quando voltava da escola, e, ali, folheando as revistas, se não me engano, sétimo céu e contigo, deixei de ser menino e passei a ser rapaz e deixei de ser rapaz e passei a ser homem com as mesmas mãos que folheavam as revistas. Saí daquele pequeno mundo aos doze anos para conhecer a cidade grande e não aprendi a fabricar sonhos. 

   Bem, vou deixar as reminiscências de lado, pois Marina me chama. Quem é Marina? A personagem do meu livro, Insondáveis pecados. Ela pede ajuda para ser salva das garras do seu pai que a assedia. E ela esta no quarto, não naquele quarto, mas em outro. Ela está me ajudando a construir um sonho.

   Obrigado grande fabricador de sonhos, de ti herdei o valor à família. 


VENHAM CURTIR MINHA PÁGINA NO GOOGLE + CLICANDO AQUI
CURTAM TAMBÉM A MINHA PÁGINA NO FACEBOOK CLICANDO AQUI


domingo, 3 de novembro de 2013

Novos dias

Era um dia como os últimos dias, dia frio que perduraria até o dia se encontrar com a noite e permaneceria por toda a noite até o encontro do outro dia. Contudo, um dia nunca é igual a outro dia.
Extasiei-me quando o vi surgir diante de mim. Confesso, a sua ausência havia me esfriado, entristecido até. Logo que ele surgiu, fui tirando a roupa, aos poucos, primeiro a blusa, depois abri os botões da camisa e o deixei entrar em mim. Ajoelhei e agradeci, Obrigado amigo SOL.

Imagem de arquivo pessoal





MEU PRIMEIRO E-BOOK NA AMAZONKINDLE.COM


Agora leia o opinião da poetisa Valéria Cristina Costa Campos


Natan tinha os olhos na realidade que o amargava, mas a mente na estranheza impactante das lâminas que atravessam os dias sem que ninguém perceba. Acalentava o sonho de publicar um livro, mesmo sem o apoio da esposa. Transbordavam em seu corpo e mente sensações que flutuavam entre o deleite do imaginário e o desgosto da verdade. Lutava contra o desejo de executar cada linha escrita, mas a sensação estonteante de fazer parte da trama, comumente lhe sobrevinha rompendo o fio que o conectava ao que não era fictício. O pulso narrativo do Autor transcende as expectativas de Natan que, por sua vez, leva com ele os demais personagens e o leitor à desfechos inusitados. O conto retrata, na sagacidade evidente do Eder, a vilania advinda das mesquinharias que frutificam nas crises existenciais do ser humano. Uma curta narrativa de agradabilíssima leitura.