Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Psicologia

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     Quando jovem sempre me inquietou a formação do ser. Nunca achei a resposta e sei que sempre seguirei com esta inquietação. Somos tão dispares por ser cada um forjado por tudo que o cerca e geralmente cada um tem uma visão diferente de tudo que está em sua volta, por isso acho que não existe uma fórmula definitiva para o ser ser formado.
     Meus pais tiveram oito filhos e todos eles tiveram a mesma educação, foram todos forjados no amor. Pessoas sem vícios, tanto ele como ela, sofreram quando um dos filhos se envolveu com as drogas. Meu pai se fechou e não entendeu o que aconteceu, e nos momentos que se encontrava só, chorou e se culpou, mas nunca disse nada. Minha mãe, mulher de sorriso vasto, onde quer que esteja sempre traz alegria, sofreu como eu nunca tinha visto. A tristeza invadiu seu rosto, penetrou em sua alma e dali não saiu. Numa batalha diária lutou o bom combate, jamais se vergou, passou noites em claro, discutiu, aconselhou, mas nunca esmoreceu. Tinha dentro de si a certeza que venceria.
     Entendo que a imagem fala por si mesmo, às vezes aquilo que você faz diz mais do que aquilo que você fala. As imagens que tenho dos meus velhos são pessoas feitas para a doação, pessoas que se dão aos outros por terem neles a bondade como modo de vida. Pessoas que faziam questão de ver todos os filhos em volta da mesa na hora do café da manhã, do almoço e do jantar. Coisas essas que perdemos devido à velocidade dos dias de hoje, e esquecemos que temos o final de semana para praticar o que chamo a essência da família, e por desuso não fazemos.
     Com tudo isso em sua volta e vendo todas as imagens que meus velhos passavam, um dos filhos usuário de drogas de uma hora para outra se trancou em nosso quarto e só saía dali para as refeições e banho. Foi assim durante um ano, queria se curar. O que mais me impressionou foi o fato dele por vontade própria tentar sair do seu vício. Família do lado para cobrá-lo, impô-lo o modo de vida achado correto, mas também para apoiá-lo na sua decisão, foi essencial para ele sair do vício. Após esse filho viver um ano em dezesseis metros quadrados, meus pais resolveu mudar para o interior, abdicando de tudo que havia construído na capital. Seria uma nova vida, mas só a satisfação de não ter perdido um filho para as drogas já teria valido a pena. O sorriso de minha mãe voltou, sinal de que vencemos.
     Ontem, minha esposa nos estudos e eu nas escritas, minha filha me chamou na cozinha. Chegando lá ela me perguntou o que eu achava. Com cinco anos e três meses vivendo no seu mundo lúdico, ela simplesmente havia lavado toda a louça e limpado a pia. E assim ela vai se moldando de acordo com as imagens que ela ver. Se ela, sem nós lha pedir, lavou a louça por vontade própria é sinal que a imagem que ela ver é da ajuda. É dessa forma que o ser é forjado?

domingo, 24 de outubro de 2010

Educação artística

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   Eu não saberia transpor para o papel a sensação do artista ao ver a sua obra pronta, nem a sua satisfação ao sê-la admirada, mormente se entre o artista e a obra não há um parto, e mesmo se separados, muito de um há no outro.
   Minha mãe e eu estamos tão ligados a ponto de pensar não ter havido um parto, apesar de, em carnes diferentes, sermos, senão a mesma alma, feito da essência da mesma alma. Na minha incompletude, sei que muito dela me completa. E se a história é sobre mim, ela, além de personagem, é autora.
   Houve tempo que os carnavais não tinham as impudicícias de hoje, nem os foliões afloravam as suas concupiscências descaradamente e a olhos vistos; não havia, também, a necessidade de algum tóxico para se ter alegria. Era o que se chamava de carnaval familiar, e entenda-se família não apenas como os do mesmo sangue, mas também os amigos. Era outra época.
   Iam todos arrancar argila nos barrancos da margem do – se me lembro bem – Rio Grande, Rio São Francisco e, sem muita certeza, Rio Preto para fazer o molde da mascara carnavalesca. Molde cozido, banhava-se jornais na bacia de água, colocava-os sobre o molde em camadas entremeadas por goma, cola feita com farinha de trigo cozida na água. Sem tremores e com mãos de artista, eles pintavam as mascara secas.
   Bloco na rua, todos, parentes e aparentados tentavam adivinhar quem era o folião fantasiado e mascarado. Era época de talco, serpentina e banho de cheiro. Eu conhecia a mão da artista, as cores tinham uma alacridade que dizia muito da sua personalidade; por isso as viam lucilar em meus olhos, dizendo-me que quem estava atrás daquela mascara não era a minha mãe, mas a própria alegria.
   Talvez seja por isso que o carnaval dura apenas quatro dias, pois o restante dos dias do ano está mais para cinzas. Eu viria saber disso oito anos depois.
   Falido meu pai, eu me uni a minha mãe; apesar de não demonstrar tristeza, senti que ela sofria não somente as dores da perda, mas dores da derrota de meu pai, e, também, as dores das desilusões dos filhos. Com catorze anos, eu tinha a constituição física de um garoto de dez; se houve uma vantagem minha sobre o tempo foi essa, de não aparentar a idade que tenho. Meu pai, malsucedido, perambulou pelas ruas de São Paulo a procura de emprego; enquanto a minha mãe pedalava a velha Singer, costurando e bordando. Alguns meses depois, com esforço e muita economia, ela deu entrada em uma máquina industrial de bordar usada.
   Acostumada com o sistema mecânico da Singer, pedalar para acioná-la mecanicamente e movimentar o bastidor - dois anéis com dezoito centímetros de diâmetro, um exterior e outro interior com bordo para garantir maior tensão no tecido – com as mãos para preencher o desenho com a linha, foi-lhe sacrificante passar a acionar o acelerador da máquina industrial para lhe dar a velocidade desejada e com os joelhos acionar uma alavanca movimentando a agulha para a direita e esquerda e esticando o pano com as mãos movimentava-o de acordo com o desenho. Diuturnamente por não se adaptar ao sistema eletromecânico, ela se desmanchava em lágrimas, exasperando-me. Eu a acompanhei durante meses nas aulas ministradas por uma amiga sua, mas não houve progresso. Quando a agulha quebrou ao atingir o seu dedo, eu resolvi agir.
   Ouvi passos vindos da escada caracol, somente me dei conta que ela era ao abraçar-me. Seus olhos deitados sobre a rosa que eu acabara de bordar ficaram estupefatos. Senti o calor do seu corpo ao abraçar-me mais forte, seus lábios encostaram-se ao meu cabelo. Com o queixo na minha cabeça, seus olhos se perderam no infinito. A rosa bordada por mim umedeceu com as suas lágrimas, não agüentei e chorei também. Anos mais tarde eu viria saber que o mesmo sal das suas lágrimas é também o das minhas.
   Novamente as cores entraram em nossas vidas trazendo alegria, porém eram cores diferentes, matizadas em novelos de linha. Nem na quarta de carnaval o dia era de cinzas.
  

    

domingo, 17 de outubro de 2010

Ciências

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   Sou obrigado a confessar, eu nunca gostei de ciências, muito menos de matemática, quanto mais se eu a associava a profissão do meu pai, comerciante; visto por ele como, futuramente, a minha. Se havia algo que eu queria fazer era seguir os meus próprios passos, não os quistos por ele.
   Confesso, enfim, eu odeio ciências, e não morro de amores por português, quanto mais se suas regras e pontuações me lembravam o meu pai que não me deixava desviar uma vírgula sequer da sua regra, e quando eu ameaçava desviar, as palmatoadas e cintadas eram uma lição sem ponto final, permanecendo em mim uma dor reticente, apesar das interrogações da minha mãe e das exclamações de espanto dos meus tios.
   Confesso, para surpresa de muitos, eu nunca caí de paixão por ciências, tampouco por química ou física, quanto mais se as duas me remetiam a uma fase da vida do meu pai, cuja investida para abrir um estabelecimento comercial oscilava entre o sucesso momentâneo e o fracasso sempiterno, e na eminência de um, o fracasso, ele inventava uma fórmula, como se tivesse reinventado a pólvora, para novamente alcançar o outro, o sucesso. A química que ele tinha, tanto para um como para o outro, era genuinamente iguais e comicamente trágicas.
   Do que eu sei sobre ciências, a sua existência somente é factível em função da experimentação. Posto isso, o que é a vida senão um encadeamento de experimentação, cujo embate com a morte é a experimentação final, e mesmo ela, a morte, saindo vencedora não quer dizer que chegamos ao fim, que fomos reprovados; afinal, no decorrer da vida é o que fizemos com nossas experimentações que permanecerá para os nossos entes queridos, e este será o nosso legado. Então, desta forma, o fim em si não é factível, é as experimentações que tivemos, ou seja, a ciência praticada no dia-a-dia que nos eterniza, e cabe a cada um praticar a boa ciência.
   Portanto do que me cabe de experimentação, eu adoro a boa ciência, e tive um excelente mestre, o meu pai, cuja escola ele, como ninguém, soube valorizar, a família. 

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Por cinco dias

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   Um tapa. Apenas um tapa. Blaft. Pronto. Só isso. Um tapa.
   Passional, você quer algo mais forte. Não, um tapa não. A dor será só na superfície. A marca, um vermelhidão que sumirá em poucas horas. Um tapa, decididamente não. A dor tem que ser mais profunda, mesmo esmaecendo depois, volta tal o fogo à brasa ao ser atiçada. O tapa é um gesto supérfluo que se esvai como o ar ao ser consumido pelo fogo. Porém, a dor que atinge o âmago é ferida incicatrizável. Ah! Essa dor somente nos atinge por palavras. As palavras, você as sabe usar muito bem.
   Um tapa. Apenas um tapa. Blaft. Pronto. Só isso. Se fosse um tapa... Até que seria perdoável, mas as palavras...

   Umazinha uma vez na semana e você se acha homem... Ah, não quer que eu grite... Danem-se os vizinhos. Eu grito e bem alto: Você não é homem! Quem sabe assim, todos sabendo, não cai um na minha horta... Você não quer que eu bata nas minhas coxas. Como você é patético. Acha que trocar uma lâmpada, o botijão de gás, o pneu do carro te faz homem. Muitos fazem isso e aquilo melhor que você, e digo mais, até uma mulher faz, e aquilo também... Não se faz de desentendido, você sabe muito bem o que quero dizer com “aquilo”... Vai tomar você... Eu seria se fosse filha da sua mãe... Já estamos nela, querido... Agora você é homem, quer me bater. Nem para isso você presta. Você é um covarde. Tá mudo agora. Queixas e mais queixas é o teu mantra diário. Cadê os gestos de carinho, o “Oi, meu bem! Como foi o seu dia?”... Ah, eu não faço isso também. Você quer tudo à base de troca. Lavar, passar e cozinhar. Não mereço nem um “Obrigado querida”... Ah, eu não faço isso só para você. Ok, de hoje em diante eu faço a minha parte e você faz a sua... Como você ousa dizer isso. Então vá atrás de suas putas. Pensa que sou uma máquina que liga e desliga quando você bem entender. È só chegar, apertar o botão e fuck me... Você rir desgraçado, debocha. Você pensa que isso aqui é um liquidificador para espremer o sumo da fruta sem triturá-la. E o liquidificador como fica se nem prazer têm... Grito sim, afinal sou a Rô Barraqueira... Pode ir para o seu boteco. Vai lá me pintar com as tintas que carrega... É assim que você me ver, como uma bruxa. Vocês homens são todos iguais, só muda o manequim e o endereço. Aqui para você.

   Ela apontou para mim as mãos espalmadas e aos poucos foi curvando o dedo polegar, indicador, anelar e mínimo.
   Passei uma água no rosto antes de sair e vi na lixeira um pacote pequeno contendo um líquido pastoso, absorvido no algodão, na cor vermelho enegrecido. Por cinco dias viveremos um inferno, contudo, durante os outros vinte cinco estaremos entre flores, amando. 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Partidas e chegadas... O que faz você feliz?

   - Vamos?

   Não sei precisar a idade que eu tinha. Era muito pequeno, inexperiente. Sei que a bola de capotão ainda rolava colada aos meus pés, abrindo trilhas, desbravando caminhos.

   - Vamos? – Insistiu na pergunta.

   Talvez a imprecisão da idade seja por, na época, ter pouca idade; ou, mais precisamente, por, agora, ter muita idade, as reminiscências vir como um filme em preto e branco mofado pelo tempo, e ao assisti-lo, as imagens no écran mostram-se distorcidas.

   - Vamos? – A insistência não me enfadava.

   Parti para a vida com um apelido enervante: Pelé, e ao meu nome acrescentaram um sobrenome que não era meu: Eder Jofre. O peso do apelido e sobrenome abalava a minha constituição física, e a alma imberbe ainda não estava preparada – realmente nunca esteve – para chutes e socos. Precisava beber em outra fonte para a ignorância não tomar conta de pés e mãos.

   - Vamos? – A fonte, insistente, não desistia de mim.

   Retirei a poeira dos pés com as mãos, e as esfregando uma na outra me desfiz dos socos.
   Não houve mais a necessidade do chamamento. Peguei-o pela capa, abri-o folheando as suas páginas, desatei os nós que freava os pés e os enfiei na primeira página. Parti para a viagem tropeçando em algumas palavras. Dos pontos fiz parada para o descanso, em alguns pontos de exclamação encostei por pura admiração, das vírgulas fiz chapéu, travessões serviram de cama e muitos pontos de interrogações deixei para trás por não me servir como bengala. Quando, enfim, cheguei ao último ponto, o ponto final, abaixo dele havia a felicidade. E não teve mais fim. Vamos?

   Em uma das entrevistas concedida por José Saramago, perguntaram-lhe se não gostava de viajar. Ele respondeu que não precisava, pois tinha os livros.
   Qual de nós nunca intentou encontrar um escritor, que ao lermos, nos falasse à alma. Eu encontrei três, a saber, Célia de Lima, Deia e José Saramago.
   A Deia faz da sua escrita a possibilidade da felicidade realizável. Por isso os convido a clicar aqui. Conheça-a
   É dela o selo “Partidas e chegadas... O que faz você feliz?” Um presente embrulhado em papel de seda. Porém, presentes, a Deia me dá ao publicar os seus textos. E isso me faz feliz: lê-la. Vamos?


   Partidas e chegadas... O que faz você feliz? , tem regras bem fáceis:

1 - Copie e cole o selinho na sua postagem;
2 - Conte-nos o que lhe faz feliz, entre partidas e chegadas, simples assim!; 
3 - Conte quem lhe presenteou, se possível adicionando o link para o blog;
4 - Indique ao menos 5 blogs para receberem o carinho e avise-os, para que eles possam continuar a brincadeira. Podem ser mais, claro, o importante é provocar a ideia naqueles que lhe visitam!
5 - Volte aqui e avise se já está participando, nesse mesmo post.

   Eu passo o presente para amigos viajantes. Hei-los:
Pedras Nuas: Sei_Lá
Lua Nova: Poetizando