Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 7

Quando tudo está perdido/Sempre existe uma luz/Quando tudo está perdido/Sempre existe um caminho/Quando tudo está perdido/Eu me sinto tão sozinho/Quando tudo está perdido/Não quero mais ser/Quem eu sou - Legião Urbana.
  
   Imagens intermitentes do passado vieram a mente de Iratus assim que o espírito do recém-nascido entrou na lareira, a sua mente as processava tentando achar algo despercebido. Quando Furiosus derrubou a lareira, a sua mente o levou de volta ao passado e ele se viu entre as labaredas observando Hesediel no momento que fazia a coleta de sangue do recém-nascido. Ele processou a cena minuciosamente, prestando atenção em todos os detalhes, então, viu Hesediel enfiar a pena na sola do pé do recém-nascido, coletar e acondicionar o sangue em uma ampola, depois se viu embrenhar mais ainda por entre as labaredas, receoso em ser descoberto. Inopinadamente, as imagens do passado escureceram em sua mente e ele somente conseguiu ver um grande telão preto rodeado por fogo. Controlando as suas emoções, sentido ser queimado, Iratus mentalizou a sua imagem do passado saindo de dentro das labaredas, incendiando o grande telão preto para uma nova tela com camada branca surgir e aos poucos ir ganhando cor, revelando o exato momento em que Hesediel injetava o plasma dos deuses no recém-nascido. Trazido lestamente de volta ao presente, ele percebeu que não adiantaria contar a Furiosus o que havia acontecido, pois a raiva, além de impedi-lo que escutasse, o impelia a outra ação, a destruição da casa. Iratus procurou por Lucius e o viu próximo aos escombros, empunhando a espada, puxou-o pelo braço e o sangrou. Girou em torno da sala e encontrou o que precisava. Foi em direção ao corpo do pai do recém-nascido estendido no chão, preso a cruz pela espada de Furiosus. Ao arrancá-la, ele chamou a atenção de Furiosus para si, rolou com os pés o corpo sobre a cruz e espargiu sobre a mesma o sangue de Lucius embainhado em sua espada.

   Iratus já sabia o que ia acontecer, no entanto, ele ficou tão surpreso quanto Furiosus pela intensidade da luz iluminada sobre a cruz e apenas pequenas sombras formadas na ponta. Nas veias de Lucius corria em maior quantidade o sangue plasmado dos deuses do que o sangue plasmado do Senhor das Trevas, e a culpa era sua por não ter percebido Hesediel injetar o plasma dos deuses no recém-nascido.

   Iratus não deu ouvidos aos gritos de Furiosus para que ele não fizesse o que pretendia, pois antevia o pior. Os gritos foram em vão, passaram despercebidos por ele e se perderam no vento. Cego e inconsciente, ele agiu por instinto. Iratus, proferindo palavras desarrazoadas, partiu com a espada Daemo em punhos para cima de Lucius.

   Um buraco se abriu no chão revolvendo os escombros na sala e arremessando Lucius para longe. Um odor sulfúreo saiu do seu interior e a sala foi tomada por um calor insuportável. Iratus freou desesperadamente com os pés e percebendo que não pararia antes de cair no buraco, cravou a sua espada no chão e esta o arrastou para próximo do precipício. Quando ele se ergueu e tentou descravar a espada, uma imensa sombra surgiu diante de si.

 

   Os olhos amendoados, o rosto redondo, o nariz pequeno e afilado, os lábios grossos e úmidos, a pele sedosa, os cabelos volumosos e cacheados, o pescoço longo, os ombros largos, Hesediel, na forma humana, os soube ao tocá-los com as mãos, no entanto, antes que o desejo o levasse a querer saber mais do que pudesse, ele recolheu as suas mãos e mentalizou a forma angelical.  Ao se transmutar em anjo, ele ouviu Ariadna dizer que a cor dos olhos estava entre o azul céu e o verde mar. Hesediel levou as asas aos olhos como se desejasse ter a visão, e antes que outros desejos tomassem conta de sua mente, ele aguilhoou ao cumprimento da sua missão guardando a espada Divus na bainha e o recipiente Lux no coldre, colando o corpo de Ariadna ao seu, amarrando a cinta de proteção em volta dos seus corpos, abrindo as asas e alçando voo.

   O vestido de algodão branco de Ariadna bailava no ar de acordo com o sentido do vento, ora deixando as suas coxas sem pelos à mostra, ora não. Hesediel, mesmo não enxergando, sentia o contato da pele de Ariadna revelar em sua mente a fotografia do seu corpo nu. Por mais que ele se concentrasse na sua missão, a atração que sentia por ela o desarrazoava. Os suores e os tremores pelo seu corpo, o aceleramento das batidas do seu coração eram provas que ela o atingia. Havia algo nela que abalava os imortais, ele não quis saber o que era. Acelerou as batidas das asas, pegou uma corrente de ar e embicou rumo à terra, antes que o peso do corpo aumentasse devido a sua concentração ser desviada para o desejo ou os tremores o desnorteasse.

  

   Furiosus anteviu essa cena, pois sabia que o Senhor das Trevas não deixaria Iratus assassinar o seu filho, afinal, muito mais do que pela herança sanguínea, os seus ensinamentos, Lucius aprenderia pela convivência. Os seus gritos de não atacar foram em vão, se perderam no vazio. Iratus selou o seu destino e diante do buraco, próximo a sua queda, ele viu a sombra se transmutar e descravar a sua espada Daemo do chão e cravá-la no seu coração. Ele sabia que assim não morreria, se o Senhor das Trevas quisesse eliminá-lo, bastaria ter cortado as suas asas, se não o fez era porque queria fazê-lo sofrer.

   O Senhor das Trevas cravou mais ainda a espada em Iratus varando as suas costas, quando a tirou girando, Iratus sentiu a raiva do seu senhor. Vociferando e com o ódio espremido entre os dentes, o Senhor das Trevas o agarrou pela gola, olhou dentro dos seus olhos na tentativa de encontrar o medo e como não achou, selou o seu fim com um beijo na boca. O Senhor das Trevas esperava que Iratus pedisse clemência, como nenhuma palavra saiu da sua boca, ele o arremessou para cima, desejando que a sua queda fosse dolorida e lenta. Iratus varou o telhado e lembrou que Furiosus havia lhe dito, assim que eles começaram a treinar com os Guerreiros Shaitans, que a morte é bela.

   Ele não voava como um anjo Shaitan, mas impulsionado pela força impregnada pelo Senhor das Trevas, não sabia se iria encontrar com a morte na ascendência ou descendência. Quando ele a viu, ela tinha os olhos amendoados, não sabia se eram azuis céu, ou verdes mar, os cabelos cacheados pareciam fios de ouro, a pele alva sem um fio de cabelo ressaltava a sua beleza. Iratus encontrou a morte e ele não estava nem na ascendência, nem na descendência, pois estava parado, transformado em uma estátua de sal.

   Quando Ariadna recuperou do susto, nunca imaginou tanta feiura em um anjo. Iratus caiu vertiginosamente sem se esfacelar com o atrito. Hesediel, sem poder enxergar, pediu a Ariadna que descrevesse o que estava vendo. Ela lhe contou da queda do anjo negro e da destruição do plano terreno. Sabendo que o anjo negro só poderia ser Furiosus ou Iratus, Hesediel pousou para preparar o ataque, ou mais apropriado dizer, a defesa.

   Iratus caiu em pé próximo ao precipício na sala e se esfacelou transformando-se em uma nuvem negra que adentrou a escuridão do buraco. O sentimento de dor pela perda não havia entre os anjos Shaitan, pois a ausência de luz os impedia de sentir. Furiosus não esperou a ordem de ataque do Senhor das Trevas, o seu olhar já dizia o que tinha de fazer. Ele deu a volta em torno do precipício na sala e saiu voando pelo buraco no telhado aberto quando Iratus foi arremessado.

   Lucius despertou tendo diante dos seus olhos o seu pai, Petrus. Deu-lhe um abraço efusivo, logo em seguida chorou compulsivamente, e ainda choroso, pediu-lhe perdão pelo que havia feito. 


Continua domingo às 12hs00min


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domingo, 25 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 6


  Para que servem os anjos?/A felicidade mora aqui comigo/Até segunda ordem/Um outro agora vive minha vida/Sei o que ele sonha, pensa e sente/Não é coincidência nem é indiferença/Sou uma cópia do que faço/O que temos é o que nos resta/E estamos querendo demais - Legião Urbana.

 No piso havia frisos devido o arrastar da cadeira de ferro provocados pela inquietude de Petrus. Quando a porta passou voando sobre a sua cabeça, ele não acreditou no que viu diante de si. As transformações em Lucius foram tantas que sobressaía a forma humana, muito mais do que a forma Shaitan, se não fosse as asas, diria que ele era humano.

   Pai e filho se olhavam como se tivesse diante de um espelho. Para Petrus, aquilo era incompreensível, esperava encontrar um recém-nascido e diante de si estava um homem com asas. Lucius não fez essas especulações, pois o seu instinto Shaitan aflorou bestialmente.

   Furiosus não teve escolha, teria de impedir o processo de transformação humana em Lucius, mesmo sabendo que também pararia o processo de transformação Shaitan. Percebendo que o instinto Shaitan aflorava em Lucius, ele o empurrou ao encontro do pai antes que o instinto humano o retivesse.

   Os anjos Shaitans formando o manto negro sob o céu estavam agitados, aguardava a ordem de ataque pressentindo que sobre o céu algo de pior poderia lhes acontecer. Inerente a tudo isso, Furiosus e Iratus apraziam a voracidade com que Lucius atacou o seu pai, o efeito do espírito da parteira não foi tão devastador.

   Lucius havia fincado as suas presas no pescoço do seu pai, abrido as asas levantando voo em direção ao quarto e parando a meia altura do mesmo. Fez isso para os dois anjos Shaitans não perceberem as lágrimas de arrependimento que escorriam dos seus olhos, porém, algo mais forte o induzia a sugar todo o sangue do seu pai. Quando terminou, desejou pousar o corpo sobre a cama, contudo, levantaria suspeita, então ele o largou. O corpo do seu pai caiu no piso estremecendo o quarto, o seu corpo estremecia por dentro horrorizado com o ato que acabara de cometer. Satisfeitos, Furiosus e Iratus saíram juntamente com Lucius em direção a casa do recém-nascido cujo sangue foi extraído para a feitura de Ariadna, mas antes, Furiosus  soprou o corno do Senhor das Trevas espargindo sobre a cidade o pó do sono e em seguida deu ordem de ataque aos anjos Shaitans.

   Assim que os anjos Shaitans se dispersaram, o céu ganhou as suas cores naturais, mais mesmo assim, embaixo dele permanecia a escuridão. O ataque foi calmo e indolor devido o efeito do pó, os espíritos, também entorpecidos, foram se encaminhando para o recipiente Tenebrae sem oferecer resistência. Aos poucos, as cidades foram caindo e o silêncio sepulcral foi tomando as ruas, de vez em quando quebrado pelos ventos que levavam objetos soltos.

 

   Em Protokus, Hesediel passava para Ariadna todos os seus conhecimentos, como acionar e manejar o recipiente Lux e a espada Divus, o que ela deveria fazer caso os anjos Shaitans o eliminasse e como proceder no plano terreno. Cego, ele sabia que seria dominado facilmente pelos anjos Shaitans Furiosus e Iratus, caberia a ela resistir, e ele fez questão de frisar a força de seu olhar, como se ela não soubesse disso. Essa culpa de ter matado os deuses, ela carregaria consigo até o fim dos seus dias, porém, algo nela regozijava com esse feito, como se o ato maldoso, muito mais do que a sua consequência, a morte dos deuses, alimentasse nela uma força oculta necessitando aflorar. O sangue plasmado do Senhor das Trevas agia em seu corpo da mesma maneira que o sangue plasmado da deusa Cípria agia no corpo de Lucius, era o bem e o mal travando uma batalha silenciosa. E quem quer que saia vencedora, seria a Nova Geração que usufruiria dos louros da vitória de um ou do outro.

 

   Quando Furiosus, Iratus e Lucius chegaram à casa branca com portas amarelas marcada com a estrela e a cruz, anjos Shaitans tentavam penetrá-la e não conseguiam. Lá dentro os pais do recém-nascido, apegado ao crucifixo, lia o Livro Sagrado, pois nele estava a salvação.

   Furiosus abriu as suas asas e agigantou diante dos outros anjos Shaitans, assustados, eles fugiram em busca de outras presas. Furiosus retirou do estojo a pena que ele arrancou da asa de Hesediel, colocou o plasma do Senhor das Trevas na mesma e passou sobre o desenho da estrela com a cruz no sentido contrário que ela fora desenhada. O plasma do Senhor das Trevas enegreceu o desenho e foi encrustando nos veios da madeira que, aos poucos, perdeu o seu viço e em seguida esfarelou até se torna um amontoado de pó sobre o chão.

    Diferente de Iratus, a maldade era latente em Furiosus, feroz na forma angelical e humana, porém, suave na forma animal. Ele não pensou duas vezes ao sacar a espada Daemo, como se estivesse diante de seu pior inimigo, cravou-a nas costas do pai do recém-nascido perfurando o seu coração, soltou o berro do vitorioso, levantou-o com a espada e a cravou na cruz que estava pregada na parede da sala. Iratus pegou a mãe pelos cabelos e a pôs de pé. Ela, com as palmas das mãos postas uma contra a outra, orava o Pai nosso quando recebeu o golpe da espada no pescoço. Furiosus ia disparar a sua arma para eliminar o espírito dos dois, mas voltou atrás, pois os mesmos não mereciam a sua munição, então acionou o recipiente Tenebrae, contudo, os Servos dos deuses os haviam levado para Esperantus. Lucius, passivo, assistia a carnificina indeciso entre participar ou lutar contra tudo aquilo.

   O recém-nascido foi erguido do chão por Iratus e entregue a Furiosus que o despiu analisando o seu corpo pelo olfato, sentiu o sangue quente pulsar nas veias, vociferou mostrando as suas presas e estranhou quando ele sorriu, aparentando que não tinha medo, então, o jogou no ar esperando que Lucius voasse em sua direção e o tomasse para si sugando o seu sangue.

   Lucius demorou a levantar voo e atacar, contudo o grito de Furiosus ordenando que fizesse o ataque o tirou da condição passiva. O instinto Shaitan o fez levantar voo em direção ao recém-nascido o tomando para si. Quando Lucius cravou as suas presas no pescoço do recém-nascido sugando o seu sangue, as suas asas começaram a incrustar em sua pele até desaparecer de uma vez, depois, foi as asas do pé, e por fim, as presas. Seu corpo caiu e antes de atingir o piso da sala foi aparado pelo espírito do recém-nascido que o repousou perto da lareira.

   Furiosus bateu asas desesperados derrubando os objetos da sala, entre eles estavam o Livro Sagrado e o crucifixo. O voo descontrolado atrás do espírito do recém-nascido derrubou tudo que  encontrou pela frente, porém, o espírito já havia entrado na boca da lareira e saído pela chaminé. No telhado da casa, os Servos dos deuses o aguardavam. Em uma ação tresloucada, Furiosus tentou a última manobra chocando-se contra a lareira e a levando ao chão juntamente com a chaminé, porém o espírito do recém-nascido não estava entre os escombros. O grito do derrotado ecoou longe.


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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 5


Pra você juntar/E queria sempre achar/Explicação pro que eu sentia./Como um anjo caído/Fiz questão de esquecer/Que mentir pra si mesmo/É sempre a pior mentira,/Mas não sou mais/Tão criança a ponto de saber tudo - Legião Urbana.

   Tartarugando de um lado para o outro, ora espreitando pelo buraco da fechadura, ora tentando escutar, com o ouvido direito colado a porta, o que se passava dentro do quarto, Petrus, por duas vezes, tentou entrar, mas receoso de infringir a ordem dada pela parteira, sentou-se e inquieto permaneceu com os olhos vidrados na porta.

   Os flashes da lâmpada em intervalos intermitentes, devido ao seu defeito, não permitiam a parteira ter a nitidez das imagens que lhe chegava aos olhos, por isso ela foi à janela e a abriu para ter mais luminosidade. Do lado de fora da casa, a escuridão era mais intensa. Ela perscrutou com os olhos até aonde as suas vistas permitiam e reparou que o nevoeiro havia desaparecido, não obstante, ao olhar para o céu, o viu coberto por um manto negro, então, a razão tomou conta dela fazendo notar que algo de estranho estava acontecendo ali, desde o momento que chegara, ela só presenciou trevas e destruição.

   Se a parteira tivesse obedecido à razão, desprenderia os pés do chão e passos a passos teria caído fora dali, não que isso a salvasse, pois lá fora o cenário era pior, porém, iria com a sensação que tentou se salvar, contudo, o recém-nascido lhe prendia ali, inquietava-a não saber o que lhe aconteceu.

   As sombras distorcidas refletidas nas paredes do quarto não a amedrontavam, pois sabia que na escuridão, o medo criava monstros. Percorreu os olhos por todo o quarto até pará-los em um borrão enegrecido pendurado no caibro. Cerrou os olhos, apurou as vistas para melhor enxergar e não acreditou no que viu. Trêmula, suas pernas não aguentou o peso do corpo e a levou ao chão, desacordada.

   O nevoeiro havia baixado, a cidade, aparentemente, voltava ao normal, porém permanecia em escuridão total, sob o céu anjos Shaitans, formando um infinito manto negro, aguardava ordens para atacar. Dentro da casa, Furiosus e Iratus esperavam os instintos animalescos de Lucius vir à tona para provar o início da sua maturação.

   Entre os dois anjos Shaitans se encontrava Lucius pendurado no caibro de cabeça para baixo, segurando-o com as garras dos pés, o seu corpo estava maturando, asas se delineavam embaixo da pele tentando vir à luz. Contudo, havia uma luta licenciosa do sangue humano para estancar a maldade que o plasma do Senhor das Trevas operava no seu corpo, a escuridão ainda não havia atingido o seu espírito. Quanto maior a quantidade de outro sangue humano que não fosse da sua linhagem familiar, mais rápida seria a aceleração do processo de maturação, consequentemente, Lucius adquiriria aspectos diabólicos.

   Furiosus sabia que o corpo desacordado da parteira no chão pulsando sangue cálido por suas artérias não seria o suficiente para acelerar o processo de maturação. O da mãe, morta na cama, Lucius não poderia usar, pois ele foi usado na sua feitura. O do pai só se fosse necessário, mesmo sabendo que ele desaceleraria o processo, no entanto ele precisava de tempo até eles chegarem à casa marcada com a cruz e a estrela. O sangue do recém-nascido completaria o processo de maturação.

   Duas cadeiras de ferro com assento e encosto entrelaçados por fios de polietileno nas cores azul e vermelho; uma televisão desligada colocada sobre um tampo de madeira jacarandá adaptada a um pé de mesa de ferro de máquina de costura Singer servindo como rack; um cesto de vime contendo algumas revistas de fofocas sobre celebridades em um dos cantos da parede eram as únicas mobília da sala; mais adiante o buraco na parede, Petrus, com a mente presa na preocupação do nascimento do seu filho, não percebeu. Afoito, folheava as páginas da revista umedecendo os dedos em sua língua, sem dar atenção para o que estava escrito. A espera o inquietava. Impaciente, ele cruzou as pernas da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, amiúde. Ao entrecruzar as pernas, Petrus fazia um ruído agudo devido o movimento da cadeira de ferro no piso. Imperceptível a qualquer mortal que estivesse a poucos metros dali, o ruído não era para quem tem ouvidos apurados. Lucius o ouviu, o seu instinto animalesco estava apurado, ele já sabia que precisava de sangue para a sua maturação. O destino da parteira, Furiosus e Iratus já sabiam que estava selado, o de Petrus acabara de saber quando Lucius mostrando as suas presas apontou em direção da porta.


   Lá fora, na rua, o vento levantava a poeira do chão, o nevoeiro tinha dispersado havia tempo, o sol estampava no céu o seu brilho, porém, o manto negro impedia o seu reflexo. Cálido e totalmente escuro, o dia surgia com os seus sons característicos vindos das casas: latidos de cães, cantos de galos, balidos de ovelhas, mugidos de gados e os cantos entoados pelos pássaros. Aos poucos, de dentro das casas, surgia o ruído de água percorrendo os canos, o chiado ao romper as torneiras ou o da descarga do vaso sanitário. Noutras casas apresentava o ruído característico de chuveiro ligado, sinal de que, aparentemente, a vida tomava o seu curso normal. Contudo, uma única casa não apresentava esses ruídos, e a parteira seria testemunha do que ocorreria ali.


   Furiosus retirou o pente de balas de sua arma e inseriu o pente com cravos. Movimentando o dedo indicador, ordenou a Iratus que erguesse a parteira. Iratus desprendeu do caibro imediatamente e voou em direção ao chão, abraçou a parteira, ainda desacordada, com as duas asas levantando voo, suspendeu-a no ar, abriu os seus braços e a largou. Imediatamente fechou as suas asas, embicou e desceu com os pés juntos, parou no ar assim que a parteira começou a cair, flexionou os joelhos e arremessou os pés em direção do tórax dela. Com o impacto, a parteira voou na ascendente indo de encontro à parede. Lestamente Iratus espargiu o pó do sono para ela não despertar; enquanto isso, Furious disparava a sua arma pregando mãos, braços, pernas e pés da parteira na parede. Com as garras dos pés Iratus fez a sangria no pescoço da parteira. Lucius, até então quieto, teve seu instinto aguçado pelo cheiro de sangue fresco. Com os caninos à mostra, ele se jogou no pescoço da parteira.

   O ruído despertou em Petrus a curiosidade, ele foi em direção à porta e abaixou a maçaneta tentando abri-la, um pó denso espargiu do buraco da fechadura deixando sonolento. Sem poder de ação, Petrus prostrou na cadeira de ferro.

   Aos poucos a luz lhe foi tirada dos olhos como se tivesse faltado energia, porém era a vida que lhe faltaria em poucos instantes. A parteira não acreditou no que estava vendo, o recém-nascido que até poucos minutos atrás estava pendurado no caibro, agora era um menino a lhe sugar o sangue. Quando finalmente ele a soltou, tirando os cravos que a prendia na parede, ela viu o seu corpo espatifar no chão. Seus olhos agora enxergavam com clareza, o menino se tornou um rapaz, horrendo, com garras nos pés e mãos, caninos tão afiados como um picador de gelo e asas querendo brotar de sua pele. Ela se perguntou quem era aquele menino, e por qual motivo ele aceleradamente se transformou em um rapaz com aparência diabólica. Antes que as respostas lhe aparecessem diante dos seus olhos, ela viu um halo de luz e de dentro dele surgir os Servos dos deuses que vieram lhe buscar, pois ela era um espírito de luz. Mesmo assim, ela lutou para não ir, precisava salvar aquele rapaz. Então, por escolha própria, ela ficou.

   Furiosus armou o recipiente Tenebrae para capturar o espírito da parteira, uma sombra enegrecida saiu do mesmo perscrutando a esmo, porém não o encontrou. Diante deste imprevisto, ele acelerou os seus afazeres para finalizar a sua missão. Armou o caldeirão Diabolus, picou a raiz de valeriana cultivada nos campos do Senhor das Trevas, adicionou o plasma do mesmo, acionou o sistema vibratório enfiando a espada Daemo no lugar apropriado, depois ligou o processo de maceração e por fim o de evaporação. Após alguns segundos, Furiosus tinha pó o suficiente para espargir sobre a cidade. Cismado, ele foi lá fora, olhou minuciosamente a rua buscando movimentos suspeitos, fixou o olhar no manto negro e reparou certa inquietude nos anjos Shaitans. Ao entrar à casa, não perdeu tempo e retirou o pente da arma, e deste todas as balas, inseriu nelas o plasma do Senhor das Trevas e as fechou recolocando no pente e este na arma, destravou a pistola e a guardou no coldre. Sabia que o anjo Hesediel não tardaria a chegar com a sua protegida. Ao pensar nisso, uma gota de suor escorreu do seu rosto, Iratus, atento aos movimentos de Furiosus, percebeu, e sentiu o mesmo medo, porém, a sua sudorese eram nas mãos.

   Iratus colocava o caldeirão Diabolus desarmado na sua mochila, enquanto Furiosus colocava o pó do sono no corno do Senhor das Trevas fechando o bocal, a sua arma no coldre direito e o recipiente Tenebrae no coldre esquerdo, quando foram surpreendidos pelo espírito da parteira adentrando o quarto em forma espiral e atingindo Lucius no peito. Lestamente, Furiosus destravou o coldre esquerdo armando o recipiente Tenebrae e o arremessou em direção a Lucius. Assim que o recipiente Tenebrae deslizou pelo chão, de dentro dele saiu uma sombra enegrecida com tentáculos na ponta agarrando o espírito da parteira e o desprendendo do peito de Lucius. A sombra e o espírito lutavam freneticamente derrubando tudo que encontravam pelo quarto. Furiosus pensou em usar a sua arma para extinguir de uma vez por toda o espírito da parteira, mas reteve o impulso, pois desperdiçaria munição em um espírito sem valor, aquelas balas tinham dono, o espírito de Hesediel, além disso, Tenebrae daria conta do recado.

   A sombra abraçou totalmente o espírito e este tal uma vela quando vai perdendo o lume quando o pavio chega ao fim extinguiu-se deixando um tênue fio de fumaça que dispersou no ar. Ao abaixar para pegar o recipiente Tenebrae, Furiosus percebeu transformações em Lucius. Sem perder tempo, Lucius se arremessou em direção à porta arrombando-a.


Continua domingo às 12hs00min

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domingo, 18 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 4

Gostaria de não saber destes crimes atrozes/É todo dia agora e o que vamos fazer?/Quero voar pra bem longe mas hoje não dá/Não sei o que pensar e nem o que dizer/Só nos sobrou do amor/A falta que ficou - Legião Urbana.

   Hesediel chegou à Protokus, a cidade dos deuses e foi recebido com grande alegria por Aplu, o deus da luz. Hesediel relatou a sua aventura no plano terreno e, sem delongas, entregou o sangue. O conclave dos deuses não demorou muito e foi determinado que Cípria, a deusa da beleza, seria encarregada da feitura de Ariadna. Aplu lhe entregou a ampola com o plasma de todos os deuses para ser misturado ao sangue do bebê e então inserido no barro. Cípria, movida pela vaidade, achou por bem que Ariadna deveria ter apenas o seu plasma para assim alcançar a beleza suprema.

   No momento da sua feitura, não se sabe se devido ao plasma de Cípria ou devido a pureza do sangue humano, Ariadna foi contemplada por uma beleza rara, destas que quaisquer adjetivos conhecidos, se usados, não a descreveria propriamente como tal. A sua beleza caberia muito mais do que numa simples exclamação adjetiva, a impossibilidade de verbalizá-la se dava por ser indescritível. Porém, mesmo assim, se se ousassem, por maior conhecimento que tivessem da língua, estariam ocorrendo em erros. A maneira mais correta de descrever a beleza de Ariadna era a admirando com os olhos, seja por olhos mortais ou imortais. Aos olhos mortais apenas a sublimação, aos dos imortais, muito mais do que isso, a admiração seria a sua ruína. Nas veias de Ariadna também corria o plasma do Senhor das Trevas.

   Os deuses somente tinham olhos para Ariadna, estavam cegos, não tiveram tempo o suficiente para sair do estado de contemplação. Perdidos em um labirinto cujo fio da meada se perdeu no caminho, a inação tomava conta deles. Quando Aplu percebeu o que estava acontecendo já era tarde demais. Até ele foi fisgado, tinha pouco tempo para agir. Os deuses, um a um foram virando totens inúteis, pedras de sal.

   Aplu saiu de seu trono e se arrastou até Hesediel, bestificado ao ver os deuses se transformarem em estátua de sal e depois se dissolverem no ar, não compreendia como aquilo estava acontecendo, havia algo de errado, mas o quê, se perguntou. Repentinamente veio em sua memória, a brasa rolando no carpete no momento que ele ia retirar o sangue do bebê. Hesediel balançou a cabeça por não acreditar no que estava passando por sua mente: "O Senhor das Trevas havia agido. Será?" Pensou em voz alta.

   Aplu, antes de qualquer ação de salvação, pois não a tinha, cegou os olhos de Hesediel para todo ser imortal. Ariadna, enquanto não encontrasse aquele que deu o sangue para a sua origem, era imortal. Por isso Hesediel não a via e nem tampouco poderia ser atingido por sua beleza mortal. Incumbido de levar Ariadna para o plano terreno, Hesediel saiu do Templo dos deuses,  viu Aplu se transformar em estátua de sal,  depois explodir em uma imensa luz, se apagar aos poucos, e, enfim, se transformar em um ponto negro no meio do nada. O criador sucumbiu à criatura, os deuses estavam mortos.


   Anjos Shaitans vigiavam Petrus intentando matá-lo, porém, refém da necessidade maior determinada pelo Senhor das Trevas, eles teriam de guiá-lo ao encontro do médico, pois o sangue dele era necessário para a maturação de Lucius, o filho do Senhor das Trevas.

   Os pés infrenes de Petrus, acelerados pela urgência em achar alguém que pudesse fazer o parto da esposa, não lhe permitiu que se lembrasse de levar algum lume. Perdido no nevoeiro, ele pensou em voltar à sua casa para pegar uma lanterna, contudo, seria um ato insensato, não obstante a sua esposa estava para dar a luz.

   Serpenteando pelas ruas próximas ao centro comercial, Petrus virou à esquerda e tomou rumo norte. Aguilhoado à desesperança, ele se viu em uma bifurcação sem saber para aonde ir. Pensando que a sorte não lhe sorriria, esmoreceu. Clamou ajuda à providência, desesperado. Mais do que a sorte, ou mesmo a ajuda da providência, quem o socorreu foram os anjos Shaitans ao provocar uma ventania dispersando o nevoeiro. Seus olhos se abriram em direção à casa do médico como se ela estivesse surgida de repente. As batidas, amiúde, na porta da casa do médico avermelharam as juntas dos seus dedos. Cansado, sem resposta, ele ia saindo quando a porta se abriu e uma mulher surgiu indicando a casa de uma parteira moradora da rua de trás. Ao virar e tomar rumo à casa, a mulher se transformou em um anjo Shaitan, entrou à casa e ajudou os seus dois colegas que estavam sugando o espírito de outro anjo Shaitan - com o recipiente Tenebrae - por ter desobedecido as ordens do Senhor das Trevas e matado o médico.

   Ao demorar duas horas para encontrar a casa do médico e mais cinco minutos para chegar à casa da parteira, Petrus já divisava nos seus pensamentos o infortúnio, a desgraça acontecendo, a morte batendo a sua porta e levando a sua esposa grávida. Contudo, a parteira lhe deu novas esperanças.

   Quem sempre recebeu aqueles que vieram à luz, não se perderia na escuridão provocada pelo nevoeiro. Pouco mais de vinte minutos, ele chegou à sua casa tendo como lume e guia a parteira. Sem delongas, a parteira entrou no quarto e ordenou que Petrus aguardasse na sala.

   A lâmpada, presa pelo fio elétrico ao caibro do telhado, piscava em interlúdios intermitentes. Dois metros além, Furiosus, Iratus e entre eles, Lucius, no mesmo caibro, observavam atentos aos movimentos da parteira no quarto. Os lençóis ensopados de sangue misturado ao líquido amniótico significava que o rebento veio à luz, porém, a parteira não o encontrou. Ao examinar a mãe procurando a pulsação em seu pescoço com os dedos, ela percebeu marcas. Sem pulsação no pescoço e pulsos, o corpo frio e rígido, a pele leitosa com manchas arroxeadas eram provas suficientes da sua morte; contudo, ela não conseguia compreender o porquê do recém-nascido não estar ali, pois o parto havia sido feito. Ou então, pensou, era ela que não conseguia enxergar devido o defeito na lâmpada.

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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 3

Vamos celebrar a aberração/De toda a nossa falta/De bom senso/Nosso descaso por educação/Vamos celebrar o horror/De tudo isto/Com festa, velório e caixão/Tá tudo morto e enterrado agora - Legião Urbana.

   A mulher parecia uma peça de coxão mole amarrada por panos, tendo duas maminhas como seios coladas na frente, dois cupins colados atrás como bunda. As suas carnes balançavam de acordo com os seus passos. Não percebia o perigo que estava correndo. O anjo celestial Hesediel, com a força do pensamento, penetrou na sua alma, percebeu que todos os seus desejos eram movidos pela concupiscência, e então levantou voo. Distou tanto dela que não percebeu Iratus a possuindo, primeiro o corpo, depois a alma. Após ter a sua alma consumida pelo anjo Shaitan, os ossos da mulher estavam inertes no chão envolvidos pelos pruídos dos panos devido o frenesi sexual dos dois.

   Hesediel pousou no prédio mais alto da cidade, equilibrou-se na torre para não cair, pois o prédio estava em ruínas, percorreu os olhos pela cidade e viu fumaça fumegando pela chaminé de uma das casas brancas com portas amarelas. Apurou bem os olhos e viu uma pequena cruz pintada na chaminé. Sem perder tempo, ele abriu as asas e levantou voo em direção à casa. Aproximando-se da janela, ele fechou as asas e plainou com as pequenas asas dos pés. Hesediel foi acometido por uma felicidade inaudita ao ver um recém-nascido, e de acordo com o que via a sua felicidade transbordou em lágrimas. Ele viu o Livro dos dias em cima da escrivaninha, acima dela uma cruz cristã e no colo da mãe, pasmem, o último exemplar conhecido do Livro Sagrado com todas as suas escrituras. A mãe lia para o recém-nascido uma das escrituras, falando sobre a vida Daquele que derramou o último sangue puro para a salvação da Atual Geração. Em vão? Essa pergunta Hesediel não fez a si, mas aventou-a no pensamento.

   Ainda em êxtase devido à cena vista, a saber, a reunião familiar e a leitura das escrituras do Livro Sagrado, tão incomum hoje em dia, Hesediel não hesitou, aquela família era a que mais se aproximava do sangue puro, então, incrustou todas as asas na sua pele ao pensar na forma humana, se condicionou à invisibilidade e entrou na casa. Iratus, assistindo a tudo, levantou voo, entrou pela chaminé, se condicionou a invisibilidade, também, e se escondeu entre as labaredas.

   Hesediel se encaminhou para aonde a família estava reunida, retirou a pena com ponta de ouro e distraído por uma brasa que rolou da lareira, não percebeu Iratus espargir no recém-nascido o pó do sono e em seguida injetar o plasma do Senhor das Trevas. Após apagar o incêndio que se precipitava no carpete, Hesediel voltou-se para o recém-nascido e enfiou a pena na sola do seu pé, retirou o sangue necessário, o guardou na ampola e injetou o plasma dos deuses para purificá-lo e protegê-lo de qualquer ataque dos anjos Shaitans, afinal ele seria necessário para a disseminação da Nova Geração. Iratus, para não ser percebido se escondeu mais ainda entre as labaredas e não percebeu quando Hesediel injetou o plasma dos deuses no recém-nascido. Com o processo de purificação, o sangue do recém-nascido perdeu o genótipo humano, em suas veias corriam o sangue plasmado dos deuses. Hesediel foi até a porta, abriu-a e com a mesma pena retirou um pouco do seu próprio sangue e a marcou pelo lado de fora desenhando uma estrela com uma cruz no centro. Assim a família estaria protegida até a sua volta com Ariadna. Neste momento Iratus sai de entre as labaredas e assisti todos os movimentos de Hesediel atenciosamente. Hesediel voltou os olhos para a sala e percebeu que o recém-nascido, sorrindo, não tirava os olhos dele. Iratus, entre as labaredas também não. Hesediel foi até o bebê, beijou-lhe o rosto e saiu. Iratus saiu do seu esconderijo, perscrutou o ambiente e teve um mau presságio, pensou em destruir tudo ceifando a vida de todos, só não fez isso por que precisava da autorização de Furiosus. Partiu para comunicá-lo o ocorrido.

   O céu permanecia encoberto com o manto negro, anjos Shaitan retirava a vida de pessoas e animais aleatoriamente. Todos caíam diante da espada Daemo sem reagir, alguns oravam pedindo salvação aos céus, outros corriam desesperados tentando achar uma rota de fuga impossível. Mas não haveria salvação para ninguém, antes de os deuses abandoná-los, foram eles que abandonaram os deuses, selando a própria sorte. Hesediel, sabendo do destino da Atual Geração, abriu o recipiente Lux, ativou a espada Divus, acionou o botão Dio e a apontou para o céu levantando voo. Alguns anjos Shaitan resolveram enfrentá-lo, mas não tiveram muita sorte, pois estavam lutando contra o anjo da morte, desprovido de qualquer dó. Todos sucumbiram diante da espada de Hesediel virando pó, os seus espíritos capturados pelo recipiente Lux sofreram um processo de purgação das forças negativas e foram enviados para a região Esperanthus. Os outros anjos Shaitans, desprovidos de coragem, desistiu da luta abrindo passagem para Hesediel. O céu se apresentou azul e iluminado, Hesediel estava em casa.


   Iratus relatou a Furiosus o que Hesediel fizera na casa azul de portas amarelas, detalhadamente, somente não lhe contou o que ele próprio fizera. Furiosus gargalhou e disse: "Ele desenhou uma estrela com uma cruz para proteger a família? Esse anjo é muito tolo". Então, ele colocou a pena arrancada da asa de Hesediel, quando estava na forma animal gato, no seu estojo, sabendo que ela lhe seria útil. Furiosus enfiou a pena de sua asa no buraco do pescoço da grávida aberto anteriormente retirando todo o seu sangue e o colocou, juntamente com o plasma do Senhor das Trevas, no corno do mesmo. Com o corno em mãos, Iratus armou o caldeirão Diabolus, colocou o mesmo no compartimento Bio do caldeirão, acionou o sistema vibratório enfiando a espada Daemo na abertura apropriada. O caldeirão girou elipticamente da esquerda para a direita e em intervalos intermitente fez o giro ao contrário. Ao término do ciclo, Furiosus retirou do corno um líquido viscoso e enegrecido acondicionando-o numa seringa, retirou a ponta da sua asa e a acoplou na mesma. Então, Iratus colocou a sua asa direita sobre a barriga da grávida tornando o feto visível para que Furiosus enfiasse a agulha no cordão umbilical inserindo todo o líquido da seringa. O feto sofreu um choque e trêmulo abriu os olhos, a escuridão se faria à luz. Com as duas asas postas uma ao lado da outra, Furiosus recebeu o recém-nascido, pegou a espada Daemo acionando-a e cortou o cordão umbilical cauterizando-o. A mãe deu o seu último suspiro de vida pronunciando o nome do seu filho, Lucius. O filho do Senhor das Trevas havia nascido, a besta estava entre nós. Furiosus, Iratus e Lucius se esconderam na penumbra do quarto pendurados no caibro de cabeça para baixo esperando o pai de Lucius, pois ele precisava de sangue humano para a sua maturação. E o pai traria, pois o seu sangue só se usaria em caso extremo.
 
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domingo, 11 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 2


 
Todos se afastam quando o mundo está errado/Quando o que temos é um catálogo de erros/Quando precisamos de carinho/Força e cuidado/Este é o livro das flores/Este é o livro do destino/Este é o livro de nossos dias/Este é o dia de nossos amores - Legião Urbana.

   Hesediel entrou a casa percorrendo os olhos pela sala em busca do Livro dos dias, o livro sagrado dos deuses, mas somente achou o livro de Homero e outro de José Saramago, O evangelho segundo Jesus Cristo. Procurou nas paredes a cruz cristã, assim como o Livro dos dias ou o Livro Sagrado - este, devido a sua raridade, dificilmente seria encontrado -, contudo, no tempo atual, símbolos de maior pureza da alma, dificilmente seriam achados também. Apesar das velas acessas, aquela casa era pagã, seria perda de tempo permanecer ali, não haveria ninguém próximo da pureza sanguínea. Ao colocar a mão na maçaneta da porta da sala para sair, ele ouve suspiros vindos do quarto. A grávida havia acordada, Iratus, sem perder tempo, voou até a escrivaninha onde estava o estojo com o pó do sono, agarrou-o com uma das asas e o espargiu sobre o rosto dela. Imediatamente a grávida voltou a dormir. Hesediel, com as mãos na maçaneta da porta do quarto, desistiu de entrar após não ouvir mais os sussurros. Uma gota de suor no rosto de Iratus ia cair sobre uma bacia próxima da cama provocando ruído. Furiosus, em um movimento impensado, soprou na intenção de desviar a gota de suor, contudo o sopro foi muito forte, desviando, também, a bacia. O ruído foi maior do que teria sido se fosse provocado pela gota. Iratus, ao perceber o erro de Furiosus, levou a mão à espada Daemo antevendo a batalha. Hesediel já estava preparando voo quando o ruído o reteve. Ao abrir a porta do quarto, um gato preto voou em sua direção arrancando uma pena de sua asa. Dando uma volta em torno de si e levantando voo, Hesediel pegou o gato pelo rabo e o arremessou na parede da sala. Em um dos cantos do quarto, Iratus segurava a espada Daemo esperando o ataque. Com o impacto, a parede foi ao chão. Hesediel nem se deu ao trabalho de verificar o quarto e se o gato havia morrido. O gato saiu dos destroços sacudindo o pó do seu corpo para em seguida ganhar a forma humana, era Furiosus. O seu olhar irado e vingativo mirou Hesediel que sobrevoava abaixo das nuvens negras. Furiosus passou por cima dos destroços abrindo as suas asas já na forma angelical e ordenou a Iratus que seguisse Hesediel.

   Furiosus adentrou o quarto com as suas asas abertas, plainando com as pequenas asas dos pés e agigantando diante da grávida. No seu rosto havia o contentamento do vitorioso. O seu riso gutural estrondou pelo quarto e juntamente com o grito de medo da grávida, acordada com o barulho, ganharam a rua e ecoaram pelo nevoeiro. Na mão de Furiosus havia o corno do Senhor das Trevas, na escrivaninha um saco com o plasma do mesmo e o caldeirão Diabolus retirado da mesma sacola onde estavam os outros objetos. A escuridão traria o seu filho à luz. O processo iria começar.


   A lufada de vento, provocada pelas batidas das asas do anjo Hesediel quando Petrus foi a busca do médico, o fez lembrar-se do que ocorrera no dia anterior:

   "Despreocupados com o nascimento do seu filho, pois ainda faltavam três semanas de gestação, o sol tal qual uma pedra preciosa bem lapidada brilhando sem nenhuma nuvem a lhe perscrutar - isso, provavelmente, por não haver ventos -, eles flutuavam grávidos por promessas de felicidades, admirando o céu. Na cidade o dia corria silente, às vezes quebrado por latidos de cachorros em algumas ruas, e por conversas lhes chegando aos ouvidos, esmaecidas.  

   Repentinamente imperou um mutismo sepulcral, assustando-os, como se o tempo, as pessoas, os animais houvessem parados, e somente eles percebiam. Nos olhos petrificados dos animais o pavor era latente. Nenhuma palavra se fez audível, o medo colocava freio na língua das pessoas. As aves evolavam no céu distando dali sem fazer o ruído característico de quem voa, como se elas estivessem sendo empurradas pelos ventos. Seres alados símiles a morcegos voavam em sentido contrário. A esposa de Petrus havia ido para a cama descansar, ele, pensando no filho que estava para nascer, não percebeu que os seres alados não eram morcegos, mas anjos Shaitans.

   Enfim, quando o silêncio se fez audível, ou seja, o único ruído que se ouve é a própria respiração, Petrus se deu conta que alguma coisa estranha estava  acontecendo. Pressentiu forças invisíveis o perscrutando.

   A esposa de Petrus, deitada, tomada pelo sono das grávidas, repentinamente, se levantou da cama com os cabelos - até então lisos como a seda - emaranhados. Assustada pelo pesadelo, seu grito de dor se confundiu com o ruído de latas e galhos de árvore se açoitando nas ruas. Ela deixou os seus olhos serem levados, hipnotizados, à balburdia da rua e saindo de si, se viu dando à luz a besta. Entremeada por choros e gritos, ela foi despertada do transe, e depois consolada por Petrus.

   O sol foi acortinado por nuvens plúmbeas, o dia claro perdeu a sua luminosidade, o silêncio foi quebrado pela chuva torrencial. Depois do temporal, a cidade não havia recuperado as suas cores, pois, tanto o sol, como o céu, estava encoberto por um manto negro.

   Tudo parecia fora de propósito, fora de lugar. Inopinadamente, o manto negro se desfez e seres alados munidos de espadas sangravam animais e gentes. O céu mandou ajuda com chuvas tempestivas, ventos bravios e relâmpagos, mas cessou assim que os seres alados se juntaram novamente e o cobriu totalmente.

   Na rua, a enxurrada levava consigo os destroços, pessoas e animais mortos, porém, não levava o medo acometido a todos os habitantes da cidade. O sossego, até então, do pacato lugar, foi substituído pelo pavor estampado no rosto das pessoas. Elas mal sabiam que o pior ainda estava por vir. E era apocalíptico. 

   O manto negro que cobria o céu retirou daquela pacata cidade o clima de felicidade que até então imperava. O sossego somente chegou ao entardecer, quando um nevoeiro adentrou as ruas e deu uma falsa sensação que assim que ele fosse embora o sol voltaria. A maioria das pessoas se prendeu em casa tendo como vigia o medo, não vira quando uma densa névoa cobriu toda a cidade, diminuindo o campo de visão e tirando qualquer possibilidade de saber se era dia ou noite".

   Foi nesse cenário que Petrus saiu para buscar o médico para fazer o parto de sua esposa. Bem acima de sua cabeça, os anjos Shaitans o vigiavam, não podia matá-lo, pois precisava de sangue para a maturação do filho do Senhor das Trevas, e ele, sem saber, estava indo atrás de um.
 
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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 1

Alguém falou do fim-do-mundo,/O fim-do-mundo já passou/Vamos começar de novo:/Um por todos, todos por um - Legião Urbana.
 
   Petrus se levantou e sentou repetidas vezes aguilhoado as suas preocupações. Amiúde, foi lá fora fumar um cigarro atrás do outro. Ora deixava os seus pensamentos se emaranharem na fumaça que evolava da sua boca e nariz, ora tentava enxergar no meio do nevoeiro o médico que ainda não havia chegado. Ele não percebeu que o céu estava coberto por um manto negro, e nem o clima assustador que havia na rua, e tampouco se deu conta que nenhuma alma viva sairia naquele nevoeiro denso.

   Do manto negro sob o céu sairam em voos parafusos dois anjos Shaitans, Furiosus e Iratus. Sobrevoaram perscrutando com o olfato a redondeza em busca daquela que daria origem ao filho do Senhor das Trevas. O suor da grávida vindo da casa azul com portas amarelas aguçou os seus olfatos. A presa foi achada. Passaram por Petrus que não percebeu que aqueles anjos não vieram por intermédio de suas orações. Os dois fecharam as asas escondendo-as por debaixo da pele, instalaram-se no caibro da casa agarrando-o com as garras dos pés, de cabeça para baixo lançaram olhares para a grávida preparando o ataque. Petrus não percebeu o perigo rondando o seu lar e permaneceu fumando o seu cigarro com os olhos perdidos no nevoeiro, ele não esperava somente o médico, antes dele, haveria de chegar a esperança, pois o que ele vira no dia anterior não foi provocado pela natureza, era um evento sobrenatural.


   Ao atravessar as nuvens negras, Hesediel despertou os anjos Shaitans que voaram em sua direção e o cercaram, ainda no ar, formando um círculo em torno de si. Todos, armados com as espadas Daemos feitas do chifre do Senhor das Trevas, preparavam o ataque, conjuntamente, para não dar tempo de reação ao anjo Hesediel. Hesediel, pego de surpresa, não poderia abrir as asas, pois se fossem atingidas, o seu corpo transformaria em pó, e mesmo em espírito a sua missão estaria findada. Ele, sutilmente desafivelou o coldre, armou o recipiente Lux apertando o seu orifício central, olhou para cima, viu que havia um anjo Shaitan impedindo a sua subida, porém, ao olhar para baixo, não havia nenhum impedindo a sua descida, provavelmente por eles acharam que seria uma manobra suicida, até para um anjo. E era, contudo, Hesediel não tinha saída, teria de arriscar. Ele mentalizou a sua forma humana, fechou mais ainda as suas asas cravando-as rente ao seu corpo e elas foram adentrando a sua pele até desaparecerem. No seu lugar surgiram os braços do guerreiro, do anjo da morte desprovido de dó. As pequenas asas dos seus pés que o fazia pairar no ar também se fecharam e incrustaram embaixo da pele de seu pé fazendo-o cair verticalmente em direção ao chão. Na forma humana, Hesediel não aguentaria o impacto da queda, e tampouco poderia voltar a sua forma angelical, pois os anjos Shaitans o perseguiam, então, ele tentou uma manobra perigosa. Poucos metros do chão, Hesediel retirou o recipiente Lux do coldre e o arremessou no chão, o mesmo se abriu e formou um círculo de luz. Dobrando o corpo até formar uma bola, Hesediel usou o vento para se desviar do círculo de luz, pois se caísse no mesmo, na forma humana, desapareceria. Ao atingir o chão, ele mentalizou a forma angelical, retirou a espada Divus, e alçou voo passando por debaixo dos anjos Shaitans fazendo a curva ascendente no último. Acionando o botão Dio, Hesediel armou a espada Divus em sua potência máxima e a cravou nas asas dos anjos Shaitan arrancando-as uma a uma. A luz da espada estava tão intensa que ao atingir as asas sentiu-se o cheiro de penas queimadas no ar, era um aroma sulfuro. Os corpos dos anjos Shaitan, ao perderem as asas, transformaram em pó formando uma camada negra e grossa no ar, aos poucos ela foi dissipada pelos ventos. Desencarnados, os espíritos Shaitan foram capturados pelo recipiente Lux que ao fechar em si, formando uma bola, consumiu toda energia negativa contida neles e os enviou para os Servos dos deuses. Desarmando o recipiente Lux e enfiando no coldre, desarmando a espada Divus e enfiando na bainha, Hesediel vislumbrou o céu azul para logo em seguida vê-lo ser coberto pelo manto negro. Antes que fosse percebido por um anjo Shaitan, Hesediel levantou voo, rente ao chão e partiu em busca do sangue puro.


   Petrus ouviu gritos doloridos e desesperadores arvorando do quarto, chamando-o. Os seus pensamentos foi da morte do filho para a morte da esposa em segundos. O médico não viera, muito menos a esperança. Ele precisava reagir, porém a ação, neste momento, teria o mesmo resultado da inação, o destino da família já estava selado.

   Furiosus, após retirar uma das penas da sua asa e enviar no pescoço da grávida para a coleta do seu sangue, não esperava que ela gritasse tanto. Alertado por Iratus que o marido da grávida estava entrando a casa, eles voltaram a agarrar o caibro e de cabeça para baixo os observaram, pois não poderia matá-los agora, o sangue da grávida ainda era necessário para a feitura do filho do Senhor das Trevas, o do pai só se usará se houver necessidade para a sua maturação, mesmo correndo todos os riscos em usá-lo.

   Desatando os freios que o impedia agir, a saber, o medo de deixar a esposa grávida sozinha devido o ocorrido no dia anterior, e, também, o medo dela morrer sem ter quem fizesse o parto, Petrus partiu em busca de um médico ou parteira sem perceber a marca de furo no pescoço da esposa. Os anjos Shaitan pendurado no caibro ele não viu, pois os mesmos somente se mostram a olhos humanos quando vão matá-los.


   Voando a poucos metros do chão, desviando dos objetos, Hesediel quase derrubou Petrus com a lufada de vento provocada pelas batidas de suas asas. A pressa de Petrus chamou a atenção de Hesediel que voltou seus olhos para onde ele tinha acabado de sair. A casa azul com portas amarelas lhe chamou mais ainda a atenção por destoar das outras casas, todas brancas com portas amarelas.

   Furiosus e Iratus preparavam para descer do caibro e se mostrarem para a grávida terminando o seu serviço, quando sentiu o cheiro de alfazema e talco de bebê impregnando o ambiente, eles se recolheram. Os dois se olharam preocupados, pois aquele cheiro era símile ao cheiro dos anjos de luz. Furiosus, gesticulando com os dedos, indicou a Iratus que voltasse a casa na forma humana e descobrisse de onde vinha o cheiro. Apavorado, Iratus abriu as suas asas desesperado voltando a sua forma angelical ao entrar a casa. Quando Furiosus soube que era o cheiro de Hesediel, aventou a possibilidade de matá-lo, porém, ele não tinha terminado a sua missão e ainda não havia preparado as balas. Apressadamente acendeu as outras velas que havia na casa e alguns incensos para dispersar o cheiro sulfuro que exalava do seu corpo e do corpo de Iratus. Como a energia ia e voltava em intervalos intermitentes devido ao temporal do dia anterior, os dois anjos Shaitans, dependurados no caibro, se esconderam na penumbra do quarto.
 
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Página de Introdução

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domingo, 4 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Introdução

 
Profecia Maia
 
 Em exatos 22 de Dezembro de 2012 o Sol irá receber um raio sincronizado da Galáxia, algo muito poderoso que mudara todo nosso planeta. Com este fenômeno, o planeta terra passara a receber um sol muito mais quente, algo que afetará todo o clima atual do planeta terra. Diante do caos natural, a economia mundial passará por grandes problemas, assim como a comunicação, sistema de energia eletrica e tudo tecnológico que nosso mundo atual tem conhecimento. Será uma fase de caos social na humanidade, fome, miséria, falta de água potável e muitos outros problemas.

Fonte de pesquisa: http://www.profeciamaia.com.br/

                                            Centúria III - Quadra 34 - Nostradamus


Quando ocorrer o eclipse do Sol então,
O monstro será visto dia por completo:
De modo errado isso será interpretado,
Preço alto pela desproteção: ninguém terá previsto isto.

                                      Apocalipse 2012 - Segundo Eder Ribeiro


   A monotonia de todos os dias, a rotina diuturna de admirar o que já fora belo, e, hoje, destruído pela soberba humana, o mundo, aos poucos, cansava os olhos dos deuses. A raça humana, além de não causar mais admiração, estava encerrando o seu ciclo, próximo do seu fim, não tinha mais fé nos deuses, muito menos em si. Entristecidos por não serem mais admirados e, também, por os humanos não recorrem a eles para solucionar as suas aflições, os deuses resolveram criar uma Nova Geração que lhes fosse obediente. A Atual Geração seria abandonada à própria sorte, ou seja, legada ao Senhor das Trevas. A Nova Geração deveria ter sangue puro, humano, contudo, devido a impossibilidade de encontrar esse sangue, pois o mesmo foi derramado pela última vez sobre uma cruz na era Romana, não impediria a sua criação mesmo que a parte humana sobrepujasse o que lhe haveria de divino.  Caberia a Nova Geração o seu processo de evolução independente da vontade divina, porém, havia uma esperança que essa Nova Geração seguisse ao pé da letra os ensinamentos cristãos. Os deuses mandaram o anjo Hesediel a terra capturar um espécime que mais próximo chegasse da pureza. O processo iria começar novamente, uma nova chance seria dada. O barro dos deuses esperava esse sangue.

 

   Ansioso, Petrus foi até o jardim para fumar, deixou seus olhos se perderem no meio do nevoeiro enquanto tragava um cigarro atrás do outro. Perguntas lhe perturbavam: "Porque os deuses estavam abandonando a raça humana, o que seria de seu filho Lucius que estava para nascer, seria mesmo o Senhor das Trevas que estava destruindo o mundo ou caberia somente aos homens a culpa?". Antes que as perguntas irrespondíveis lhe envolvessem, Petrus orou pedindo proteção ao seu lar e por um momento teve a sensação de ter visto um ser alado cruzar o céu símile a um anjo. O que ele não sabia era que esses seres alados não vieram pela sua oração, mas pela cria que iria nascer. Não eram apenas os deuses que tinham planos para a Nova Geração, o Senhor das Trevas também.

 

   Enquanto o anjo Hesediel se preparava para procurar o sangue humano que se aproximasse da pureza desejada para a feitura de Ariadna, a "eva" da Nova Geração, os deuses confabulavam se ela deveria ser bela somente intrinsecamente ou, também, extrinsecamente. O céu tremia devido às discussões, porém, com os ânimos acalmados, eles chegaram a um consenso. Ariadna deveria ser totalmente bela e que seu contato carnal com o outro espécime deveria ser com aquele que lhe daria o sangue para a sua criação, assim a Nova Geração estaria protegida das impurezas que tanto assola a Atual Geração e a está levando ao seu fim. Se por acaso ela tivesse algum contato com um espécime de sangue impuro, beijando-o, a sua beleza esfumaria a envelhecendo aceleradamente e se houvesse algum contato carnal, a sua vida esvairia para que a Nova Geração não fosse contaminada pela impureza do sangue do Senhor das Trevas. O vaticínio do fim da raça humano poderia se concretizar.

   Levando a sua espada Divus, o recipiente Lux para captura dos espíritos dos anjos Shaitans e após ter ouvido a explanação detalhada de todos os deuses, Hesediel, o anjo destemido da morte, foi para a sua mais difícil missão no reino terreno. Atravessou a região Esperanthus, onde os espíritos que não foram capturados pelos anjos Shaitans, ou os que foram purificados pelo recipiente Lux recebiam ensinamentos dos Servos dos deuses para um novo reencarne, e entrou na região terrena. Observou uma nuvem negra cobrindo todo o céu terreno. O Senhor das Trevas havia içado as suas armas, a batalha iria começar. Hesediel, passando os dedos no gume da sua espada Divus, a ajeitou na bainha, apertou a fivela do coldre onde estava guardado o recipiente Lux, abriu as asas e subiu alguns metros, embicou no sentido descendente, fechou as asas e atravessou as nuvens negras. A casa do Senhor das Trevas não é o inferno, mas aonde se encontram aqueles que praticam os seus ensinamentos, entre eles, a maldade. Hesediel estava na terra, a batalha ia começar.
 
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Tentarei postar todas as páginas até dia 21/12/2012, se não conseguir, a quem interessar, contarei o final entre o céu e o inferno, pois, quais de nós saberemos os nossos destinos depois desta data fatídica? Indique a leitura desse conto aos seus amigos e os ajuda a preparar para esses dias que virão.