Esse texto teve como fonte inspiradora a troca de
comentários no blog A
Parte e o Todo de mim da minha amiga Cris Campos. Recomendo a leitura.
O vazio é um espaço
infindo quando se instala dentro de nós, cuja forma é um túnel em tons de cinza
sem uma perspectiva definida. Deixo o som no último volume para não ter o
trabalho de ter que mexer com os dedos a pedra de gelo no meu uísque. O vazio
tem esse poder de nos tirar qualquer reação, de tornar cada ato pesaroso.
Queria acreditar que nem tudo que se escreve é verdadeiro, assim como não
deveria ser os sentimentos de quem é abandonada, posto que a dor seja
sentimento que nos aprisiona.
Muito mais do que
mexer a pedra de gelo, a música mexe é comigo. Ainda que o uísque possa me
provocar embriaguez, é a música que me embriaga de recordações. Tentando
demonstrar firmeza, eu me apoio nas recordações para não cair, mesmo
impossibilitada de me manter em pé devido ao estado que estou. Seguro as lágrimas
para não cair junto com elas e ser levada pela sua água.
Houve uma época que
pensei que as aberturas de pernas o prenderiam. Lembro bem que imitava os
cruzamentos de pernas da Sharon Stones, ainda mais os seus olhos penetrantes a
lhe dizerem: "me entenda antes de querer saber o significado da sombra
entre as minhas coxas". Vulgar? Bullshit! A sós, ou no escuro acompanhada,
entre quatro paredes ninguém se sabe, pois tanto a falta de luz como a de
companhia nos possibilita toda forma de ser. Contudo, o máximo que consegui foi
a pureza erótica da Marilyn Monroe, e não lhe convenci, pois ignorou o meu
happy birthday to you.
Fui tola ao
acreditar que se prende um homem com aberturas e fechadas de coxa. Tampouco o
prende aliançando o seu dedo anelar. Coração de homem é terra infértil, um
péssimo investimento, pois torná-lo fértil é correr o risco de uma
sem-terra-novinha-gostosona invadi-lo e tomá-lo para si.
Fiz do meu lençol
chão para você plantar a sua raiz, nua como uma lua em noite de verão, ansiei
para ver estrelas pipocando no céu da minha boca. Quantas vezes eu vi
constelações em volta da orbita dos meus olhos quando você pousou suavemente
sobre mim e sussurrou Pitty em meus ouvidos:
¨ Que você me adora
Que me acha foda
Não espere eu ir embora pra perceber
Que você me adora
Que me acha foda¨
Que me acha foda
Não espere eu ir embora pra perceber
Que você me adora
Que me acha foda¨
Mas foi pouca
adoração para muita foda, ou então a adoração foi ao físico, que dá no mesmo, é
tudo uma questão de semântica.
Desligo o som, o
meu sofrimento não merece uma trilha sonora. Ligo a televisão, mesmo sabendo
que ela é a pior companheira para a solidão.
Eu sou foda - não
no sentido figurado, mas no literal. - Melhor
dizendo, eu fui fodida, por você. E qualquer aplicação que se faça do verbo é
plausível, tanto para significar minha situação agora como antes.
Pensei que teríamos
um final feliz, piegas até, com festa, bolo e brigadeiro, anel sendo colocado
no dedo esquerdo anelar tendo um padre a testemunhar as nossas juras de amor
até que a morte nos separa sem a necessidade de um matar o outro após décadas
de convivências.
O bolo de
aniversário de um ano de namoro bolourou em cima da mesa. Que o tempo se
encarrega de esfacelá-lo, quem sabe ele sirva para contar uma história que
não era para ser vivida, mas inventada.
A primeira leitura que fiz de um texto da Cris, eu fiquei
estupefato com a sua capacidade de discernir fazendo bom uso da nossa língua. Na
segunda leitura, eu me tornei admirador para depois virar fã de carteirinha. Os
seus poemas são como flechas certeiras atingindo nossa mente e nos fazendo
refletir. Para você que gosta de textos inteligentes e com conteúdo, eu
recomendo acompanhar o seu blog A Parte e o Todo de Mim. Boa leitura e um bom domingo
a todos.
Primeira Imagem Getty Images