Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

sábado, 26 de abril de 2008

Lá onde o mar se acaba

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Quando Cláudio, enfim, sentou na areia da praia, estava exausto. O pranto havia secado, mas por dentro as lágrimas eram intermináveis. Em qualquer direção que olhasse suas pegadas, pelo vento, foram apagadas. Olhar pra trás, para quê? Se todo o seu passado carregava na cor cinza a matiz da tristeza advinda das perdas, e seu futuro era senão um mar de chumbo que o levaria de encontro àqueles que ele perdeu. Sentado no banco do bar, um copo com pinga em suas mãos, ele via o reflexo distorcido da sua imagem disforme, e não diferia da imagem que os outros viam em seu rosto. À vida ele não passava de um estorvo. Era o que ele era. Bebeu de uma só vez o copo com pinga, tentou puxar dos olhos um filete de lágrimas, estava seco, todos os seus sentimentos eram áridos. Não tinha pena de si, não culpava Deus por seu infortúnio. Acreditava que tudo que lhe acontecia, para o bem ou para o mal, era fruto dos seus acertos ou erros, e em menor parte daqueles que ele convivia. Estava só.
Lá longe onde o mar se acaba estavam todos que ele perdeu. Todos de braços estendidos como quem o chamando, menos a esposa e a filha recém-nascida. Em pé com o olhar firme, pela primeira vez ele via o horizonte, era denso e cheirava a flores ciprestes. Os seus olhos fixam onde o mar de chumbo se acaba, não se via lá. Só, ele estava sozinho. Deixa seu corpo desabar na areia, não sentiu que a mesma estava quente, e se desfez em lágrimas. Sempre em estado de luto, mas nunca choroso, ele, ao ver os seus do outro lado da vida, chorou.
Chorou pelo infortúnio de seu avô tentando salvar a cadela de estimação que ele havia lhe dado de presente de natal aos quatros anos. O temporal que desabou, levou seu avô e sua cadela. Muitos culparam Deus, mas ele sabia que cabia ao homem a dor que ele próprio planta. Estavam lá onde o mar de chumbo se acaba, o latido da cadela e o sorriso do seu avô.
Cabelos desalinhados, cheirando a perfume vencido misturado com a gordura de suas frituras, a barraqueira encheu o copo com pinga, não por bondade, mas pelo fato de Cláudio ter pagado o suficiente para tomar duas garrafas com pinga, e ele estava na metade de uma.
O horizonte desfigurava em tons alaranjados, era o quadro perfeito para uma tarde de esplendor, mas o vazio que havia em Cláudio, por mais colorido que estivesse à tarde, para ele só tinha tons de cinzas. E foi neste cenário que ele viu a imagem de sua irmãzinha que fora cedo demais. Sofrendo de inanição tanto ela como ele e seus pais, e ela, por ser mais fraca, aos doze anos se esvaiu. Quantos naquele momento não culparam Deus por não mandar chuvas e florescer o sertão. Mas agora ele sabia que somente o homem come o fruto da dor que outrora plantou.
O copo com pinga estava pela metade, em um só gole ele o sorveu. Novamente desabou no chão. Suas vistas escureceram. Uma fresta de luz entrou pelos seus olhos, ele vislumbrou seus pais, lá no horizonte onde o mar de chumbo se acaba. O tanto de lágrimas que ele não chorou quando eles estavam vivos, chorou agora. O sertão que os matara ainda mata quem nele vive, e hoje Cláudio chora também por isso. Muitos ainda culpam Deus, mas o machado que desmata o pouco de verde que há, abre a clareira onde a enxada cavará a cova no chão seco. E Cláudio chorou por este ter sido a sina dos seus pais.
Cambaleando pela areia, o oco dentro dele já havia consumido sua alma. Ele senta no banco do bar, a barraqueira já esperava por isso. Ela sabia que todos, após uma bebedeira, vêm deitar seus problemas em seus ouvidos, e com aquele sujeito estranho não seria diferente. Cláudio contou-lhe o que o torturava.
Com a língua lesa, amortecida pelo álcool, ele contou a barraqueira que após perder os seus no sertão piauiense ele veio ter em São Paulo com a sorte, mas só encontrou miséria. Quantas vezes passando fome ele revolveu sacos de lixo em busca de comida, e o que achava, mesmo estragado, comia. À noite com o estômago bombardeado por dores, ele entornava meio litro com pinga para desmaiar antes que a dor o consumisse. Catou lata, vidro, qualquer material reciclável para sustentar a mulher e a filha recém-nascida, quando ontem voltando para o lar em mais um dia fatigante, depois de um temporal que abateu sobre São Paulo, sua casa havia descido o morro e junto com ela havia levado sua esposa e sua filha.
A barraqueira acostumara a ouvir história de bêbedo, e pouco valor dava ao que ouvia, a rudez da vida já aniquilara todos os seus sentimentos. Entrega a última garrafa com pinga para Cláudio, para ela era o remédio para aliviar as dores. Nem deu atenção quando Cláudio lhe disse que não as viram lá no horizonte onde o mar de chumbo se acaba. Os ouvidos da barraqueira já eram de outro bêbedo. Só, sozinho estava Cláudio, sem futuro. Perguntava para si mesmo, o girassol ainda se vira para o sol?
Garrafa em mãos, trôpego, Cláudio se dirige, ziguezagueando, em direção ao mar. Forças exauridas, ele cai há alguns metros da água. A maré já ia levando a garrafa quando ele a agarra de uma vez. Leva-a a boca, e no mesmo instante a virgem Maria com o menino Jesus no colo surge na sua frente. Assustado, ele joga a garrafa longe e ajoelhado começa a chorar. Quando volta a si, estavam lá, todos, seu avô e a cadela a lamber suas botas, seus pais com corpos mirrados (será que no outro lado da vida a miséria também lateja? – perguntava-se.), sua irmãzinha, apenas um traço de gente, tanto de lado como de frente, parecia uma folha de compensando (será que o homem governa o outro lado da vida? – meditava.), e enfim sua esposa com sua filhinha tal qual virgem Maria com menino Jesus no colo. Lá no horizonte onde o mar de chumbo se acaba.
Cláudio se deixou levar pelos braços do mar...

Sentimento outonais


Águam tristezas nos meus dias outonais
Ais gélidos trazidos por ventos invernais
Deságuam em minha alma soturnos males
Estaciono sobre o vento frio outonal
Hiberno sobre a lâmina fina da chuva invernal
Escureço sobre sentimentos petrificados
Aguardando os ventos primaveris para o seu degelo
Esperando o sol de verão para revivê-los
Assim mesmo, dorido pelo clima da estação,
Sigo florido com uma rosa e um cravo em cada mão

domingo, 20 de abril de 2008

A lua me abandonou

 

Ao lembrar o ontem
No céu de tua alma fui sol
No céu de minha alma foi lua
A espera do tempo certo
Para você dar luz as estrelas, eu brilho.
Hoje continuo ardendo em ti
Dando cores ao teu horizonte
Mas você em mim, escuridão.
Sob nuvens carregadas me escondo
A chorar tristezas
A lastimar perdas
A inundar os espaços vazios por ti deixado.
Se for dia amanheço sem brilho
Se for tarde entardeço sem luz
A tua espera
Apaixonadamente esperando anoitecer
E no céu de tua alma brilhar.

sábado, 19 de abril de 2008

A espera de Darwin

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Não há necessidade d’eu ir a lua
Para entender os passos da humanidade,
As pegadas de Neil Alden Armstrong
Se me levasse a um caminho
Levar-me-ia de lugar nenhum a um eterno vazio.
Não há necessidade d’eu rogar aos céus
Para com Deus ter-me, para tê-Lo
Bastar-me-ia sentir o Deus em mim imerso,
Deus é do tamanho do universo
O universo do tamanho da minha fé, e a
Minha fé mede-se de acordo com os passos que dou.
Há em mim a necessidade da pobreza material
A de espírito, por ser humano, já a tenho o suficiente.
Necessito de um mundo sem as cores da tv
O meu mundo tem a cor da minha arte
E eu o tinjo com as nuanças do amor,
Mas são as cores do som que ouço
Trazidos pelos ventos do sul
Que me levará aonde minha fé não alcança.
Destituído de qualquer riqueza
Não evoluí o bastante para ir a lua
Minha evolução anda a passos de cágados,
O Deus imerso em mim há de me explicar.
Meu universo está nas ilhas Galápagos
E lá estarei a espera...

sábado, 12 de abril de 2008

a espera da cal

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minha cã, vã moldura
prum rosto coas feições
dum ser ressentido
perdido entreontem e o vir a ser
força-me a abriolhos
sobre o chão ressequido
e as linhas disformes vista
espelha meu eu envelhe-
cido,
sido derreado
o meu corpo é ataúde cansado
receptáculo para a
miser-
abil-
idade humana: ser desumano,
meu medo de findar
não faz da minha covardia
apego à vida,
a eternidade banha-se de escuridão.
o cão coa cal na mão
rido, espera o sopro divino...

sábado, 5 de abril de 2008

Reflexo


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Afoga a água o meu coração
Joga nos meus olhos as lágrimas que há tempo se perderam
Roga pragas em minhas vidas que já feneceram
Logo mortas quando do ventre surgiram assustadas por um futuro vão
Peco por nunca ter tido um horizonte por onde guiar
Fecho-me por medo que lá fora não consigo um passo a frente dar
Meço-me e peso-me para as medidas serem nulas
Desço-me tão profundamente que meus apelos não sensibilizam nenhuma ajuda
Ah, que ser é este que se diz ser eu
A ter a mim como chamas que jamais queimarão
A se perder em um corpo que não é meu!
Ah que ser é este que se diz ser dos outros
A padecer minha alma tão castigada por não crer em nenhum cristão
Ah que seres são estes que fazem isso e deixam minha alma e meu corpo tortos!?

flor Teresa


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...assim um beija-flor

de Teresa Cordioli me falou

versos caídos do céu
descendo por teresas
co’as cores d’olhos de deus
matizam pétalas

versos vindos do céu
embalados pelo sopro divino
são germinados polens
verbalizados em poemas

poemas entrelaçados
tal qual teresas
poemas de Teresa
tal qual sopro divino

a cor d’olhos de deus
verbalizados no amor
a cor d’olhos de deus
Teresa matizada em flor