Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

sábado, 30 de janeiro de 2010

Sob um pé de verso: sobre coxas e sobrecu - 2ª parte

“Entre as lembranças que cada um de nós possui, há algumas que não contamos senão aos nossos amigos. Há outras ainda que não confessaremos senão a nós mesmos, e, aliás, sob o signo do segredo. Mas existem enfim coisas que o homem não consente nem em confessar a si mesmo. – Dostoievski”



Confesso que o pedido do meu amigo Élcio, de contar uma passagem de minha infância em comemoração ao 2° aniversário do seu blog VERSEIRO, me instigou e me levou ao pensamento de Dostoievski. Considero minha infância como um dos momentos mais feliz da minha vida, a riqueza contida nela é imensurável. Portanto, para homenagear o amigo, sentei sob um pé de verso e abri o baú. Apesar de romanceado, todos os fatos são verídicos.



2ª parte


E uma mulher dizia, como se toda inocência fosse pecaminosa, esse menino... Isso aí não vai dar em nada.

O menino, curado de suas feridas, cresceu, mas não deixou de ser menino. Sentado no barranco da beira do rio, ele se perguntava o porquê de ainda não ter engolido as piabas para aprender a nadar, como todos diziam.

Algumas lavadeiras enxaguavam suas roupas na beira do rio, enquanto outras ainda as batiam nas pedras e logo em seguida as estendiam, ensaboadas, na grama para quarar.

O menino percorreu com os olhos a beira do rio de norte a sul e não a viu. Frustrado, ele preparava-se para ir embora quando ela passou rebolando, sem pudicícia, com a trouxa de roupa suja na cabeça. Para não molhar o vestido, ela o suspendeu à altura da cintura e o prendeu no cós da calcinha, deixando a mostra suas coxas; entrou no rio e começou a lavar as roupas. O menino nem quis saber se havia ou não a necessidade de engolir as piabas para o nado. Mergulhou no rio, viu os peixes dar voltas por entre as coxas dela. Por um instante sentiu-se peixe, também, encantado pela sereia. Quando ele deu por si, suas pernas não acharam o fundo do rio; desesperado, ele emergiu e submergiu, afogando-se. Salvo por uma das lavadeiras, ele nunca mais entrou em um rio.

Recuperado do susto, ele sentou nas escadarias do cais, olhando para o céu, tentando entender o castigo que deus lhe impõe ao se deixar levar pelos desejos da carne. Seriam os desejos da carne impedimento para a salvação da alma? Ele foi tirado dos seus pensamentos quando percebeu que ela havia colocado a rudia na cabeça e se encaminhado em sua direção com a trouxa de roupa limpa pingando água. Quando ela passou por ele, os seios dela estavam intumescidos e visíveis no vestido branco, úmido pela água que pingava da trouxa de roupa. Sendo percebida, ela passou por ele cadenciando, mais ainda, o rebolado malemolente.

Ano mais tarde, quando estudando em um colégio católico, nas aulas de português, ao aprender a separação silábica das palavras, ele pensava no rebolado dela ao silabar o vocábulo. E assim, como provocando deus, ele mirava a bunda de uma feira, – queiramos ou não, nem os ditos santos fogem do pecado da carne - esperando o seu rebolado, percebia o seu nome sendo soletrado com a cadência do rebolado.

E uma santa mulher, com ar professoral e de voz melíflua, dizia, meu Deus, esse menino não vai dar em nada.



Mal ela sabia que o pior estava por vir... continua










terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sob um pé de verso: sobre coxas e sobrecu

“Entre as lembranças que cada um de nós possui, há algumas que não contamos senão aos nossos amigos. Há outras ainda que não confessaremos senão a nós mesmos, e, aliás, sob o signo do segredo. Mas existem enfim coisas que o homem não consente nem em confessar a si mesmo. – Dostoievski”




Confesso que o pedido do meu amigo Élcio, de contar uma passagem de minha infância em comemoração ao 2° aniversário do seu blog VERSEIRO, me instigou e me levou ao pensamento de Dostoievski. Considero minha infância como um dos momentos mais feliz da minha vida, a riqueza contida nela é imensurável. Portanto, para homenagear o amigo, sentei sob um pé de verso e abri o baú. Apesar de romanceado, todos os fatos são verídicos.

                   1ª parte

Exsudando todo o corpo, ele, espanando-o com um pano de enxugar utensílios domésticos a fim de retirar o pó de trigo; os dedos das mãos quase colados uns nos outros pela massa, ainda mole, do pão; o rosto carregado de expectativas entremeadas por preocupações, não exatamente nessa ordem; entrou, aos tropeços, no quarto, a pega pelo colo e saiu às pressas à maternidade. Após horas ele escutou o choro do seu menino cortar o silêncio da maternidade, e ele chorou junto.

Uma mulher dizia, como se não quisesse dizer a ele especificamente, esse menino não vai vingar, não vai dá em nada.

Ao chegar à cozinha, o menino deu três pulos para alcançar o interruptor; a lâmpada ao iluminar o ambiente causou-lhe maravilhamento ao deparar-se com o fogão novo. Ele ficou ainda mais maravilhado, aliás, feliz com as abas laterais que o fogão tinha, pois assim ele poderia se esconder atrás do botijão de gás e se aprazer olhando as coxas roliças da empregada doméstica. Tolo, como somente poderia ser, ele foi visto, e, estabanado, ao levantar-se bateu a cabeça na aba lateral do fogão.

Quando a empregada doméstica, desesperada, movida pelo sentimento de culpa, devido ao acidente, desceu de uma vez o short do menino, ele teria dado urros de prazer e consumado o seu desejo oculto, mas, ao invés disso, os urros foram de dor, pois ao descer o short, violentamente, ela arrancou a pele de sua coxa deixando à mostra a carne viva, pulsante, no local que havia sido derramado a água fervente do café após ele ter batido a cabeça na aba lateral do fogão quando se levantou.

E uma mulher dizia, como se toda inocência fosse pecaminosa, esse menino... Isso aí não vai dar em nada.



continua

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sob o domínio do mal

Meu amigo, já falecido, Onairam Mesrede autorizou-me, em vida, a publicar seus contos desde que citasse sua autoria. Fui surpreendido quando recebi uma carta psicografada desautorizando-me o que em vida ele havia autorizado. Como tenho mais medo dos vivos do que dos mortos, publico aqui o último conto, esperando que ele reconsidere, pois quando se morre a única recompensa é que encontramos, lá em cima, nossos amigos para recompensar todos que, aqui embaixo, deixamos. Vamos a história.


Os fetos quando formados adquirem características dos pais. Nascidos, as características adquiridas são amplas, sofrendo influências dos vários meios aonde vivem, seja ele familiar, escolar, de trabalho, e etc. A prevalência de um ou de outro é que dirá quem realmente são, e isso não quer dizer quem um meio seja melhor do que o outro; pois o bem e o mal transitam com desenvoltura em qualquer meio, e disso nasce a grande dificuldade de forjar um ser na mais completa retidão. Muitos conseguem dosar as duas forças antagônicas levando suas vidas em total calmaria, mas sempre correndo o risco de sofrem influências, ou serem atingidos pelo mal. Outros conseguem se proteger da influência maligna e trilha o caminho do bem; pode-se dizer que vivem felizes, ou, então, exagerando, santificam-se. Alguns são seres maleáveis, tanto trilham o caminho do bem quanto do mal, e, estes, não tem salvação por terem conhecimento dos dois caminhos, e são os mais desprezíveis. Estes, indubitavelmente, são os políticos; abraçam uma bandeira, uma cor, denominando partido, e debaixo desta bandeira acham que se diferem, mas por mais diferentes que sejam os partidos, os políticos se igualam por pisarem no mesmo chão enlameado, o da corrupção, e de uma forma ou de outra, todos saem respingados. Os restantes são, incontestavelmente, irrecuperáveis, pois têm o mal no código genético do seu genoma, e dentre estes estão os ladrões, estupradores, assassinos, e etc. Mas não são os piores, pois são frutos do seu meio, não tiveram a oportunidade de conhecer a face do bem. O pior de todos, sem nenhum traço de dúvida, são os políticos, pois, estes, têm as ferramentas para germinar o bem em cada meio, mas não fazem isso por não enxergar o coletivo, e a amplidão de sua visão só consegue ver o que reflete no espelho, ele próprio. Por isso as personagens abaixo são, por extensão, filhos de todos os políticos; apregoam o bem para se elegerem, eleitos germinam a semente do mal, e nós, reles mortais colhemos o caos.

Fedro não foi político por influência do pai. Ladrão do bem, como seu próprio pai se denominava, somente roubava os abastados. Como dizem que filho de peixe, peixinho é, ele queria que Fedro seguisse seus passos, e exerceu seu poder sobre Fedro quando este queria ser político e lhe disse que não o criara para ser ladrão pé de chinelo, que até para ser ladrão era preciso ter um pouco de ética, e político nenhum a tinha, e não permitiria que ele roubasse os pobres, por isso, político, jamais seria.

Farrah fora criado em um ambiente familiar feliz, onde todos professavam a fé em Deus pai. Despossuído das futilidades materiais, ele desejava o bem a todos. Fugia da política e dos políticos tanto quanto o diabo da cruz, sendo mais fácil, para ele, mandar o diabo para os quintos do inferno do que um político. Mas mesmo que conseguisse, não teria sucesso na sua empresa, pois o diabo rejeita o político sabendo que quando este se agarra ao trono não larga mais.

Sarah, nos primeiros anos de vida, fora criada na mesma comunidade de Fedro. Eram amigos de infância. Quis o destino que ela saísse dali para morar na mesma comunidade de Farrah. Sarah cresceu em um ambiente boníssimo, mas o mal não havia sido expurgado do seu caráter completamente, ficaram traços que haveriam de aflorar, eles estavam apenas adormecidos. Mulher feita, Sarah casou com Farrah, e suas vidas seguiam na mais pura harmonia. Como o bem e o mal são separados por uma linha tênue, ocorreu a Sarah de andar nesta linha. Despreparada para o que vinha, o pior veio. Desequilibrada, ela pisou no lado errado da linha, veio o mal. Encontrou Fedro, e como ocorre com quase todas as mulheres que ver bondade em tudo e todos, ela viu em Fedro tudo de bom, e seduzida pelo que ela viu de belo nele, uma forte atração a jogou em seus braços, e daí para a cama.

Quando Farrah soube do caso extraconjugal da sua esposa, a inocentou por saber que ela, sendo tão bondosa, fora atraída pelo que há de maligno nos outros. Ele não sabia que no caráter de Sarah o mau fora forjado quando ela ainda era uma criança. O mal das pessoas boas é pensar que o mal está nos outros.

Farrah jamais seria capaz de esboçar uma atitude violenta; mas quando soube da traição, ele, num ato impensado, como todo animal atacado em seu território para se defender move mundos e fundos, comprou uma arma para tirar a vida daquele que plantou a erva do mal em seu lar. Por mais bondade que houvesse nele, o que lhe movia era a defesa da família, do seu bem maior, mesmo que não enxergasse que tanto Fedro como Sarah tinham responsabilidade mútua pelo mal. Num ato tresloucado encontrou os dois na cama em um hotel vagabundo, cheirando a podridão humana. Fedro, surpreendido, não teve tempo de reagir, recebeu uma bala certeira no coração. Seu sangue espalhou pela camisola de Sarah, já manchada com o líquido do amor carnal. Desesperada, ela se arremessou para cima de Farah. Atracados, ela, pressentindo o cheiro da morte, se defendia; ele, o da salvação da família, a protegia. Mas quando o mal macula, ele só se dá por contente quando a mácula for completa, e por um ou outro meio ele age. Acidentalmente a arma disparou acertando a região estomacal de Farrah. Agora era o sangue do seu marido que manchava sua camisola. Ela entrou em desespero, e a linha que ligava a vida à morte se aproximava, e ela não tinha escolha, ou ia por vontade própria, ou seria levada.

O sol já estava se pondo. Ela pegou a arma, olhou que no tambor só tinha uma bala. Ela só tinha alguns minutos, quiçá, míseros segundos. O sol refletia por sobre seu ombro esquerdo. Ela aponta a arma para seu peito, deu o tiro. Silêncio total no quarto. Não havia sangue, não havia mancha. O tiro falhara. O sol estava no centro da sua cabeça. Aperta novamente o gatilho. Em prantos ela vê sua imagem refletida no chão do hotel, ainda estava viva. Ela não tinha como fugir do seu destino. Havia a necessidade de completar a mancha da camisola com seu próprio sangue. Os raios solares agora estavam sobre seu ombro direito, e, no chão, a sua sombra foi a última imagem que viu. A bala atravessou o céu da sua boca, os miolos do seu cérebro espargiu por sobre seus louros cabelos. A bala aloja no teto. Seus joelhos dobram, e todo o seu corpo vem abaixo. Pela sua boca saem rios de sangue que cobrem todas as manchas de sua camisola. A mácula estava completa. O sol se pôs. O quarto estava escuro, ali, mortos, os três se igualavam por terem a cegueira humana.

Entrementes, em Brasília, o mal viceja de sol a sol; e por mais luminosidade que houver, a cegueira humana congressa.



13/07/08
 
* Onairam Mesrede= não se sabe nada sobre a sua vida, e nem tampouco se morreu, mas é fato, de vez em quando ele me assombro, por isso creio que logo ele me mandará um novo conto. Aguardemos.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Metamorfoseando

Por me falhar a inspiração, afeiçoei-me ao vício da bebida para que esta me provesse com o que me faltava, como o político ao corrupto e a política à prostituição. Pessoa próxima a mim fez-me ver que o corrupto se metamorfoseia no político e a prostituição na política, e nesta simbiose, um era espelho do outro, assim como o bêbedo era espelho de mim. Como a imagem não me era aprazível, quebrei o espelho e deixei de lado o vezo que me metamorfoseava. Quiçá se os políticos o mesmo fizesse, bem mais aprazível seria a política, mas como tudo que vem dessa classe é sujo, com certeza se quebrasse o espelho, a imagem estilhaçada seria do político, permanecendo o corrupto; quanto à política, esta, já nascera prostituta que se torna difícil saber onde começa uma e termina a outra. Difícil para mim é saber quando me virá à inspiração, e, antes que o poeta morra, trarei a luz mais um conto insólito do meu, já falecido, amigo Onairam Mesrede, intitulado, “Metamorfoseando”. Acompanhamos a história.


Naná fora criada numa família muito severa, pai padeiro e mãe costureira. Fora educada em escola administrada por feiras. Educação rígida que não admitia qualquer deslize. Na escola o castigo era aplicado na sala palmatorial, dado por Rosa, uma feira gorda de braços fortes que fazia com que a dor das palmatoadas fosse sentida das extremidades da palma da mão até a sola do pé. Até hoje Nana lembra da palmatória, feita de jacarandá com cinco orifícios dispostos em cruz. Naquela época todos diziam que as palmatoadas de Rosa equivaliam as chicotadas que Cristo recebeu. Exagero a parte, em sua casa não era diferente; os erros eram curados por castigos, e os de Nana eram tantos que ela recebia o pior dos castigos, ajoelhar sobre milhos. E ela os mereciam. Os róis de estripulias por ela praticada são tantos que enumerá-los é tão difícil quanto enumerar um político honesto.

De todos, o que mais Naná gostava de fazer, sem conhecimento dos pais, era o de assustar aqueles que passavam, ao cair da noite, pela rua do cemitério. Quando o sol era tomado pela cor alaranjada e amarela, Naná furtava um dos vestidos do atelier da sua mãe, pegava um quilo de farinha de trigo da padaria do seu pai, e encaminhava para o cemitério, esperando que descortinasse no céu o brilho da lua e das estrelas; vestindo-se, e cobrindo-se toda com a farinha de trigo, metamorfoseava em fantasma assustando quem por ali passava. Ela se esbaldava em risos pelo medo provocado nos outros. Naná fez da brincadeira hábito para desafogar dos castigos impostos pela escola e pelos seus pais. E assim espalhou-se a fama da Noiva Fantasma, e aonde quer que chegue a história não tinha um que tomasse coragem para tirar a limpo o que se dizia. Crescida, Naná se livrou dos castigos, não dos sustos que pregava nos outros. Com dezesseis anos, Naná não era mais uma menina, e sim uma mulher que despertava desejos nos garotos, e dentre estes estava Miguel. Naná desdenhava de todos eles, mas o Miguel não se dava por vencido, e quanto mais ele atacava, mais atacada pela cólera ela ficava. Vendo cercada a norte, sul, leste e oeste por Miguel, e não tendo nenhum ponto de fuga, ela resolveu marcar um encontro com ele nas proximidades do cemitério.

Miguel, dando os primeiros passos na rua que o levaria para o cemitério, sentiu medo. A neblina cobria toda a rua, mal dava para enxergar o que distava a meio metro; uivos do que parecia ser de lobo rompia o silêncio; cheiro de rosas anuviava o ambiente, era o aroma da morte. Com este cenário a favor, Naná já esperava o Miguel, pronta para lhe pregar uma peça. Com peruca acinzentada, pó de arroz branco sobre a face, sombreada em torno dos olhos com pó preto, nos lábios batom arroxeado, e vestida de branco; Naná, metamorfoseada, aguardava o Miguel. Quando este a viu, não havia coragem que o sustasse ali, e desesperado deu asas as suas pernas, correndo sem olhar em que direção.

Uma semana se passou e ninguém soube notícias do Miguel. Como ele tinha o hábito de faltar em semana de feriado, e aquela era a semana de finados, poucos deram por sua falta.

Naná, sabendo que nenhuma de suas colegas iriam aceitar, chamou-as para lhe acompanhar até a casa de sua tia. O convite foi recusado, pois elas sabiam que para chegar lá era obrigatório passar pela rua do cemitério, assim Naná foi sozinha. Aproximando do cemitério, Naná ouve uma voz lhe chamando.

- Quem é? – Disse.

- Entra no cemitério que saberá. – Respondeu a voz.

Naná, receando, entrou. Pela primeira vez ela sentiu medo.

- Quem é? – Naná tartamudeou.

- Não me reconhece Naná? Sou aquele que lhe amou em vida e lhe amará após a morte.

- Amou-me? O que você quer dizer com isso?

- Como você percebe pela conjugação do verbo, lhe amei em vida, agora lhe amo após ela.

Assustada, Naná tentou correr; mas uma força maior a segurava ali. Ela, que tripudiara de muitos se passando por alma penada, sentia que estava diante de uma, ou então alguém estava se metamorfoseando, tentando lhe pregar uma peça; e só poderia ser o Miguel. Pensando assim ela perdeu o medo, e antes de ser tripudiada, resolveu tripudiar dele.

- Miguel, meu amor, é você? – Disse Naná disfarçando seu riso.

- Sou eu, o teu amado que saiu do tumulo, e veio cobrar o amor por ti renegado.

- Pois venha, se mostra para eu devolvê-lo o tanto que me ama.

- Você não compreende Naná. Você não pode me ver, só sentir. Eu morri naquele dia em que você me assustou. Fui atropelado quando fugia da Noiva Fantasma.

Mais do que nunca Naná tentou fugir dali. Era impossível. Ela não via, mas sentia a presença do fantasma do Miguel, negando-lhe qualquer ponto de fuga. Sendo beijada por ele, um beijo frio, ela sentiu que lhe fugia a alma. Desmaiou, quando acordou não estava mais entre os vivos, estava ao lado daquele que lhe amou em vida e estava lhe amando após a morte.


18/09/07