Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Retalho

   Táxi, é disso que preciso, para ser sincera, um aéreo. Não intento o paraíso. Quero apenas chegar, se possível voando. Pouco importa aonde. Basta me encontrar e me saber feliz. A felicidade é o lugar, e por mais que diga que se encontra no paraíso, ela pode ser encontrada em qualquer local, afinal, somos nós que a construímos, e ela independe do lugar.
   Estou a olhar para o céu ainda esperando um táxi, mas não vejo nem as nuvens para dar a ilusão de que logo um chegará, no entanto aceitaria uma carruagem desde que o cocheiro trouxesse o príncipe, também. Contudo, o que vem são andorinhas.
    Nós, mulheres, vivemos nessa corda bamba entre a santificação e o pecado, como se abdicar dos prazeres nos levasse a um, e, se nos déssemos aos prazeres nos levasse ao outro. Comigo não funciona assim, provaria do "adão" e depois comeria a maçã, apesar de não saber comê-la, a minha voracidade devora até as sementes. A morte da cobra é o que nos leva a santidade e não o fato de ter provado do fruto. Dia a dia, eu mato a cobra que há em mim, e aonde chego não é uma parada de táxi. Eu preciso voar, afinal, parafraseando Pessoa, viver não é preciso, quanto a voar...
   A santidade, só é alcançável se abdicarmos da maldade e não dos prazeres, pois, o prazer não é um mal em sim.
   Os saltos do meu Le Soulier já me cansavam as pernas e o táxi era uma ilusão entre uma rua e outra. Enfim a ilusão se fez real. Quando a porta do taxi foi aberta pelo recepcionista do hotel, ele entrou sorrindo, em seguida, depois de mim. Ele, elegantemente, pegou na minha mão e me retirou do táxi indicando o caminho. Sua animação era em 3D, e real. Ao se encaminhar para a Ferrari estacionada no outro lado da rua, eu apontei para ele e para a Ferrari e fiz uma cara de interrogação querendo saber o motivo de ele ter entrado no táxi.
   Deixou-me sem respostas, minto, com um sorriso encantador ele tirou um champanhe Veuve Clicquot Magnun Brut da sua cartola mágica, entregou-me uma taça de cristal da Boêmia e ao enchê-la, percorreu os seus dedos sobre o corpo da taça e os depositou sobre as minhas mãos. Percebi em suas digitais a sua sensibilidade. Minha alma fez borbulhas.
   Ele não precisava usar a sua condição financeira para me impressionar, ao sorrir as linhas de seu rosto formavam um quadro onde eu me via apaixonada. A simplicidade dos seus gestos elegantes, espontâneos já me causou tanto encantamento que eu me via como a Gioconda do quadro de Da Vinci, o meu sorriso era um convite à aceitação.
   Bebi o champanhe saboreando os seus olhos azuis, e talmente Rose, no final do filme Titanic, quando se desfez da jóia, eu joguei, despretensiosamente, a taça no chão. Ele não me deixou para trás, fez o mesmo e foi além. Suspendeu-me pelo colo, retirou os meus sapatos Soulier jogando-os ao deus dará, passou por cima dos cacos e ao me colocar de volta no chão retirou os seus sapatos Cole Haan.
   Dizem que depois da chuva de verão aparece um arco-íris. Quando ele me tocou, umedecida, jorrei em gotas. Ao olhá-lo novamente, vi refletido em seus olhos azuis um arco-íris. Era o reflexo da minha alma.
   Tom Cruise, George Clooney, Brad Pitt não chegam aos seus chinelos, e não é Havaianas, é um Jimmy Choo. Ao falar o seu nome quando lhe perguntei, da sua boca saiu um hálito mentolado misturado a um balsâmico que não consegui definir, assim como não soube qual foi o nome falado por ele, pois o mesmo acorrentou-se ao aroma que evolou da sua boca. Pouco me importava a sua identidade, a minha eu já sabia que ia perder sob o lençol, ganhos maiores eu teria sobre ele, o lençol. Sobre ele ou sobre mim não haveria perdas, os ganhos seriam mútuos.
   Não sei aonde ele me levou. O céu azul estava bordado de estrelas símile a colcha que eu mais gosto de dormir, da Hennes & Mauritz. Deitado no chão eu o esquadrinhei com os olhos para decifrar o genoma de sua alma. Por segundos, tudo ficou congelado, enquanto eu o descobria. Decodifiquei todos os seus códigos e percebi que ele iria me levar onde eu queria ir. Percebi que a felicidade só pode vir em um estado, líquido. Assim eu estava, úmida, esperando que a felicidade mergulhasse em mim e me fizesse inundação. Desfeito do encanto, encantada, ele me levou ao encontro de suas águas.
   Não sei se ele será mais um retalho nessa grande colcha que é minha vida, porém, sei que ele fará parte do pedaço que não perguntamos o que vem depois da felicidade.



Imagem clique AQUI


Foi AQUI que me embebi para me inspirar na feitura do texto.


16 comentários:

  1. Então, teu texto valorizou a fonte da inspiração.

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  2. amar é somente AMAR!!!!
    gostei ...
    abraços

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  3. Bom dia Eder,

    o sol que seu bom dia me trouxe chegou aqui e iluminou tudo.

    Meu querido escritor, já te disse que você tem câmera fotográfica no cérebro e caneta na alma, não é? Vou acrescentar o perfume, você perfuma as imagens tão sensíveis que cria a partir da observação e, seus textos exalam o que sai desses seus dedos de sândalo, encanta com a sensibilidade, encanta com as as letras, encanta com a essência perfumada que coloca nelas.

    Este seu texto ficou maravilhoso, cheio de elegância e sensualidade. Sabiamente você conclui, o que escurece a alma é a maldade, esta sim deve ser submetida a flagelos diários, à extirpação, se vai mas longe se vão junto corpo e alma, é assim que se acha taxi aéreo, se der sorte,até taxis lunares.

    Beijos, querido

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  4. Eder, que maravilha esse seu texto. Viajei com os pensamentos da personagem e me fiz sentindo seus delírios do momento. Gostei também da colocação sobre santidade e pecado, realmente faz sentido. Adorei! Um abraço!

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  5. Olá, Eder!
    Belo texto: muita simbologia, muita literatura. Adorei!

    Abração,

    Rodrigo Davel

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  6. Ontem passei rápido por aqui, e fui no blog que lhe inspirou. É fantástico como você consegue se inspirar assim, se entregar ao texto, a imagianação, e deixar fluir as palavras com uma elaboração extraordinária. E com isso vou seguindo a imaginação, sendo a personagem (está foi a parte melhor kkkkk), uma delícia.

    Um texto que mexe com o imaginário, mexe com as certezas, as fragilidades, os medos, as ideias de certo e errado com relação ao amor, a felicidade...e traz lembranças boas. Estes momentos que não nos perguntamos pelo depois, é que ficam bem gravado na memória.

    beijo

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  7. Eder,
    Fiquei sem palavras diante desse texto.
    Há partes que me tocaram, respondendo algumas perguntas minhas.
    E a imaginação correu solta....

    Incrível,sensacional!!
    Amei!!

    Bjs

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  8. Para que procurar entender esse sentimento quando se pode simplesmente vivê-lo intensamente!Muitos amores se desencontram por conta de tantas explicações....Reconhecí meu grande amor quando me liberei desses porquês!
    Amei seu texto,meu abraço!

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  9. EDER !!!Vc é imbatível na inspiração, no argumento e na arte de cuidar o outro. "Existem pessoas que tem o dom de nos fazer enxergar além, de abrir as janelas da nossa casa no momento que ela está escura e nos fazer apreciar uma paisagem que por acaso não soubemos admirar, nem contemplar...QUERIDOS EDER E VAN
    vocês COM TODA SABEDORIA vão tecendo a vida na poética da ternura... Meu respeito,carinho,e admiração. abraços

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  10. OLá Eder...desculpa...mas você tá PHODA com PH maiusculo...rs...enm vou falar mais nada, a unica coisa é que já li algo desse trecho em algum lugar...rs

    ...da sua boca saiu um hálito mentolado misturado a um balsâmico que não consegui definir

    Show de bola amigo...as palavras te pertencem...continue fazendo excelente uso delas...

    Um abraço na alma....valeuuu...parabéns mais uma vez...

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  11. EDER meu querido!!obrigada pelo seu carinho comigo.
    Sou ainda apenas uma aprendiz querendo entender a alma humana,
    para poder atender
    e acolher as pessoas que me procuram.
    Portanto meu blog é de estudos,pedaçinhos do que aprendi e
    achei interessante registrar.
    Adoro estar aqui e aprender com voce...
    Que DOM maravilhoso vc tem o da escrita.
    Gostaria sinceramente que estivessemos
    todos nós blogueiros sentados no jardim
    aqui de casa,olhando-nos olhos nos olhos
    e...sentindo a energia fluir através dos abraços.
    uma abraço quentinho pra ti.bjs

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  12. Eder meu querido!!!..Quando puder passa la no meu blog
    fiz um comentário no ultimo post.Me diz o que achou.
    abraços.

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  13. Olá! Parabéns pelo blog!Estou seguindo teu mosaico de seguidores e agradeço se me seguires de volta em meu mosaico! Seja bem vinda ao meu espaço, nosso espaço!! Um sábado iluminado e repleto de bênçãos! Abraço fraterno e carinhoso!
    Elaine Averbuch Neves
    http://elaine-dedentroprafora.blogspot.com/

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  14. Felicidade é algo que todos querem, mas nem todos alcançam, pois a nossa vida é feita de momentos de eternidade e fragmentos de felicidade...(Elaine)Obrigado pelo carinho! Um sábado iluminado!Abraço fraterno e carinhoso!
    Elaine Averbuch Neves
    http://elaine-dedentroprafora.blogspot.com/

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  15. Elder!

    Seu maravilhoso texto, assim me fez entender!
    Que a luz de nossa alma, se ofusca, perante os medos que se ocumulam durante o nosso percurso... Medo e á maldita insegurança, se faz mais presente, quando é transmitido, por aqueles que teriam o dever de transformar futuros(as) guerreiros(as) e vencedor(as). Assim seria e não temeriam eles(as),os obstaculos que a vida lhes impõe, se respeitados fossem, durante o seu viver e sua formação.

    Abraços.

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  16. apesar da inspiração que tiveste em outro post, senti muito da sensibilidade feminina, o que é ótimo, nem todos conseguem escrever assim. Também gosto de escrever sobre personagens masculinos, é um bom exercício mental,rsrs
    um belo conto, sensual e envolvente, adorei!
    beijos

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