Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Ilusão

Eu ainda olho para o céu a procura de estrelas, tê-las próximas a mim, mesmo sabendo a distância descomunal entre nós, é uma espécie de cura para as desilusões. Uma colcha azul marinho sem nenhum bordado, assim estava o céu, faltava-lhe estrelas, tive que olhar para dentro de mim. Não muito diferente, a mim, mais do que estrelas, faltava luz.

Não sei se contabilizar a minha vida, as perdas serão maiores do que os ganhos, afinal o acúmulo do tempo é muito. Alias, pensando bem, se eu for pesar bem as perdas chegarei à conclusão que os ganhos são sempre maiores, pois quando eu perco, o custo da frustração não me abala tanto por saber que mais na frente à recompensa sempre pagará o prejuízo. Porém, há frustrações que além de tirar as estrelas do céu, rasga-o nos deixando um vazio infindável, uma sensação de vácuo e por mais plantado que esteja no chão, respirar se torna um fardo impensável.

Sentei naquele descampado com uma necessidade de uma árvore, as cordas eu havia trazido. Mas não havia árvore nenhuma, não havia rio, nem sequer uma mísera ponte. Ali, existia chão, grama, desalento e mais nenhum ser vivo...

Para trás ficaram lágrimas e saudades, das despedidas que não houve, adeuses davam nós na garganta dos meus. Adiante, o sol percorria pelo asfalto. Enfim, luz!


Imagem: Eder Ribeiro

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Dança

A vida é como o passo de uma dança, parece sempre os mesmos, mas nunca são, pois há sempre a necessidade do improviso. Por isso a vida não é uma história repetitiva, nem sempre são as mesmas personagens apesar de parecer que o cenário é o mesmo. A repetição cotidiana de atitudes, a falta de originalidade me irrita, quanto mais se os atos são insinceros. Mesmo sabendo que não é o mesmo sol de todos os dias, pois a intensidade e calor da luz são diferentes, mesmo sabendo que não são as mesmas nuvens de sempre, pois as cores e formas se modificam em uma velocidade perceptível, a padronização e a impercepção à mutabilidade ao que nos cerca me incomoda, e muito. Simplificar uma estrela no céu apenas como um ponto luminoso é não perceber que a visão vai além do enxergar, é necessário sentir e isso só conseguimos com os olhos da alma. Eu cheguei numa idade que minha presença não se faz pela massa do meu corpo, preciso transmutar para transmitir, por isso estou me dando às experimentações. Foi assim, experimentando, que o homem conheceu a si e depois o mundo. Eu vejo em minha volta as transformações diárias, mesmo não tendo conhecimento de quaisquer ciências, pois os meus olhos não me cega para o imponderável. Quando eu experimento do mel, eu não quero só sentir a sua doçura, mas preciso sabê-lo por sua densidade e textura, por seus sabores variados e assim conhecerei muito da abelha e do néctar que ela da flor colheu para significar esse mesmo mel. A vida tem que ser vivida no todo, tem que ser sentida na profundidade não apenas na superfície, pois se a entrega não for total nunca saberemos experimentar e não experimentar é viver cinquenta por cento. Viver a margem do rio com medo de se afogar se negando a aprender a nadar não é criar raízes em um solo firme, mas sim deixar de nutrir por outras fontes que daria mais consistência a nossa própria vida. Viver tendo limites ou os impondo não nos dará a oportunidade de saber o que tem do outro lado da fronteira. Eu necessito transgredir.
Eu coloquei o meu vestido curto amarelo colando-o ao corpo como se fosse uma segunda pele. Vulgar? À noite, do lobo ninguém sabe a pele, porém o uivo todo mundo entende, conquanto se forem uivos de deleite. Os meus seriam de prazer. Estranhei ela vir vestida de chitinha. Caracas, você saiu do túnel do tempo. Que eu saiba não vamos para um baile da terceira idade, disse-lhe. Ela riu dizendo que iríamos sim e estava vestida assim para não chamar a atenção. Mas você está chamando a atenção, a Vilma usou este vestido no seu casamento com o Fred Flintstone, ironizei. Não dava mais tempo para trocas de roupa, concluí. Ela foi parecendo uma beata, e eu, bem, para dizer a verdade, só cabe uma palavra para falar do meu traje, mas ela é impublicável, por isso, digo que estava parecendo a Débora Seco louca por um Capri, e não era o Herson, mas o Leonardo, pois se for para experimentar da fruta que ela esteja madura e não passada. Que importa a cor ou o estilo do vestido, no fim das contas, no fim da noite, nós queremos é desvesti-lo para vestir a nossa alma com o traje que lhe cai bem, o do prazer.
Dançamos todas as músicas lentas do Elvis, quando terminamos não o vi mais, procurei-o por todo o salão e não o achei. Minha amiga fazia gestos apontando onde ele estava, mas não a entendi. Fechei os olhos e o senti bailando dentro de mim, ele havia transmutado e me transmitia prazer. Contive o uivo, a felicidade gritava dentro de mim, e eu ouvia "Can’t help falling in love".


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terça-feira, 24 de maio de 2011

Para sempre

Quando Maio chegar, eu tenho certeza, nunca será a tristeza que chega, nunca mesmo, mormente se a canção ouvida é o tema de Lara. Lágrimas há, mas o que as motivas são a emoção do enlace. Não sei se o padre disse, sejam felizes para sempre, mas eu ouvi. Vi a carruagem, os sapatos não sei se eram de cristal, mas os calçados nos meus pés assim se pareciam. Príncipe não vira sapo, mas ser amada e amar também o mesmo tanto é sentir-se princesa mesmo nunca tendo beijado a boca de um. Um castelo não se constrói com areia para não correr o risco das águas o levar, o lar só pode ser edificado com amor repartilhado.

Quando entrei na igreja, os meus olhos eram todos para o noivo, apesar da imagem estar distorcida pelas lágrimas, eu o vi chorar também. A secura a dois se dá por não se deixar levar pelas emoções, tendo o amor como fonte, nós nos umedecíamos. As trocas de alianças se deram por mãos trêmulas, e foi nesse momento que percebemos que aliançados, as nossas almas passaram a ser uma. Não sei quem determinou que o para sempre, sempre é para sempre. Passados vinte anos, ainda temos uma eternidade para descobrir. O castelo está de pé.

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sábado, 21 de maio de 2011

Por um mês

Mal o ano começou, Abril. Abriu a saudade em minha alma, despedaçando-a. Mas antes Fevereiro. Fervia, febril, eu ebulia. Água de coco para refrescar, água do mar para serenar, porém, dentro de mim um inferno ardia, e eu de anjos não necessitava. Metade do verão tinha se passado, a praia fervilhar, as pessoas ocupavam todos os espaços na areia, nas mesas das barracas todo o tipo de água para refrescar e outras bebidas para animar, e o que eu necessitava era um homem para me tirar o ar. Há várias formas de se apagar um fogo, o meu só se apagaria se me tirasse o oxigênio. A minha boca necessitava de outra boca, e eu não usava batom, a minha pele necessitava de outra pele, e o que me vestia era a água do mar. Fevereiro fervia, eu ardia. E é Abril que vem, permaneço fechada.

O negro não precisa do sol para se queimar, nem tampouco para se iluminar, basta abrir um sorriso que amanhece luz. O seu corpo, só de olhar, me abrasava e quando os seus olhos os meus encontraram, eu me abri antes de virar cinzas, estava em fogo.

Durante um mês o verão foi entre quatro paredes, não necessitava do sol, eu tinha luz interna. Mas como eu havia dito, há várias formas de se apagar um incêndio, o meu fogo se apaga retirando o oxigênio. Ele, passado um mês, estava me sufocando, havia tirado todo o meu ar, necessitava de outros ares.

Abril, fecha-se o mês e fica a saudade, mas logo Maio deslembrará para Junho abrir uma nova fase, se houver fogo, há o inverno, eu estaciono fria, e isso não é o meu inferno, pois tenho os meus travesseiros...

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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Por uma semana

Eu nunca fui fã de rótulos. A loira é burra, a morena não, as atiradas putas, as recatadas santas, algumas foram feitas para casarem, outras natas para serem amantes. Eu sou todas em uma e nem por isso única, pois somos várias, apenas não assumimos.

Em minha casa uma coca-cola de dois litros e meio dura uma semana e quando o bebo, o refrigerante só me faz bem se for acompanhado por uma música de Caetano.

Quando eu o conheci não sabia que ele cantava todas do Caetano, e ele rebolava de uma maneira tão máscula que vê-lo nu era imaginar a felicidade estourando-se por uma tampinha de garrafa.

Ele trazia no tórax nu a tatuagem das concupiscências realizáveis, as linhas do seu corpo eram pauta para belas trilhas musicais, e ele saberia que eu sou uma excelente maestrina, saberia muito bem compor, quanto mais se o papel seria a sua pele.

O seu rebolado me deu um frio na barriga, o calor estava mais embaixo e subiu mais ainda quando aproximando da mesa ele cantou, “traz o meu café com suíta eu tomo, bota a sobremesa, eu como, eu como, eu como, eu como, eu como, vo.. cê”. Ele cantava “você não entende nada” de Caetano. Não precisou cantar toda a música. Eu entendi,

Por uma semana eu tomei o refrigerante acompanhado por uma suculenta picanha tostada na brasa. Por uma semana fui tomada pelo prazer...

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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Por um dia

Quando estamos em chamas, nunca devemos deixar de mergulhar nas águas do prazer para não correr o risco dos sentimentos transformarem-se em cinzas e nos levar a uma tristeza profunda. Havia um incêndio dentro de mim, muito mais do que mergulhar eu necessitava era me afogar. Fui ao mar.

Dizem que a noite é uma criança, não acho, eu que me torno uma e me deixo embalar em seus braços. Liguei o Picasso tão ansiosa quanto o gavião ao sobrevoar o galinheiro a espera que um pinto saísse para abocanhá-lo.

As ruas noturnas são passarelas para os prazeres físicos. Quando parei o carro entrecruzando ruas, eu sabia que a avenida estava aberta para o meu deleite. Ele se dirigiu ao carro e eu prontamente abaixei o vidro. Com os braços cruzados sobre a porta, ele sorriu com os olhos, e deitou os mesmos no meu decote. Ia lhe perguntar qual programa fazia, mas com receio que ele dissesse, tia, nessa profissão topamos tudo, eu abri a porta e o puxei para dentro do carro.

Não me surpreendeu quando os seus olhos brilharam mais pelo fato de eu levar a minha bolsa tiracolo para o quarto do que eu me mostrar nua para ele. Apesar dos cinquenta, a natureza foi benigna comigo, pois eu não trazia no corpo as marcas do tempo.

Acordei com uma sensação de que tinha saído de uma inundação, ainda me encontrava molhada, porém satisfeita. Procurei na minha bolsa a minha carteira de documentos e não a achei. Sabia que ele a levaria, mas o que ele não sabia era que os cartões de crédito na carteira eram falsos. Sai do motel. A vantagem de amar por um dia é que nunca permanecerão as cinzas da dor por ser abandonada. Sempre sabemos que no outro dia haverá um sol, mesmo que ele não nasça.


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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Geladeira

Nessa época não sabia que o Alaska pertencia aos Estados Unidos, era péssima em geografia, também, todos os meus sentidos eram para ele. Ele era o imã que desnorteava a minha bússola, meu ponto de partida e chegada. Foi o meu primeiro namorado, mas não foi o meu primeiro homem. Disso, ele nunca soube. Trinta e um anos se passaram, o que não passou foi a amarga lembrança de nossa primeira e única relação.

Quando ele me convidou para sair, eu me fiz de difícil, quando ele já estava desistindo, eu facilitei. Ele pediu uma esfirra e café com leite, devorou tudo como quem quisesse acelerar o encontro para chegar aos finalmentes, afinal, homens são todos iguais, só muda o número do manequim. Eu não o ajudei, pois comi a minha pizza beliscando-a com os dentes, e a Crush fui bebendo em conta-gotas. Ele era lindo, tinha um rosto andrógino. Já estávamos na segunda semana quando eu o deixei pegar na minha mão, na quinta semana, ele me roubou um beijo, na sexta semana, ele me levou para cama. Eu era uma mulher difícil, hoje, as mulheres, primeiro vão à cama para depois saber com quem saiu.

Estranhei quando ele colocou uma bacia no quarto. Mais ainda quando ele quis me dar banho. A suavidade com que ele passou o sabonete Phebo fez os meus poros dilatarem de prazer. Todas as suas digitais ficaram impregnadas na minha pele. Não me disse uma palavra, mas soube usar bem a língua. A água quente ele trouxe em uma vasilha de alumínio de três litros, jogou várias porções de ervas aromáticas macerando com as mãos e as mexeu com uma colher de pau, depois pediu para eu abrir as pernas, ficar embaixo da bacia e ir abaixando aos poucos até onde eu pudesse aguentar a temperatura. O tezão era tanto que quando eu percebi já estava com minhas partes íntimas embebidas na infusão. Não sei quantas línguas ele falava, porém, como a usou, o senti falar todas as línguas vivas e mortas.

Não sei quantas horas passamos junto aquela noite, sei que o prazer foi tanto que parecia ter durado um segundo, e eu queria uma eternidade. Contudo ele me rejeitou, pedi explicações e ele se negava a dar. Insisti, ele foi honesto, disse-me se falasse iria me machucar. Há momentos na vida que necessitamos de resposta, mesmo que ela nos leva a dor.

Geladeira. Fiquei petrificada quando ouvi essa palavra. Você é muita fria, uma geladeira. Não consegui articular uma palavra, alias, se as conseguisse cairiam uma a uma como se fossem pedras de gelo.

Alaska. Acho que foi a primeira vez que tinha ouvido essa palavra. Eu vou para o Alaska. Onde fica, perguntei. EUA, ele disse. Que diabo é isso. Estados Unidos. Eu fui muito burra, burra por ter me entregado a ele. Vou trabalhar lá, e vou feliz por ter tirado a sua virgindade. A dor sumiu de uma vez e cai na gargalhada. Coitado foi embora pensando que eu era virgem. No entanto, ele não foi muito longe, pois até hoje eu carrego uma Alaska dentro de mim.


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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Espelho

Na escuridão você não existe, é preciso luz para que você se mostre para mim. Clique, pronto, eu liguei o interruptor. Tudo bem, eu concordo, nós somos iguais, porém, eu sou real, você é apenas o meu reflexo. Sim, eu me aproximo. Não liga para as rugas, você acha que são marcas do sofrimento, não são não, elas estão aí para nos lembrar que não somos mais quem éramos. Você concorda com o poeta quando diz que o tempo é uma abstração humana, mas não, o tempo é um castigo divino. Você acha que eu tenho as mágoas das balzaquianas, engano seu, nem tampouco tive a ilusão das virgens. O quê? Todos os meus amores foram furtivos, por isso não casei? Como você é injusta. Todos os homens que eu tive, eu amei explicitamente. Sexo? Você pensa que foi pelo sexo, amor sem sexo é fraternidade, e sexo sem amor é desespero. Puta, é este rótulo que você me põe. Ah! Você não sabe como eu amei, tem essa visão distorcida sobre o amor, acha que o amor é água e madeira, mas ele também é ferro e fogo, precisa de todos os elementos para ganhar verdadeiro significado. Sim, amei a todos e me dei a eles por inteira, desprovi-me dos simulacros, desfiz-me dos saltos altos, retirei a maquilagem, enfim, desnudei-me para vestir a alma do mais puro amor. Você quer que eu cite nomes, porém, o que é o nome diante da obra. O último não teve essa importância, mas houve um que tinha as mãos de Bach - adoro a sonorização desse nome-, ele dedilhava sobre as linhas do meu corpo e pelos meus poros saiam notas musicais, quando usava a batuta, maestrava sinfonias dentro de mim, mexia com todos os meus órgãos que eu tinha a impressão que ele estava orquestrando a minha alma, com ele eu sublimava, atingia o nirvana, enfim existia para o amor, onde o sexo era muito mais que uma necessidade física e o prazer ia além do corpóreo. Agora você silenciou, acabaram os seus argumentos, pois bem, fica quedada aí que eu vou sair. Para onde eu vou? Vou para um bar de solteiro, quem sabe encontro um homem com mãos de Mozart, ou de Chopin, serve até se for de Verdi. Não quer que eu apague a luz, você esqueceu que a sua existência depende da minha presença. Pronto, desliguei, a escuridão te mata. Saio iluminada, vestida de esperança.

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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Açougue

Nas ruas se encontra o que eu necessito. Saio em busca das minhas necessidades, levando no nécessaire nenhum desaire e diversas fantasias vestidas em camisinhas de vários modelos, preciso realizá-las, ou então, retirá-las da cabeça, senão amanheço seca. Predadora incansável, prendi-me a dor da rejeição por um longo tempo, sem entender o porquê de tê-lo perdido. Foi tempo perdido, ido ele, elegem-se outros, no plural mesmo, para não se ter apego a nenhum. Despregada das mágoas, solta, eu tenho a necessidade da carne de primeira, difícil de ser levada por seu valor alto. Alto lá, eu também sou carne de primeira, e desejada da mesma forma, a sangria se faz por gozos quando os iguais se encontram. Pronta, eu fui para o abate ou ser abatida, não importa, nessa hora, tanto faz ser o prato ou a comida.

Confesso, nunca fui fã de carne congelada, primeiro pôr o plástico para congelar, depois do degelo, retirar o plástico para o cozimento. Carne para mim tem que ser fresca e nova, por isso prefiro os novilhos. Na minha época, o gado se abatia na martelada, com sofrimento; a mulher se conquistava com respeito, gentilezas e carinho, hoje, os valores se inverteram, por isso, as carnes se tornaram insossa. Contudo, ainda necessito de uma apetitosa picanha. Fui ao açougue.

Carne pedida, pesada e empacotada, ia saindo do açougue quando ouço uma voz atrás de mim. Sempre ouço essas vozes, não sei se clamada pelas necessidades, ou a atração se dá por outros meios que eu desconheço. Mas enfim, ouvimos a voz.

O bom da sua carne é que não precisa de amaciante para comê-la, ao colocarmos na boca não há a necessidade de mastigá-la, basta chupá-la para sentir o seu gosto escorrer pelos lábios.

Quando se chega à meia-idade, a caminho da terceira, os ouvidos não estão mais apurados. Entendi ele dizer gozo, ao invés de gosto. O olhei de cima a baixo e me vi diante de um metro e oitenta de puro músculo, duro. Juro, saí do açougue sabendo que o conteúdo do nécessaire seria usado para satisfazer as minhas necessidades, pois, carne assim, de primeira, deve ser comida várias vezes para sentir o seu gosto, ou seria mais correto dizer gozo.

Quanto à picanha, eu não esqueci no açougue, iria chupá-la, ao invés de mastigá-la, como ele havia dito, para sentir sair das suas fibras um gosto mais apurado.


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