A ansiedade feminina
do ponteiro dos segundos atropela a mansidão do ponteiro dos minutos acelerando
o tempo. O tempo voa, os meus passos não conseguem mais acompanhar o ponteiro
das horas. Sentado no meio fio, sinto saudades dos bancos da praça, do coreto
com a banda tocando a nossa canção, dos ipês roxos e amarelos que atraem os
pássaros, e estes compunham sinfonias jobinianas para a beleza de suas flores,
das crianças se arriscando nos carrinhos de rolimãs enquanto idosos
entrelaçavam os seus dedos rememorando os tempos idos, diferente dos jovens que
viviam apaixonados o seu próprio tempo.
Os bancos quebrados, o coreto há muito tempo
era uma lembrança em uma fotografia envelhecida, a praça envolta em lixo, a
batida do funk fazendo apologia ao sexo, ao crime e as drogas ecoando pelas
ruas, as crianças envoltas na fumaça da maconha se perdendo dos sonhos que
evolam entre monstros imaginários, os jovens se descobrindo sob lençóis em
quartos escuros com consentimento dos seus pais, os idosos presos em suas casas
amedrontados pela violência urbana demonstravam a decadência dessa pressa atual
fazendo com que perdêssemos a poesia da vida. Há permissão desenfreada a
experimentação nos leva a permissividade tornando os sentimentos difusos e
caóticos.
A desesperança faz voltar os meus olhos ao
passado, as saudades às ruas de paralelepípedos da minha cidade, das junções de
suas pedras que escondiam as minhas memórias, enterradas pelo negrume
asfáltico. O tempo é cruel, leva consigo tudo que é poético, nosso viço, nossos
sonhos, nossa esperança e deixa um pesadelo assustador, o tempo de espera para
o fim.
Sentado no meio fio, componho um cenário
para a lente poética de Paula Barros...
Imagem poética de Paula Barros