Apesar de criar um
mundo imaginário e nele desarvorar da razão para me deixar guiar pelas emoções,
foi difícil acreditar que era ele que estava diante de mim. Seus movimentos
traziam uma mansuetude apaixonante, observá-lo era vivenciar a poesia em ação,
como se as palavras não fossem necessárias para significá-la. Ao puxar a
cadeira, segundo ele, da solidão e pedir para eu me sentar, serviu-se do café
fumegante na chaleira e, delicadamente, empurrou a mesma na minha direção e me
falou por sorrisos para eu me servir. Bebemos o café trocando olhares, o dele
de ternura, o meu de encantamento. Ainda sentindo o gosto da bebida na boca,
ele me disse, Lindo! Abestado ainda com a sua presença, perguntei o quê. O
texto da minha borboletinha preferida. São textos assim que sublima a alma,
pois sua essência é poética, e de poesia, você a de convir comigo, eu sei.
Queria dar a minha opinião, porém, percebi que Quintana havia sido fisgado a
tal ponto que o deslumbramento o fizera transcender. E então, ele continuou a
falar, Esse texto, é bom dizer, para o bem da verdade, nos faz agradecer o
conhecimento da língua, e digo mais, já teria valido apenas o conhecimento só
por tê-lo lido. Sabe, disse isso dando um tapinha nos meus joelhos, ela não
sabe, eu virei flor só para sentir a poesia intrínseca que ela carrega consigo,
pois a poesia me faz falta, é ela que nos tira dessa concretude fria dos dias
atuais. E quando ela pousa em minhas pétalas, sinto a vida pulsar novamente. Há
nela o que me é essencial, simples, humano com recheio divino, a palavra. Ela
não sabe, a tenho como filha. As lágrimas encheram o rosto do poeta e os seus
olhos foram preenchidos de uma felicidade inaudita. Finalizando, ele pôs uma
das mãos em meu ombro, confesso, senti orgulho de tê-lo tão próximo, e disse-me,
Vem, vira flor e sinta a beleza.
Quintana se foi, levado pelos ventos,
florido de poesia. Nem deu tempo de dizer-lhe o quanto, em espírito, acompanho
a sua borboleta, pois sei do seu valor e que sempre estarei, em preces,
querendo o seu bem.
-
Tentarei, poeta, ser flor. - Gritei. Se me ouviu, não sei.
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