Sabe amigo, sempre em 13 de agosto, não importa o dia da semana, quando amanhece, eu procuro o sol, mais ainda se é em uma sexta-feira. Não amigo, eu não sou supersticioso, longe disso, só acredito na possibilidade daquilo que é crível.
Houve um tempo, querido amigo, que eu acreditei que os buracos abertos no chão vermelho, dispostos em círculos e as diferentes tonalidades de bolinhas de gude jogadas umas contra as outras em direção ao primeiro buraco, depois retiradas por outra bolinha de gude arremessada no mesmo buraco, e, assim, subsequentemente, até chegar ao ultimo buraco, eu, com todas as bolinhas de gude ganhas, pensei que entenderia sobre a brincadeira, porém, caro, amigo só agora eu percebo que ali, estava era entendendo sobre gente.
Houve um tempo, prezado amigo, que eu tentei ir longe, e, após encontrar um aro de bicicleta, pedi ao serralheiro, melhor dizendo, meu pai pediu ao serralheiro que fizesse um gancho numa ponta de uma barra de ferro, dobrando-a para frente e colocasse um cabo de madeira na outra ponta. Encaixei o gancho no aro, estimado amigo, e, por onde passava, colhi sorrisos de gente. Anos mais tarde, adulto, voltei pela trilha que o aro deixou e encontrei as mesmas pessoas, rostos envelhecidos, porém, como os mesmos sorrisos. Não entendo nada de caminhos, estimável amigo, contudo as pessoas que eu encontro pelo caminho, trago-as comigo para entender sobre gente.
Houve um tempo, glorioso amigo, que eu brinquei de futebol com bola de meia, não sei se costurada pela minha mãe ou avô, depois com bexiga de boi. Sim, honrado amigo, bexiga de boi que eu pegava nos matadouros, limpava-a e a enchia com a boca; às vezes a enchia com água e quando ela batia no peito e estourava, permanecia o cheiro do gado morto no corpo, no entanto a alma se perfumava de vida. Sabe gentil amigo, não aprendi nada de futebol, nada mesmo, porém, começava a entender de gente.
Sabe digníssimo amigo, eu convivi com uma pessoa, gente da gente, como você, que me presenteou com uma bola de capotão por achar que eu entendia de futebol. Então ele disse:
- Chuta, Eder.
Olha só, amável amigo, eu, uma criança mirrada, me senti como o rato diante do elefante. Eu, um toco de gente, diante daquela imensurável bola sem saber o quer fazer. Então, novamente, ele me disse:
- Chuta, meu neto.
Pois bem, gentil amigo, eu corri em direção à bola, tropeçando nos próprios pés, e chutei. A bola foi numa mansuetude, tão devagar que se meu avô espirrasse, ela voltaria com o dobro da velocidade. Ele a deixou passar e saiu à rua, gritando para a cidade todas ouvir:
- Gol de Peleeeeeeeeeeeeeeeeeeé!!!!!!!!!
Veja só, leal amigo, como toda cidade pequena tem ouvidos em tudo que é canto, eu, até hoje, sou conhecido como Pelé onde nasci. Para decepção de todos, de Pelé eu só tenho a cor. Eh! Amigo, você acertou, não entendo nada de futebol.
Porém amigo, eu entendo é de gente. E gente como você é gente que a gente quer ter entre a gente.
Um grande abraço,
Eder Ribeiro.
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