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O menino ia feliz, chutando tampinhas de garrafa de refrigerante como se fossem estrelas, pois o seu chão era um imenso céu azul anil. Ele ia feliz, carregando uma mochila recheada de sonhos, um caderno de caligrafia com a capa do Homem-Aranha, um lápis do Ben 10 e a esperança de aprender todas as letras no primeiro dia de aula para, ao juntá-las umas com as outras, se fazer entender.
A sua felicidade se fazia ver nos olhos, posto que esses sorriam e muito mais ainda nos lábios, a sua porta de se mostrar feliz. Ao entrar no veículo escolar, ele não se entristeceu ou chorou, pois estudar não lhe era um castigo e nem obrigação, mas um desejo. Na rua, os muros grafitados eram uma janela de entrada para os sonhos: se via o Super-Homem, apontava dizendo, “Papai”; se via a Mulher Maravilha, ele agitava os braços gritando com uma voz com gosto de doce de jabuticaba: “Mamãe”.
Contudo, ao avistar o Homem-Aranha, ele silenciava e, se escondendo dos seus colegas, quebrava o punho, dobrava o dedo médio encantando-se com a rede de teias saindo do seu pulso. Falta-lhe o conhecimento sobre as letras para poder tecer uma história sem fim. Ao voltar do seu mundo de encanto, o rádio estava ligado, e ele, ainda percorrendo as bordas da teia, ouviu uma voz melíflua saindo do alto falante. Então gritou:
- Tia, é ela, a Fadinha das letras. – Entusiasmado, agitou-se no banco do transporte escolar.
- Comporte-se, Matheus, como todas as crianças, e não me perturbe com as suas fantasias. – Ranzinza, a Tia do veículo escolar disse-lhe, impondo o silêncio.
Matheus desceu do veículo, cruzou os braços, pôs um bico nos lábios, abaixou a cabeça, semicerrou os olhos e foi, entristecido, vestido com o mau humor da Tia do veículo escolar e, com o coração tecido em amarguras, se enfurnou nervoso tartarugando nos passos.
Apenas alguns passos dados e ele teve tempo suficiente para desnudar-se do que lhe entristecia, porém a alegria se tornou maior quando ele ouviu alguém lhe chamando.
- Hei, menino de sorriso lindo e cabelos encaracolados, quer conhecer a Fadinhas das letras?
- Quem está falando? – Matheus disse envolto em felicidade.
- Hei, sou eu, aqui no alto, no primeiro galho da árvore.
O menino olhou para cima, e entre surpresa e encantamento viu uma aranhazinha da cor do ouro.
- Uma aranha que fala!?!? Você solta teia?
- Sim, menino de sorriso lindo. Falo e teço.
- Você é filha do Homem-Aranha?
A aranha não se conteve e pulou de galho em galho, solta em risos.
- Não, menino dos cabelos encaracolados, eu sou filha dos seus sonhos.
- Aranha, posso falar uma coisa na sua orelha?
A aranhazinha desceu por uma das teias mais finas e, aproximando da boca do menino, disse-lhe:
- Fale, mas baixinho, senão a sua voz me arremessará para longe.
- Eu queria ser igual a você. – Ciciou o menino na orelhinha da aranhazinha.
- Mas você é, menino do sorriso lindo. Se sou filha dos seus sonhos, tudo é possível. A conversa tá boa, mas preciso ir, portanto ouça o que vou lhe dizer: “Ao entrar na escola, não vá direto, vire à esquerda em direção ao muro verde, e, sem medo, pule nele.”
- No muro? – Perguntou o menino, incrédulo.
- Sim. Do outro lado, você verá um pé de jabuticaba e atrás dele uma casa simples. É lá que mora a Fadinha das letras...
Matheus não esperou a aranhazinha encerrar a frase e saiu em disparada, a passos de coelho, deixando para trás a mochila e levando consigo sonhos e felicidade.
- Você não vem, Aranha? – O menino disse ao perceber que a aranhazinha não o acompanhava.
- Menino de sorriso lindo e cabelo encaracolado, não esqueça, eu sempre lhe acompanharei. Eu estou em seus sonhos. – A aranhazinha gritou, pegando a mochila e desaparecendo entre as folhas da árvore.
Matheus, caraminholando debaixo dos seus caracóis, mal continha a emoção. “Conhecer a Fadinha das letras, e no primeiro dia da escola, será que é possível?”. Atravessou o pátio daquela velha casa do saber ligeiro como ele só, os pés flutuando pelo chão. Ao subir os treze degraus (Será que dá azar? Ele pensou) que o levavam para dentro do prédio, sentiu um frio subir-lhe a espinha. Lembrou-se da pequena e dourada aranhinha, e, com o sorriso de mel em seus lábios, virou à esquerda e seguiu sempre em frente.
Para sua surpresa, aquele corredor o levava, outra vez, para fora da escola. O suor corria-lhe o rosto, mas, incansável como era, não deu bola para a gotinha que teimava em brotar de sua fronte. Mais 10 metros e estava defronte... A UM ALTO MURO VERDE!
- Ora essa, ele exclamou. Alto desse jeito, como posso pular? Eu só tenho seis anos...
(Esse conto foi escrito a quatro mãos - um hábito que eu e minha mana Déia do blog Rumo às fotos desenvolvemos há muito tempo, e que resolvemos retomar agora. Para entendê-lo por completo, leia a segunda parte do conto
AQUI!)