Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

domingo, 31 de julho de 2011

Verbo







o amor a dois
é o exercício de Deus em nós
reduzi-lo a superfície
subtraí-lo ao físico
é diminuir o Deus intrínseco
é não dar ao amor a Sua voz
enfim, é regá-Lo ao depois





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sexta-feira, 22 de julho de 2011

O mundo fantástico de Matheus

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O menino ia feliz, chutando tampinhas de garrafa de refrigerante como se fossem estrelas, pois o seu chão era um imenso céu azul anil. Ele ia feliz, carregando uma mochila recheada de sonhos, um caderno de caligrafia com a capa do Homem-Aranha, um lápis do Ben 10 e a esperança de aprender todas as letras no primeiro dia de aula para, ao juntá-las umas com as outras, se fazer entender.

A sua felicidade se fazia ver nos olhos, posto que esses sorriam e muito mais ainda nos lábios, a sua porta de se mostrar feliz. Ao entrar no veículo escolar, ele não se entristeceu ou chorou, pois estudar não lhe era um castigo e nem obrigação, mas um desejo. Na rua, os muros grafitados eram uma janela de entrada para os sonhos: se via o Super-Homem, apontava dizendo, “Papai”; se via a Mulher Maravilha, ele agitava os braços gritando com uma voz com gosto de doce de jabuticaba: “Mamãe”.

Contudo, ao avistar o Homem-Aranha, ele silenciava e, se escondendo dos seus colegas, quebrava o punho, dobrava o dedo médio encantando-se com a rede de teias saindo do seu pulso. Falta-lhe o conhecimento sobre as letras para poder tecer uma história sem fim. Ao voltar do seu mundo de encanto, o rádio estava ligado, e ele, ainda percorrendo as bordas da teia, ouviu uma voz melíflua saindo do alto falante. Então gritou:

   - Tia, é ela, a Fadinha das letras. – Entusiasmado, agitou-se no banco do transporte escolar.
   - Comporte-se, Matheus, como todas as crianças, e não me perturbe com as suas fantasias. – Ranzinza, a Tia do veículo escolar disse-lhe, impondo o silêncio.

Matheus desceu do veículo, cruzou os braços, pôs um bico nos lábios, abaixou a cabeça, semicerrou os olhos e foi, entristecido, vestido com o mau humor da Tia do veículo escolar e, com o coração tecido em amarguras, se enfurnou nervoso tartarugando nos passos.

Apenas alguns passos dados e ele teve tempo suficiente para desnudar-se do que lhe entristecia, porém a alegria se tornou maior quando ele ouviu alguém lhe chamando.

   - Hei, menino de sorriso lindo e cabelos encaracolados, quer conhecer a Fadinhas das letras?
   - Quem está falando? – Matheus disse envolto em felicidade.
   - Hei, sou eu, aqui no alto, no primeiro galho da árvore.

   O menino olhou para cima, e entre surpresa e encantamento viu uma aranhazinha da cor do ouro.

   - Uma aranha que fala!?!? Você solta teia?
   - Sim, menino de sorriso lindo. Falo e teço.
   - Você é filha do Homem-Aranha?

   A aranha não se conteve e pulou de galho em galho, solta em risos.

   - Não, menino dos cabelos encaracolados, eu sou filha dos seus sonhos.
   - Aranha, posso falar uma coisa na sua orelha?

   A aranhazinha desceu por uma das teias mais finas e, aproximando da boca do menino, disse-lhe:

   - Fale, mas baixinho, senão a sua voz me arremessará para longe.
   - Eu queria ser igual a você. – Ciciou o menino na orelhinha da aranhazinha.
   - Mas você é, menino do sorriso lindo. Se sou filha dos seus sonhos, tudo é possível. A conversa tá boa, mas preciso ir, portanto ouça o que vou lhe dizer: “Ao entrar na escola, não vá direto, vire à esquerda em direção ao muro verde, e, sem medo, pule nele.”
   - No muro? – Perguntou o menino, incrédulo.
   - Sim. Do outro lado, você verá um pé de jabuticaba e atrás dele uma casa simples. É lá que mora a Fadinha das letras...

   Matheus não esperou a aranhazinha encerrar a frase e saiu em disparada, a passos de coelho, deixando para trás a mochila e levando consigo sonhos e felicidade.

   - Você não vem, Aranha? – O menino disse ao perceber que a aranhazinha não o acompanhava.
   - Menino de sorriso lindo e cabelo encaracolado, não esqueça, eu sempre lhe acompanharei. Eu estou em seus sonhos. – A aranhazinha gritou, pegando a mochila e desaparecendo entre as folhas da árvore.

Matheus, caraminholando debaixo dos seus caracóis, mal continha a emoção. “Conhecer a Fadinha das letras, e no primeiro dia da escola, será que é possível?”. Atravessou o pátio daquela velha casa do saber ligeiro como ele só, os pés flutuando pelo chão. Ao subir os treze degraus (Será que dá azar? Ele pensou) que o levavam para dentro do prédio, sentiu um frio subir-lhe a espinha. Lembrou-se da pequena e dourada aranhinha, e, com o sorriso de mel em seus lábios, virou à esquerda e seguiu sempre em frente.

Para sua surpresa, aquele corredor o levava, outra vez, para fora da escola. O suor corria-lhe o rosto, mas, incansável como era, não deu bola para a gotinha que teimava em brotar de sua fronte. Mais 10 metros e estava defronte... A UM ALTO MURO VERDE!

 -  Ora essa, ele exclamou. Alto desse jeito, como posso pular? Eu só tenho seis anos... 

(Esse conto foi escrito a quatro mãos - um hábito que eu e minha mana Déia do blog Rumo às fotos desenvolvemos há muito tempo, e que resolvemos retomar agora. Para entendê-lo por completo, leia a segunda parte do conto AQUI!)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Pronome

As palavras que lhe falta
As tenho em abundância
E por ter tantas
Apenas uma me basta:
Amo-te
E não é engano
Muito menos um erro
Ano a ano
Meu coração tem uma dona
Sei, ainda é cedo
Espero
Enquanto isso
A vida se resume em um pronome:
Você

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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Pergaminho

Você não entende os meus escritos, pensa que eu me significo na tua pele pelas minhas digitais, ou então, pelas linhas do meu corpo quando você descaminha com as suas mãos, tola, é minha alma que está em braile. Você não percebe, na minha história só existem dois verbos, ser e descobrir, isso é latente. Você não consegue desenrolar o pergaminho da minha alma, está lá escrito, “eu sou teu, descobre-me”. Mesmo se você conseguisse ler, exigente como é, reclamaria a falta do ponto de exclamação no fim da frase, não basta eu dizer que eu sou teu, tem quer ser eu sou teu! Isso é típico de mulheres inseguras, e não preciso dizer que se trata de você. Contudo, não vou lhe contrariar, pontuarei a frase com um ponto final, assim não haverá a necessidade do fim para encerrar nossa história, estará subtendido. Você, um dia, ousou me chamar de flor de mandacaru, lembra-se, você me disse, "para lhe sentir, há a necessidade de me ferir com os espinhos". Tenho a convicção que esta frase não é sua, deve ser um pensamento, um devaneio de alguém muito mais sensível que você, pois a sua vida transita numa linha tênue entre o real e o virtual, todos os seus pensamentos são frases tiradas de revistas de fofocas. Saiba, sou uma vitória-régia, para me saber, você precisava mergulhar, de alma. Querida, eu sigo o rio da minha própria história...

Leia a resposta dela clicando AQUI


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domingo, 10 de julho de 2011

História sem fim

Sou um cara estranho
Prefiro o amor ao sexo
As frutas, os vegetais a carne
O sexo a antropafogia
O sabor da carne, só se for a sua
Nua em prazer supremo

Sou um cara diferente
Por isso insisto e persisto 
Neste amor impossível
Em amar por você e por mim
Pois dentre todas as mulhres
É você, somente você que prefiro

Sou um cara apaixonado
Crendo mais no amor do que na paixão
Depois dos trinta a ausência é constante
O depois é um futuro presente
Depois de tanto não, hoje percebo
Nossa história não tem fim

...o sim sou eu que escrevo.

sábado, 2 de julho de 2011

Amigo fiel

Ao acordar fitei o céu, o dia estava plúmbeo. As nuvens cinza não permitiam ao sol o seu surgimento. Prenúncio de um dia entristecedor, ou, então, era apenas mais um dia de chuva torrencial.
  Sei muito bem o quê me entristece. Um dos motivos é quando olho nos olhos do meu dono e não o reconheço. O tempo, esteja ele frio ou quente, chuvoso ou ensolarado, não altera o meu humor, serve como uma moldura para o meu dia. 
  Sentei sobre as patas traseiras na garagem e farejei no ar o seu cheiro característico. Assim que o meu faro percebeu o aroma almiscaro, o meu rabo serpenteou pelo chão, atingiu uma joaninha estatelando-a na parede. Ferida, ela levantou voo, nervosa deu com a língua nos dentes zumbindo impropérios. 
  Os seus passos eram nervosos, irreconhecíveis, sua voz gutural estava incompreensível. Deitei o meu focinho no chão, coloquei as minhas patas dianteiras sobre o mesmo, e de rabo de olho, ora fechando as pálpebras, ora abrindo, esperei-o sem medo. Quando ele surgiu no corredor esbravejando, dando soco no ar, chutando seres imaginários e xingando aos quatros ventos, eu coloquei as patas sobre os olhos e retesei todo o meu corpo, dando-lhe um formato de bola.
  Todo este tempo de convivência e lá se vai doze anos, ele nunca levantou o pé para me chutar, ou a mão para me bater. Por isso a minha reação de retesar não foi movida pelo medo, mas, simplesmente, por não querer vê-lo com atitudes tão corriqueiras a maioria das pessoas. Nos meus pelos, as linhas de suas mãos significam em carinhos.   
  Os xingamentos, chutes e socos exacerbavam exageradamente. Ele estava irreconhecível, e não reconhecê-lo era me perder de mim mesmo, mais do que isso, era me tornar insignificante.
  Senti as suas mãos me tangendo para fora da casa. Freei nas quatro patas. Ele me empurrou suavemente com os pés. Aos poucos as minhas patas foram escorregando, levando-me em direção ao portão de ferro. Desesperado, eu tentei morder a barra da sua calça para impedi-lo de me empurrar. Eu, movido pelo ímpeto, ao abrir a boca, avancei mais do que deveria. Senti o gosto amargo do seu sangue escorrendo entre as minhas presas ao abocanhar, além da barra da calça, as suas pernas. O chute na minha barriga, balançando todos os meus órgãos internos, eu só vim sentir quando bati com as costas no meio-fio.
  Vi quando ele levou a mão à cabeça demonstrando arrependimento. Os meus olhos doridos encontraram os olhos dele sofridos. Interpretei o seu olhar como um pedido de perdão, como se pedisse a minha volta.
  Ao colocar as patas dianteiras na calçada, ele fechou o portão de ferro. Eu apoiei na grade, balancei a cabeça para a direita e esquerda e procurei em seus olhos o motivo de tanto desprezo. Ele penteou os meus pelos com os dedos das mãos fazendo um carinho em meu dorso. Em seguida ele tartamudeou:
  - Ah, meu amigo fiel! Estou doente. Vá, tá na hora de procurar outro dono.
  As palavras saídas da sua boca misturaram as lágrimas caídas dos seus olhos tornando o que ele disse ininteligível. Eu lati dizendo-lhe que não havia compreendido, mas ele formigou para dentro da casa esfumando na sua tristeza.
  Eu uivei entristecido. O sol se apagou e a lua se acendeu repetidas vezes. Prostrado em frente ao portão, eu esperei silente. No terceiro dia de espera surgiu um barulho intermitente, quase inaudível no início, como se estivesse longe dali. Minha audição apurada, aos poucos, percebeu o barulho constante e aproximado. Enfim, ensurdeceu-me.
  Quando o elefante branco com cruzes vermelhas nas laterais, luzes vermelhas e brancas piscando no teto parou, o barulho havia cessado. De suas portas laterais abertas saíram pessoas todas de branco que abriram a porta traseira e retiraram uma cama com rodinhas.
    Trouxeram-no de dentro de casa envolto em um lençol e colocaram-no na cama com rodinhas. Preso em uma haste de metal havia um frasco com um líquido gotejando em uma mangueira fina presa ao seu punho por uma agulha enfiada em sua veia. Procurei os seus olhos e os encontrei fechados. Empurram a cama contra a traseira do elefante branco. As pernas com rodinhas da cama se fecharam ao tocar na traseira do elefante branco, engolindo a cama com ele em cima. Lestamente, o elefante branco saiu em disparada serpenteando pelas ruas, apressado, gritando e piscando as luzes do seu teto.
  No céu havia um buraco grande, como se lhe faltasse a lua. Buracos menores ocupavam todo o espaço celestial como se lhe faltasse as estrelas. Sem chão, eu tentava me apoiar nas quatro patas, esperando que ele voltasse. Porém, faltava-me céu para que eu uivasse essa esperança. Repentinamente desabou um temporal, eu corri sem rumo. Dos meus olhos desabaram lágrimas que ao misturar à água da chuva não levou de mim a tristeza.
  Talmente óleo em máquina, a tristeza somente seca com o decorrer do tempo. Cabisbaixo, orelhas caídas, rabo entre as pernas, uivando dores, diminui os passos e me deixei ser levado pela água. Qual destino eu não sabia, carregava em mim um dilúvio de dor. Ele se foi para sempre, eu permanecia.

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