Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

sábado, 29 de junho de 2013

Pensamento - sobre a simplicidade


Quem sou eu?
Sou simples, o muito não me é preciso, eu me basto com o pouco para me abastecer do que me é necessário.
O que me é necessário?
O que é simples. Sim, simples assim.


quarta-feira, 26 de junho de 2013

O que você plantou hoje?



A vida consiste de vários caminhos em direção a um único portal, ao transpô-lo, estaremos apenas mudando de plano. A colheita que faremos no outro plano depende sumariamente da semeadura feita nesse plano. No entanto, esses mesmos caminhos têm pequenas portas, ao transpô-las, colheremos o que plantamos. Muitos não acreditam na existência do portal, contudo, todos têm a certeza das pequenas portas; por isso, ao abri-las, atenta-se ao que plantou hoje.


Imagem: GETTY IMAGES

quinta-feira, 20 de junho de 2013

O dinheiro é o ó




   Quando nos resta apenas as lágrimas para dar conta dos nossos problemas, demonstra o quanto somos incompetentes para resolvê-los; quando nos resta apenas as orações para o mesmo propósito, demonstra toda a nossa impotência. Tudo isso devido essa cultura estadunidense de que o capital resolve tudo havido. Não sou eu que vou resolver o meu problema, não é Deus que vai me socorrer, aliás, nessa sociedade capitalista que vivemos só cabe um deus, o dinheiro. In God we trust. Deus seja louvado; não é à toa que as duas moedas mais fortes da América têm essas duas frases em suas moedas.
   Quando o PSDB assumiu o governo federal, e o PT embarcou nessa onda, privatizando tudo por não ter competência para gerir as riquezas produzidas pelo povo, eu já sabia que a saúde e a educação seriam menos. Sei que a pergunta que vou fazer é desatualizada, porém, não custa perguntar. Por que privatizar a saúde, por que privatizar a educação? Por que na sociedade capitalista deixamos de ser indivíduo e passamos a ser produto, e, dependendo do valor monetário do produto, o mesmo terá mais saúde e mais educação. O que me frustra é que não importa o partido que governa, todos, sem exceção, compactua do mesmo pensamento. O ó, meu amigo, é o dinheiro, por isso, não adianta rezar, esforça-se para tê-lo. Os meios para tê-lo? Que importa os meios, na sociedade capitalista, ética é um produto que dá prejuízo. Então, vamos ao lucro e que Deus salve a América. Ouviram o grito?
   - Quem quer dinheiro?
Essa é a independência, senão, a morte. 

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sábado, 15 de junho de 2013

Pensamento - sobre ser II

Inexoravelmente, desde que o homem se compreendeu no mundo existido o que ele mais busca é ser, contudo, são os desejos que nos transforma, e, ao não realizarmos devido às circunstâncias, a busca sempre estará fadada ao fracasso. Queiramos ou não, ou somos frutos de todos os nossos desejos, ou do desejo do outro, entendendo que outro é tudo que nos cerca, a família, a comunidade, o ambiente escolar, do trabalho e etc. Posto que, por mais individual que sejamos, refletimos o que somos pelo que a coletividade nos transforma. Cabe a nós escolher. 

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BREVE UM CONTO INÉDITO

sábado, 8 de junho de 2013

Linha do tempo



  
Quando os nossos relacionamentos se resumem aos amigos das redes sociais, ou a falta de contato com o mundo real se torna constante, é-nos tirado a oportunidade de conhecer o outro com seus defeitos e qualidades. A vida passa a ser uma ilusão criada e nós meros atores interpretando um papel que agrade a "A" ou a "B".
   Metade do ano se foi sem nos dar a certeza de que a metade quem vem o faça por inteiro. Não será a linha do tempo do Facebook que significará a nossa vida, mas o que fizermos do tempo na nossa própria linha da vida. A vida virtual substitui nossas ilusões de uma forma que nem sabemos o que é realmente ser, passamos a ser um perfil estrategicamente construído para agradar uma grande quantidade de pessoas. A rua clama que as pessoas saem dessa caixa ilusória que é o mundo virtual e se apresenta como realmente é, com defeitos e qualidades, para que possa na diversidade aprenderem a ser.  
   Perdi-me em folha de rosto de alguns livros, espreitando-os, tentando encontrar nas histórias alguma que desse sentido a minha. Contudo, só vi ilusão. Recusei, foi devido as ilusões que me perdi. Quero uma história anos cinquenta, onde homens e mulheres sejam dignos, e, essencialmente, os finais sejam felizes, açucarados até, com as manhãs regadas a carinho e café. O meu café desce amargo, entre um gole e outro, sinto que a vida está se tornando demasiadamente virtual. Como encarar esses novos dias, senão com um bom livro. Por isso sigo lendo, entre o virtual e o ilusório, prefiro o segundo, é mais seguro.

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sábado, 1 de junho de 2013

Dias felizes

A felicidade pode vir de várias maneiras e por diversas vias, e ela nunca vem por completo se somente atingir a si e não atingir a quem lhe cerca. São dias assim que as cores com todas as suas matizes descortinam entre o céu e a terra a aquarela da vida; que na profundeza dos rios e dos mares os peixes enamorados, entoam canções que se ouvem ao estourar das borbulhas na superfície; que a brisa balouça as flores impregnando o ar com seus perfumes; que zéfiros derrubam sobre o chão tapete de folhas. São dias assim que a felicidade pode vir.


Foi em um dia como este, dia de verão maquilado de primavera, que Pandora recebeu a notícia de que seu pai receberia um dos seus rins. Ela trazia dentro de si a esperança. Se Deus abriu as portas do Paraíso para receber seu pai, poderia trancá-las, pois ela o salvaria. Com este pensamento em mente Pandora não sabia que as portas do Paraíso nunca fecham. Mormente, ela não sabia que assim que o homem abriu as portas do Paraíso e pôs o pé nesta caixa que é o mundo o mal vicejou. Todavia ela sabia, por ser verão, que de uma hora para outra a chuva poderia desmanchar a maquilagem primaveril. A chuva veio com ventos fortes derrubando tudo que se encontrasse pela frente, trouxe com ela o medo.

O medo que pode nos levar a salvação, pode nos levar também a perdição. Pandora correu a esmo, desesperada. Se fosse um dia de sol, ela não teria corrido em direção aquele beco, mas o medo de ser morta pela enxurrada era maior do que o de se ver encurralada em um beco escuro. Quando as opções de escolhas são mínimas, somos empurrados para destinos incertos. Hoje Pandora iria perceber que Deus nunca fecha as portas do Paraíso.

O mal, com todos os seus braços, rasgou o vestido de Pandora deixando-a nua dos pés a cabeça. Assustada ela se encolheu, mas quando o mal nos toca não há meio de defesa, senão usar as mesmas armas, e essas armas, além de não as conhecer, se as conhecessem, Pandora não as usaria. A nudez agora era completa, ele a desvestiu de suas peças íntimas. As lágrimas desciam-lhe quentes pelo rosto, o terror subia-lhe pelas pernas, acariciava-lhe as coxas e, brutalmente, adentrava-lhe pelo ventre cuspindo-lhe uma gosma quente, a semínula do mal. Pandora só pensava em sair viva dali para doar seu rim e salvar a vida do seu pai. Os pensamentos lhe fugiam, o oxigênio não chegava suficientemente aos pulmões, as mãos do mal postas no seu pescoço trancavam as possibilidades de sobrevivência.

A fraqueza lhe vinha às pernas, o rosto choroso sem nenhuma lágrima a derramar. Neste estado, a assistente social do hospital se via na obrigação de contar a Perséfone que sua filha havia sido violada, assassinada brutalmente. O pior, se houver coisa pior do quê a morte de quem se ama, era que sem o rim dela, ele, provavelmente, morreria na fila de espera de transplante, se morto ele não se sentirá quando souber que morta ela está.

Perséfone sempre teve a felicidade estampada no rosto, se houve um momento na vida, sem exagero, que ele chorou, foi quando nasceu, não que a vida lhe seria penosa, pois de uma forma ou de outra ela é, porém por que os seus pulmões necessitavam expandir para receber o sopro divino. E hoje ele chorou pela segunda e última vez.

A dor, com seus sinônimos e significados, motivo de todos os males, quando põe suas garras sobre nós, impondo todo o peso do sofrimento, faz com que nossas lamúrias sejam dirigidas aos céus, culpando Deus pelas nossas mazelas. Perséfone não precisou ir ao inferno que existe em cada um de nós para conhecer a benevolência divina, pois ele sabia que as mazelas humanas eram por culpa e obra do homem, afinal semeamos o que plantamos. Por conseguinte ele não se queixava, apenas derramava as lágrimas da dor. Dormiu e dormiria por uma eternidade se fosse preciso para aliviar a dor. A assistente social velara seu choro, agora velará seu sono.

Muitos pensam que somente nos bailes de carnaval as mascaras são postas no rosto, às vezes, quanto não, muitas vezes, no decorrer da vida as colocamos tantas que nem sabemos quem somos, ou, então, as colocamos no dia-a-dia que as personagens que estamos representando nos é desconhecidas. Mas há, salvo engano, aqueles que representam uma personagem, achamos que há neles um único “eu”, porém percebemos, tardiamente, que têm uma única mascara, e ela é interna. E quando a revela tomamos conhecimento da monstruosidade que é ser-se.

Assim que trocou de turno, substituindo seu colega de trabalho, Prometeu foi direto à garrafa térmica de café. “Além de frio, amargo”. Soltou alguns impropérios para o colega que havia saído, deu uma olhadela nos monitores de televisão, percebeu que todas as câmaras estavam funcionando, as imagens eram límpidas, todos os compartimentos na mais perfeita calma. Ele foi à cozinha, colocou quatro colheres de sopa de café no coador, seis colheres de açúcar na jarra, um litro de água no bojo da cafeteira e a ligou, deste modo o sono não viria lhe dar uma rasteira e derrubá-lo sobre a mesa de monitoramento. Seu dia de trabalho passou, lentamente, sem atropelos, rasteiras e derrubadas. Faltava uma hora para troca de turno, e se nada de diferente ocorrer, o ponteiro de segundos virá sendo empurrado por uma tartaruga, mas há sempre uma rede para frear os passos de uma tartaruga dando liberdade para o ponteiro, por si só, marchar rumo ao seu destino. Uma imagem negra, borrada, no monitor treze era esse freio. Prometeu desligou e ligou, em seguida, a câmara treze, de negra ela passou a branca, como se fosse um espectro, e de branca a colorida. Nas variações de cores a imagem se tornou nítida, havia um homem no compartimento treze. Ele desceu correndo as escadas com a pistola engatilhada, no corredor encontrou o seu colega de trabalho do turno da noite e lhe disse que havia alguém no compartimento treze e que estava indo averiguar. O colega de Prometeu, chegando na sala de monitoramento, não viu nenhuma imagem de quem quer que seja que pudesse ser um homem, animal ou objeto. Com desdém ele foi saborear o café, estava frio e doce.

Prometeu entrou no compartimento treze mandando fogo, ou seja, bala. As balas trespassadas o corpo do homem não o havia derrubado, nem tão pouco o sangrado. Ele ouviu a voz do medo. Aquele que apavorava, apavorado estava.

“Por que a violou, a matou?” Quem é você? “Ela era uma criança”. Todos nós, de alguma forma, somos. “O quê te levou a violá-la, assassiná-la. Uma criança”. Por que esta ênfase em chamar de criança, é questão de peso, não de idade, tem massa me atrai. “Seu depravado, quem quer que tenha forjado seu caráter deve ter sido tão depravado como você”. Com certeza, o ferro que ele usou é geneticamente o mesmo ao que eu usei para essa tal criança. Com este fogo fui marcado, com este fogo eu marco. “Então conheça o fogo da vingança, seu desgraçado. O mal dá, o mal receberá”.

Quando acabou de dizer a última frase, Pandora surgiu na frente de seu pai. Esta aparição provocou reações diferentes nos dois. Enquanto Perséfone estampava no rosto uma alegria inarrável, Prometeu desabava, ao que parecia, desacordado.

“Pai não combata o mal com o mal, nós temos dentro de nós uma balança com dois pesos iguais, um é a maldade, o outro é a bondade. O pêndulo que equilibra estes dois pesos é o coração, e é de acordo com tuas ações que ele vai pender para o bem ou para o mal”. Filha ele lhe tirou a vida. “Não pai, ele tirou-me aquilo que havia estragado, o corpo, pois a alma vive porque em toda minha vida, pai, eu usei o peso da bondade”. Mas você me faz falta, agora só me resta dor e lágrimas. “Pai, queridíssimo pai, diferente do que muitos pensam, o mal é o motivo de todas as dores, não o contrário, por isso alivia sua dor, logo nos encontraremos”.

Depois que Pandora e Perséfone desapareceram, o colega de Prometeu desceu para ver o que sucedia com ele. O encontrou caído no chão, estático. Ele colocou o ouvido próximo às narinas para sentir sua respiração, nada sentiu. Pegou seu pulso na esperança de senti-lo pulsando, nada sentiu. Era tarde, o fogo da vida lhe tinha sido tirado.

Como a assistente social foi pega pelo sono que adentrou pelas beiradas de seus olhos apossando de sua alma e derrubando seu corpo sobre os braços do sofá, ela, quando acordou, percebeu que o aparelho de monitoramento cardíaco ligado a Perséfone dava sinal de que o fio da vida estava lhe sendo tirado. Ela tentou apertar o botão de emergência, mas Perséfone, no último esforço que suas forças lho permitia, a reteve. Ela olhou seu rosto e viu que não havia dor. Por um motivo que não sabia qual, ela encontrou serenidade e alegria tanto nele quanto nela. Talvez o teu coração estivesse pendendo para o lado do bem. Nessas horas, em que temos de fazer escolhas e mal sabemos se ela é boa ou má, não temos que ter duvidas. Ela não apertou a campainha, abriu as janelas para que, como quem quisesse que aliviada da dor, a alma de Perséfone tomasse o rumo do reino do céu. São dias assim que a felicidade pode vir de várias maneiras e por diversas vias.


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