Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Açougue

Nas ruas se encontra o que eu necessito. Saio em busca das minhas necessidades, levando no nécessaire nenhum desaire e diversas fantasias vestidas em camisinhas de vários modelos, preciso realizá-las, ou então, retirá-las da cabeça, senão amanheço seca. Predadora incansável, prendi-me a dor da rejeição por um longo tempo, sem entender o porquê de tê-lo perdido. Foi tempo perdido, ido ele, elegem-se outros, no plural mesmo, para não se ter apego a nenhum. Despregada das mágoas, solta, eu tenho a necessidade da carne de primeira, difícil de ser levada por seu valor alto. Alto lá, eu também sou carne de primeira, e desejada da mesma forma, a sangria se faz por gozos quando os iguais se encontram. Pronta, eu fui para o abate ou ser abatida, não importa, nessa hora, tanto faz ser o prato ou a comida.

Confesso, nunca fui fã de carne congelada, primeiro pôr o plástico para congelar, depois do degelo, retirar o plástico para o cozimento. Carne para mim tem que ser fresca e nova, por isso prefiro os novilhos. Na minha época, o gado se abatia na martelada, com sofrimento; a mulher se conquistava com respeito, gentilezas e carinho, hoje, os valores se inverteram, por isso, as carnes se tornaram insossa. Contudo, ainda necessito de uma apetitosa picanha. Fui ao açougue.

Carne pedida, pesada e empacotada, ia saindo do açougue quando ouço uma voz atrás de mim. Sempre ouço essas vozes, não sei se clamada pelas necessidades, ou a atração se dá por outros meios que eu desconheço. Mas enfim, ouvimos a voz.

O bom da sua carne é que não precisa de amaciante para comê-la, ao colocarmos na boca não há a necessidade de mastigá-la, basta chupá-la para sentir o seu gosto escorrer pelos lábios.

Quando se chega à meia-idade, a caminho da terceira, os ouvidos não estão mais apurados. Entendi ele dizer gozo, ao invés de gosto. O olhei de cima a baixo e me vi diante de um metro e oitenta de puro músculo, duro. Juro, saí do açougue sabendo que o conteúdo do nécessaire seria usado para satisfazer as minhas necessidades, pois, carne assim, de primeira, deve ser comida várias vezes para sentir o seu gosto, ou seria mais correto dizer gozo.

Quanto à picanha, eu não esqueci no açougue, iria chupá-la, ao invés de mastigá-la, como ele havia dito, para sentir sair das suas fibras um gosto mais apurado.


Imagem: clique aqui

9 comentários:

  1. Bem...carnes e carnes...cada qual com seu sabor.
    beijos

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  2. Olá amiga, vim convida-la a passear no meu hanukká, http://hanukkalado.blogspot.com/

    beijos.

    Chamo de virtude adorar Deus, ajudar e amar todos os nossos semelhantes e buscar o bem fazer sempre que se possa
    Jean Louis Vives

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  3. haha sempre a criatividade e o humor apuradíssimos.
    E que os vegetarianos perdoem, pois hj é dia de carne.

    Sabia que adoro o seu afeto, Samaryna?

    Beijos!

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  4. São tantas as entrelinhas, as possibilidades quase inconfessas, que já nem sei se a picanha pode ser mesmo mais macia ou mais suculenta que o contra filé... Aliás, apreciar tais iguarias, requer temperos ousados, talheres afiados e alternativas culinárias que ao menos instiguem o novo, ou quem sabe o imponderável...

    E outra dúvida: a carne para ser de primeira deve ser a mais cara ou precisa ser a mais saborosa? Se saborosa, a "culinária" não seria então o grande diferencial?

    Se os temperos e condimentos não forem utilizados com a exigida expertise, com absoluta certeza, o que derreteria ao sabor dos lábios, endurecerá num amargor irreversível e para nada prestará, senão devolver ao lixo. E o que reclamava saciedade, esfomeado permanecerá.

    Entrelinhas, por entrelinhas... (rsrsrsr)

    Meu carinho, Samaryna.

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  5. Samaryna, você e o Gilmar estão estourando de tantas entrelinhas - daqui a pouco eu não vou entender mais nada nesse emaranhado de sentidos e subentendidos - rsrs! beijos! Deia

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  6. Ui! Qué isso?? kkkk... adorei! Mas confesso que de tão forte as palavras só pensei mesmo no açougue, o de verdade! Beijos.

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  7. Um texto com sensualidade, e com a visão crítica dos relacionamentos, do consumo da carne...onde a carne cheia de músculos é a mais atraente e mais saborosa....

    Obrigada pela preocupação, chove bastante, alguns transtornos também na capital. A água só me afetou porque atrapalha o trânsito. Eu estou bem, pena que muitos sofram com a chuva e os descasos do governo.

    abraço

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  8. Saborear uma 'boa carne' requer cuidados pois na falta de temperos adequados muitas perdem o sabor... Uma boa picanha a base de sal grosso... Fica tudo de bom...rsrss
    Desejo para você um feliz dia das mães!
    Um beijo carinhoso

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