A criança que se perdeu de mim sempre volta
sorrindo para o homem chorar por tê-la perdida.
Eu vejo essa criança ouvir o ciscar das
galinhas na terra seca em busca de alimentação, as ovelhas balir entre o mato
seco e sabiás gorjear em cima do fruto do mamoeiro. Eu vejo essa criança
observar tatus cavarem o chão, o latido do seu cachorro Tupã com medo das
trovoadas, as revoadas das andorinhas nas tardes de verão. Eu ouço o silêncio
do encontro do Rio Grande com o Rio São Francisco ser quebrado pela rede do
pescador, ouço o grito, por quatro vezes, dessa criança pedindo socorro porque
o rio o queria para si, ouço a roda do vapor bater nas águas do mesmo rio
trazendo produtos e notícias e por fim ouço a voz da minha mãe chamando a
criança que eu fui. No horizonte a luz do dia se acortinava para dar lugar a
luz da noite. Minha mãe já havia ligado o rádio, era seis horas da tarde, o
silêncio imperava em casa, ela ajoelhada orava a ave Maria. A admiração por uma
mulher jamais foi superada pela admiração que tenho pela minha mãe, e eu era
uma criança.
A criança em mim se perdeu aos doze anos
quando, morando em Brasília, os sentimentos se tornaram concreto, cimento,
pedra e cal. O sal da vida havia ficado na Bahia. Por fim, dois anos depois,
morando em São Paulo, juntando ao cimento, a pedra e a cal, a areia e a água se
misturaram para solidificar de uma vez os meus sentimentos.
Ultimamente, eu estou olhando para trás, não
com a intenção de aprender uma grande lição, mas para tentar encontrar a
criança que se perdeu de mim. Porém, pelos meus filhos, eu tenho que olhar para
frente, pois as lições a lhes ministrar são muitas. Essencialmente não permitir
que a brutalidade havida e tida nas grandes cidades lhes retira o que de mais
belo há no ser, a pureza na alma.
Exatamente um ano atrás, a minha esposa quis
comprar um pedaço de chão na cidade que ela nasceu no interior da Bahia, eu
tentei demovê-la da ideia devido à cidade ser isolada e localizar em uma
comunidade de pescadores. Um casamento para ser duradouro há a necessidade que
uma das partes saiba ceder. Cedi e ela comprou o pedaço
de chão.
Hoje não olho para trás em busca da criança
que se perdeu de mim, olho para frente e o vejo no pedaço de chão comprado pela
minha esposa, a minha espera.
Ainda tenho muito chão para percorrer antes
de encontrá-la, duas crianças me impedem de partir por eu ainda ser o seu
chão.
Sinto uma vontade inaudita de encontrar essa
criança, pois ao perdê-la, perdi a minha fé também. Quero ouvir novamente o que
ela ouvia, ver o que ela via, e quando eu a encontrar enfiarei as nossas mãos
na terra e sentiremos os dedos de Deus, pois o Pai celestial é, para mim,
firmamento e chão.
Hoje, eu olho para frente e aprendo uma
grande lição, um sonho nunca morre enquanto você lutar por ele. Espera-me minha
criança e que essa espera não lhe envelheça, já basta o tanto que envelheci por
tê-la perdida.
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uma verdadeira beleza o teu texto de hoje!!!que bom que cedeu a tua mulher, parabens a ela, Bahia é uma maravilha!!!!!
ResponderExcluirmuitos a voce e a ela!
Eder você molhou os meus olhos.
ResponderExcluirVocê pensa ter perdido-se da criança, anda à sua procura, pede-a que espere o encontro. Eu te digo que vejo esta criança aqui todos os dias que te leio, ela brinca diante de mim, puxa-me pela mão para mostrar o que acabou de descobrir, conta-me do seu amor pelos pais, diz-me como as vezes tudo é difícil , mas que está preparada pois recebeu muito do seu rincão na Bahia.
Eder, se eu vejo esta criança, ela nunca se perderá de você, ela te esperará para serem um dia um só.
Muito obrigada por estar sempre presente ao meu lado, por abrilhantar a nossa festa.
Um beijo!
...poeta querido,
ResponderExcluiresta criança nunca foi perdida,
e sim apenas encontra-se adormecida
num cantinho aconchegante do teu
ser.
se assim não fosse, como alimentar
esta verve poética, apesar da
realidade que a vida se nos
apresenta nos caminhos em
pedra bruta?
cuide portanto desta criança,
e ela jamais lhe desapontará.
suas palavras escorrem feito
água cristalina no calor
de nossas emoções.
bjuuuuuuuu, moço!
Eder amigão
ResponderExcluirAcho que é por isso que gosto de fazer poesias, uma verdadeira alquimia, ali encontro a pedra filosofal e posso também, foltar a ser criança. Sua crôniaca mexeu comigo!
Abraços :)
Eder, nunca pense que sua criança se perdeu de você, só em estar falando nela já é um sinal de que ela vive em você.
ResponderExcluirPode ser que com o tempo, ela tenha ficado meio escondida, amedrontada pelos momentos de amadurecimento, mas é só você deixar que ela há de brilhar novamente.
Eu amo a criança que existe em mim, é por e com ela que eu consigo sorrir.
Um beijo, e brigadinha pelo carinho no rabiscos.
Oi Eder...
ResponderExcluirMe emocionei com seu relato...lindo post....vim através da Van conhecer seu cantinho e me encantei com esse lindo texto....Parabéns!!!!
Beijos!
San....
Lindo e especial e realmente não podemos deixar morrer os sonhos! abraços,tudo de bom,chica
ResponderExcluirEder
ResponderExcluirBelíssimo texto.
Seus filhos podem ajudá-lo a reencontrar a sua criança que já não está mais adormecida.
Que Deus lhe abençoe
Lucia
Eder,
ResponderExcluirAs mães têm muitas qualidades e essa de nos ajudar a resgatar aquele brilho da infância muitas vezes pelo tempo em nós adormecido também.
Um enorme abraço da criança que há em mim pra criança que sei que existe em você!
Eder querido
ResponderExcluirvocê nem imagina como espalhar o pólen está me fazendo feliz, ver a fertilização dele nos blogs dos amigos, a alegria e a amizade prevalecendo e se multiplicando, não há maior presente que este.
Um beijo
Mano, tão amado, fiquei emocionada, principalmente porque vejo lampejos dessa alma criança em tantos projetos que fazemos juntos. Às vezes queremos trazer nossa criança mais para perto, mas as novas crianças de nossas vidas ocupam (com alegria) esse lugar. Um pedaço de chão na terra abençoada por Deus é um excelente lugar de retiro para sua criança enquanto ela lhe espera pacientemente... Beijos da mana, Deia.
ResponderExcluirQue a criança que está em você nunca deixe os sonhos deste homem-adulto adormecerem. Que ela sempre brinque de empinar sonhos, ou de jogar bolinhas de esperança pelas areias dos dias, para que este homem veja em si, nos filhos, na esposa, na vida, o motivo de mover os ventos da fé para movere os cataventos da vida.
ResponderExcluirTenho certeza, mas uma certeza absoluta, que este homem sabe transformar sonhos em realidade. E lindamente valorizar a família e os sonhos destes.
beijo
Um texto emocionante, um resgate da criança, de si mesmo. Entrei no seu texto ouvindo os sons, imaginando as cenas. Fantástico.
ResponderExcluirbeijo
Oi Eder....caracole meu...rsrs...mocionei também, porque trago muito da minha infãncia comigo...um tanto da inocência, do acreditar nas pessoas...enfim...a forma de olhar a vida um pouco sem maldade...não tanto quanto antes porque a vida nos dá lambadas e aslambadas marcam a ple, marcam a alma...rs...e é ai que a gente deixa de ter esse mesmo olhar...mas de vez m qaundo ele grita dentro da gente...chama e eu confesso...atendo...quanto as minhas filhas, demosntro isso a elas pra que a criança nunca as abandone de vez...brincar...sorrir...é essencial...
ResponderExcluirValeu Eder...show de bola...um texto "putaquelamerda" no melhor do sentidos...já viu esse filme? O contador de histórias, filme nacional...se não viu...veja...vale a pena
Um abraço na alma...beijo no coração criança
Grata pelo carinho de sua visita e comentário no rabiscos.
ResponderExcluirCá entre nós, amo fazer acrósticos (até parece que ninguém sabe disso)...rsrs
Tenha uma deliciosa tarde.
Beijos.
Oi, Eder, vim conhecer seu blog através do blog da Van e adorei seu texto. Quando crescemos ficamos mesmo divididos entre a vontade de voltar a ser criança e a necessidade de andar para frente. Acho que temos que aprender a andar pra frente, enxergando a vida com os olhos de uma criança! Um abraço!
ResponderExcluirMagnifico texto, muito inspirado e emocionante. Compartilho vários sentimentos iguais aos relatados...
ResponderExcluirna parte que fala em colocar as mãos no chão, quase que senti a terra em minhas mãos.
Beijos
Meu caro Eder...
ResponderExcluirEh por isso que eu acredito em Deus. Porque Ele sempre fala conosco da forma como sabemos ouvir.
Um beijo pra voce, outro pra sua familia.