Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

sábado, 22 de agosto de 2009

Um gesto


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Upload feito originalmente por e.deribeiro



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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Eu nunca mais joguei bola


Foi numa tarde de domingo que ele me deu o primeiro presente, uma bola de capotão. Nesta mesma tarde fomos para o meio da rua bater uma bola, e toda vez que eu a chutava ele dizia para toda a rua ouvir, “Gol de Pelé”. Assim durante catorze anos fui chamado em Barra do Rio Grande, cidade do interior da Bahia. Ainda hoje, lá, sou conhecido como Pelé. Outras tardes vieram, e ele sempre esteve comigo.
Ele estava comigo quando aos quatro anos eu fui queimado na coxa por água fervente; aos seis quando, correndo, na padaria do meu pai, atrás do meu bicho de estimação, uma preá, um saco de trigo de cinqüenta quilos caiu sobre mim; aos oito quando, por pouco, eu ia perdendo o dedão do pé cortado por caco de copo de louça; aos nove quando pego em flagrante pelo meu pai, praticando o ofício do prazer em suas criações de aves, mais precisamente uma pata, ele me salvou da sova certa; aos dez quando estava partindo para São Paulo em decorrência da doença que poderia me levar à morte, ele, em lágrimas, não permitiu que eu levasse a bola de capotão, pois assim ele tinha certeza que eu voltaria, e hoje eu tenho o pressentimento que somente voltei para jogar bola com ele nas tardes de domingo; aos catorze quando estava partindo do interior da Bahia para Brasília, ele, em lágrimas, não permitiu que eu levasse a bola de capotão, - de tão velha que estava não parecia mais uma bola. – pois assim ele tinha certeza que um dia eu voltaria. Eu nunca mais joguei bola, nunca mais as tardes de domingo foram iguais.
Ele tinha como nome a fraternidade. Ave Pedro, fazedor de sela. Ave Pedro Seleiro. Ele tinha como nome a solidariedade. Ave Pedro, navegante dos rios Grande, Preto, São Francisco e tantos outros rios. Ave Pedro Barqueiro. Ele tinha como nome o amor. Ave Pedro Mariano Vogado. Ave, sempre, meu avô.

sábado, 1 de agosto de 2009

Em casa onde a cobra sempre está armada para dar o bote, a aranha não cria teia

Se o humano se conformasse com tudo que a natureza lhe oferecesse, ele nunca teria decido do galho; Maristela, por natureza, era uma mulher que se conformava com tudo, por isso com quase cinqüenta anos, ela ainda engatinhava nos galhos de sua árvore evolutiva. Tal qual Eva esperando a cobra para lhe ofertar o fruto proibido, Maristela, ao invés do fruto, preferiu a cobra e assim levou a vida com prazer total até o dia em que seu marido Bráulio desceu na escala evolutiva, e a cobra que dava sabor ao fruto que Maristela carregava entre as pernas, não mais apreciava o mesmo, e ela, Maristela, resolveu usar o instrumento que tinha em mãos e passou a usar os dedos onde mais cabia, pois o que Bráulio tinha, a cobra entre as pernas, não rastejava mais.
E assim Maristela, com o peso da idade transformando o seu corpo, de tanto usar os dedos, os mesmos estavam tão finos que não serviam nem mais para fazer cócegas na aranha; e Bráulio por não mais usar o vigésimo primeiro dedo, este só servia para que a urina chegasse ao seu destino. Por conseguinte vinha Lua, ia Sol e vinha Lua de novo e a aranha de Maristela ardia em fogos, e como nem os dedos lhe aprazia, ela não deixaria que teias fossem tecidas sobre a mesma por falta de uso. Então ela deu um salto para sua evolução e desceu do galho que lhe prendia, radicalizou. Fervorosa a Deus, novamente, ela apelou para Santo Antonio e quebrou a cabeça da imagem do santo prometendo colá-la assim que ele revivesse o bráulio do Bráulio. O Santo sabendo que não poderia rogar a Deus para que intercedesse, pois Ele não metia o dedo para resolver os problemas carnais humanos, resolveu aparecer a Maristela em sonhos indicando que ela procurasse ajuda a outras religiões.
Ao chegar no terreiro de macumba contando ao pai de santo os seus problemas, ele disse a Maristela que não fazia milagre e mesmo que fizesse, com o corpo que ela tinha não haveria cobra que desse o bote, e que ela precisava era de um médico, mais precisamente de um cirurgião plástico para que pudesse apetecer o bráulio do seu marido.
Entrementes Bráulio ia jogando em tudo que era jogo, até que em um belo dia ele ganhou sozinho a mega sena. Maristela, depois deste fato, resolveu repaginar o seu corpo. Ao chegar na clínica o médico foi logo falando para Maristela que não fazia milagre, e que no caso dela só Deus para melhorar a fôrma e lhe dar outra forma. Usando o instrumento que mudava de idéia, tanto o padre como o político, Maristela derramou sobre a mesa do médico malas de dinheiro, e tal qual o político que é afoito tanto ao poder quanto ao dinheiro, guardou as malas e mudou de idéia.
No rosto de Maristela que mais parecia jenipapo passado, o médico usou tanto botox que transformou o que parecia um maracujá em uma pêra, e ficou tão linda que daria inveja a qualquer atriz da Globo. Os seios de Maristela estavam tão caídos que quando ela tirava o sutiã, os mesmos eram usados como inseticida, pois com a queda matava qualquer inseto; com as próteses de silicone, os seios além de fazerem inveja a qualquer ninfeta, davam de dez em quaisquer seios de qualquer garota Big Brother. Mais lipoaspiração, lipoesculturação, silicones na bunda, retirada de varizes e joanetes, Maristela estavam tão perfeita que Deus não teria feito melhor; isso prova o poder do dinheiro, pena que nas mãos dos políticos, o dinheiro não faz a transformação que faz nas mãos dos médicos. Saindo do médico Maristela foi direto ao cabeleireiro para tingir os cabelos de louro e saiu de lá tal qual manga mastruz chupada, mas mesmos assim linda. Passando numa loja comprou um vestido vermelho e foi fazer o teste de beleza, para isso passou perto de um edifício em construção, e os peões de obra foi logo desfilando suas pérolas:
- Você é a nora que minha mãe queria.
- Com este corpo e o vestido vermelho, queria ser um touro para correr atrás de você.
Não precisa dizer que Maristela saiu dali com a alma lavada e com a certeza que o dinheiro fora bem investido. Chegando em casa ao bater a campainha, pois queria surpreender o seu marido, Bráulio deu um pulo para trás sem reconhecer que quem estava ali era a sua mulher; e o que parecia impossível aconteceu, o fogo subiu a cabeça, mas a cabeça do meio não dava sinal de jeito nenhum. Refeito do justo e já dentro de casa, sabendo que quem estava ali era sua mulher, Bráulio usou tudo que é instrumento que levasse ao amor e conseqüentemente ao sexo, mas o instrumento principal não funcionava nem com reza brava. Olhando para suas mãos, Maristela resolveu usá-las para, quem sabe assim, resolver o problema do Bráulio; não teve jeito, por mais que usasse as mãos, no vai vem, a cobra não batia continência e nem soltava o seu veneno. Novamente dando um passo para sua evolução, Maristela radicalizou de vez, resolveu usar a boca:
- Vamos ao cirurgião plástico.
Com tantas malas de dinheiro na mesa do médico para convencê-lo a resolver o problema do Bráulio, se um político em Brasília visse aquela cena resolveria mudar de profissão, pois se existe uma profissão que dá dinheiro neste país é a profissão de político, pois por um meio ou por outro ele faz um real virar milhões de dólares. Malas recolhidas, o médico pôs mãos à obra, instalou uma haste de silicone no bráulio do Bráulio, e daquele dia em diante a cobra sempre estava armada para dar o bote. E os dois foram felizes para sempre, pois em casa onde a cobra sempre está armada para dar o bote, a aranha não cria teia.