Da morte esticamos as pernas
Para vê-la longe mesmo que
Ela demore um século, mas
Ela pode nos chegar quando menino
Por isso como já estiquei as pernas
Por muitos caminhos, e
Como mal saí do ninho
Estou com a metade do meu destino
Percorrido, sofrido e vivido, e
Antes que eu estique as botas
Antes que a morte bata a minha porta
Deixo aqui meu testamento
1) O amor pelo meu pai
2) O amor pela minha mãe
3) O amor pelos meus irmãos
4) O amor pela minha esposa
5) O amor pela minha filha
6) O amor pelo meu filho
Por ser de riqueza pouca
Pode parecer de pouco valor o deixado
Mas foi isso que me enriqueceu, o amor
Fez-me rico o suficiente para viver o bastante
Por isso peço, pai, mãe, irmãos, esposa e filhos
Não me enterra em qualquer chão
Não me enterra em nenhum chão
Crema-me e jogue minhas cinzas poéticas
Onde os rios Grande e São Francisco se encontram
E deixe que o epitáfio eles em suas águas rabiscam