Na minha infância a vida era doce. Nos potes,
muito mais do que mel, havia ouro. Após chuvas de verão, arco-íris e risos.
Enquanto isso, borboletas no jardim enamoravam as margaridas. Apesar de minha
mãe me chamar de principie, não me tornei rei. Contudo, fiz da minha infância o
meu reino. Fui uma criança abastada.
Neste verão chove aos cântaros. Programa de
domingo, praça de alimentação, cinema, pipoca. Shopping, portanto. Afinal, ninguém
aguenta mais o programa do Silvo Santos.
No Shopping, um pai discutia com o filho por
este não aceitar o celular que ele estava lhe presenteando, pois o mesmo exigia
um mais moderno, portanto, mais caro, símile aos dos seus colegas de escola.
Ah! A
minha infância foi abastada. Os meus presentes eram como potes de ouro, os
melhores. Mais ainda do que os presentes do menino rico da minha cidade. E os
meus vinham transportados pelo vapor Benjamim Constant. Porém, tal qual ouro de
tolo, eu os releguei ao esquecimento. Foi o meu vô, ao me ensinar como fazer
carrinho da madeira do buriti, ou então, como fazer de cada osso da rabada do
boi um boneco imaginário, que fez compreender o valor de um presente. Além
disso, a sua dispensa era recheada de doce de caju, doce de murici, rapadura em
pedra, rapadura temperada, doce do fruto do buriti e, também, do seu adocicado
amor. Amor de vô é amor de pai somado ao amor do Pai. Os melhores presentes
vinham de suas mãos.
O meu filho tem o hábito de me perguntar se
eu lhe trouxe um presente assim que chego em casa após um dia de trabalho. Resolvi
surpreendê-lo e testá-lo comprando um presente nessas lojas de um e noventa e
nove. Escolhi um mini-skate, cujo valor foi irrisório, um real.
Há muito mais doce em um olhar de uma
criança quando os seus olhos refletem alegria. O meu filho segurou o mini-skate
entre os dedos e borboleteou por cima do sofá usando o encosto como pista,
radicalizou em cima do aquário, não perdeu o equilíbrio no tampo de vidro do
buffet, empurrou o mini-skate na mesa de jantar e se jogou no chão
arrastando-se nos joelhos em direção ao outro lado da mesa aparando o brinquedo
antes que ele caísse no chão. Quando ele se levantou agradecendo o presente, eu
não havia reparado que as pernas de mais uma calça haviam sido puídas pelo
chão. O seu rosto, que tem um sorriso natural, se mostrou mais sorridente do
que de costume, e dos seus olhos saíram um arco-íris de felicidade. Por um
momento ele encontrara o seu pote de ouro.
Esqueci de dizer que o filho que discutiu
com o pai por causa do presente tinha apenas sete anos.
Meu vô já havia me ensinado que a
simplicidade nos aproxima de Deus.
Imagem clique AQUI
Entrando no seu blog me surpreendí com o choro do bebê(...)A música é profunda(...) e a mensagem que nos manda pelo post é tanto quanto.Criando nossos filhos com esses valores certamente eles farão a diferença no seu amanhã.
ResponderExcluirGrande abraço meu amigo!
acho que os avos sao muito importantes!!! lindo texto, como quasi sempre, meu querido Eder
ResponderExcluirum grande abraço
Eder
ResponderExcluirvocê está tão saudoso estes dias, efeito do ano novo, será?
E com este seu saudosismo somos nós que ganhamos, que crônica belíssima.
Agora vou te contar...seu filho é um perigo, heim? dentro de casa, puindo calças? Põe radical nisso.
Lindo de ver a alegria do pai com a alegria do filho, esta talvez seja a melhor formar de ser duplamente feliz.
Queria te agradecer enormemente pela sua participação e presença em minha festa, tão presente que você sempre é , que se tornou um precioso presente para mim.
Beijos, obrigada!
Deve ter sido um momento muito especial de observar o filho brincando assim, dando valor a um brinquedo simples, porém que com certeza vai deixar lembranças, assim feito você tem dos seus momentos com o seu avô.
ResponderExcluirTenho gostado destes resgates de lembranças que você tem escrito. E ao mesmo tempo vivendo momentos agradáveis e saudáveis com a família.
abraço.
Suas crônicas tem o que uma crônica precisa ter, um pedaço do tempo, arranjado em belezas e letras, para nos fazer pensar. Valeu.
ResponderExcluirObrigado pela amizade!
Oba! Mais saudosismo daqui a pouco, Eder?
ResponderExcluirVai escrevendo que nós vamos lendo
Um beijo para o menino maluquinho
...sabe quem deve ter ficado muito feliz
ResponderExcluirlendo você, né?
esta crônica alcançou seu avô, e é claro
emocionou a todos nós.
que papai do céu cuide sempre deste
teu dom com as palavras.
és um querido!
bj
Aso seu avô e seu filho, mas a emoção é nossa, Eder. Deiando o meu abraço afetuoso e desejos de um ótimo fds.
ResponderExcluirSim sua infância foi repleta de potes de ouro! Lembro-me que na minha brincava com bonecas de milho. Adorava-as. Cada dia uma, cabelos ruivos, amarelos, pretos... mas elas murchavam, por isso eu apanhava outra no milharal da fazenda e só o que me faltou para ser mais feliz foi o abraço de meu pai, nunca desejei uma Barbie ou uma bicicleta. Portanto, ser feliz não se resume a brinquedos caros, sempre ensino ao meu filho. Que graças a Deus tem tudo o que deseja,tanto material quanto espiritual. Espero que ele saiba ser feliz. E criança é assim mesmo, a natureza delas é contentar-se com brinquedos. O meu tem muitos brinquedos, mas sempre espera mais um. Gosta mesmo das pequenas besteiras, não importa o preço, apenas um brinquedinho e o vejo plenamente feliz.
ResponderExcluirÉder, desejo-lhe, mesmo atrasado, um maravilhoso ano de amor, saude e paz. E obrigada pelo seu carinho e presença em meu blog no ano que passou.
Olá, Eder, gostei muito do teu blog! Assim como vc, tenho nas reminiscências da minha infância o meu reinado! fiquei encantada ao vê-lo falar do seu avô, eu tb já escrevi sobre o meu e ele foi a minha companhia constante e mais enriquecedora dos meus tempos de menina.
ResponderExcluirAdorei este espaço tão poético e sensível.
Até mais!
Oi Eder...
ResponderExcluirAcho que compatilhamos da mesma opinião...do mesmo olhar...tenho dentro de mim essas lembranças...das pequenas coisas...dos pequenos grandes gestos
Impossível não lembrar do campo de futebol de botão que nosso pai nos presenteou...l mesmo fez e ficou mil vezes melhor que se tivesse sido comprado...o antigo Estrelão...rs
Tinha arquibancada...era muito maior...pintado com todo o carinhop e as marcações feitas com todo zelo...tanto foi que os amigos da rua só queriam jogar nele e a varanda da casa vivia cheia de muleques...rs
Seu filho recebeu um simples presente...mas foi além...pois soube valorizar o gesto...ai foi ele quem doou...doou sua simplicidade, a sua inocencia...essa que a gente acaba perdendo no decorrer da vida dura...rsrs...mas uma coisa é certa...não esquecemos esses raros momentos...
Um abraço na alma...beijo no coração amigo...
Relendo. Na manhã deste sábado chove, nada de praia. Estou relendo alguns blogs. Resgatar a criança é libertar-se, é ser um adulto mais conectado com ele mesmo. O leitor ao ler termina por entrar em contato com a criança dele também. A leitura, o encontro com as nossas lembranças, com a gente mesmo, com a emoção, a troca, é o que faz no meu entender o ter um blog algo especial.
ResponderExcluirUm final de semana especial para vocês.
.
.
ResponderExcluir.
. de uma infância abastada . onde cada presente era o ouro fulgente do teu dia . ao estádio actual . no qual te encontras e no qual acreditas que a simplicidade nos aproxima de Deus .
.
.
. um forte abraço .
.
.
Eder, excelente conto! Precisamo salvar nossas crianças, urgentemente, não?
ResponderExcluirAbração,
Rodrigo Davel
Amigo Eder,
ExcluirSeu texto me fez voltar ao tempo e lembrar de muitas coisas da minha infância e principalmente de meu avô do qual sinto imensa saudade. Éramos muito amigos e entre uma brincadeira e outra sempre uma lição de vida.
"Há muito mais doce em um olhar de uma criança quando os seus olhos refletem alegria." Guardei essa frase em meu coração pois sei que quem agrada a uma criança estará agradando ao próprio Deus.
Parabéns meu amigo pelo excelente texto!
Que você tenha uma noite de paz e muitas alegrias junto de sua família!
Um abraço fraterno
Deus seja contigo