Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Afastar-me-ei do blog por tempo indeterminado

                                       Meu amor, minha Flor de Liz, acredite, haverá o milagre.


   - Meu filho, Deus nunca nos dá a cruz com o peso maior do que podemos suportar.
   Quando minha mãe disse essa frase pela primeira vez, as perdas da nossa família eram tantas que senti todas as cruzes divinas ou não, desde a era Roma, sobre nossa família. Nunca quis saber como meus sete irmãos aguentaram as suas respectivas cruzes, a minha foi tão pesada que o meu afastamento de Deus durou desde a pré-adolescência até o início da vida adulta. O que eu não percebia era que Deus sempre esteve conosco e nunca deixou de nos mostrar a Sua presença, principalmente a mim.
   Quando, ainda criança, os Rios Grande e Preto, por quatro vezes, tentaram me tomar para si. Não foram mãos humanas que me salvou. Deus esteve comigo. Deus está comigo.
   Quando, ainda criança, um saco de trigo de sessenta quilos, caiu sobre o meu mirrado corpo e nada sofri, Deus esteve comigo. Deus está comigo.
   Quando, ainda criança, água fervente, acidentalmente queimou o meu corpo e nenhuma sequela ficou. Deus esteve comigo. Deus está comigo.
   Quando, agora adulto, a minha filha passando mal, eu e minha esposa, desesperados, esquecemo-nos de colocar a cadeirinha no banco traseiro do carro e dirigindo para o hospital, colidimos de frente com um ônibus, Deus esteve conosco. Ensanguentado, sai do carro e olhando o banco traseiro, vi todos os cacos do para-brisa no assento onde deveria estar a cadeirinha com a minha filha, Deus esteve conosco.  Minha esposa embaixo do banco do motorista, presa, Deus esteve conosco. Porém, ao ouvir o choro da minha filha no colo do cobrador do ônibus, sem nenhum arranhão, não tive dúvidas, Deus esteve conosco. Deus está conosco.
   Quando o meu filho nasceu prematuro e internado na UTI pré-natal, após vários antibióticos não surtirem efeito contra uma infecção, a médica dizendo que tentaria regredi a mesma com a velha penicilina, eu sabia, Deus está conosco. Após quinze dias de internação, a médica disse que a infecção havia regredido com a penicilina. Engano dela, o que ela não sabia era que Deus esteve conosco. Deus está conosco.
   Quando, viajando para visitar a minha mãe no interior, o carro lotado, ao pisar no freio, um dos pneus estourou e o carro girou no seu próprio eixo na autopista, uma voz sussurrou: - Tire os pés do freio e segura firmemente o volante. O carro aos poucos foi parando na quarta pista da autoestrada, próximo do acostamento. Não preciso dizer de quem era o sussurro. Deus esteve conosco. Deus está conosco.
    Sábado, dia oito de dezembro, esposa tinha ido ao médico levar os seus exames da tireoide para avaliação. Combinamos que as crianças ficariam com as tias e nos encontraríamos no shopping.  Estava indo tomar banho quando o telefone toca:
   - Vem me buscar, imediatamente.
   - Ainda não tomei banho.
   - Coloque qualquer roupa e venha logo.
   Senti um choro segurado depois da palavra logo. O telefone emudeceu, e por mais preparado que você esteja, o pior lhe passa pela mente.
   Chegando ao local combinado para buscá-la, a minha esposa se encaminhou para o carro cabisbaixa, abriu a porta e ao sentar, em lágrimas, me disse:
   - Estou com câncer na tireoide.
   As duas mãos postas no volante ali ficaram, imediatamente olhei para o céu. Uma sensação de vazio me dominou.  O silêncio se fez para dar vazão as lágrimas. O céu desceu sobre nossas cabeças, sem o apoio do chão, ficamos suspensos pelo medo. Liguei o carro, gotas de chuva caiam bem fracas. Estava na Avenida Interlagos, próximo a Igreja do Padre Marcelo, o semáforo fechou, novamente, olhei para o céu, as nuvens que nublava o dia foi se afastando e os raios solares foram enchendo o céu de luz.
   Sábado foi um dia pesado, de lágrimas e busca de um cirurgião de pescoço e cabeça. Os dias estão nos levando, e toda ação é de oração. E são as lágrimas a minha companheira. Preciso de silêncio. E de Luz.
   Por tempo indeterminado, estou encerrando as atividades no blogger. Desejo a todos um Feliz Natal e próspero Ano Novo.

                Neguinha, com Ele, tu podes. Caminhamos juntos, no fim do caminho haverá Luz.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Sobre as vontades


O que impulsionou o homem até aqui senão as vontades. Qual motivo maior de sua infelicidade senão as vontades irrealizáveis, afinal, todos nós temos os nossos limites. Controlar as nossas vontades é a chave para a escolha certa.
   Minha maior vontade é saber, por isso ouço mais do que falo, tenho um olhar distante e minucioso, para perceber o todo. Porém não intenciono a sabedoria, é fundamental deixar o recipiente do saber vazio. Como? Compartilhando. Existimos por saber dar e receber, sem essa troca, por maior vontade que existisse em nós, não seríamos suficientes sozinhos.
   De todas as vontades, a primeva, a busca do conhecimento simbolizada na apreciação do fruto proibido, ou, para os evolucionistas, simbolizada na descida do macaco da árvore, também, em busca de conhecimento, eu, desfeito das crenças, lhes pergunto, qual é a sua maior vontade. Meu recipiente do saber está vazio, enche-o com a sua sabedoria.

Imagem Google


   O próximo conto foi inspirado entre trocas de e-mails e comentários com a minha estimada amiga Cris, eis um exemplo abaixo.



humrum.. quer dizer que a personagem protagonista é loira e se chama Cris.. sei.. diria que qualquer coincidência aqui é mera semelhança né? Bom, qual o problema se for niilista e negativista? Não vejo nenhum, rsrs já que tenho um pé cravado nesse sentido. Meu querido, até o próprio fim é passivel de um recomeço, acredite. Deixa estar que tudo ficará bem, clichê né? Mas é tudo que nos resta em certos momentos, depositar nos chavões nossas esperanças! Gr. Bjoo! Faz a história da loira bem legal e afina bem o bico do sapato, qualquer coisa ela pode cravar ele no bandido da vez! Heheh!

   



quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página final


Ainda que eu falasse/A língua dos homens/E falasse a língua dos anjos,/Sem amor eu nada seria./É só o amor! É só o amor/Que conhece o que é verdade./O amor é bom, não quer o mal,/Não sente inveja ou se envaidece - Legião Urbana.

 
   O abraço, o choro, o pedido de perdão de Lucius enervou o seu pai que lhe pegou pelo pescoço e o arremessou de encontro à parede. Lucius estranhou a atitude e a força descomunal empregada por Petrus, sem saber se foi devido ao que ele lhe fez sugando o seu sangue, ou, pensou, talvez ele não fosse realmente o seu pai. Petrus, com a voz cavernosa e gutural, nada humana, lhe disse:

   - A desgraça de vocês, humanos, foi pensar que a bondade ia lhes salvar. São os atos maldosos que lhes tornam fortes. Vocês são, essencialmente, animais, e entre os animais, somente uma lei impera: a dos mais fortes. - Pegando Lucius pelo pescoço e o encostando-se à parede, Petrus sussurrou em seus ouvidos. - Desgraçado, você já viu um lobo chorar ao matar a sua presa, já o viu pedir perdão para a mãe ou o pai dessa mesma presa. Sabe por que ele não faz isso... - Não vai pensar que o motivo é ele não raciocinar, ou porque ele não tem sentimentos, pois tem, ele sente, ele sabe que a única forma de sobreviver é impondo a sua força. - Ele não faz isso porque para se impuser ele tem de demonstrar que é mau, é imperativa a maldade ao agir, e ela, a maldade intuirá ao derrotado o seu devido lugar. Por isso, covarde, deixar aflorar a maldade em si e a ponha para fora, seja forte! - Petrus jogou Lucius contra os escombros e, ao encaminhar em sua direção, mentalizou a sua verdadeira forma transmutando em o Senhor das Trevas. Quando o Senhor das Trevas retirou a bolsa contendo o seu plasma para inserir nas veias de Lucius, foi interrompido pela chegada de Furiosus trazendo Ariadna.

   O Senhor das Trevas foi tomando por um sentimento, até então não existido nele, ao notar Ariadna e, encaminhando até ela, ele retirou a sua venda. Ao mesmo tempo Furiosus virava-se após ter colocado a espada Divus de Hesediel em cima da mesa, e, vendo a cena, grita para o Senhor das Trevas não fazer aquilo, porém, ele não lhe deu ouvidos. Preocupado com o que poderia acontecer, Furiosus escondeu os olhos abaixando a cabeça e a colocou entre as coxas ao se curvar. Lucius, tomando pela raiva, correu em direção à mesa, pegou a espada Divus e a desferiu a esmo. Quando Furiosus percebeu já era tarde, o fio da espada arrancou-lhe as asas antes dele se levantar, tentou sacar a arma, mas, como estava esfacelando, essa voou da sua mão e caiu próximo de Lucius. Lucius não pensou duas vezes e, ao ver Furiosus virar pó e o seu espírito surgir como saído da escuridão, rolou no chão, pegou a arma e atirou em várias direções. As balas sabiam que ali só havia um espírito para ser capturado. Todas, ao mesmo tempo, se abriram libertando os tentáculos escuros que furiosamente capturou o espírito de Furiosus e travaram uma disputa inaudita por ele. Enfim, quando apenas uma bala restou, ele foi sugado para dentro dela e, tomando rumo incerto, ela se explodiu. No céu uma mancha escura espalhou-se e contraiu rapidamente desaparecendo.

   Indiferente ao que estava acontecendo em sua volta, como se estivesse enfeitiçado, o Senhor das Trevas somente tinha olhos para Ariadna. Seus olhos tomando a coloração vermelha se dilatavam ao percorrer o corpo níveo da filha dos deuses. Irresistível ao apelo sexual, o Senhor das Trevas moveu as suas mãos ao encontro do rosto de Ariadna e percebeu que elas alvejavam. Assustado com a aparente brancura, o Senhor das Trevas, acostumado com o negrume das trevas, notou que não era somente as mãos que alvejavam, mas todo o seu corpo. Pela primeira vez não sabia o que fazer, contudo, mesmo que soubesse, já não era dono de si, seu corpo não mais obedecia ao comanda da sua mente. O Senhor das Trevas, tomado por uma ira incontrolável, tentou alçar voo, não obstante, os seus pés estavam colados no chão, ele estava se transformando em uma estátua de sal. Lucius deu o golpe final o empurrando para o buraco aberto no meio da sala. Contraindo-se, o buraco fechou-se, espalhando pelo ambiente uma nuvem tênue acinzentada que assentou logo em seguida.


   Ariadna percebeu Lucius sentado na soleira da porta com olhar perdido no infinito. O cenário não era o dos melhores, a destruição era visível onde quer que se jogue o olhar, o aroma que se chegava ao nariz era de carne apodrecendo, os urubus formava uma mancha escura no céu, do nada surgiam animais atraídos pela carniça. Desolado, Lucius se via agora em um mundo sem esperança. Ele e Ariadna estavam sozinhos, sem poder contar com ajuda de ninguém. Cabisbaixo, ele se afundou em seus pensamentos procurando solução e abrigo, porém, eles estavam vazios.

   - Hesediel me disse que ficaríamos sozinhos, porém, não deveríamos nos desesperar. - Disse Ariadna ao se aproximar de Lucius, sentar na soleira da porta e tentar compartilhar dos seus pensamentos.

   - O que esperar do mundo como ele está, Ariadna. Só vejo destruição e dor.

   - Não muito diferente do que sempre foi. Hesediel me disse para pegar a sua espada...

   - Ariadna, não temos mais inimigos para combater. - Disse Lucius a interrompendo.   
   - Não, mas se não mudarmos a forma de pensar o mundo, como nos colocamos neste mundo, a Nova Geração estará fadada ao fracasso.

   - E o que a espada de Hesediel tem a ver com isso. - Perguntou Lucius demonstrando interesse.

    - Ele me disse que todas as respostas para as nossas dúvidas seriam achadas quando enfiássemos a sua espada Divus na casa do recém-nascido cujo sangue foi colhido para a minha feitura, ou seja, onde estamos.

   Lucius deu um pulo e adentrou à casa a procura da espada de Hesediel. Sabendo que foi o último a usá-la, ele a encontrou próxima da mesa. Ariadna veio logo em seguida e os dois acionaram o dispositivo Dio enfiando a espada no meio da sala.

  Um clarão inaudito tomou conta da sala, revolveu todos os escombros provocando um redemoinho e parou quando restava apenas um objeto no seu epicentro. O objeto, um livro, foi aproximando dos dois de acordo com a diminuição da intensidade da luz e quando se apagou, caiu nas mãos de Ariadna. Ela assoprou para tirar o pó do mesmo, porém uma crosta negra impedia de ler o título do livro, então ela levantou a barra do vestiu e o esfregou sobre a capa. As letras grafadas em ouro foram, aos poucos, surgindo na capa. Surpreendida ela não acreditou no que estava escrito.

   - A Bíblia Sagrada! - Disse levando a mão a boca para esconder o seu espanto.

   - Mas que resposta possamos achar aí, Ariadna? Você acha que a solução para os nossos problemas podem estar aí?

   Lucius mal terminou de falar e a Bíblia voou da mão de Ariadna abrindo as suas folhas nervosamente de um lado para o outro, ininterruptamente. Enfim quando parou em uma das páginas, luzes lhe cobriram dando mais clareza ao que estava escrito, então, Ariadna leu em voz alta:

   - Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.

   - Do que nos vale isso se nós temos só a nós. - Disse Lucius, enfadonho.

   - Se a Geração que acabou de findar tivesse praticado esse ensinamento, ela não teria sido exterminada, cabe a nós ensinarmos a próxima para que ela não tenha esse mesmo fim.

   - De que vale esse ensinamento se o mal corre em nosso sangue.

   - O bem também. Lucius, onde o amor viceja, o mal não vigora. Tanto o mal como o bem não é exterior ao homem, está dentro dele, e cabe a ele exteriorizar um ou outro.


Página 8

Introdução

Imagem Google


Nota do autor: Toda essa história não passa de uma fantasia, porém, há nela uma verdade, o bem e o mal nasce de nossas ações, por isso, aconselho clicar aqui e descobrir a solução para nossos males e conhecer mais um pouco aonde o escritor se inspirou para escrever esse conto. Espero vocês lá.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 8


 Eu rabisco o sol que a chuva apagou/Quero que saibas que me lembro/Queria até que pudesses me ver/És parte ainda do que me faz forte/E, pra ser honesto,/Só um pouquinho infeliz... - Legião Urbana.
 
Ao pousar próximo da casa branca com portas amarelas, Hesediel desatou a cinta de proteção desprendendo Ariadna do seu corpo e sentiu o odor sulfúreo. Sabendo que anjos Shaitans estavam próximo devido ao cheiro, Hesediel a puxou de volta para próximo de si e sacou da sua espada Divus. O que Hesediel não via era que os anjos Shaitans não foram atraídos por ele, mas pela beleza de Ariadna, e assim que eles a olhavam nos olhos, transformavam-se em estátua de sal para logo em seguida se esfacelarem em pó. Aos poucos todos se vergaram à sua beleza em uma espécie de êxtase coletivo. Furiosus, longe dos olhos de todos e sobrevoando sob o céu iluminado, sem mais o manto negro a cobri-lo, pois todos os anjos Shaitans havia virado pó, observava Hesediel e Ariadna. Agora, entendendo o porquê de Iratus ter virado estátua de sal, ele colocou uma venda em seus olhos, voou rente ao chão, desviou da espada de Hesediel jogada a esmo e com as garras dos pés capturou Ariadna pousando-a em um gancho de um dos prédios mais alto.

   Sua respiração ofegante desejava vingança, contudo, ao cheirá-la, os seus desejos já eram outros, não obstante, ele sabia que o Senhor das Trevas a queria também. Furiosus retirou a venda e a colocou em Ariadna atando fortemente. O vento desnudava Ariadna, a sua pele alva refletida pelo sol causava fascínio em Furiosus. Ele se aproximou de Ariadna e sentiu o calor do seu corpo transpassando pelos seus poros como gotículas de água que ao estourarem, deixavam no ar um aroma refrescante e suave. Arrebatado pela concupiscência, Furiosus, com as garras dos seus pés sobre o corpo de Ariadna arrancou as suas peças íntimas. Apesar de não ter conhecimento sobre geometria, desenho artístico, poesia e mais precisamente de como o artista se inspira para no barro moldar o sentido de perfeição, Furiosus ficou tão bestificado diante de tanta beleza que descontrolado passou a língua entre os dois seios de Ariadna sugando os seus mamilos em seguida, depois desceu a língua até o vórtice do seu sexo preparando para consumar os seus desejos. Ariadna confundia-se entre a repugnância e o prazer, sem saber se pedia para parar ou continuar, contudo, ele parou, não por que ela o pediu. Furiosus afastou-se perturbado, olhou as curvas de Ariadna e sobre o efeito delas não percebeu Hesediel aproximando-se com a espada em punhos. Quando ele ia retirá-la do gancho para mentalizar a forma humana e no chão consumar os seus desejos, sentiu o golpe de espada nas costas.

    A cegueira impediu que o golpe de Hesediel fosse certeiro e arrancasse as asas de Furiosus. Mesmos com dores, Furiosus soergueu, empunhou a espada, fechou as asas e, tresloucado, foi em direção a Hesediel. Sentido que não havia arrancado as asas de Furiosus, Hesediel sabia que só teria aquela oportunidade e como a desperdiçou, desejava morrer vendo a sua amada, Ariadna, mesmo sabendo que seria a primeira e última vez. Furiosus não tinha a honra dos grandes guerreiros, nenhum anjo Shaitan a tinha, tampouco, sabia reconhecer o derrotado para lhe dar uma boa morte. Ele cravou, covardemente, a espada nas costas de Hesediel, perfurando o seu coração, assim, sabia que a dor só encerraria com a morte do seu espírito. A violência do golpe foi tão desproporcional que os dois desceram vertiginosamente, e ao cair no solo, cada um foi para um lado, rolando sem destino. Hesediel ficou preso pela espada cravejada no seu corpo e presa no chão. Furiosus, com o corpo dolorido, estatelou-se entre os mortos que serviam de banquete para urubus.

   A maior desonra para um anjo é ser morto por um humano ou por outro anjo transmutado em humano. Hesediel sabia o que lhe aguardava e não tinha força para lutar contra. Furiosus levantou pisando nos corpos dos mortos a procura de Hesediel. Quando o achou, cerrou os olhos, mentalizou a forma humana, acelerou os passos, e, transmutado, o pisou no pescoço, arrancou a sua espada Daemo, ergueu as asas de Hesediel e as cortou violentamente. Lestamente, Furiosus mentalizou a forma angelical, e, transmutado, sacou a sua pistola e descarregou o pente atirando a esmo, ele sabia que uma das balas acharia o espírito de Hesediel.

   Desmaterializado, Hesediel levitou ao encontro de Ariadna, presa no gancho de um dos prédios. As balas zuniam no ar, algumas ricocheteavam nos prédios, capturavam alguns espíritos desgarrados e explodiam em seguida, outras procuravam o espírito de Hesediel. Os desejos impulsionavam cada vez mais o espírito de Hesediel aos braços de Ariadna, e, finalmente, quando o espaço entre os dois não deixava brecha para um fio de cabelo passar, o ar em torno dos dois se tornou gélido. O frio começou a petrificar o corpo de Ariadna quebrando o clímax, o estremecimento da sua espinha fez com que o espírito de Hesediel se afastasse, atentando para os seus atos.

   Os desejos em si não nos levam ao pecado, mas o controle sobre os mesmos sim, e são as escolhas, em recusá-los ou consumá-los que se conhece o pecador. O salvamento pode vir pelo arrependimento, e, dependendo do julgador, redundará em condenação ou não.

    Arrependido, Hesediel orou, não que buscasse um salvamento para si, mas porque ele agiu contra os seus princípios cristãos, o de amar sem apego ao físico.

   Ariadna começou a sentir tremores pelo corpo, os seus dentes batiam um nos outros descontroladamente, os dedos das mãos e dos pés arroxeavam, antes que a sonolência lhe tirasse qualquer possibilidade de pedir ajuda, ela gritou socorro desesperadamente. Quando a ajuda veio, ela adormecia com as pupilas dilatadas.

   O espírito de Hesediel sabia que se intensificasse a sua luz, seria achado pelas balas, porém, tinha a certeza que a sensação de frio que Ariadna estava sentindo foi provocada por ele a ter desejado fisicamente. Os deuses a estavam castigando para atingi-lo.

   O céu foi tomado por um clarão inaudito, a luminosidade se expandiu e contraiu atraindo as balas. Na contração, Hesediel levantou os braços de Ariadna aquecendo as suas axilas, depois as pernas e braços, e por fim abraçou-a soltando-a assim que ela se refez. Ele já notara que a claridade irradiada pelo seu corpo ativou o sistema de busca das balas atirada por Furiosus, por isso afastou de Ariadna assim que ela se recuperou.

   As balas fizeram um circulo em volta do espírito de Hesediel, abriram suas pontas soltando tentáculos escuros que o envolveu e travaram uma disputa para ver quem o tinha para si. Algumas esmoreceram, desistiram e foram atrás de outros espíritos desgarrados; outras apagaram seus tentáculos e perderam o seu poder de captura, pois o espírito de Hesediel ainda tinha um pouco de luz e resistia. Enfim, quando restava apenas uma bala, Hesediel sabendo que sairia derrotado, se entregou. Os tentáculos escuros arrastou o espírito de Hesediel para dentro de si, fechou a sua abertura e se explodiu. A luminosidade que se via no céu era maior que a do espírito de Hesediel quando se expandiu e se contraiu, porém, foi perdendo a sua intensidade rapidamente tal qual a vela bruxuleando no castiçal que aos poucos se apaga devido o pavio estar chegando ao fim.

   Como os anjos Shaitans não expressam a sua alegria com sorrisos, Furiosus, ao ver um pequeno ponto de luz no céu após a explosão, abriu as suas asas, bateu no peito várias vezes e urrou de felicidade, pois sabia que o espírito de Hesediel havia morrido. Ariadna, refeita da hipotermia, teve tremores no corpo ao ouvir os urros, e o pavor foi ainda maior quando sentiu as garras de Furiosus retirá-la do gancho. Furiosus voou alto, deu a volta em torno do prédio, embicou em direção a espada Divus de Hesediel, pegou-a do chão com as garras da mão direita e voou para cima dando voltas no prédio, novamente. A satisfação de ter a espada como prêmio pela vitória foi demonstrada com vários urros ensurdecedora. O grito de pavor de Ariadna por Furiosus passar rente aos objetos projetando seu corpo em direção aos mesmos, não se fez audível por ter sido abafado pelos urros. Furiosus, carregando em pleno voo a arma com um novo pente com balas de captura de espíritos, voou em direção à casa branca com portas amarelas onde se encontravam o Senhor das Trevas e Lucius.

Continua quarta-feira às 12hs00min

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