Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 25 de março de 2009

poeminha da flor de liz

se me desse
dessa minha dor
tecer flor
seja qual for
rosa, cravo ou mesmo ardor
de querer por querer, ou
se me desse florescer
pelo amor da flor de liz
deixaria de me ser
e seria colibri
sem dor

sábado, 21 de março de 2009

vans deferens tomé


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o corte
não afeta o macho
de fato
o canal deferente amputado
não despoetiza o cabra
nem murcha o talo
vans deferens tomé
não é anomalia
nem despoesia
todo homem quando homem
frutifica-se é pela alma


*dedicada a minha deusa-ébano Flor de Liz

sábado, 14 de março de 2009

Candeia

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*Se de noite chorares por ter perdido o sol, as lágrimas não te deixarão ver as estrelas – R. Tagore*

*Um especial agradecimento a uma amiga que com seus poemas alimenta minha alma de fé*

Somos pescados por uma rede do útero da mãe natureza para não nos afogarmos, em terra firme não temos a certeza de que não sufocaremos. A alegria sempre ribeirou a minha vida, vogando assim, por rios doloridos, mareando a tristeza, eu cheguei até aqui. Não me considero escritor, nunca o fui. Neruda disse que escrever é fácil, basta começar com uma palavra e terminar com um ponto final, no meio encher de idéias. Estou a escrever, de lápis (quanta miserabilidade em me fazer escrever de lápis, essa atitude somente poderia partir dele.), obrigado. Não tive escolha, ou será que ainda tenho? Não tenho todas as respostas, eles com certeza sim. Toda história tem que ter um fim, até lá, antes do ponto final, quem sabe me desfaço do lápis e opto pela segunda escolha. O lume da candeia bruxuleava, a mesa com seu tampo de vidro refletia três rostos, o meu, o dele e o do outro, mas na escuridão não conseguia discerni-los; todos se assemelhavam a mim. Pela primeira vez me dei a escrever, e antes de fazer isso estava vindo da rua. Era um dia como todos os outros, desesperançoso, alcoólico e entristecedor. Quando entrei a candeia já estava acessa, bruxuleando. Ele ou o outro deve ter colocado azeite, pois há muito tempo que o pavio não era aceso. Na mesa um caderno e um lápis do lado direito, um revólver e três balas do lado esquerdo. Uma perturbação incansável dominou minha alma, tremi dos pés a cabeça. Um dos dois me disse, “escolha”. Não enxerguei o banco do lado esquerdo, tropecei e caí em cima do caderno. Ouvi, “saiba escolha”. Mas internamente eu sabia que a escolha não era aquela. O outro também, de alguma forma, sabia, pois o seu olhar era sarcástico e sagaz. Cinqüenta anos de idade. Inútil. Por não enquadrar no perfil de funcionário que a empresa precisava para expandir os seus negócios fui despedido friamente, descartado como uma máquina velha sem serventia. Lixo. Inútil. Pela segunda vez corria nas minhas veias um sangue diferente, fervente, desejoso por vingança. A linha que separava o bem do mal havia se apagado. Segurei-me para o intuito do assassino não tomar conta de mim. A falta de fé foi a minha única derrota, e, indubitavelmente, a minha derrocada como ser humano. Meu pai sempre sonhou em ter um padre na família, por ser primogênito eu fui o escolhido. Como todo sonhador, meu pai não tinha apenas um sonho, mas vários. O outro sonho era ter outro filho que lhe desse um neto, e esse neto um bisneto, e assim interminavelmente para perpetuar o nome da família. Muitos dos seus sonhos não foram realizados, precisamente a maioria. Não guardo mágoas dele, apenas uma comiseração pudica. Era um fracassado, e como tal, não cabia outro sentimento senão esse. Após o meu nascimento nasceram cinco meninas. Entrei no internato aos três anos, saí aos seis. Ele retirou dos meus ombros o peso de ser padre e me deu um peso maior, lhe dar um neto. Casei por imposição, a moça tinha sobrenome. Nunca fomos felizes. Quando ela engravidou, dei a notícia ao meu pai, “você vai ser avô, ganhará uma neta”. E o meu neto, quando vai me dar. Essa foi sua resposta. A história esta aí para nos provar que a história sempre se repete. Vieram mais duas meninas. Inútil, nem para me dar um neto você serve. Antes lhe tivesse casado com Cristo, assim não teria a frustração de saber que meu único filho não é homem. De que lhe serve os culhões se não sabe fazer um menino. Ouvi tudo calado. Engoli palavra por palavra a seco. Lixo. Inútil. Pela primeira vez corria nas minhas veias um sangue diferente, amargo, desejoso por vingança. A linha que separava o bem do mal não se distinguia mais. Silente, o intuito do assassino tomou conta de mim, antes que ele agisse abandonei a todos. No decorrer da minha vida toda ação foi um abandono de mim mesmo, um fim que nunca chegava. Como é difícil juntar as letras e dá um significado as palavras, e mais ainda chegar ao ponto final. A grafita estava chegando ao fim e somente agora eu percebi em cima da mesa uma borracha. Qual o significado dela? Infelizmente, com ela, eu não poderia me apagar, mas ainda havia o revólver. Haveria a grafita de durar até o momento do ponto final? Espero que sim, e ela escreverá a onomatopéia do meu fim. Toda história é uma repetição da história, muda os cenários e as personagens, mas a história não muda. Talvez seja por isso que o Neruda disse que escrever é fácil. Quando o dia é entristecedor, alcoólico e desesperançoso é difícil chegar em casa. Quando eu cheguei em casa, e, antes de entrar, percebi a candeia acessa. O susto é como um dia chuvoso, após o relâmpago sabendo que o trovão virá, mas sempre nos assustamos quando ele chega. Foi neste estado que entrei em casa. Nunca acreditei em milagre, mas havia algo estranho. A candeia não acenderia sozinha, haveria a necessidade de outra pessoa para acendê-la. Seria a explicação mais plausível. Quando tropecei no banco e caí sobre o caderno, ouvi, “saiba escolha”. A imagem refletida no tampo de vidro da mesa se transformou na mais pura luz, sem refração, iluminando todo o ambiente. A outra imagem, sulfúrea, desaparecia envolta em chamas. O revólver não, ele permanecia. De dentro da luz ouço uma voz me dizer, “nenhuma história é repetitiva, pois tens a capacidade de apagar a que está escrita e reescrever outra completamente diferente”. Houve um silêncio perturbável. A luz se extinguia, o lume da candeia se tornava mais forte. A grafita estava acabando, não haveria como escrever a onomatopéia que significasse o meu fim. Pego o revólver, coloco as bala e pá, pá, pá. Qual o significado das palavras quando as escrevemos, e quem as lêem como as interpretam? Neruda tinha razão, escrever é fácil, difícil é saber ler. Eu comecei a minha história com o nascimento sabendo que a morte era o ponto final, mas nem sempre toda história tem que acabar com um ponto final. A onomatopéia acima escrita não simboliza o som de um tiro, pois se assim fosse a história terminaria ali, seria o ponto final. Não, ela significa o som da transformação do revólver em uma caneta. Vou recomeçar a história para dar um começo e um sentido a minha vida...



*O autor alerta que a história não é fato, e tão pouco autobiográfica, as personagens pertencem ao mundo da ficção, qualquer semelhança com fatos reais pertencem ao campo da coincidência*

sábado, 7 de março de 2009

transparente

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da visão não preciso
para que eu me veja
há outros sentidos
pelos quais eu me percebo

necessito muito me sentir
para ser por inteiro
mesmo que todos os dias
o mesmo eu seja

eu valho pelo que sinto
desde que cos meus sentimentos
eu seja verdadeiro
desde que cos outros e comigo mesmo

eu seja transparente