Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

terça-feira, 16 de julho de 2013

Pensamento - sobre o amadurecimento



   Todos nós sabemos da nossa imaturidade quando nascemos, portanto, gosto de me comparar com um maracujá, quando novo, ou seja, verde, a sua pele é lisa e brilhosa, contudo, sem sumo, de nenhuma utilidade. Ao amadurecer, a casca envelhecida se torna feia, no entanto, o sumo se torna apetitoso e aproveitável. Por isso, aproveitamos o tempo para que possamos amadurecer intrinsecamente sem dar muita importância com o envelhecimento da carne. Posto que, a carne é finita, é o sumo que dela sair que vai dizer quem você é. Aproveite amigo, amadureça da melhor forma possível para que o seu sumo seja apetitoso e aproveitável.

Imagem: GETTY IMAGES

Próximo conto em processo de edição 

Título: Ladrões de juventude
Sinopse: eles seriam eternamente jovens, porém o preço seria alto.
Dias e horários das postagens: Domingo, às 8:00 - Quarta-feira, ao meio dia 

     Ladrões de juventude

   Adah correu desesperado para a traseira do ônibus ouvindo impropérios dos passageiros atropelados pela sua pressa, colou as duas mãos no parabrisa e a viu tentando segurar as emoções, abraçada a um Kafka, ininteligível para ele que estava acostumado a leitura de livros de bolso de bang e bang...

Leia mais no domingo às 8:00hs
  

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Pensamento - sobre o tempo



   Porque se apegar ao passado ou sofrer pelo futuro se foge da responsabilidade do presente. É o que se está construindo agora que dirá sobre ti à tua geração, é o que está construindo agora que dará condição para que a tua geração saiba sobre ti. O passado e o futuro estão contidos no que se faz do presente. Viva o agora intensamente para amanhã não chorares pelos sonhos não realizados no passado ou por não se sentir capaz de realizá-los no futuro. A construção dos sonhos começa agora. Faça-os, hoje.

Imagem: GETTY IMAGES


Breve, um novo conto surreal. Ainda em processo de criação, segue um trecho:

"Ali, as pessoas não adquiriam as linhas do envelhecimento e nem os objetos as estrias da deterioração, o tempo não havia imposto o seu poder, ao invés disso, o que se percebia era a sua derrota estampada no verniz da eterna juventude impregnada em todos os objetos, em todas as pessoas".

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Em busca da salvação



A vida nada mais é do que reflexo de nossos atos. Acreditar que haveria salvação após a morte é que fazia Eduardo, conhecido como Palodú, a praticar seus crimes. Purgatório, depois céu ou inferno. Culpa porquê? Sabia que o pior lhe esperava. Todos os seus espelhos imprimiam a imagem da condenação. Abraçara o crime por falta de opção. Sempre lhe faltou tudo, materialmente a miséria era presença constante. Seu pai imprimiu em seu espírito mais dor do que amor. Sua estrada era curta e cheia de desvio, rumo incerto o levava para o caminho errado.
   Com seus quase dois metros de altura, pele branca como a neve, olhos esbugalhados, pés e mãos enormes e uma cabeça exageradamente grande dava a Palodú uma aparência assustadora.
    Para o criminoso todo dia era sempre o último, mas para Palodú hoje era diferente. Sentia que seria seu último dia. Nu e descalço com uma sensação de que tudo lhe fugia, alguém lhe perseguia, entrou em casa apressado. Sua mãe cochilava no sofá com a televisão ligada. No quarto, em ato de desespero como quem implorando salvação, Palodú tentou o mais rápido que pôde desembaraçar os espelhos da sua vida. Era tarde demais, não havia reflexo.
    Turbilhão de imagens passadas fervia em sua mente. Tinha oito anos. A cólera frenética do pai ao saber que ele ferira um colega no calcanhar com uma pedrada. Naquele dia conheceu o peso da sua mão, o atingiu na cabeça levando-o ao chão. Caiu de boca e em conseqüência perdeu quatro dentes. Assim o seu ódio pelo pai germinou. Nunca soube como era o amor de pai. A indiferença da mãe, por medo, não chegou a imprimir em seu coração ódio, mas nem tão pouco imprimiu amor. Como ela foi indiferente ao seu sofrimento ele também o foi a ela, até a morte de seu pai.
    Tinha doze anos. O amigo morto ao assaltar um posto de gasolina para poder financiar a sua fuga da Febem. Era dura a perda. De poucos amigos, Palodú os perdiam. O crime mostrava a sua face: vida curta.
    Tinha dezesseis anos. Um momento de alegria. A imagem que mais claramente o marcou. Presenciou a morte mais esperada, e após ela conheceu o amor. A morte do pai e no enterro o alívio estampado no rosto de sua mãe e a alegria no seu. Neste dia aprendeu a amar sua mãe e ser amado por ela.
    Tinha dezessete anos. Conheceu o sexo da forma mais bizarra. Neguinho, um dos poucos amigos que sobreviveram ao crime, o incentivou. O local, uma fazenda. O sexo oposto, uma vaca. Primeiro ir à fazenda todos os dias para o animal acostumar com ele. Depois acariciá-lo para amansá-lo. Após meses, subir no barranco... Foi a única forma de sexo que conheceu até o dia fatídico.
     Tinha dezoito anos. A estuprou e a matou. O sangue dela impregnado em seus tênis. O desespero por saber que após este crime estava imprimindo o seu próprio inferno. Mas era ela linda. Porque não o aceitou, não o amou. Ele não teria tempo nem paciência para amansá-la. Não, não seria condenado ao inferno. Ela era uma vaca, sim, uma vaca. Sua minissaia, a blusa decotada era para provocá-lo. Vaca, ela mereceu. Perturbado, Palodú anda de um lado para outro, batendo com as duas mãos em sua cabeça. O quarto diminuía de tamanho o sufocando.
     Palodú entrou na sua casa apressado, nu e descalço. Sua mãe cochilava no sofá com a televisão ligada. Tomou um banho tentando limpar do corpo a sujeira e da mente a imagem da condenação. Esqueceu o chuveiro aberto. Deitou na esperança que quando acordasse noutro dia teria apagado da mente a pior imagem que ele imprimiu: o estupro e a morte.
      O outro dia chega, Palodú acorda. A sua vista arde, tudo em sua volta é vermelho. Do chão sai uma fumaça em tons vermelhos escarlate. O aroma de enxofre está em todos os lugares. Todos têm sua aparência. Surge um ser disforme, ora tem seu rosto, ora tem o do seu pai. Com uma voz cavernosa lhe sussurra: “Bem vindo ao teu inferno alma penada”. Palodú não entendia. Há pouco estava no seu quarto. Como? Zombando o diabo lhe diz: “A morte lhe trouxe”. Morreu sem saber. Quem o matou? Daria sua vida para saber quem lhe tirou a vida. “Você não a tem mais”. - disse-lhe o diabo – “Mas pode tê-la de volta se fazer um pacto que lhe custará uma perda maior”. Palodú já perdera muito, sempre perdeu. O que seria mais uma perda para quem nada teve.

     O investigador Miranda está tranqüilamente comendo seu misto quente com um pingado quando é chamado para investigar um estuprou seguido de morte. No caminho para o local do crime Miranda tem a sensação de que algo estranho lhe ocorreu. Palodú desceu do inferno. Encarnou nele. Palodú via agora por outros olhos e disputava aquele corpo com outra alma tão impregnada de crimes como a sua. A única diferença era que enquanto as imagens dos crimes impressas na tua alma são a marca da pobreza, a da outra alma são protegidas pela lei por usufruir as vantagens de ter nascido em um bom berço.
     Miranda ao encontrar o corpo estendido no chão com uma poça de sangue coagulado ao redor da cabeça até a altura da coxa, percebe a brutalidade do crime. Uma das pernas está quebrada, provavelmente o estuprador abriu a perna com tanta violência que a quebrou.

     Palodú passeava tranqüilo pela rua próxima de sua casa quando vê aquele corpo sensual em uma minissaia, cadenciando o balançar do bumbum em forma de pêra. Dois seios bem hirtos em uma blusa decotada como quem querendo sair. Palodú com uma das mãos abafou sua boca para evitar que ela gritasse. Sentiu os seus dentes penetrarem na palma de sua mão. A dor o excitava. Com a outra mão ele ia deslizando pela virilha da vítima até atingir a batata da perna. Apertou-a e com violência desvencilhou uma perna da outra. O estalido de osso quebrado. A dor dela. Os dentes encravados ate o fim fez ele sentir a gengiva dela. A dor dele. Tirou a mão sangrando da boca dela, abriu o seu zíper. Fato consumado. Ela gritou. Luzes acessas em uma casa ele viu. O medo de ser descoberto. Cravou-lhe a faca no rosto, depois no coração, por último no pescoço. Saiu desesperado, todo ensangüentado. Tirou os sapatos. Tentou retirar o sangue com a camisa. Não conseguiu, jogou ela fora e a calça também. Olha para trás e vê o investigador examinando a vítima, e se viu nele, sorrindo-lhe.

    Miranda colhe provas e tem a sensação de que ele já tinha presenciado aquele crime como se fosse ele próprio que o tivesse cometido.
    Um crime cheio de pistas, para Miranda será fácil desvendá-lo. Mas o improvável acontece. Há uma testemunha. Ela descreve o criminoso. Olha o álbum de fotografia de procurados e aponta o suspeito: Palodú.
    A polícia sempre que chega em um lugar suspeito ou em busca de algum fugitivo, primeiro chega atirando e só depois pergunta.
    Miranda não seria diferente. Aponta a arma para porta da casa de Palodú. Descarrega sua arma na altura da fechadura.
    A mãe de Palodú cochilava no sofá assistindo televisão. O barulho dos disparos a desperta. As pontas escuras num corpo prateado pareciam batons, mas eram balas, vindos em sua direção cortando o ar. Acertam-a no coração. O sangue espirra. Ela tomba a cabeça no braço do sofá, morta.
    Miranda com um chute derruba a porta. Carrega a arma. Palodú não acredita que acabara de matar a mãe. Este era o preço a ser pago. Mais uma imagem de culpa impressa em sua alma. Tenta o suicídio. Não consegue, a alma do Miranda é mais forte e domina o corpo que a pertence.
   Palodú está em seu quarto nu e descalço, desesperado implora salvação. Tenta desembaraçar os espelhos da tua vida. Era tarde, não há reflexo. Uma imagem aparece no espelho: ele no inferno. Descobrira o teu assassino antes de morrer: Miranda. O preço a ser pago: co-autor da morte daquela que aprendera a amar após a morte do pai. A vingança: tua determinação.
    Miranda ouve barulho de água vindo do banheiro. Pegadas de pés molhados o leva para outro cômodo. Ele entra apontando a arma. Palodú está deitado. Não reage. Espera a sua morte e após ela, vingá-la. Quantas vezes ele viu a bala pelo lado prateado indo em direção ao alvo. O alvo agora é ele. A via pelo lado pontiagudo o atingir. É o seu fim. Começo da vingança.
    Miranda não compreende porque sua mão não obedece ao comando do seu cérebro e permanece com a arma apontada para a sua cabeça. Imagens de seus crimes surgem nos espelhos de sua vida o acusando apesar de ter sido absolvido pela justiça, cega quando o criminoso é um protegido. A bala penetra no seu cérebro quebrando os seus espelhos. As imagens de seus vários crimes como policial aos poucos emergem rumo ao inferno. Sua alma também. Palodú desencarna. Volta ao inferno. Sentado mira o horizonte avermelhado em busca de uma estrada que o levasse em direção ao céu. Palodú ainda acredita na sua salvação.

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