Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

domingo, 2 de setembro de 2012

Silêncio e luz



      Esse texto, em nenhum momento é uma crítica a igreja, ou ao padre, atenta simplesmente ao ser humano, independente de sua religião. O texto surgiu depois de uma leitura da Paula Barros ao meu status no Facebook, quando um padre negou um cumprimento a uma senhora e depois com desdém, gesticulou a mão quando ela lhe pediu uma benção. Obrigado minha querida e estimada amiga, Paula Barros.


   Oh! Meu Deus, fico triste com a imensidão do silêncio, não se tem respostas. Quando não se tem um espelho, em que mirar? Meu Pai, não tem observação, nem sequer um curtir se tem. É, Deus, hoje em dia, nem precisamos falar para ouvirmos a sua voz, é tudo enigmático, assim como o Senhor é, precisamos decifrá-Lo, é preciso tirar conclusões. "Bom dia, padre". Santo Cristo, nem o padre responde mais a um cumprimento. "Padre, sua benção". Pai do céu, ele nem se deu ao trabalho de olhar para trás, simplesmente gesticulou a mão. Será que fez isso por obrigação, para não manchar a sua imagem perante os outros? Por mais revestido de crenças que estejamos, Pai, nos perdemos quando deixamos vicejar o que nos é humano. Sabe, dizem por aqui, que o Senhor fala com as pessoas, mas que elas não escutam, não entendem. Como escutá-Lo se nossos erros nos ensurdecem, como entendê-Lo, Senhor, se ao não reconhecermos esses mesmo erros nos cegamos. Outros dizem que o Senhor fala por sinais. Como, meu Pai, entender esses sinais se não conseguimos entender a nós mesmo. Mas e o padre, Senhor, por que ele não falou comigo? Por que ele não disse nada? Não entendeu os sinais que lhe envie? Eu fico triste, às vezes indignada, e até revoltada. Mas eu trato o padre igual trato o Senhor. Não deveria, Pai? Responda-me, por favor. Eu sei, Senhor, ele não é Deus, apenas mais um ser humano. Sim, eu sei, o Senhor não gostou do que eu disse, não foi? Fala-me, Pai. Será que os meus erros foram tantos que me ensurdeceu? Reconheço que eles são muitos, perdoa-me. Dentre esses erros estar o de comparar um padre com o Senhor, é demais, não é? Eu sei que sou exagerada. Porém, acredito que o Senhor está dentro de nós, não está? Por que a mudez? Dizem que o senhor se comunica no silêncio, mas não te ouço. Eu não compreendendo esse Teu silêncio, definitivamente. Queria te ver, Pai, saber se seus olhos ficam marejados devidos aos nossos erros. Ficam, Senhor? Responda-me, pois o que mais faço é chorar pelos meus. O teu silêncio não me é compreensível, porque o silêncio se assemelha ao desprezo. Mas às vezes eu penso assim: se o padre é humano, portanto, fadado ao erro como eu, então é melhor que ele fique longe de mim, pois, ele é tão surdo como eu. Que ele continue a andar apressado, sem olhar para trás, sem ouvir o meu chamado, gesticulando a mão como sinal de benção. O seu desprezo demonstra a sua surdez, a falta da resposta ao cumprimento a sua escuridão. Deixa-o ir, seguir o seu caminho, e eu de cá fico a observar.

     




   O outro nos serve de espelho para não sermos tentados a cometer o mesmo erro. Com o seu desprezo, o padre silenciou, Pai.  Eu tenho, Senhor, de tirar lições do silêncio que é silêncio para poder escutá-Lo. Por que as luzes se apagaram, Pai? Eu e a minha mania de querer respostas para tudo. Tudo bem, eu não preciso vê-Lo para escutá-Lo. Sabe, Pai, eu vim parar nesse banco da estação por que não conseguia senti- Lo nas igrejas, ali a balburdia era em demasia, a música muito alta, o nome dele, do outro, sabe, do seu adversário era dito repetidas vezes que provavelmente o Senhor ali não seria bem vindo. Pois bem, vim parar aqui tentando Lhe encontrar nas pessoas. Nós que somos a sua igreja, nós somos pedras que desgastará com o tempo, cujo pó espalhará o que Seu filho aqui nos deixou: amai-vos uns aos outros. A energia voltou, Pai, que bom, agora posso enxergar as pessoas. Não voltou? Senhor, estou Lhe ouvindo. Sim, a Luz é vinda do senhor. Às pressas, as pessoas vão à cega, não Lhe enxerga, não percebe que tudo que há é pela força de sua Luz, não Lhe ouve devido andar as escuras, para lhe escutar é necessário enxergar a tua Luz, recebê-La para então, no silêncio escutá-Lo. Sim, Pai, eu compreendo. Quanto ao Padre, sim, entendo, ele se vestiu com suas crenças e na sua arrogância, acha que toda ovelha fora da sua igreja é desgarrada. Quanto às pessoas, sim, Pai, eu sinto a sua Luz e entendo tudo, elas estão vestidas de escuridão, a ignorância as afasta da Luz. Sim, Pai, é compreensível, sofremos porque nos afastamos de Ti, afastados cometemos erros, os erros nos ensurdecem e nos cega. Sim, sinto-me iluminada. Porém, Senhor, o homem também é um animal e a sua insensatez o impele a ser fera, entre feras é o instinto que o move, não sei se estou preparada para isso. Sim, senhor, entendo, o padre também não está, o meu vizinho também não, ninguém está. Eu sei, Pai, por mais espinhoso que seja o caminho, há a necessidade da caminhada para se alcançar a Luz através do aprendizado. Sim, Senhor, nenhum ser despreza o perfume das rosas devido aos espinhos. Obrigado, Pai, agora eu enxergo, serei como a vela que necessita do desgaste da parafina para permanecer iluminada. Agora entendo, Pai, o melhor instrumento de transformação é o amor. Eu sei, parece utópico achar que amando vamos transformar o outro, mas só de sentir esse amor em mim, sinto-me transformada, melhor e feliz. Sim, Pai, eu vou, iluminada.   
     - Padre, me espere. Padre eu preciso de sua benção...


Autores: Paula Barros e Eder Ribeiro

Imagem fotopoética de Paula Barros

15 comentários:

  1. Um texto que surgiu de um acontecimento na vida real, de uns comentários, de uma ideia.
    Um texto com muitas interrogações, questionamentos, inquietações, assim feito nós, o ser humano.
    O padre, um ser humano.
    Queira, não queira, julgamos, como foi a atitude do padre lá no metrô.
    Este texto mostra muito do ser humano, por qualquer ângulo que se queira olhar o ser humano.
    Obrigada por conseguir desenvolver algumas ideias que trocamos, obrigada pela troca, obrigada por poder olhar minha fotos aqui.
    beijo no seu coração.

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  2. Lindo texto de uma experiência triste,. mas devemos sempre nos lembrar que o homem(nós) erramos e muito e que o maior exemplo a seguir é o de Jesus. Devemos esperar que aqueles que falam em nome de Jesus sejam diferentes, referência, mas qnd não forem devemos orar por eles.
    Novamente, parabéns pelo lindo texto.
    Tenha uma abençoada semana. Bjs

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  3. Eder, fico triste quando percebo atitudes como a relatada no texto vinda de alguém que deveria ser um exemplo de acolhimento e humildade. Por outro lado, não se deve esquecer que padres se tratam de seres humanos, falhos como nós. Que Deus abençoe a ele também. Um abraço aos dois.

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  4. Meu amigo Eder, ficou excelente teu texto.
    Quantas decepções em relação a tantos seres humanos, e essa do padre, pelo que aprendi, algo que certamente deixa muitos revoltados.
    Bem, mas como diz a Filha do Rei, o que podemos fazer é orar por ele.

    Um beijo cheio de carinho pra ti.
    Obrigada pelo teu carinho para comigo nesse momento difícil pelo qual tenho passado.

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  5. Gostei muito de como encaminhou a conversa e da finalização.Precisamos encontrar a humildade e com ela trazer o outro para junto de nós.
    beijos

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  6. Eder,muito triste essa indiferença cada vez mais crescente nos seres humanos!Tenho pena desse padre que deveria dar o exemplo do amor de Jesus.Um dia ele acordará e verá quanto poderia ter feito e não fez...bjs e boa semana!

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  7. Sim, Deus nos fala de tantas formas, em tantos gestos e fatos, sempre convidando à reflexão. "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!" E alguns convites são por demais árduos, extremamente difíceis em acolher na exigida humildade de meros caminhantes que somos. Dois deles são ainda mais desafiadores: a caridade e o perdão. Caridade não enquanto disponibilidade "material", que também é importante, é claro, mas não é a essência! A essência está entranhada na alma, na atitude confessa de compreender-me enquanto ponte que ameniza dores e sofrimentos; enquanto possibilidade de melhorar o outro e a mim mesmo; enquanto possibilidade de significar, no outro , a presença de Deus! E o perdão, esse sim, como é difícil! Tal como já foi dito, "... tira primeiro a trave do teu olho, e depois enxergarás para tirar o argueiro do olho do teu irmão". Esse é o exercício de revirar as próprias entranhas, vomitar a arrogância, o orgulho, a vaidade, a prepotência e enxergar-se na pequenez da própria fé... Ensina-me, então, Senhor, a aprender a perdoar: o outro e a mim mesmo!

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  8. e assim deve acontecer em todas as religiões, as pessoas que pregam e não levam pra prática os ensinamentos do Cristo. Lamentável :(
    beijos

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  9. Lindo e emocionante texto com razoáveis questionamentos na visão humana que precisa buscar a todo custo a sua devida parte divina de Deus... e o amor é o caminho, o início, o meio e o fim.... ensinamos e aprendemos com o próximo que também está no mesmo barco...
    Olha, confesso a vcs que cheguei um pouquinho perto de Deus lendo tão belas e puras palavras!!!
    Parabéns Paula Barros e Eder Ribeiro

    Beijos e boa semana!!

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  10. ...eu penso que este padre tem apenas um rótulo
    como outro qualquer.

    portanto é um ser humano caminhante nesta escola
    terrestre, e como todo caminhante, é tbm um
    aprendiz.

    e quem está por aqui como aprendiz,
    pode cometer tantos quantos erros
    sua evolução permitir.

    oremos então, uns pelos outros.

    bj, meu querido amigo!!

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  11. Éder são exemplos como o desse padre que nos fazem entristecer,mas foi ele quem demonstrou ser pequeno e carente de uma benção de perdão diante daquele a quem decidiu seguir com devoção.
    Meu abraço e desejos bom dia pra você!

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  12. Eder,
    Que texto magnífico!
    O caminho da compreensão percorrido passo a passo através de um diálogo com Deus!
    É assim que ganhamos sabedoria nessa vida, não é mesmo? Descortinando os nossos olhos. Ao compreender, afastamos a nossa verdadeira cegueira.
    Um grande abraço!

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  13. Oi Eder

    este texto está tão lindo e significativo, quentas vezes não compreendemos, o desamor tem esse poder, o de confundir, mas o amor tudo salva, há amor na compreensão. Gestos rudes onde deveria haver acolhimento são sempre desastrosos, mas vistos aos olhos do amor não há prejuízo.

    Obrigada pelo seu carinho!

    Beijos

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  14. Que texto excelente, Eder. Infelizmente Deus deve se decepcionar muito ao ver alguns de 'seus representantes' serem tão desprovidos de graça e educação, além , claro, em alguns casos, de honestidade também... Abraços.

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  15. Olá meu amigo Eder!

    Exelente texto para que possamos refletir e procurar, qual a melhor forma que devemos usar, para nos comportar perante os nossos semelhantes.

    Eder eu costumo dizer, que, infeliz do ser humano, que se rotula como sendo ele diferente dos demais...Quem assim se acha e deixa isto transparecer, faz com que os demais irmãos, passem por esta situação de descrença e perdem a esperança em ver um mundo melhor e mais humano... Mas o ser inteligente, sabe a melhor forma para que este infeliz, não roube do semelhante o que de melhor este tem para ofertar. ( Que é, o sentimento de amar e respeitar a quem quer que seja).

    Abraço de velho Jota.

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