Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Gaia - Página 5

   Assustado, Próbolo acordou, foi ao espelho e viu o seu rosto aterrorizado. Lembrou de ter passado toda a sua infância em um abrigo antinuclear. A surpresa de seu pai Cretus ao sair do abrigo e perceber que apesar do inverno rigoroso, havia vida sobre a terra. A primeira Horda erguida em volta da Igreja fundada por sua mãe que pregara esperança e fé e por causa disso fora morta, pois diziam que o Deus dela os havia abandonado. O desespero do seu pai ao vê-la morta pelos seus e num ato tresloucado de vingança caçou os seus assassinos, um a um, matando muitos até ser morto em uma emboscada. E a última lembrança dessa época, arrastado por um desconhecido, mais tarde saberia ser seu tio Phobus. Deste momento ficou gravada em sua memória a Horda sendo abandonada e os últimos habitantes incendiando a Igreja. O último vestígio do cristianismo estava sendo enterrado ali juntamente com seus pais. Que Deus era esse que deixava morrer a filha que mais O amou, a sua mãe. Essa foi a pergunta que ele mais se fez, sem obter resposta.
   O amor que não pode ter do pai foi recompensado, um pouco, pelo amor recebido do seu tio Phobus, irmão de sua mãe. Comerciante, Phobus morreu sem lhe dizer o que aconteceram com os seus pais, pois, depois da guerra, havia perdido contato com os mesmos. Quando o achou perambulando pelas ruas atrás de comida, acolheu-o porquê era norma daquela época abrigar os órfãos. A maioria dos casais havia perdido os filhos, primeiro durante a última grande guerra e depois durante o ataque das criaturas infernais, os Demos. Phobus somente o reconhecerá como sobrinho porque o TABLET holográfico que ele trazia havia uma mensagem dos seus pais.
   As lembras exauriram Próbolo, elas não lhe trouxeram nenhuma lágrima, apenas o entristecera, tornando os seus sentimentos mais secos do que já eram. Um calor incomum o acometeu e o fez tirar o casaco de pele de urso. Foi à janela novamente e viu feixes de luz alaranjarem o céu no horizonte. O vento gélido, agora, havia se tornado úmido, porém ameno, um filete de água escorria pela neve que cobria as ruas. Algumas pessoas arriscavam sair às ruas sem a proteção habitual. Depois de vinte e cinco anos, a terra voltava a esquentar e ele não sabia o que poderia acontecer no clima que estava por vir. Digitou a senha que abre a porta do compartimento secreto da sala de armas e se armou para o ataque de qualquer animal feroz. Ele presente que o que estava por vir estava além da compreensão humana.

     Após vinte e cinco anos, o sol desanuviava o céu, os primeiros pássaros começaram a surgir juntamente com outros animais, as ruas iam ganhado cores e vozes, a neve derretida enchia o leito dos rios. Enquanto a alegria abria as janelas das casas, o alvoroço abria as portas, e a vida tomava outro rumo. Juntamente com o sol, nascia uma nova estação desconhecida de todos, a esperança. Porém, a nova estação, ao aquecer o planeta, não traria apenas esperança. Em uma Horda inabitável, abandonada por seus habitantes devido os ataques das criaturas infernais, o sol refletia em uma peça de aço acelerando ainda mais o degelo.
   Quando a cápsula de sobrevivência despressurizou, arremessando a porta contra o painel de controle da nave, significava que a energia entrava em estado de emergência e não demoraria em acabar.
   As suas garras se abriram antes mesmo dos olhos, ao tocar o assoalho da nave, ele o sentiu quente e esboçou um sorriso tímido, porém ao ver a luz de emergência piscando no painel, sabia que a energia estava acabando. Saiu da cápsula direto para o compartimento de operação da nave e foi surpreendido quando o sol refletido no painel ofuscou os seus olhos. Acionou o dispositivo para proteção dos raios solares e em seguida o de abertura dos painéis solares para captação de energia. Assim que o sol refletiu nos painéis solares, a vida ganhava formas e cores na nave. O Demo flexionou todas as suas articulações e sentiu a vida pulsando dentro de si, aguçou o seu olfato e sua mente processou apenas um cheiro, a da família de Próbolo. Ainda na nave, retirou o cartão de memória da face lateral esquerda do seu rosto e inseriu na porta de entrada USB do painel de controle. Com as garras sobre a mesa digital acionou o dispositivo de busca digitando as palavras: "imagem-holográfica-última-casa". Em poucos segundos o processador projetou diante do Demo a imagem holográfica da casa dos pais de Próbolo. Com as garras sobre a imagem, ele foi adentrando a casa e assim que avançava, a imagem holográfica focava onde as suas garras se encontravam ampliando o ambiente. Quando ele chegou ao ambiente desejado, acionou a tecla IV 100 - imagem virtuais cem por cento - e foi projetado para dentro da mesma. Acionou a tecla LA - limpar ambiente - e aos poucos os objetos encontrados no ambiente virtual foram desaparecendo. Quando se deparou com a portinhola de aço não teve dúvidas, foi por ali que eles fugiram. Em seguida, ao acionar a tecla IO - intensificar odores -, vapores aromáticos impregnaram o ambiente virtual com o cheiro sintetizado da família de Próbolo, então, ele foi tomado por um desejo de vingança incontrolável, a partir desse momento, os seus movimentos dentro da nave foram automáticos. Acionou a tecla BLRUI - buscar localização real da ultima imagem - e quando o led verde acendeu na mesa digital ele saiu apressadamente da nave e olhou na direção que o raio infravermelho apontava. A casa estava ao sul do bico da nave. Partiu para lá em busca de pistas.

Continua

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11 comentários:

  1. Hummm... Esse episódio foi mais calmo mais marcha lenta... Ninguém morreu, sem perseguição cruel, apenas um farejar de rastros. A tecnologia foi a mil adiante o que me lembrou de longe o Hesse! rsrs Bom, gostei e quero por encomenda um Tablet holográfico via sedex, please! Bjoooooooo Éd!

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  2. ...pensador,
    quando puder dê um pulinho lá
    em casa...

    tem uma réplica procê...rsrs

    bj

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  3. como gostaria de ter a tua imaginaçao!!! incrivel que voce é!!!!!
    aplausos e abraços

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  4. Nesse contexto futurístico do enredo dessa história me agrada a idéia de que os sentimentos como tristeza e saudade foram mantidos.Grande Éder,parece estar vendo as cenas como num filme!
    Abraços,bom dia!

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  5. Eder, esse futuro me dá medo!
    É triste e assustador.
    Fico imaginando o final dessa história, meu amigo. Espero que seja tranquilizador.
    Que criatividade você tem!
    Um grande abraço!

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  6. Eder,que super filme daria essa história!Muito imaginativo e precisa ter inteligencia pra bolar essas coisas futuristas!bjs e bom fim de semana!

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  7. Originalidade muito interessante! Gostei, não: Adorei, este capítulo!

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  8. Agora aumentou o clima de tensão, mas diminuiu o terror. Aguardo a continuação novamente. Abraços.

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  9. Concordo com o Sérgio, a tensão está no ar! Muito interessante, vamos que vamos...Um abraço!

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  10. História fascinante, sempre com uma surpresa. Parabéns.
    Tenha uma semana abençoada. Bjs

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  11. Mesmo surreal vamos encontrando sentimentos humanos, reais, cotidianos.

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