Ao sair do
compartimento de armas, Próbolo se lembrou de um punhal dado pelo seu tio
Phobus que dizia ter pertencido ao seu pai Cretus. Voltou ao compartimento e
abriu a gaveta de souvenir retirando o punhal, quando a fechou, uma tira de
pano grená lhe chamou a atenção. Internamente algo lhe dizia para não levá-la,
porém, ele lembrou que seu tio lhe dissera que aquele retalho de pano era do
vestido de sua mãe quando a encontrou morta. O que ele mais queria eram de
volta as suas lembranças para saber quem era. Apesar dos sonhos desvendarem os
mistérios sobre o que abateu à sua família, não lhe dizia quem realmente era.
Saber-se é existir, pensou. Não teve dúvidas, amarrou o seu longo cabelo com a
tira de pano e saiu do compartimento de armas com arsenal necessário para enfrentar
os perigos que nem ele mesmo sabia.
As pegadas das garras do Demo moldadas no
chão umedecido pela neve derretida levavam à casa dos Pais de Próbolo. Dentro
da casa os olhos do Demo impregnados de ódio percorreram a labareda lançada
pela sua boca, e, vermelhos de vingança, tal quais as chamas, viram os
engradados virarem cinzas e lhe mostrar a porta da fuga de sua presa. Com o
olfato apuradíssimo, apesar de ter passado vinte e cinco anos, sentiu o odor da
família de Próbolo como se tivesse sido espargido no ar naquele momento. O urro
de glória por ter achado a pista entremeado pelo de ódio por não ter percebido
a rota de fuga no momento da luta ecoou no ar. Arrancou a portinhola de aço com
as garras das duas mãos e a arremessou para o alto perfurando o telhado. Movido
pelo sentimento que o apossava, ódio e vingança, lançou-se na abertura estreita
à sua frente e se arrastou rumo ao desconhecido deixando para trás os escombros
das paredes destruídas. Percorridos longos trechos, ele se pôs de pé e se viu
em um ambiente arejado, com iluminação, temperatura amena e alimentos
sintetizados. O odor ali lhe era familiar, sorrisos brotaram dos seus lábios.
Perscrutou com o olhar uma saída e a viu fechada por pedras amontoadas uma
sobre as outras. Colocou suas garras sobre a mesma e sentiu que aquela obra foi
feita por mãos humanas na tentativa de esconder o seu passado.
A história já se mostrou ser eficaz em nos
relatar as várias tentativas do homem em esconder o seu passado e o quanto foi
infrutífero. Esconder das próximas gerações o passado é não lhes dar a
oportunidade de se conhecerem e de saberem os perigos enfrentados e se
prevenirem dos perigos que estarão por vir.
O Demo lançou da sua boca o fogo sobre as
pedras amontoadas e, aos poucos, lavas incandescentes escorriam formando um rio
de fogo sobre o chão. O passado se libertaria e quando chegasse à nova geração,
ela não o saberia e nem a si, pois não lhe foi dado a oportunidade do seu
conhecimento. Indefesa, restaria a nova geração apenas o instinto, e, ele por
si só, em terra de homens, não garantiria a sua sobrevivência. O que é a ação
instintiva senão uma herança gravada nos genes ou na memória devido a um
acontecimento passado.
Quando Próbolo saiu, o ambiente externo não
era mais o mesmo, a temperatura morna o havia modificado. As pessoas também
não, nos seus rostos havia sorrisos sinceros, no dele, sem saber o porquê,
permanecia a mesma fisionomia. Repentinamente, refletida no vidro da janela da
casa do outro lado da rua, a imagem da criatura infernal que lhe foi revelada
em sonho adentrava os seus olhos desestruturando-o internamente. Ele piscou os
olhos e os segurou cerrados por alguns segundos, quando os abriu, a imagem
havia desaparecido. Uma voz interna se fez audível, avisando que o Demo estava
voltando para tentar se vingar da derrota ocorrida há vinte cinco anos atrás,
mas que era para ele não temer. A voz, disse para si mesmo, era idêntica a da
sua mãe ouvida no sonho. Ele se agarrou na mesma arma que sua mãe, a fé.
Enxergou o ambiente externo com outros olhos, retribuiu sorrisos e cumprimento
para espanto de quem passava, não pelo arsenal que carregava, mas por outra
arma eficaz para a convivência, as boas maneiras. Enfim ele encontrou a
resposta que tanto ansiava, Deus não havia lhe tirado a mãe, mas lhe dado vida
o suficiente para que ele próprio sobrevivesse. Ele já se sabia e já se
bastava, não esperaria o seu monstro para operar a sua transformação total, o
seu encontro à fé, a sua volta à luz. A vida com seus ciclos de luzes e trevas acompanham
o homem desde o seu surgimento. Chegou o momento dele fazer parte da história e
trazer de novo a luz. Encaminhou-se para a Horda abandonada, sabia para aonde
ir, a Igreja incendiada.
Continua
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Creio que "saber-se é existir" mesmo, a falta de um referencial no conhecimento de nós mesmos meio que nos anula, deixa-nos sem norte. Ah Proby, que luta hein? Na igreja há de se ter uma catarse, caso contrário essa criatura não vai aguentar o trampo. Bom, considerando que ele de alguma forma herdou da mãe a fé, pode ser sim que ele escape ileso. Gr. Bj. meu querido e uma ótima semana pra ti! Huhuuuuuu!
ResponderExcluir...passando para te desejar
ResponderExcluiruma excelente e abençoada
semana, e que ela tbm
lhe traga muitas
inspirações!
bjbjbjbj
A vida é os ciclos. A vida e o bem e o mal. A fé ainda guia a maioria. Principalmente nos momentos de dor.
ResponderExcluirBelíssimo e comovente capítulo, Eder!
ResponderExcluirEle é forte como a mãe, os dois tem a mesma coragem e fé!
"A vida com seus ciclos de luzes e trevas acompanham o homem desde o seu surgimento." Lindo, muito bonito mesmo esse capítulo!
Um grande abraço, meu amigo!
Já me viciei nesses capítulos. Isso daria um bom filme, sem ser bajulador. Muito bom. Abração.
ResponderExcluirNesse confronto constante entre bem e mal é construída a história do ser humano que na mente fabulosa de um escritor se amplifica em toda a sua dimensão.Cada passagem vai deixando uma sensação diferente em mim como leitora.Grande abraço,bom dia pra ti!
ResponderExcluirEder,essa história de Demo está mesmo de arrepiar!Uma grande aventura na luta entre o bem e o mal.bjs e boa semana!
ResponderExcluirOI EDER!
ResponderExcluirEM TEUS ESCRITOS CONFRONTAS O BEM E O MAL, DANDO UM BOM CONTRAPONTO.
ABRÇS
zilanicelia.blogspot.com.br/
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É isso mesmo, Éder. Às vezes é preciso dar uma volta imensa em torno da vida para que as coisas façam sentido e para decidir qual caminho tomar. Um abraço!
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