
Não sei precisar quando Einstein disse, não
tenho fé suficiente para ser ateu, pois Deus não joga dado. A minha fé fez crer
que Deus jogou comigo desde o meu nascimento, não dados, mas xadrez. Sem me dar
a possibilidade de aprender o jogo, a vitória seria uma ilusão, isso sim,
aprendi muito cedo. Primeiro me tirou a torre, sem chão para fixar a minha
raiz, perambulei de estado em estado carregando nas malas um estado de
tristeza. Depois retirou o cavalo, sem poder me locomover, precisava da ajuda
dos peões para seguir adiante, mas fiquei aquém ao perder, um a um, todos os
peões. Quando perdi os bispos, percebi que nem a salvação pela fé eu teria. Nós
não somos nada se não tivermos uma terra para sabermos de nossas raízes, pois
só assim os frutos frutificarão. Perdi os meus pais, o meu país, os meus
amigos, e o combustível para a sobrevivência, a minha fé. Porém, a minha
esperança ainda estava segura nos olhos verdes água da minha rainha. O jogo só
termina quando o rei não tiver mais nenhum lance para escapar do cerco do
adversário. Quando a rainha foi tirada de mim, tirou- me, também, a esperança. Sem
a dama, não me restou outra saída. Rendi-me ao adversário, estava em xeque. A
Sua misericórdia não O permitiu dar o golpe final, o xeque-mate, essa foi a
minha pior derrota, ter de lutar sem as outras peças. Enfim, estou aqui a lhes
contar as minhas intempéries sobre um tabuleiro vazio. O rei está só.
O vento sempre bate em minha porta, não lhe
dou autorização para entrar, mas ele invade trazendo as lembranças de quando
todas as peças estavam postas no tabuleiro. E da mesma forma que entrou sem
pedir autorização, ele sai deixando em mim um deserto. Sinto a minha alma
enterrada em sua areia.
Eu precisava virar o jogo, mas não sabia,
então, pintei de branco todas as casas pretas do tabuleiro e esbocei uma
ilusão. Do amarelo fiz meu sol, do azul o meu céu, do marrom sementes de amêndoas,
do verde o meu campo e assim comecei a viver, transportava para a tela todas as
peças do jogo. Atingi uma satisfação, não a felicidade.
Antes de iniciar essa escrita, eu havia
pintado a minha última tela. Nela havia uma senhora de roxo com o rosto rosado
a estender as mãos como me convidando para um jogo diferente. Muitos dirão, é a
morte. Eu vos digo, é a vida. Estou aprendendo a jogar
dado.