Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Persona non grata


Capítulo II

   A vela começou a bruxulear no bufê e iluminou um pouco a sala. A pouca luminosidade me fez perceber a avidez sexual no seu olhar, o brilho incomum do seu rosto aveludado além do normal, o seu sorriso transparecendo uma malícia sádica e impudica acentuado por uns lábios carnudos e sedosos. O movimentar da sua língua sobre os lábios aguçou os meus desejos, incitando-me à concupiscência. A minha cupidez por ela fez-me ir ao seu encontro, contudo, o lume da vela foi se intensificando e ampliando o meu campo de visão. Não estava acreditando no que estava vendo, não poderia ser real, eu estava dentro de um pesadelo. Ela girava as contas do que parecia ser um rosário. Retive-me. Desesperado, eu saí correndo em direção contrária a ela, posto que o medo suplantou os desejos. Na pressa, eu bati com a perna na lasca de madeira da mesinha de centro. A dor foi sentida na hora, o líquido aquoso e quente escorrendo da minha perna dava a entender que o que estava acontecendo comigo era demasiadamente real. Estava sangrando. Sem tempo para raciocinar, pois o medo só permite a ação por instinto, eu pulei pela janela.
   Quando eu corri para saltar pela janela, ela poderia ter me retido se assim desejasse, pois a janela ficava próxima de onde estava o bufê, mas não fez. Seus olhos demonstravam uma certeza inaudita que eu voltaria. Ao passar por ela o meu terror aumentou ao divisar o seu marido ao seu lado. A intensidade do lume fez sobressair do seu rosto os seus olhos azuis. Inopinadamente, o brilho que saía de suas pupilas requeria vingança.
   O instinto de salvação fez-me saltar pela janela. Na queda, o raciocínio voltou, lembrei que minha família tinha ficado. Tentei agarrar em algo, porém, fora da casa não havia forma, a cor predominante era o branco e só havia dois estados, o líquido e o gasoso. Se houvesse alguma salvação, ela somente se daria pelo milagre divino.


Imagem MYRA LANDAU

10 comentários:

  1. uma vez mais mto agradecida de colocar uma imagem minha aqui, e continuo dizendo que vcoe deveria escrever um livro, nao somente textos no blog! voce é grnade meu querido Eder!
    abraço

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  2. ___________________________________________

    Você está cada dia mais afiado e afinado nas suas narrativas! Sua criatividade prende a atenção de quem lê...


    Beijos de luz e o meu carinho!!!

    _______________________________

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  3. Eu penso q quando as coisas tem q acontecer acontecem...E ela nada fez por pensar o mesmo.Ele voltaria.

    Beijinho

    Maria

    P.s.Gosto dos seus mínimos detalhes na escrita cada vez mais afiada...

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  4. Eder,
    Desculpe a franqueza,mas esta faz parte de mim.Por isso, ou eu(mais provavelmente)não estou compreendendo nada que estou lendo hoje ou você está dividindo os capítulos um pouco sem uma conexão entre um e outro...Vou reler tudo mais uma vez.
    Abraços meus,

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  5. Oi, Eder! Seus escritos nos fazem viajar por caminhos diferentes dos habituais, por isso acho criativos. Aguardando o próximo, um abraço!

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  6. ...engraçado que mesmo tomados pelo medo,
    há sempre uma força nos impelindo a
    voltar.

    isso tá ficando muito bommmmmmm!

    bj, alma criativa...rs

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  7. Eder querido, espero que não esteja preparando outra peça como aquela do ano passado...rs. Está muito bom.
    beijos

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  8. Tive que ler e reler. Luz difusa ao fundo, me perdi um pouco, mas suas narrativas são sempre mágicas. Beijos

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  9. Eder

    Assim como As Crônicas de Nárnia foram adaptadas para rádio, tv, cinema e teatro, vejo que seus contos seguem uma linha que merece ser vista com carinho.
    Um forte abraço, amigão! :)

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  10. Meu Deus, já começo a ficar preocupada com as minhas primeiras conclusões a coisa está saindo fora dos meus parâmetros de previsibilidade.

    Se bem que uma das minhas previsões acertei: a de que sempre erro ao prever o rumo das suas narrativas. E, é este um dos maiores atrativos delas.

    Beijosss

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