Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

sábado, 17 de março de 2012

Persona non grata


Capítulo Final

   Os seus passos lentos dramatizavam mais ainda o nosso encontro. Ao se abaixar e se por de joelhos na minha frente, os seus olhos carregavam uma amabilidade que eu não escrevi. De todas as personagens que eu criei, ele foi o que mais sofreu fisicamente, teve sua fé abalada, porém, nunca desistiu da sua missão, espalhar o amor ao corações dos homens. Diante de mim se encontrava o meu alterego, o Padre do meu último conto.
   Não lhe perguntei se ele estava conseguindo o seu intento, mormente uma personagem ficcional não iria espalhar amor entre os homens se eles próprios não conseguiam espalhar entre si na vida real. O que ele estava fazendo ali e o que eu deveria fazer para sair daquele mundo eu não precisei perguntar. Ele foi direto.
   "Aos poucos, todas as personagens que criou, inexoravelmente, vem lhe visitar, não importa qual destino você as deu. Por ser seu alterego, o seu reflexo no espelho, aquele que você imaginava ser, mais do que qualquer um das suas personagens, sou o que mais habita os seus pensamentos. Da mesma forma que você, ao criar uma história, antes de escrevê-la, se transporta para esse mundo ficcional, vivenciando-o, colhendo informação para depois, por palavras, torná-la real, essa mesma realidade ficcional criou um mundo paralelo e o quer nele. Sua esposa e seus filhos estão nesse mundo, mas não o vive, por isso a mulher despida ao deitar em cima de seus filhos atravessou os seus corpos e não os percebeu. Da mesma forma aconteceu quando você foi fazer um carinho no rosto da sua esposa e sua mão passou no vazio. Tudo aqui é fruto da tua necessidade ao pensar. Sair desse mundo paralelo não é tão fácil assim, não basta você parar de pensar, o outro você, o real, esse sim, se parar de pensar, trará você de volta. Essa história esta acontecendo ao mesmo tempo em que você a escreve, tanto o seu consciente quanto o seu inconsciente cruzaram a mesma linha de pensamento e se confunde entre o real e o ficcional. Assim que o outro você colocar um fim nessa história, os dois mundo, ficcional e real se separam estabilizando a sua mente. Adeus".

                             Fim

   Encerrei o Windows e fui à janela, tudo havia voltado ao normal.  Abaixei para desligar o nobreak e percebi na madeira laminada do rack o reflexo de uma vela de sete dias bruxuleando. Não era dia santo. Ouvi os gritos da minha esposa vindo do nosso quarto, ao tentar levantar, duas mãos pressionaram os meus ombros fixando-me na cadeira. Uma dor gélida percorreu a minha coluna vertebral. Virei o meu rosto e me deparei com os seus olhos azuis transmitindo terror. Ficcional ou não, eu iria conhecer o que criei.

Capítulo I

Capítulo II

Capitulo III

Capítulo IV

Imagem MYRA LANDAU
                        
  

10 comentários:

  1. Grande Eder,
    bom dia. É do Geraldinho Azevedo aquela letra?:"O real e a fantasia se encontram no fianal"? Encontram, desencontram tornam a se encontrar...viver é muito bom. Belo texto!
    Abração!
    Berzé

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  2. Uma vez me falaram q,eu poderia estar aqui e ao mesmo tempo "ali" no passado dançando uma valsa,ou recitando poesias ao piano ou... Será mesmo q existe um mundo paralelo ao nossso?).
    Sim vc dá vida aos seus personagens q existem paralelos a sua própria vida e são tantas vidas não? Se vc não fosse um escritor talvez vivesse assombrado mas foi salvo pela veia artística.Mistérios da vida!

    Beijos

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  3. eu sim, acho que existe um mundo paralelo ao nosso...somente poucas pesoa sao capazes de o perceber...mas è assustador, e voce Eder como sempre escreve de uma maneira formidavel!
    aplausos e obrigada por ter posto imagem minha!!!

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  4. Oi Eder, não sei exatamente a interpletação q vc deu ao q escrevi acima sobre "real e fantasia. Apenas liguei/brinquei com essa coisa eterna da imaginação e do concreto, abordadada por muitos bons autores ao longo da tragetória humana.Como exemplo, Vc e o Geraldinho Azevedo.Só isso! Continuo gostando muito de sua capacidade de usar palavras. Só isso. Escrever é diferente de falar ao vivo.Sempre me estrepo com isso!
    Continuo te admirando!
    Abraçao!
    Berzé

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  5. Eder, genial o final do seu conto. Essa questão do alterego, é realmente algo a se pensar, fazendo parte de uma obra ficcional, ou não. Muito bom, parabéns! Até eu fiquei em dúvida sobre o personagem! Um abraço!

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  6. Parabéns!
    Incrível como você nos leva para um mundo além do real e transmite todo o tipo de sensação.
    Abraços

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  7. Me arrepiou inteira!

    Nem nos meus mais loucos devaneios e suposições eu pensaria tratar-se de seus personagens e da sua relação com seus mundos real e ficcional, Eder, se você estivesse na América do Norte com certeza teria um lugar ao sol, no nundo das grandes obras de ficção.

    Lembra que fiquei de te dizer no último capítulo, qual foi a minha ideia inicial sobre o tema de sua história? Pois bem, errei de novo, ainda bem que já previ também isto, quando fiz a minha previsão de que rumos a história tomaria, previ que erraria, baseado em todos os meus erros ao tentar decifrar os rumos de cada uma de suas histórias. Pois bem, eu havia pensado que você iria falar da morte, do post mortem. Pra você ver que distancia, você falou da vida, da vida e do mundo duplo em que vive, o real e o ficcional. Não poderia ser diferente, você não escreveria tão genialmente, se por vezes não se transportasse a este outro mundo que cria a partir do que te habita nas profundezas. Todos temos estes dois mundos, a diferença é que você o visita e conta o que viu lá.

    Um beijo, encantada com este conto!

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  8. Lindo demais! um final surpreendente. quantas vezes crio um personagem e ele(a) parece criar vida, no final nem sem mais quem descreve quem,rsrs
    Beijos

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  9. Eder,

    Não entendi bem a relação, mas me fez lembrar Platão e o MITO DAS CAVERNAS...

    Lembrei também destes versos:

    "A vida é uma média entre a ilusão e a realidade. Só de ilusão seria impossível, só de realidade, insuportável..."

    Um forte abraço, amigão!

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  10. Muito do que se escreve há de quem o escreve,é verdade e nem sempre saem só contos de fadas.Hoje saber por escrito sentimentos,criando situações ou não é para poucos eleitos e você pode se considerar muito admirado por isso.Parabéns por mais um grande desfecho!!!

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