Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Dança

A vida é como o passo de uma dança, parece sempre os mesmos, mas nunca são, pois há sempre a necessidade do improviso. Por isso a vida não é uma história repetitiva, nem sempre são as mesmas personagens apesar de parecer que o cenário é o mesmo. A repetição cotidiana de atitudes, a falta de originalidade me irrita, quanto mais se os atos são insinceros. Mesmo sabendo que não é o mesmo sol de todos os dias, pois a intensidade e calor da luz são diferentes, mesmo sabendo que não são as mesmas nuvens de sempre, pois as cores e formas se modificam em uma velocidade perceptível, a padronização e a impercepção à mutabilidade ao que nos cerca me incomoda, e muito. Simplificar uma estrela no céu apenas como um ponto luminoso é não perceber que a visão vai além do enxergar, é necessário sentir e isso só conseguimos com os olhos da alma. Eu cheguei numa idade que minha presença não se faz pela massa do meu corpo, preciso transmutar para transmitir, por isso estou me dando às experimentações. Foi assim, experimentando, que o homem conheceu a si e depois o mundo. Eu vejo em minha volta as transformações diárias, mesmo não tendo conhecimento de quaisquer ciências, pois os meus olhos não me cega para o imponderável. Quando eu experimento do mel, eu não quero só sentir a sua doçura, mas preciso sabê-lo por sua densidade e textura, por seus sabores variados e assim conhecerei muito da abelha e do néctar que ela da flor colheu para significar esse mesmo mel. A vida tem que ser vivida no todo, tem que ser sentida na profundidade não apenas na superfície, pois se a entrega não for total nunca saberemos experimentar e não experimentar é viver cinquenta por cento. Viver a margem do rio com medo de se afogar se negando a aprender a nadar não é criar raízes em um solo firme, mas sim deixar de nutrir por outras fontes que daria mais consistência a nossa própria vida. Viver tendo limites ou os impondo não nos dará a oportunidade de saber o que tem do outro lado da fronteira. Eu necessito transgredir.
Eu coloquei o meu vestido curto amarelo colando-o ao corpo como se fosse uma segunda pele. Vulgar? À noite, do lobo ninguém sabe a pele, porém o uivo todo mundo entende, conquanto se forem uivos de deleite. Os meus seriam de prazer. Estranhei ela vir vestida de chitinha. Caracas, você saiu do túnel do tempo. Que eu saiba não vamos para um baile da terceira idade, disse-lhe. Ela riu dizendo que iríamos sim e estava vestida assim para não chamar a atenção. Mas você está chamando a atenção, a Vilma usou este vestido no seu casamento com o Fred Flintstone, ironizei. Não dava mais tempo para trocas de roupa, concluí. Ela foi parecendo uma beata, e eu, bem, para dizer a verdade, só cabe uma palavra para falar do meu traje, mas ela é impublicável, por isso, digo que estava parecendo a Débora Seco louca por um Capri, e não era o Herson, mas o Leonardo, pois se for para experimentar da fruta que ela esteja madura e não passada. Que importa a cor ou o estilo do vestido, no fim das contas, no fim da noite, nós queremos é desvesti-lo para vestir a nossa alma com o traje que lhe cai bem, o do prazer.
Dançamos todas as músicas lentas do Elvis, quando terminamos não o vi mais, procurei-o por todo o salão e não o achei. Minha amiga fazia gestos apontando onde ele estava, mas não a entendi. Fechei os olhos e o senti bailando dentro de mim, ele havia transmutado e me transmitia prazer. Contive o uivo, a felicidade gritava dentro de mim, e eu ouvia "Can’t help falling in love".


Imagem: clique aqui

8 comentários:

  1. A vida é cheia de nuances, e as sensuais são as melhores.

    Bjs.

    ResponderExcluir
  2. Gostei da estrutura do texto...a vida é uma dança...e nunca se dão passos iguais...sempre caminhando mais além...sempre além...mais profundamente ....e não há regras para se sentir bem...por isso as pessoas são diferentes...e procuram divertir-se de maneiras variadas...e a liberdade de expressão é isso mesmo...limites? Eu acho que há limites...há limites para tudo...transgredir também é bom e faz bem à alma...é uma espécie de brado à monotonia...

    Afecto sem medos

    ResponderExcluir
  3. Para dançar precisa ter muito equilíbrio, principalmente se for a dois, e precisa guiar e precisa ceder, e precisa ir para frente e ir para trás e ir para os lados, e precisa rodopiar, e precisa fazer os mesmo passos com a alma embalada na música que toca, e se entregar, e confiar, e curtir, e sentir....a dança, a vida....

    Achei super interessante a analogia com o mel.

    beijo, bom final de semana.

    (não estava conseguindo comentar, mas agora descobri um jeito)

    ResponderExcluir
  4. A vida é sim uma dança, acredito muitro nisto e cada um poe o vestido que combina mais com sua noite de dança.

    Beijos grandes, adoro receber seu afeto sempre!

    ResponderExcluir
  5. Oi Samaryna! Fiquei pensando nos muitos ritmos que já dancei nessa vida - salsa, cha cha cha, bolero, mas ultimamente minha trilha sonora tem sido Chico Buarque! Beijo no meu mano!! Deia.

    ResponderExcluir
  6. Samaryna
    Gosto de seu nome, gosto de escrevê-lo e sentir a força em seu som e em suas sílabas.
    Transmutei neste seu texto. Gosto de dançar e muito e visto aquilo que me faça sentir bem e não o que está na moda ou é belo aos olhos dos outros. O que vale é o meu eu, a forma como a vida me leva a sonhar.

    Beijos

    ResponderExcluir
  7. ___________________________

    A vida é sim, uma dança... Devemos ter a leveza de lhe acompanhar os passos e tudo ficará bem!

    Gostei do seu texto!!!

    Beijos de luz e o meu carinho...

    _________________________________________

    ResponderExcluir
  8. Samaryna... adoro dançar... Tenho um texto que fala sobre isto, você me deu coragem de publicá-lo.

    Lindo demais esta crônica, amiga. Vida, música, movimento: apaixonar-se. E, de olhos fechados, sentir a pessoa a bailar conoscoa... Ah! Beijo

    ResponderExcluir