Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Geladeira

Nessa época não sabia que o Alaska pertencia aos Estados Unidos, era péssima em geografia, também, todos os meus sentidos eram para ele. Ele era o imã que desnorteava a minha bússola, meu ponto de partida e chegada. Foi o meu primeiro namorado, mas não foi o meu primeiro homem. Disso, ele nunca soube. Trinta e um anos se passaram, o que não passou foi a amarga lembrança de nossa primeira e única relação.

Quando ele me convidou para sair, eu me fiz de difícil, quando ele já estava desistindo, eu facilitei. Ele pediu uma esfirra e café com leite, devorou tudo como quem quisesse acelerar o encontro para chegar aos finalmentes, afinal, homens são todos iguais, só muda o número do manequim. Eu não o ajudei, pois comi a minha pizza beliscando-a com os dentes, e a Crush fui bebendo em conta-gotas. Ele era lindo, tinha um rosto andrógino. Já estávamos na segunda semana quando eu o deixei pegar na minha mão, na quinta semana, ele me roubou um beijo, na sexta semana, ele me levou para cama. Eu era uma mulher difícil, hoje, as mulheres, primeiro vão à cama para depois saber com quem saiu.

Estranhei quando ele colocou uma bacia no quarto. Mais ainda quando ele quis me dar banho. A suavidade com que ele passou o sabonete Phebo fez os meus poros dilatarem de prazer. Todas as suas digitais ficaram impregnadas na minha pele. Não me disse uma palavra, mas soube usar bem a língua. A água quente ele trouxe em uma vasilha de alumínio de três litros, jogou várias porções de ervas aromáticas macerando com as mãos e as mexeu com uma colher de pau, depois pediu para eu abrir as pernas, ficar embaixo da bacia e ir abaixando aos poucos até onde eu pudesse aguentar a temperatura. O tezão era tanto que quando eu percebi já estava com minhas partes íntimas embebidas na infusão. Não sei quantas línguas ele falava, porém, como a usou, o senti falar todas as línguas vivas e mortas.

Não sei quantas horas passamos junto aquela noite, sei que o prazer foi tanto que parecia ter durado um segundo, e eu queria uma eternidade. Contudo ele me rejeitou, pedi explicações e ele se negava a dar. Insisti, ele foi honesto, disse-me se falasse iria me machucar. Há momentos na vida que necessitamos de resposta, mesmo que ela nos leva a dor.

Geladeira. Fiquei petrificada quando ouvi essa palavra. Você é muita fria, uma geladeira. Não consegui articular uma palavra, alias, se as conseguisse cairiam uma a uma como se fossem pedras de gelo.

Alaska. Acho que foi a primeira vez que tinha ouvido essa palavra. Eu vou para o Alaska. Onde fica, perguntei. EUA, ele disse. Que diabo é isso. Estados Unidos. Eu fui muito burra, burra por ter me entregado a ele. Vou trabalhar lá, e vou feliz por ter tirado a sua virgindade. A dor sumiu de uma vez e cai na gargalhada. Coitado foi embora pensando que eu era virgem. No entanto, ele não foi muito longe, pois até hoje eu carrego uma Alaska dentro de mim.


Imagem clique aqui

10 comentários:

  1. É amiga, nem todos homens são iguais, não é?

    Bj.

    ResponderExcluir
  2. Samaryna, que texto forte e sem dúvida a explicação dada por ele, deve ter doido bastante, mas ninguém sabe os segredos que uma mulher guarda em seu coração.
    Um grande beijo

    ResponderExcluir
  3. Phebo, Cruch, esfirra com café com leite e mais alguns detalhes do seu texto me chamam a atenção, me fazem sorrir, o sorriso é pela sua criatividade, inventividade, ao elaborar os textos.

    Poderia citar muitas frases do texto que me chamam mais a atenção.

    abraço, com carinho e admiração.

    ResponderExcluir
  4. As vezes um corpo fala japonês e o outro entende árabe ou ele era um grande sacana mesmo.
    Adorei o texto.
    beijos

    ResponderExcluir
  5. Ah, que delícia sua forma de contar... Conte-nos, conte sempre! Imaginei a bacia no quarto e o banho em tantos idiomas... Você é genial, amiga! Beijo

    ResponderExcluir
  6. angela

    deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Geladeira

    ":

    As vezes um corpo fala japonês e o outro entende árabe ou ele era um grande sacana mesmo.
    Adorei o texto.
    beijos

    ResponderExcluir
  7. Certas coisas marcam definitivamente.

    Seus contos são os mais deliciosos, a-do-ro-le-los

    Beijos!

    ResponderExcluir
  8. Samaryna,
    Textos escritos com sana e inteligente ironia encontramos por aqui,parabéns por mais esta pérola!
    E,do personagem masculino em questão,nada a dizer apenas um grande mal educado e insensível!Ainda bem que foi só uma vez.
    Abraço grande,

    ResponderExcluir
  9. Amiga, meu comentário foi perdido em função dos problemas do blogger. Que pena! Beijo

    ResponderExcluir