"A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão" - Albert Einstein.
A impressão, ou seja, a percepção física do passado se dá através da filmagem ou fotografia dos acontecimentos, e também pelo que fica gravado em nossa memória. É somente dessa maneira que o passado se significa, porém, se não houvesse luz não teríamos como contar o tempo, ele seria imperceptível.
Nossa residência na Bahia ia de uma rua a outra. Numa rua ficava a moradia, o nosso lar; na outra rua, paralela, ficava o comércio, a padaria, e entre elas um florido corredor de ligação. Madrugada, o meu pai levantava do seu quarto, silenciosamente, atravessava o corredor e chegava à padaria para fazer o pão. Eu, ao mesmo tempo, pés após pés, ia atrás dele - então, se fazia a luz -, ele me pegava no colo, colocava-me na rede armada na padaria e eu deixava meus olhos percorrer as gotas de suor escorrendo pelo seu corpo antes de me perder em sono recheado de sonhos. Eu tinha quatro anos, essa é a primeira imagem da minha vida.
Morando em São Paulo, casado, a minha filha, minha Rosa, florindo aos quatro anos, me perguntou, ao ver um negro passar em nossa rua, o porquê dele ser "preto". Expliquei o motivo e disse que nós também éramos negros. Ela finalizou: "Pai, eu não sou "preta", eu sou é rosa. A primeira imagem que eu tenho dela não é essa. Lembro como se estivesse acontecendo hoje, o chumaço preto de seus cabelos querendo brotar da sua mãe – então, se fez a luz – e o médico puxando-a para a vida a deu para ser levada à enfermagem para a limpeza. Uma cena espantável, porém, divina.
Domingo cedo, assistindo a corrida de fórmula um, o meu filho, meu pequeno Cravo, aos quatro anos, subiu no sofá e sussurrou, como sempre faz, nos meus ouvidos: “Pai, posso assistir com você?”. Seus sussurros devem conter algum pó de pirlimpimpim, pois nunca consigo dizer não para ele. No entanto a primeira imagem que eu tenho dele não é essa. Lembro como se estivesse acontecendo agora, ele preso na incubadora da UTI pré-natal, talmente a semente que ainda necessitava do chão para brotar. Após quinze dias se fez luz, e, ele, tal qual o botão de cravo que abre as suas pétalas para se significar como flor, abriu os seus olhos à vida. Uma cena espantável, porém, divina.
Neste mesmo domingo, minha Rosa, hoje com dez anos, conversando com sua mãe, a minha Flor de Liz, girou nos calcanhares, e, como se o giro avançasse o filme, eu a vi mulher. Confesso que isso me abalou, então a chamei e ao abraçá-la chorei. Surpresa, ela quis saber o motivo das lágrimas. Sem meias palavras lhe disse que a vislumbrei como uma mocinha. Entre risos, ela me disse que eu era um pai estranho, pois chorava por ver a sua filha crescer. Ela permaneceu abraçada a mim como se quisesse me confortar. Eu tive que abrir os braços, e percebi que o perfume da Rosa não era mais infantil.
A velocidade da fórmula um parecia acelerar o tempo, meu Cravo, grudado na televisão assistindo a corrida, não se levantou e nem sussurrou nos meus ouvidos: “Pai, eu não vou crescer”. Porém, o seu perfume permanecia infantil.
Imagem de arquivo pessoal
Não existe tempo mais rápido, do que o crescimento dos nossos filhos. a mim também me parece que foi ontem que segurei nos meus dois rebentos pela primeira vez... e o meu filho já está perto de fazer vinte anos e a minha filha faz catorze dentro de dias.
ResponderExcluirAdorei o seu texto, felicidades para as suas flores.
Beijinhos doces, Ava
Bela sua história de vida.
ResponderExcluir(Te convido a partilhar meus segredos)
Dona
Que belas imagens nos mostra esse texto tão familiar. Meu abraço.
ResponderExcluirEder! Como sempre, você surpreende. Lindo post!
ResponderExcluirMemórias ilustram nossos dias. E se fez luz tantas vezes em sua vida. E agora um jardim florido - o presente: um cravo e uma rosa. Percepção do passado, sentir o presente... visualizar o futuro.
Abraço, meu amigo!
Tenha um lindo final de semana!
...lendo você fiquei a imaginar
ResponderExcluirquanto perfume, quanta felicidade
emana deste teu lindo 'jardim'!
isso só se consegue com as
mãos de um jardineiro
que ama o que faz!
cuidar das sementes e vê-las
desabrochar em flor, é dádiva
de Deus!
bjs, alma linda!
lindissimo texto, sabe a gente so se dà conta de envelhecer ao ver como crescem os filhos!!!
ResponderExcluirbeijos meu querido Eder, e cuide bem de seus filhos, olha bem para eles, estes momentos passam depressa demais...
Que jardim maravilhoso, o seu Eder!! A sua Rosa, o seu Cravo, sua Flor de Liz, olha, suas memórias me emocionaram. Lindo, lindo, lindo!! Jardim, realmente, é um espaço poético onde é revelado a essência de cada um. Adorei!! Um ótimo sábado, um ótimo final de semana para vc e sua família :)
ResponderExcluirOlá Éder querido,
ResponderExcluirConseguiste me emocionar com teu texto. Nossos filhos crescem muito depressa e as imagens que ficam de sua história são essas que vc relatou.
Bela postagem, bela família. O amor em família, meu caro, é a maior maravilha do mundo. Que Deus abençoe esta união entre todos vocês.
Um belo findi e um super beijo.
Maria Paraguassu.
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ResponderExcluir. quando o per.curso floresce o de.curso de um tempo . também ele . ir.reparavel.mente exacto .
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. teço uma prece . para que o florido das ruas . sejam o espelho vivo da alma tua .
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. e,,, .
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. abraço._________________.te .
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Oi Mano. Lágrimas nos olhos... Meu jardim também está em processo de mudança de fragrância, e me pego assistindo a esse filme querendo buscar o controle remoto e apertar o botão de câmera lenta. Mas, acho que hoje o que mais me emocionou no seu texto foi a descrição dos momentos de "luz" - não tinha lido nada tão bonito a respeito do apropriar-se da vida até agora. Um ótimo sábado, com os aromas que a vida sempre nos dá! Deia.
ResponderExcluirPara os pais os primeiros momentos dos filhos ficam marcados na memória...um tempo que não volta jamais...e vê-los crescer comove-nos...é a lei da vida!!!Seja feliz como pai e seja sempre um bom pai!!! Bjs
ResponderExcluirHoje venho desejar um
ResponderExcluirfeliz final de semana.
E deixar um convite
venha dar uma passadiha
na minha postagem .
E meu aniversáro.
Bjs com carinho.
Evanir
Oi Eder...é...emocionei também aqui...essa percepção acontece em todas as fases do crescimento, ainda vai se espantar ainda mais, acredite...rs
ResponderExcluirMas é um espanto bom....que nos dá a certeza de que as essências foram plantadas com muito amor carinho na alma das suas flores...tanto da rosa, quanto no cravo.
Esse abraço que vi aqui...é o melhor abraço que podemos oferecer...talvez hoje ela não entenda sua lágrima, mas quando ela tiver as rosas dela...entenderá e irá te abraçar tamb´m com lágrimas nos olhos...é o jardim da vida...fiz um poema e falo de rosas e outras flores
Um abraço na alma
Beijo no coração...
Eder,cada um desses mágicos momentos vivídos junto aos próprios filhos,desde o nascimento e se possível acompanhando cada passo do progresso pessoal deles é uma dádiva divina para quem como você,eu e espero tantos mais amem essa 'mágica dança' delicada de sermos pais.
ResponderExcluirLindo relato o seu,meu abraço!
Emocionante. O dia que ela, a tua rosa, for mãe perceberá que vc não é um pai estranho e sim um pai amoroso que se comove com seus filhos sempre. Quem tem filhos sabe como é impressionante a velocidade com que o tempo passa. Acho que Einstein não teve filhos.
ResponderExcluirLindo texto!
Beijokas.
Senti-me em seu escrito; como pai que sou.
ResponderExcluirAdorei; abração,
Rodrigo Davel
Ola Eder
ResponderExcluirNão á tempo mais precioso que o tempo que passamos com a família...
Seja bem vindo ao clube dos novos autores tudo de bom abraço.