Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Aonde o sol se esconde - 5ª Parte

     Quando a mente humana não percebe a luz que emana de um solo sagrado é porque não sabe mais em que chão pisa.
     Aquela mão não lhe dava apenas a proteção, mas também o levava aonde os seus pensamentos permitiam. Aquela mão agora, desprendida da sua, tentava apoiar na parede para desacelerar a velocidade da queda. Aquela mão envolvida no sangue que espargia da cabeça tentava apoiar nele para evitar a queda. Aquela mão não o levaria mais aonde os seus pensamentos permitiriam, aquela mão não lhe daria mais proteção. O policial, com uma arma em uma das mãos, vasculhava o corpo morto em busca de provas para justificar o assassinato que acabara de cometer; não encontrando, ele plantou uma, e saiu passando a outra mão na cabeça do garoto que a rejeitou se desviando. Devido a repulsa, o garoto recebeu uma coronhada no queixo e foi lançado de encontro ao corpo morto do seu pai. Após a morte de seu pai, foi pelas mãos de sua mãe que ele voltou a ter segurança, mas durou pouco. Desgostosa, ela se foi, também, morta pela polícia. Mas foi pela mão, a pior mão, malévola, deseducativa, a mão do estado que ele mais sofreu. Por dois anos o peso desta mão exerceu influências negativas sobre ele o acompanhado até o fim dos seus dias. Aos seis anos, após fugir da FEBEM, o garoto buscou proteção na mão divina, mas o padre o aconselhou a procurar um abrigo governamental. Não se pode esperar muito da mão divina quando para se chegar a ela precisa da mão humana. Sem ter a quem pedir ajuda, o garoto enveredou por um caminho sem volta, o do tráfico. Mais do que mão, o tráfico foi braços, pernas, corpo, e, principalmente, mente. Com seis anos, o sofrimento lhe tirou qualquer capacidade de discernir o certo do errado. Ele foi alimentado pelo desejo de vingança, e pela mão que comia, a vingança era um prato cheio.
     Trêmulo, o garoto não conseguia mirar em um dos policiais que se encaminhava para a igreja, os seus pensamentos presos ao passado não permitiam. Seus pais mortos pela polícia, os maus tratos na FEBEM, a rejeição do padre eram dores incuráveis, mas que precisavam de alívio. Ele se refez e se encaminhou para a igreja.

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9 comentários:

  1. Puxa!!

    Que surpresa enorme nesse final, resgatou toda a tristeza contida em cada frase do conto. Uma única frase plantou esperança fez brotar a possibilidade de renascimento que todos queríamos ver em histórias como esta e é tão difícil de encontrarmos na realidade.

    Beijos Eder.

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  2. Olá Eder...sobre as esquerdas...você tem razão...rs
    Esta quinta parte é a que mais gostei até agora, impressionante o quanto traz da realidade, a realidade que transforma vidas, muda caminhos e destrói sonhos.

    Mais do que mão, o tráfico foi braços, pernas, corpo, e, principalmente, mente.

    Quano se chega nesse ponto fica dificil ter volta, mas nada é impossível...

    Parabéns Eder...cara...lanç logo um livro...putz..rs...ahhh...fala sério...rs

    Um abraço na alma e um beijo no coração amigo...valeuuuu

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  3. triste tremendo e infelizmente deve ser verdade...tao bem escrito como sempre,amigo Eder,
    um grde abraço

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  4. vc vai firme na escrita hem amigo, que beleza. ainda mais retratando estas dores nossas, brasileiras, de todos os dias. parabens

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  5. Um drama da nossa realidade. Com muita tristeza. Onde as mãos que deveriam apoiar e encaminhar, por vezes não apoiam, e então aparecem outras mãos para desencaminhar.

    Já assitiu o filme - Contador de Histórias? Lembrei quando cita a Febem.

    abraço.

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  6. Deus meu, Eder!
    Quanto sofrimento... espero realmente que este conto possa ter um final feliz!
    A tua capacidade de contar contos é tão fantástica que sofro e chego a chorar ao final de cada capítulo...
    Parabéns, amigo!
    Beijos, flores e muitos sorrisos!

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  7. Um círculo vicioso quase impossível de interromper. A vida que se levou determina a vida que se levará. Ter por herança o sangue de seus pais, a pobreza ancestral, a tristeza da desesperança, a certeza de um futuro igualmente sem chance de sair disso, faz qualquer ser humano desacreditar da vida, por melhor que seja sua alma.
    No aguardo do próximo.
    Beijokas e uma semana proveitosa pra vc.

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  8. É muito triste, Eder! A maneira precisa e talentosa com que nos guias por este conto é impressionante. Também eu estou aqui com o coração na mão. Você não nos poupa, alastra a realidade tão nua e tão crua por todas as palavras que escolheu para figurar este conto. E a ficcão é tão real. É a realidade pintada neste sol que ora se esconde... Abraço forte!

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  9. É tão ruim quando alguém,principalmente sendo criança, perde a proteção, a esperança,o brilho no olhar,estando a mercê de todos os perigos.
    Quero ver o que vai acontecer adiante para dar uma daquelas voltas imprevisíveis,pois a vida é imprevisível afinal,almejando um desfecho mais positivo também.

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