Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Aonde o sol se esconde - 2ª Parte

     Qual de nós nunca buscou a felicidade, qual de nós não a encontrou em uma barra de chocolate; em um perfume adocicado; no cheiro de terra molhada após a chuva, em uma tarde de verão; em um bom livro; ou então, nos olhos de quem se enamora?  
     Os cabelos cacheados lhe caíam sobre os ombros, emoldurando o rosto arredondado; seus olhos amendoados, cor de mel, abrilhantavam mais ainda o seu sorriso brejeiro. Fosse inverno, fosse verão, sempre de vestido, destoando das outras mulheres que preferiam a praticidade do jeans e camisetas, as masculinizando, ela, elegantemente, subindo o morro, passou com costas e colo à mostra, e se fez percebida pelo seu vasto sorriso marfim; a pele ébano e sedosa exalava o aroma de lavanda. Enfeitiçado por sua beleza, ele não lha disse uma única palavra com receio de parecer vulgar, contudo, era a timidez que colocava freios em sua língua. Daquele dia em diante ele viu que a beleza era negra e perfumada.
     Livro em mãos, aberto, fingindo ler, sentado no primeiro degrau da escadaria que conduzia do morro ao asfalto, ele percebeu ela vindo em sua direção, quase roçando os joelhos um no outro como se estivesse na passarela, desfilando. Ela, assim que colocou o pé esquerdo no segundo degrau, resolveu voltar; dobrando os joelhos em sentindo contrário de onde ele estava, ela de cócoras, abaixou um pouco a cabeça para ler o título do livro, e lho disse, poesias? Siiiii...im, gaguejou. Jogando os cabelos para trás, ela mostrou toda a exuberância exótica do seu rosto, e, rindo, voltou a descer a escadaria. Desprendendo dos freios que prendiam a sua língua, ou seja, a sua timidez, ele, quando ela estava com o pé direito no quarto degrau, a chamou. Sem titubeios ou gaguejos, ele lha perguntou aonde ela encontra a felicidade para estar sempre rindo. Ela lho disse que ele poderia achá-la em uma barra de chocolate, e fingindo ter uma em mãos, o ofereceu. Ou em um perfume adocicado, e com uma das mãos, ela jogou os cachos para o lado esquerdo, agachou e encostou o pescoço próximo ao seu rosto e pediu-lhe para senti-lo. Quem sabe no cheiro de terra molhado após a chuva das tardes de verão, e abriu os braços, jogou a sua cabeça para trás, fitou o céu, girou o corpo em volta de si como se estivesse sentindo gotas de chuva inundando o seu rosto. Quiçá em um bom livro, e tomando-lhe o livro recitou um poema de amor. Mas, provavelmente, nos olhos de quem se enamora, e, docemente, ela deixou os seus se perderem nos dele. Ele os encontrou, e, abraçando-a, lhe fez uma última pergunta. E se a perdemos, aonde poderemos encontrá-la, novamente? Ela riu risos soltos, estridentes, escutáveis por todo o morro, e lho disse. Lá aonde o sol se esconde. E onde fica? Aonde residem os mortos, disse seriamente, e depois se soltou em risos.
     Não houve a necessidade de eles dizerem uma única palavra para se entenderem. Silentes, os dois se olharam mutuamente, e seus olhos se encontraram; não houve, também, mais a necessidade da visão para se enxergarem, o amor faria isso. De olhos fechados, os seus lábios se encontraram. Cristo no alto do morro, de braços abertos, os abençoava.

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11 comentários:

  1. Olá Éder... O amor é a mais pura benção que doamos e recebemos, e somente assim nos libertar das maldades terrenas e nos tornamos pessoas melhores!
    Um abraço carinhoso

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  2. Que encontro mágico, banhado de poesia.
    Lindo, Eder!

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  3. o encontro é mesmo assim.....e digo mais uma vez que bem voce escreve!!!!
    beijos

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  4. Oi Eder,
    Ainda bem que aparentemente desesperançoso seu personagem acabou encontrando a melhor coisa da vida,ou seja,o amor!Esse quando chega é assim mesmo inesperado e arrebatador,parabéns pela bela história de final feliz como nos romances que a gente mais gosta de ler!

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  5. Eder,
    Então me corrijo esperando o prosseguimento desse intrigante enredo que sem dúvidas pode dar um bom livro!
    Abraço pra você!

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  6. São tantas passagens bonitas no seu texto. Este encontro do olhar me fascina, ler, lembrar.

    A alegria pode está em pequenas coisas, numa boa leitura que nos transporta, ou um leitura que nos fascina e nos dá prazer.

    abraço

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  7. Eder, amigo!
    Que nunca bucsou a felicidade?
    Eu, particularmente, espero encontrá-la agora, na minha primavera, natureza em flor!
    Primavera que é também, minha estação preferida.
    Beijos, flores e muitos sorrisos!

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  8. Encontros de amor... sempre rendem poesia
    encontros de poesia... sempre rendem uma forma de amor

    poesias de encontros sempre engendram amor no leitor.

    Um abraço

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  9. Muito boa a descrição da cena!
    Adorei o conto; abração,

    Rodrigo Davel

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  10. Nossa que surpresa, Eder! Como era parte dois, esperei um texto que desse continuidade ao que tanto nos pesa e que nos deixa tão tristes...

    Comecei a ler... e era como se o sol brilhasse depois de uma forte tempestade. Encontrei um linguajar de pura poesia em cada frase desse encontro de amor. Palavras doces que descrevem a magia entre duas pessoas. Ah, o que dizer? É simplesmente leve, terno, e sem igual. Que delícia de leitura. Obrigada por esta pérola! Beijo

    Lá vou eu... correndo ler a continuação!

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  11. Um encontro mágico em que o amor se revelou e brilhou entre eles como o sol numa manhã de verão.
    Vou ler o próximo.
    Beijokas.

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