O sino da igreja badalava a vigésima primeira hora do dia 13 de setembro de 1965, o padre estava no pátio em atitudes suspeitas. Socava o ar como se uma horda de mosquitos sobrevoassem sua cabeça. Proferia frases inaudíveis. Inesperadamente começou a vergar para trás, dava a impressão que alguém o empurrava, mas não existia uma alma viva, exceto eu e ele. Correu desesperadamente até tropeçar e cair, levou as mãos à cabeça, chorava intermitentemente. As expressões de seu rosto eram aterrorizadoras. Por um instante tive pena dele, vi que estava sofrendo. Ele correu para dentro da igreja olhando para trás e pedindo para ser perdoado. O que me causava estranhamento era que não havia ninguém o seguindo. Entrei na igreja e vi o padre José ajoelhado pedindo perdão. Escondo-me no confessionário. Algo inimaginável aconteceu. O padre começou a levitar, e no seu rosto visualizei terror. Ele se debatia, parecia que algo ou alguém o segurava, só que eu não via nada. O padre tremia. O medo tomava conta dele. Aquilo, para mim, era incompreensível, até que o quê não queria ser visto se fez para meus olhos. A coisa tinha corpo humano, era alado, um rabo enorme, sem cabelos na cabeça, suas orelhas eram pontiagudas, dedos atrofiados com unhas grandes parecendo garras, pés curvados, pernas e coxas finas. Era uma aberração. Como não dava para ver seu rosto por que ele estava de costa para mim, parecia que ele cheirava e passava a língua no padre. A coisa enfiou a língua na boca do padre e uma luz negra começou a ser sugada. Aquilo me assustou, e por descuido acabei fazendo barulho. Fiz-me ser visto. A coisa soltou o padre que caiu no chão. Meus olhos deram de encontro com os olhos medonhos e aterrorizantes da coisa. Seu rosto era a própria personificação do diabo. Os glóbulos oculares eram proeminentes, testa larga com dois chifres e maçãs do rosto fundas apavorava qualquer um que o visse. E comigo não foi diferente. Debatia-me no confessionário até me dar conta de mim. Empurrei a porta para sair, mas uma força contrária, e mais forte da que eu estava usando, prendia-me no que poderia ser meu próprio caixão. Eu vi o sorriso sarcástico nos lábios da fera. Ele bateu asas para alçar vôo, quando estava bem alto, fechou as asas e veio em minha direção. O medo tomou conta de mim, a morte estava aproximando. Fechei os olhos e rezei. Ouvi o impacto, não o senti. Quando abro os olhos, uma luz branca com tons azul celeste cobria todo o confessionário. A coisa se contorcia no chão, com uma das asas cobrindo seu rosto, ele tentava se afastar sem olhar para a luz. Eu passei o dorso das mãos nos olhos para enxugar as lágrimas do medo que os haviam inundados e percebi a luz tomando forma. Meu coração se encheu de alegria, não acreditei no que estava vendo. Diante de mim estavam Deco, Armésio, Evidália e Evilásio. Todos suspensos no ar sem nada os segurando, e seus corpos brilhavam, uma auréola de luz os cobriam dos pés a cabeça. Eles sorriam para mim.
Inesperadamente o teto se abriu e uma luz intensa surgiu do céu iluminando toda a igreja. Uma voz grossa e suave se fez ouvir:
- Padre peça perdão a eles.
- A eles não Senhor, a Ti eu...
O padre não chegou a completar a frase. O teto se fechou, a penumbra tomou conta da igreja. Só havia claridade devido à auréola de luz que dava contorno aos meus amigos. Ao mesmo tempo em que o teto se fechava, o chão se abria e exalando um odor intenso de enxofre. A coisa se pôs de pé, abriu as asas e levantou voo, esticou bem as garras e desceu velozmente. Foi quando ouvi o grito de dor e terror do padre José. A coisa, com as garras fincadas no seu peito, enfiou a língua na sua boca e começou a sugar a sua alma, até restar somente a batina do padre José.
Novamente a coisa pôs seus olhos em mim e sussurrou. Uma fumaça com odor de enxofre nublou as minhas vistas. Deu para ouvir uma voz gutural dizer: “eu voltarei”. Quando meus olhos começaram a atinar alguma imagem, só conseguir ver o rabo da coisa sumir no buraco que havia no chão. Antes do buracão se fechar de uma vez, ele voltou para pegar a batina do padre.
A paz havia voltado à igreja. Deco, Armésio, Evidália e Evilásio estavam felizes, a luz que dava contorno as suas imagens estavam dissipando e elevando aos céus. Enfim só havia eu na igreja, ajoelhei e senti o chão quente. Rezei à alma dos meus amigos.
- Pronto meu neto, esta é a verdadeira história dos sumiços ocorridos em Barra na década de 60.
- Vô por que você nunca contou isso a alguém?
- Se eu contar ou pôr isso no papel ninguém acreditará. Preste atenção, está ouvindo o apito?
- Sim vô.
- Este apito é do vapor Benjamim Constant. Vamos lá vê quem está chegando.
Ao chegarmos no cais, eu e meu vô ficamos surpresos com a balburdia. Todos diziam em uníssono: “ele voltou, o padre José voltou”. Fomos abrindo passagem em meio do povo, quando eu e meu vô ouvimos uma voz gutural com odor de enxofre dizer:
“Eu não disse que voltaria”.
Inesperadamente o teto se abriu e uma luz intensa surgiu do céu iluminando toda a igreja. Uma voz grossa e suave se fez ouvir:
- Padre peça perdão a eles.
- A eles não Senhor, a Ti eu...
O padre não chegou a completar a frase. O teto se fechou, a penumbra tomou conta da igreja. Só havia claridade devido à auréola de luz que dava contorno aos meus amigos. Ao mesmo tempo em que o teto se fechava, o chão se abria e exalando um odor intenso de enxofre. A coisa se pôs de pé, abriu as asas e levantou voo, esticou bem as garras e desceu velozmente. Foi quando ouvi o grito de dor e terror do padre José. A coisa, com as garras fincadas no seu peito, enfiou a língua na sua boca e começou a sugar a sua alma, até restar somente a batina do padre José.
Novamente a coisa pôs seus olhos em mim e sussurrou. Uma fumaça com odor de enxofre nublou as minhas vistas. Deu para ouvir uma voz gutural dizer: “eu voltarei”. Quando meus olhos começaram a atinar alguma imagem, só conseguir ver o rabo da coisa sumir no buraco que havia no chão. Antes do buracão se fechar de uma vez, ele voltou para pegar a batina do padre.
A paz havia voltado à igreja. Deco, Armésio, Evidália e Evilásio estavam felizes, a luz que dava contorno as suas imagens estavam dissipando e elevando aos céus. Enfim só havia eu na igreja, ajoelhei e senti o chão quente. Rezei à alma dos meus amigos.
- Pronto meu neto, esta é a verdadeira história dos sumiços ocorridos em Barra na década de 60.
- Vô por que você nunca contou isso a alguém?
- Se eu contar ou pôr isso no papel ninguém acreditará. Preste atenção, está ouvindo o apito?
- Sim vô.
- Este apito é do vapor Benjamim Constant. Vamos lá vê quem está chegando.
Ao chegarmos no cais, eu e meu vô ficamos surpresos com a balburdia. Todos diziam em uníssono: “ele voltou, o padre José voltou”. Fomos abrindo passagem em meio do povo, quando eu e meu vô ouvimos uma voz gutural com odor de enxofre dizer:
“Eu não disse que voltaria”.
Eder- um arrepio correu meu corpo inteiro! Rapaz, que história! Que desenrolar fantástico de personagens, situações, bem, mal, rendição e perigos! Obrigada por dividir conosco! Acho que agora posso terminar de tomar o meu café! Um beijo da amiga, Deia.
ResponderExcluirE não é que voltou mesmo!!
ResponderExcluirAdorei o conto, muito bem contado.
beijos
Deus, Jesu, Maria e todos os santos, vixe!
ResponderExcluirQue coisa, vá de retro!
Abraços.
Esse vô sabia como contar uma história!:) E a quem contar!;)
ResponderExcluirE amei achar os Engenheiros aqui! Fazia temmmpo que não ouvia! Beijos, amado e talentoso amigo! Uma ótima semana!!!
Caro amigo Eder;
ResponderExcluirEstive viajando e só hoje vi (e li) os três últimos textos...
Acabei neste exato momento de ler uma das melhores obras da literatura brasileira.
"As histórias que o meu avô contava" merece bem mais que um blog, por melhor que o blog seja. Isto que o Eder nos oferece, é um verdadeiro Hino à Língua Universal de Camões, à arte de bem escrever e que deveria ser utilizado nas escolas nas aulas de português, porque a nivel gramatical está perfeito e em comunicação literária será impossivel fazer melhor.
Caro amigo, Professor, gostaria de exprimir toda a minha alegria por ter tido o privilégio de ler esta obra simplesmente única, mas tudo que li me emocionou e só sei dizer,... Muito Obrigado, amigo Eder.
Um grande abraço.
Osvaldo
Éder que história, hein? Tem de tudo um pouco e seu avô tinha razão como algué acreditaria nele! Ainda bem que ele passou a história adiante, afim de que você pudesse compartilhar conosco.
ResponderExcluirFicarei com saudade da turma que andou por aqui.
Um beijo
O Amor nunca deverá ser responsabilizado por dores,perdas ou danos e tem amplos poderes para neutralizar todas as batalhas, sejam elas emocionais, familiares ou sociais...FELIZ DIA DO AMIGO,
ResponderExcluirBOAS ENERGIAS!
Beijos,
Mari Amorim
Brincando Com a Rima
Rapaz,
ResponderExcluirserá que eu acredito ou não acredito?
Prefiro não duvidar dessas coisas, Eder.
Já tive experiências que não me negam essas estranhezas de além-Terra.
Enquanto relato, perfeito para se contar ao redor duma fogueira numa frienta num interior qualquer.
Abraço e continuemos...
Meu querido, estimado, salve salve (rsrs) amigo!!! Passando para deixar um beijo, um aperto de mão, um abraço, pelo dia de hoje - Dia do amigo!!! Obrigada por tudo! Um beijo, Deia.
ResponderExcluirOlá amigo Éder!
ResponderExcluirEstou de volta e encontro aqui o relato tão fantástico. Que essa história seja perpetuada pelas gerações futuras. Gostei muito.
Um grande abraço e obrigado por sua amizade e pelo carinho das palavras no meu blog.
Deus esteja contigo!
Amigo Éder... Venho convidar você, para estar em nosso blog e conhecer a nossa convidada a escritora Bruna Longobucco, que nos traz um assunto muito importante.
ResponderExcluirAproveitamos para desejar que você tenha um ótimo fim de semana!
Um abraço carinhoso
Eder, é fantástica a forma como você escreve, eu tive que parar por causa do trabalho e voltei para continuar lendo. Prende a atenção, dá para ver as cenas, sentir a emoção dos personagens.
ResponderExcluirLendo o comentário de Osvaldo, fiquei super emocionada. Gostaria de ter dito o que ele disse.
Parabéns.
abraço
O surrealismo tem destas coisas...
ResponderExcluirMuito bem escrito, por sinal.
Parabéns!
Afe! Num é que o capeta existe? kkk... o Dandim é o culpado de tudo, tadinho do padre.. Adorei!!
ResponderExcluirEder amigo...
ResponderExcluirLindas historias com sabor de saudade...
Li e adorei!
Beijos, flores e muitos sorrisos!