Cacau
e Mel, agora, viam o mundo pelos olhos um do outro. Por mais que o Senhor do
tempo o acelerasse, e as mudanças fossem perceptíveis a todos, eles sequer as
notavam, uma vez que enxergavam pelos olhos do amor, e a este tudo é atemporal.
Estava
lá a mesma árvore, com várias camadas de primaveras, que um dia deitou seus
galhos para que um pássaro de plumagem amarela entoasse uma canção dizendo:
menino bobo. Agora que se encontrava marcada por dois corações entrelaçados,
com os respectivos nomes de Cacau e Mel, a árvore pediu ao vento, entre
gracejos, que levasse aos dois, além do aroma primaveril, estas duas palavras:
amor bobo.
O
vento, sempre gentil com a árvore, atendeu-lhe o pedido, carregando ambas as
palavras. Os dois jovens, aos risos, saíram de mãos dadas, abobalhados,
tropeçando nos próprios pés, tendo um ao outro como apoio. Para trás ficaram a
bicicleta, a bola de gude e a bola de capotão no quintal da casa.
Entreolhando-se, as três perceberam que tanto o menino quanto a menina estavam
indo embora, prestes a se tornarem homem e mulher.
Os
dois se retiveram no meio do caminho, com jeito de quem se lembrou de voltar
para buscar algo muito importante. Cacau voltou feliz, ao ponto da própria felicidade
pensar ser nele a sua morada. Ele corria saltitando, tocando os calcanhares um
no outro. Mel o seguia a passos lestos.
Os
dois, ao se aproximarem da bola de gude, da bola de capotão e da bicicleta,
proporcionaram a esses três seres inanimados alegrias desmedidas. À bola de
gude mais ainda, ao ser levada por Cacau.
Porém,
pela primeira vez, não reconheceu a mão a que estava tão acostumada. Os suores
eram outros, a tremedeira descompassada não era a mesma, acusava sentimentos
que ela desconhecia. A bola de gude se perguntou: em que linha da mão nossa
amizade se escondeu?
O
que ela não entendia era que as linhas das mãos de Cacau transpiravam outro
sentimento. Sentimento esse que a bola de gude somente conheceria se tocasse as
linhas das mãos de Mel.
-
Toma. Ela agora é sua. – Disse Cacau a Mel, fazendo menção de entregar-lhe a
bola de gude.
-
Mas... – As palavras lhe fugiram.
-
Esta bola me acompanhou até aqui. Um bem inestimável que lhe dou com prova da
minha amizade.
Emocionada,
Mel foi até a bicicleta. Como a bola de gude, a bicicleta soube de imediato que
não eram mais as mesmas mãos que a tocavam.
-
Toma. É sua agora. – Mel, com doçura nas palavras, entregou a bicicleta ao
Cacau.
-
Não. Não posso aceitar.
-
Por quê? – Perguntou Mel decepcionada com a recusa.
-
Ela vale mais do que a bolinha de gude.
-
Que importância tem o valor monetário quando se AM... – Cacau não a deixou
terminar a frase, beijando-a nos lábios.
Continua domingo às 08hs00min
TEXTO DE ÁGUA E ÓLEO MISTURADOS
AUTORES:
Água: Déia Tolda
Descobriram uma outra espécie de amor. E são capazes de uma grande doação. Muito lindo está seu conto. Abraços.
ResponderExcluirOi Éder
ResponderExcluirNossa! Você é um contista nato, conseguiu até me emocionar principalmente no final:
O beijo nos lábios
Espero a continuação...
Beijos
Lua Singular
o amor nunca e bobo! E MARAVILHOSO! lindooooooooooooooo
ResponderExcluirbjos
Que diálogo maravilhoso!
ResponderExcluirO amor é tão lindo e puro.
Abraço da Luz.
Que coisa bonita, eder. Amor é assim. Aguardando a continuação. abç
ResponderExcluirOlá!Bom dia
ResponderExcluirÉder...
Déia
Segunda página...encantado!
... "tanto o menino quanto a menina estavam indo embora, prestes a se tornarem homem e mulher"... o tempo passa e as coisas na nossa vida mudam. Querendo ou não, as mudanças acontecem. E ai vai ter que escolher entre não reconhecer a mudança e "agir" como um/a "menino/a"e ter uma linha lógica muito linear , para que as coisas continuem como eram, ou entender que as mudanças ocorreram e a partir dai, transformar seu comportamento, tornando-se um "homem/mulher"e entender que muitas são as variáveis que interferem nos fatos...
..."Que importância tem o valor monetário quando se AM"...Quando penso no amor como ação, penso nessa ação vindo de outra região, uma região de generosidade.
Agradeço
Belo dia
Abraços
A mais pura verdade: quando se ama, o mundo é esquecido. Gostoso de ler esse perceber de sentimentos pelos objetos. Ótimo fim de semana! :)
ResponderExcluirEder, estou adorando ler seus contos que são leves.
ResponderExcluirBeijos
O amor é massa, né? E eu aqui ainda pensando no ciúme da pobre bolinha de gude... hahaha.
ResponderExcluirTola, é o que sou.
Esperando mais.
Beijo!
Que bom te visitar e ver esses contos tão
ResponderExcluirbonitos, sou sua fã, é verdade quado se ama
a gente esquece de tantas coisas.........bjussss
Abraços de bom final de semana!!
└──●► ¸.·*Rita!!
Adorei o água e óleo misturados
ResponderExcluirMuito bom isso de olhar um com os olhos do outro, uns para os olhos dos outros
Lindas as fotos do cabeçalho do blog
Paz e bem a vc e tda sua amada e encantada família
Como de repente as coisas mudam e a criança sem perceber espontaneamente descobre este outro lado da vida de ser humano relacionando-se com o outro e descobrindo um novo sentimento que pode ser chamado sim de amor.O primeiro amor a gente nunca esquece e,fugindo do conto para a vida real lembrei de quando menina moça um companheiro da escola gostava de me oferecer todos os dias um chocolate na hora do recreio e eu que chegava sempre primeiro na sala de aula guardava o lugar vizinho ao meu para ele sentar...Talvez,sim,quem sabe isto também não era uma manifestação de amor,rsss.O tempo passou...Sabe-se lá por onde anda aquele rapazinho agora,mas esta forma inocente de amar como conta a sua história precisa ser resgatada nos tempos de hoje.Muito,muito belo!
ResponderExcluirBom dia!
Que lindo vir acompanhar essa mudança na vida desse casalzinho, que, juntos, estão descobrindo o amor... tão criativo inserir os brinquedos e objetos marcantes da infância, como eles percebem essa transição de seus donos... enfim.. gosto de vir aqui com calma para ler tranquilamente.. sempre fico maravilhada com a escrita.
ResponderExcluirOI EDER!
ResponderExcluirO DESABROCHAR DE UM AMOR DIFERENTE E A TRANSIÇÃO DOS DOIS, EMBORA AINDA LIGADOS EM SEUS BRINQUEDOS.
MUITO BONITO, ESTOU GOSTANDO MUITO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/