Ao
se darem as mãos, a bola de gude foi tocada pela mão da Mel e, nesse instante,
percebeu qual era o sentimento que estava aflorando das linhas da mão do Cacau.
A bicicleta teve a mesma sensação quando Cacau apoiou a sua mão no selim
grafitado de girassóis. Os girassóis se abriram como se aquela mão carregasse
raios de sol.
As
duas, juntamente com a bola de capotão, sabiam que a amizade dele por ela
estava sendo substituída pelo amor. Seriam relegadas ao esquecimento. E,
aconteceu como a bola de gude havia previsto: a bicicleta foi deixada em um
canto da garagem misturada aos restos de ferro velho. A bola de capotão,
murcha, foi enterrada em uma caixa de sapato entre outros badulaques. A pobre
bola de gude teve outro, lamentável, destino: esfumou-se entre bonecas
quebradas, até ser confundida com um olho de uma.
Os
dois estavam sentados na beira do cais, jogando os pés ao vento e migalhas de
pão aos peixes. Enamorados, entreolhavam-se encabulados, ela com o queixo no
peito, ora olhando para os próprios pés dançando no ar, ora para ele. Ele, com
olhos de vontade, esperava que o tempo o empurrasse à ação.
O
dia enamorando-se da noite, deixou-se ser encoberto pelo seu manto. Os ventos,
trazendo aromas campestres, esfumavam as nuvens; as estrelas formigavam no céu,
e a noite iluminava-se pelo lume do amado. A lua cheia brilhava mais do que de
costume. Era a lua dos enamorados.
Cacau
fez a sua mão andar tamborilando os dedos na mureta do cais até encontrar as
mãos da Mel. Deu-se o encontro de mãos, olhos, e, finalmente, seus lábios se
encontraram.
O
Senhor do tempo, com grãos de areia, cobriu-os com o manto do envelhecimento,
visto que o amor dos dois pedia pressa. O pó do tempo não acumulou nos vincos
adquiridos com os anos, pois eles ainda não os tinham. Contudo, os amadureceu o
suficiente para que perdessem suas características de criança. Ele o que tinha
de rapaz, tornando-se homem. Ela o que tinha de moça, tornando-se
mulher. Casaram com urgência, e, logo, tiveram um filho.
A
bola de capotão, por não ter os cordões untados com gordura animal, estava com
alguns gomos descosturados, envelhecida. A bola de gude, devido ao desuso,
permanecia jovem, apesar de algumas trincas. A bicicleta fora azeitada com
bastante óleo, porém, a poeira acumulada no decorrer dos anos lhe dera uma
aparência de abandono precoce.
Dedicados
ao trabalho, Cacau e Mel deixaram de proporcionar ao filho, Fauser, o que a
eles não lhes faltara: a infância. Já seria imperdoável, se somente isso
tivesse feito, porém, fizeram pior. Deixaram de serem pais e delegaram essa
função à babá.
Continua quarta-feira às18hs00min
TEXTO DE ÁGUA E ÓLEO MISTURADOS
AUTORES:
Água: Déia Tolda
Oi, Eder. Agora a história já toma um rumo menos encantado, quando os pais deixam de oferecer ao filho os melhores artigo que se pode: Amor e atenção. Quais serão as consequências dessa negligência? Um abraço!
ResponderExcluirOi Éder
ResponderExcluirEstou adorando o conto, apesar de ter Babá acho que sempre sobra um tempinho para o filho.
Vou esperar o outro capítulo.
Parabéns contista nato.
Beijos
Lua Singular
É linda essa transição a qual passamos e sequer percebemos, de quando deixamos de amar os brinquedos e amamos alguém. E eles casaram, que bom!
ResponderExcluirPenso que me aborrecerei com esse descaso com o menino.
Bora aguardar!
Beijo.
Imagina se os brinquedos tivesem alma de verdade?
ResponderExcluirEssa tua historia está muito interessante!
Olá!Boa noite
ResponderExcluirÉder
Déia
Mel e Cacau, crescendo, trocando amizade pelo amor, casando e tendo um filho...
...os tempos modernos tem gerado através das suas contradições uma série de questões, e o risco de "deixarmos" nossos filhos aos cuidados de uma babá/terceiros, por causa/em virtude da dedicação ao trabalho , é muito grande; pode-se, de fato,como são, educados , mas não conhecerão profundamente os liames que sempre influenciaram as relações entre os pais e os filhos. Agora, só espero que reflitam que Fauser precisa que tenha uma infância feliz, que tenha boas lembranças e muito amor, pois é isso que ele vai lembrar, e não das coisas que teve, ou deixou de ter, o maior aprendizado na infância,e que lembrem se que é mais importante a qualidade do afeto que a quantidade de tempo disponível aos filhos.
Até a próxima página
Agradecido pela visita
Bela semana
Abraços
primeiro quero te dar os parabens pelo lindo cabecalho!! e sim, as pessoas esquecem, infelizmente, ma espero que Fauser apesar de estar com a baba, tenha tbem o amor e a atencao dos pais!!
ResponderExcluirabracos
Eder, interessante transição, assim como os demais amigos, fiquei pensando a respeito do menino e da sua felicidade. Na realidade, muitas vezes, existe negligencia quanto a saude mental das crianças, embora todo mundo saiba o que é certo ou errado.
ResponderExcluirBjs e até breve.
Tornando ao ponto que mais chamou a minha atenção através desta narração- o fato de que é preciso resgatar a inocência da criança e dela também nos deixarmos guiar.Tudo na vida tem um tempo para acontecer e muitos estímulos hoje em dia acabam por fazer precipitar as coisas e a infância no seu sentido mais pleno vai ficando cada vez mais curta.
ResponderExcluirAbraços,aguardando o desfecho,esperando que o agora casal não termine como tantos com uma separação.
Olá!
ResponderExcluirBoa tarde
Éder
e vamuqvamu, té a próxima página
Agradecido
Bela semana
Abraços
Éder, a cada página fico encantada pela maneira como escreves. Parabéns.Bjs
ResponderExcluirHoje vim agradecer sua visita!!
ResponderExcluirDesejar sucesso sempre, e deixar uma frase que gosto muito!!!
A Verdadeira coragem é Ir Atrás De Seus Sonhos Mesmo Quando Todos Dizem Que Ele é Impossível.
( Cora Coralina )
Bjussss eternos!!
└──●► *Rita!!
Com a transição a história toma um novo rumo, quase uma "virada". Aguardando a continuação. Abçsss
ResponderExcluirAgora sim, a minha curiosidade está aguçada, haha. O que será dessa história? Estou à espera dos próximos capítulos.
ResponderExcluirQue dó! Foram crianças, na época certa, até encontrarem o amor. E agora deixam o filho aos cuidados de uma babá. Você ainda não entrou em detalhes, mas presumo que Fauser despertará os brinquedos abandonados e não viverá sem carinho. Abraços.
ResponderExcluirAh! Adorei as fotos do cabeçalho.
OI EDER!
ResponderExcluirO QUE ACONTECE MUITO HOJE EM DIA, ESTOU ADORANDO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Olá, Éder, retomando as leituras. Espero que eles acordem a tempo de enxergar a infância do filho! :)
ResponderExcluirEnfim foi estabelecida a união... e que triste saber que eles não se ligaram que os pequenos prazeres de sua infância seriam grandes prazeres para seu filho agora...
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