Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A família encantada - Última página

- Sabia que você iria entender, Fauser. Sabe, você tem os olhos de seu pai.

- O senhor conhece o meu pai?

- Sim, sim, ele era um rapaz, mais velho do que você, e fizemos esse mesmo passeio juntos. Eu sou o Senhor do Tempo, e vim lhe mostrar que sempre há tempo para consertarmos aquilo que não está funcionando tão bem quanto deveria estar.

Agora, segue de volta para sua casa, filho, mas não se esqueça de levar contigo os três objetos que encontrou na garagem. Ainda se lembra deles?

Apertando a bola de gude com toda força em sua mão, o menino respondeu: Sim, me lembro bem de cada um deles. Posso levar a formiga também?

Essa, já subindo no manto do Senhor do Tempo, deu uma risada e respondeu-lhe assim:

- Meu anjo, mas não percebeu que eu já estou lá dentro de sua casa, junto de você, desde que você era um bebê?

E, brilhando em uma bola de luz, abandonou sua forma pequena e franzina de formiga, e transformou-se em Baba.

O dia já ia alto, e, quando Fauser entrou em casa de mãos dadas com Baba, seus pais pareciam ter sido atropelados por um caminhão.

- Onde você estava? Disse-lhe a mãe, correndo em busca de seu abraço.

- Procuramos em toda a vizinhança por você, Fauser! Chamamos até a polícia! E, caindo a seus pés, seu pai, não segurando a emoção, rompeu em lágrimas.

- Está tudo bem agora, disse-lhes Baba, acalmando aos três. Encontrei-o na garagem, dormindo ao lado desses objetos. Vocês os reconhecem? E, dando um passo ao lado, deixou-os ver a bicicleta grafitada e a bola de capotão.

Cacau e Mel entreolharam-se, e um arrepio subiu-lhes por toda a espinha.

- Meu filho, você estava lá com esses brinquedos? Docemente perguntou-lhe Cacau.

- Foi estranho, meu pai. Eles ganharam vida, falavam entre si. E, depois veio um homem que disse ter lhe conhecido há muito tempo, quando você era criança. E Baba, ela era uma formiga, mas se transformou em gente BEM NA FRENTE DOS MEUS OLHOS.

Nada mais faltava ser dito. Ali, debaixo dos olhos de Cacau e Mel, sua história recontada, através das mãos, sedenta de carinho, de seu filho. Beijaram-lhe a fronte. Disseram-lhe, descanse, meu filho, e foram com ele até o quarto.

Baba a tudo observou, com o sorriso de canto e os olhos rasos de água que lhe eram tão familiares. Cacau deteve-se no corredor em direção aos quartos. Deu meia volta, dirigiu-se à Baba assim:

- Minha amiga formiga, e eu nem por um segundo desconfiei que era você quem o sono e a vida de nosso filho velava! Obrigado, muito obrigado! Diga ao Senhor do tempo que entendemos a mensagem. Não tornará a se repetir, isso eu prometo. Palavra de menino. Dizendo isso, piscou seu olho direito, o mesmo olhar de jabuticaba gigante que Fauser havia herdado de seu pai.

- Meu trabalho se encerra aqui então, rapaz. Voltando à sua forma de formiga, despediu-se do amigo, mas, antes de partir, ainda teve tempo de acrescentar:

- Lembra-se que eram três, e não somente dois, os objetos de sua infância? Seu filho carrega consigo algo de muito precioso, algo que você, ao longo do tempo, esqueceu-se de amar...

Encontrou Fauser adormecido em sua cama. Podia ver o sorriso em seus lábios, ainda tão pequeninos. Ao ajoelhar-se ao lado do filho amado para beijar-lhe a face, como nunca havia tido tempo para fazer, percebeu algo esverdeado na mão esquerda do menino. Esticou sua mão para alcançá-lo, e, seu coração sobressaltou-se quando viu que era sua bola de gude, aquela que havia dado a Mel em honra de seu amor...

O Senhor do tempo, satisfeito com o que viu, esticou seu manto do tempo e provocou a sua passagem. Nem muito rápido, nem muito devagar. No ritmo certo para que muitos aniversários fossem celebrados, muitas conquistas fossem alcançadas, alguns fracassos fossem superados. A tudo o Senhor do tempo tratou com igual cuidado.

Mas agora já não era Fauser a levantar-se da cama, acordado por um barulho diferente vindo do lado de fora da casa. Era Vitor, o neto de Mel e Cacau, que dormira na casa dos avós para que seus pais pudessem sair. Vitor sentia-se o menino mais amado do mundo, pois seus pais e seus avós desdobravam-se em cuidados com ele. Tinha apenas 7 anos, mas a certeza de que era o menino mais amado do mundo.


TEXTO DE ÁGUA E ÓLEO MISTURADOS

AUTORES:


Água: Déia Tolda

Óleo: Eder Ribeiro 

Imagem Getty Images


18 comentários:

  1. Oi Eder,
    Emocionante, ainda bem que no final o amor prevaleceu.
    Meus parabéns
    Você é um excelente contista
    Beijos
    Lua Singular

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  2. que bonita fantasia! Parabéns poeta

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  3. Que história linda e final emocionante.Parabéns e obrigada por compartilhar os teus textos com cada um de nós.Bjs

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  4. Há sempre uma forma de fazer reviver o amor! Nunca é tarde para recomeçar.

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  5. Que linda história, Eder!!!! O que conta mesmo é a palavra de menino deixada pelo pai, promessa essa que jamais seria quebrada... e todos aprenderam a verdadeira lição, o verdadeiro entendimento do que realmente é valioso e importante nessa vida. Meus parabéns, foi um deleite vir aqui ler aos pouquinhos este conto. Um abraço!!

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  6. Ohhh... e o amor vence! Gostei, Éder, uma lição e tanto para nós, sobreviventes, nesse tempo apressado. Um abraço na família toda! :)

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  7. Éder
    Belo final,emocionante...
    puxa,surpresa para mim, Baba era a formiga, ( ou vice versa)
    .... em todo o "curso" do conto, que Cacau,Fauser(agora Vitor)... que as crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, também, por meio do conto, podemos apre(e)nder que está no amor dos mínimos atos a união da própria família ... pais com almas abnegadas, não pensam tanto em si, mas nos filhos, gerados por eles (e muitas vezes há os do coração)...deixemos que vivam o seu tempo, mas não os deixemos sozinhos, sempre com educação, afeto e amor..
    Parabéns!
    Agradeço pelo carinho
    Belos dias!
    Abraços!

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  8. Um final surpreendente tocando o coração dos pais do menino e deixando uma bela lição também para todos os pais da vida real de que o tempo que dedicamos aos nossos filhos é fundamental para tudo na vida deles e nossa também.Grande abraço,aguardo o próximo!

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  9. Olá!
    Boa tarde
    sorry, na anterior, cortei ,sem querer, o nome da Déia, por isso, a parabenizo, também, pelo brilhante conto e parceria ( eu faço meus comments , antes, num bloco de notas, por isso, hehehe, precaução com a queda ,rotineira, de minha net)
    Agradeço pelo carinho
    Belo final de semana
    Abraços

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  10. Que lindo final! Um aprendizado que faz reviver o amor. Vocês merecem parabéns pelo conto. Abraço.

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  11. Que final emocionante e bonito, Eder. Linda e surpreendente história. Muito bom esse desfecho um tanto quanto inusitado. Abraços e bom fim de semana.

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  12. OI EDER!
    UM CONTO PASSANDO UMA LINDA MENSAGEM ONDE O AMOR FOI O COMBUSTÍVEL PARA A FELICIDADE DE TODOS.
    PARABÉNS A TI E A DÉIA PELO BELO CONTO.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  13. Bom dia!!!
    Mesmo sendo uma fantasia, quem sabe o Tempo está
    sempre ao nosso lado.....sabemos que ele existe, mas nem sempre vemos ele passar ...Fántastico!!
    Abraços sempre com carinho

    Bjussss

    . (.") .
    . /█\..└──●► *Rita!!

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  14. Olá!Boa tarde
    Éder
    agradeço pelo carinho, obrigado,belo final de semana!Abraços

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  15. Linda estória meus queridos! Todo esse encantamento com lições preciosas pra todas as idades foi muito bom de ler. É realmente uma pena que o passar do tempo nos tire esse fascínio. Apesar disso é sempre possível reviver nosso lado criança nesses doces momentos de boa leitura, ainda mais quando eles revelam as quatro letrinhas fundamentais em nossas vidas, AMOR.

    PARABÉNS!!! Gr. Bj. Eder e Déia!

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  16. Oi Eder

    Lindo este final, Eder.

    Amor familiar é doce de testemunhar.
    O amor é tudo que uma criança precisa, ´sem ele não há desenvolvimento saudável, não há equilíbrio.

    Beijos

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  17. Ual, que texto bárbaro.
    Criança precisa de amor e carinho com certeza.

    Abraços

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