Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

domingo, 22 de setembro de 2013

O menino encantado - Última página

Ouvindo essas palavras, sua visão ficou turva, o chão começou a girar e perdeu a estabilidade. Perdeu a noção do tempo e, quando deu por si, estava deitado, melhor dizendo, caído, no chão. Abrindo os olhos, pode ver o halo do sol, quase lhe cegando, e cachos acobreados pendendo de um rosto de anjo. Será que estou no céu?

- Cacau? Cacau! Acho que ele está acordando!

A menina riu, puxou seu corpo para deitar sua cabeça em seu colo, e lhe disse assim:

- Você é o Cacau, não é? Minha mãe é muito amiga da sua, e me pediu para vir aqui na sua casa lhe mostrar minha bicicleta nova. Você queria ganhar uma dessas, não é? Vim lhe emprestar a minha, mas, quando vinha passando vi sua bola de capotão cair bem no meio de sua cabeça e você, desabando no chão. Ai, menino, que susto!

- Menino não, corrigiu ele. Rapaz. O meu nome você já sabe. E o seu, posso saber? Ainda tonto, não acreditou quando ouviu o que ele próprio havia dito.

Enrubesceu-se a menina, e respondeu assim:

- Muito prazer, Cacau. O meu nome é Mel...

E foi quando uma bolinha de gude escapou da mão esquerda daquele rapaz, e foi juntar-se à roda, aro 26, de uma certa bicicleta azul coberta de girassóis.


- Oi Vó! O que você está fazendo?

- Oi meu neto! Preparando seu café, ora essa! E rindo, aquela risada gostosa que sempre fora a marca registrada de Mel, continuou a prepará-lo. Vitor, seu avô está lhe preparando uma surpresa, vá lá fora para recebê-la. Vovó já vai logo atrás.

Vitor saiu da casa em direção à garagem, e encontrou um envelhecido Cacau com linha e agulha nas mãos, pelejando com uma antiga bola de capotão.

- Vô! É para mim? Correndo, pulou no colo de Cacau que rapidamente pousou a agulha longe e agradeceu a falta de sono que o fez começar a empreitada muito mais cedo naquele dia. 

- É sim, Vitor! Você gosta de futebol?

- Amo, Vô! Quando eu crescer vou querer ser zagueiro!

- Ah, mas um zagueiro não nasce pronto, precisa de treino. E eu vou lhe contar um segredo: está vendo essa bola aqui? Ela é mágica. Não ria, não estou brincando, não. Existe uma formiga, mas não uma formiga qualquer, uma formiga encantada, que é guardiã de um portal mágico. Essa formiga chama-se Baba, e, se o Senhor do tempo percebe que algo precisa ser concertado, ele envia sua fiel embaixatriz para que, através dessa bola, leve quem dele precisa de ajuda até a sua presença.

Essa bola foi do seu bisavô, que por sua vez a ganhou de seu tataravô.

Olhos arregalados, Vítor encantou-se com a história de bichos, portais e magia que o avô lhe contava.

- E é minha agora, Vô?

- Só se eu puder treinar junto - para garantir que se Baba voltar, terei chance de lhe dar um abraço e agradecer por tudo que ela fez em minha vida...

- Oi pai, oi mãe! Fauser chega com sua esposa, Carolina. O café está pronto, mãe?

- Quase pronto meu amor! Oi Carol! Usou aquele vestido lindo que compramos juntas ontem à noite?

As duas mulheres entram para a cozinha, finalizando os preparativos da mesa lindamente composta para uma refeição considerada banal. Mas, naquele família, nenhum tempo passado juntos era banal.

Fauser reconhece a bola de capotão que Vítor segura em suas mãos, e, com o coração apertado, procura nos olhos do pai a confirmação do que acontecia. Em um sorriso, Cacau entrega ao filho que a mágica estava finalmente passando de mãos.

- Vô, chuta a bola para mim?

- Claro, Vítor. Mel, oh Mel você não disse que havia guardado algo, também, para dar ao Fauser?

Mel e Carol saem da casa, sorrisos, mãos carinhosas. Duas mães em sua plenitude!

Posicionada ao lado de seu grande amor da vida toda, antes de Cacau acertar o chute na bola, Mel sussurra-lhe em seu ouvido: "Menino bobo".

Cacau a olha com a ternura daqueles que muito cedo encontraram o amor de sua vida. Segura-lhe a mão, como fizera na margem do rio a primeira vez que se beijaram.

Mira na bola e acerta o chute. Mas não foi isso que surpreendeu Fauser. No momento que virou-se para exaltar a boa pontaria do pai, que ele teve a honra de poder comprovar nos muitos anos que se sucederam àquela noite encantada com Baba, viu não o senhor a quem tanto amava, mas sim um menino, de não mais de dez anos.

Ao seu lado, uma menina linda, de mãos dadas com ele, anda em direção a Fauser, e lhe rola uma bola de gude toda trincada, mas que, ao chegar em suas mãos, está redonda, polida, como nova.

Saem caminhando, lado a lado, dois jovens, enamorados, com a vida toda pela frente. A observá-los, Baba e o Senhor do tempo. Em sua forma de formiga, agarrada ao manto do Senhor do tempo, Baba pergunta o motivo de remoçá-los.

- Amor igual ao deles tem que ser revivido sempre.

- Mas eles erraram ao abandonar o filho, não se lembra? Se não fossemos nós, a história seria contada tão diferente...

- Formiga, entenda uma coisa, o acerto não advém de pensarmos que estamos acertando, mas se tivermos a humildade de reconhecer que o erro nos proporciona o aprendizado, então, estaremos no caminho certo.

Olhando para trás a formiga piscou o olho esquerdo. Cacau e Mel responderam rindo, certos de que viverão felizes para sempre.

TEXTO DE ÁGUA E ÓLEO MISTURADOS

E a história não termina aqui, não perca A família encantada. Aguardem.



AUTORES:

Água: Déia Tolda

Óleo: Eder Ribeiro 

Imagem Getty Images


18 comentários:

  1. Oi Éder
    Você é muito bom contista, siga em frente, se aprimore mais, pois a essência você já tem que é a aguçada inteligência.
    Parabéns
    Agora você está na minha lista.
    Beijos
    Lua Singular

    ResponderExcluir
  2. E no caminhar desta história, óleo e água se misturaram perfeitamente. Ficou lindo a história, o final. Gostei muito. Parabéns!
    E já no aguardo da próxima.
    beijos

    ResponderExcluir
  3. Éder, eu sempre disse que admiro seu talento para a escrita de histórias de suspense e ação, mas tenho que admitir que me rendi à essa história, uma das mais encantadoras que li nos últimos tempos. Fantástica... esperarei a próxima ansiosa. Deveria investir na publicação de um livro.
    Um abraço aos dois!

    ResponderExcluir
  4. Olá!Boa noite
    Éder
    Déia
    um final encantador e que finalizou com êxito , pois além de ter sido cheio de fantasia, diferente E instigante, teve uma mensagem boa no final, uma moral positiva, penso que é muito importante, POIS quando escolhemos compartilhar conhecimentos, tudo nos leva ao caminho do aprendizado.
    Parabéns!
    Eu adorei e a Bibi ,também!
    Vamos para o próximo!
    sim,fui lá e TOP.
    Agradeço
    Belo início de semana
    Abraços

    ResponderExcluir
  5. mais que amei esta historia! LINDA! continua!!!!!!!!!!!!! sempre contando historias magicas!
    beijos

    ResponderExcluir
  6. Quantas idas e vindas. É a magia, não é? Vou reler, em casa, à noite. Não é um texto fácil e acabei me perdendo um pouco por ter lido aos poucos. Um abraço! :)

    ResponderExcluir
  7. Éder e Déia, parabéns pelo conto. Não sei porque, mas me lembrou o filme Could Atlas. Talvez um pouco pela fantasia, um pouco por falar do tempo. Obrigado Éder pelos comentários e siga adiante, você é um bom cronista. Abraços!

    ResponderExcluir
  8. Oi Eder
    Obrigada pela visita
    Amanhã tem homenagem lá.
    Beijos
    Lua Singular

    ResponderExcluir
  9. Você provou, Eder, que não sabe só escrever tramas de suspense, também sabe escrever tramas doces e tocantes. Adorei o desfecho e que venha a próxima. abç

    ResponderExcluir
  10. Repito: história linda,com um final feliz,deixando uma mensagem positiva para o leitor,vou contar pros meus meninos,
    Abraços e até já para nova leitura com a família encantada!

    ResponderExcluir
  11. Eu estou meio perdida terei que voltar um pouco, mesmo assim a história está indo muito bem! Beijos!

    ResponderExcluir
  12. Missão cumprida, né? O senhor do tempo sabe das coisas e sabe que o que tem pra ser, será...

    Parabéns, senhor escritor.
    Parabéns também à moça que compartilhou contigo dessa viagem à fantasia.
    Beijo!

    ResponderExcluir
  13. Olá!Boa tarde
    Éder
    agradeço pelo carinho
    Belo dia
    Abraços

    ResponderExcluir
  14. Eder, o conto é instigante.
    É preciso voltar a lera um pouco para trás, para poder compreender o enredo.
    Aguardo o seguinte!
    Parabens!

    Bjs

    ResponderExcluir
  15. OI EDER!
    TEUS CONTOS SÃO SEMPRE SURPREENDENTES EU QUE ESTAVA HABITUADA A LEITURAS DE FICÇÃO, TENHO A GRATA SURPRESA DE ACOMPANHAR ESTE, COM UMA LINHA COMPLETAMENTE DIFERENTE E TRAZENDO UMA MENSAGEM LINDA E CONSTRUTIVA.
    TEU TALENTO É INCONTESTÁVEL, HOJE DEIXO OS PARABÉNS TAMBÉM A DÉIA.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  16. Olá, amigo Éder
    Vc escreve muito bem... persevere neste dom com que vc foi abençoado!!!
    Bjs fraternos de paz e bem

    ResponderExcluir
  17. Quanta magia nesse conto lindo! O vai e vem, o tempo, a formiga... mundo onde você nos fez entrar e sentir prazer. A parceria brilhou. Abraço.

    ResponderExcluir
  18. O Senhor do Tempo sempre a dar uma mãozinha para acertar as coisas... Lindo final, família reunida pro cafezinho, magia.. Foi um prazer acompanhar essa fase do menino encantado.

    Bye da Pah
    Livros Estrelas

    ResponderExcluir