Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Vindo à luz - 1ª parte



“Perdoamos uma criança com medo do escuro. A grande tragédia da vida é o homem ter medo da luz – Platão”

     Após o nascimento de sua primeira filha, ele havia sido tomado por uma alegria desmesurada e incontida de tal forma que somente havia uma maneira de extravasá-la, bebendo cerveja. E ele bebeu como se seu corpo estivesse sequioso.
     Prostrado na cadeira com a cabeça e os braços arcados para trás tentando revelar com a mente o que os olhos filmam e não conseguindo por a mesma estar entorpecida, e, também, em razão de o ambiente estar na penumbra devido à luminosidade vindo de fora entrar, somente, pelas frestas do que parecia ser janelas e portas, - sabendo-se que a visão precisa da luz para enxergar tanto quanto o fogo precisa do oxigênio para inflamar – ele, em volta de si cercado por garrafas vazias de cervejas, – não que as tivesse visto, mas sim as sentido com os pés, pois não é apenas com os olhos que se enxerga, porém com todos os sentidos – vê que tudo em volta de si girava, sem discernir se era fruto da sua imaginação devido à embriaguês ou era a realidade nua e crua. Trôpego, tateando a esmo na tentativa de enxergar, ele se encaminha para o que parecia ser uma porta, a ultrapassa e lá fora sente uma luminosidade intensa ofuscando a sua visão, não lhe permitindo enxergar e nem saber se estava sendo visto. A incompreensão lhe invade a alma o deixando confuso, visto que lá fora, no ar, permanecia um aroma de rosas, o ambiente era acolhedor e calmo. Aos poucos, ao discernir cores e formas, ele percebe que tudo, lá fora, é arredondado em cores pastel no tom azul, rosa, creme e uma maior predominância de branco. Sem ver, mas sentindo, algo o puxa para dentro, o prostrando na cadeira. Se não fossem as garrafas vazias e a cadeira, ali dentro não havia formas, a janela não era janela, e nem tampouco a porta era porta; o cheiro do seu corpo que exsudava de medo era o único aroma sentido, se houvesse cores, e não havia, era difícil defini-las. Ali dentro lhe parecia uma passagem, uma intenção de existir, e lá fora o existido, permanente. Se assim fosse, onde estaria o não existido, o impermanente, pensou. Ao esbofetear, levemente, o rosto por estar filosofando, sem ver, mas sentindo, algo ou alguém o puxa para baixo. O seu corpo exsudava, não de medo, mas devido ao calor desumano que fazia ali embaixo, dando um brilho a sua pele, cor e formas aos seus olhos, o descaracterizando, assemelhando-o a uma fera bestial. Ali embaixo, tudo eram rubro-negro, disforme, e o único cheiro que exalava era sulfúreo, o caos, o impermanente, o não existido ali permanecia. As vozes de desespero gritando por socorro eram plausíveis e compreensíveis, - por um momento ele pensou ter ouvido as vozes dos seus três amigos – e antes que sua voz fizesse parte daquele coro que gritava por socorro, ele é trazido de volta. Prostrado na cadeira como se dali nunca tivesse saído, ele sente passos vindos em sua direção, e, sem saber como, começa a enxergar na penumbra. Ele se vê cercado por seis anciões sentados em uma bancada a meia altura, e o mais estranho é que dos seus corpos irradiam uma luz incomum. Seriam extraterrestres, pensou. Sim, se você enxergar a terra fora do todo, respondeu um dos anciões, mas se a vê como parte do todo, somos seres divino, pois cada parte existente é divina. Como? Ele pensou. Quando você se acha importante, você é humano, lhe respondeu um ancião, mas quando você percebe que é o outro que é importante, você deixa de ser humano e passa a ser divino, e se o outro assim, também, lhe perceber vocês se unem, formam o todo, ou seja, atingem a totalidade. Lembre-se, nenhum ser é mau o tempo todo para permanecer mau a vida toda, disse-lhe o terceiro ancião, a bondade advém da praticidade, e ela surge de dentro de si para fora de si, e não o contrário. E o que é aquilo lá fora que eu vi, pensou, a bondade? Cabe a você nos dizer, disse-lhe o quarto ancião. E lá embaixo, eu ouvi vozes de desesperos, vozes que me assustaram, pensou, de quem são? O quinto ancião lhe respondeu igualmente ao quarto. Enfim, ele pensou, o que estou fazendo aqui. É o que queremos saber, diga-nos, por fim disse-lhe o último ancião. Como se eles não soubesse, ele não pensou isso, mas intentou pensar.

Continua.

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16 comentários:

  1. Olá Eder!

    Um conto de uma simplicidade inquietante. Crescer às vezes dói além do que imaginamos...

    E por quê ainda é preciso o caos para que se encontre a luz? É preciso a dor para que as pessoas valorizem aquilo que realmente vale a pena? Essas perguntas podem ser tolas de tão óbvias mas se não fosse assim nada do que viemos fazer aqui teria sentido.
    De texto guardei esse trecho: "Quando você se acha importante, você é humano,(...)mas quando você percebe que é o outro que é importante, você deixa de ser humano e passa a ser divino..."

    Fico no aguardo...

    Beijo carinhoso
    Que seu dia seja de muita paz!

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  2. Gostei do conceito de humanidade e divindade, Eder.

    Quando tem mais?

    Um beijo.

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  3. sou MYRA, como ANONIMO!
    me surprende muito e sempre todo lo que escrives, de tao bom! e bem explicado e escrito!te admiro profundamente, um gde abraço, amigo meu,

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  4. Os ensinamentos deste conto, e o teor filosófico, são muitos. Refletir, reler.

    E nem todo mundo é mau, e nem bom, o tempo todo.

    beijo

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  5. Não são todos que se conseguem este conceito, é bom saber que compartilhas os seus aqui. Abraço.

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  6. "Atingir a totalidade." Que lindo conto... de tirar o fôlego.

    Eder, olhe só! Ontem à noite eu estava voltando com Christian, meu filho, de uma reunião de pais e alunos da escola, e nós dois falávamos de algo parecido - sobre a bondade das pessoas. E hoje leio seu escrito. Quis compartilhar.

    Beijo no coração

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  7. Oi Eder, tudo bem?
    Passei para ler os seus escritos e agradecer a visita.
    Me parece que esse nascimento despertou algo nele... acompanharei para saber o desfecho.
    Um grande beijo

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  8. .

    .

    . o conceito do crescimento . como dito engenhoso que se faz de alguém que no fim será a síntese . antes ainda de ser de novo exórdio .

    .

    . um terno abraço .

    .

    .

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  9. Passando pra deixar um beijo de bom fds.

    =*

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  10. Como é lindo (e dolorido) o crescimento, não é? Amigo, meio ausente dos blogs, por motivos de força maior, vim matar saudades e agradecer a presenl[ça lá em meu cantinho. Bom fds, beijos

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  11. Oi Eder,

    Há muita sabedoria, em tuas palavras.
    Essa possibilidade de irreal, trazendo verdades.

    Mas cá entre nós, que bebida é essa ?!!...rs

    Beijo meu

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  12. ...filosofia pura.

    até sei onde vai terminar isso.

    bjs, alma linda!

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  13. Olá, boa tarde. Passei aqui para desejar uma ótima tarde.

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  14. O que nós estamos fazendo aqui, entre o rubro-negro e os tons pastel?

    Buscando a média talvez, a média entre o não totalmente maus que podemos ser e o não totalmente bons. Acho que conta é a média.

    Um beijo!

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  15. Eder,abraço carinhoso!
    São poucos os que reconhecem a dor como sinonimo de crescimento e evolução pessoal.Suas histórias a mim têm apresentado essa idéia.

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