Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Cuidado com o que pede a Deus, senão adeus

     Diz o dito popular que a curiosidade matou o gato, mas cá pra nós, se não fosse a curiosidade, não a do gato é lógico, mas sim a do homem, hoje estaríamos a cozinhar em forno a lenha, a escrever em pedras e a ler e comer com o lume da candeia, e indo mais longe, repito, se não fosse a curiosidade humana em saber de onde viemos e para onde vamos, a saber, não teríamos descoberto Deus, pois de nós ele há muito tempo sabia, afinal tudo que é havido e tido é por obra dele.
     Nós escritores temos a curiosidade no sangue, pois de onde tiraríamos as personagens senão curiando os outros, afinal escrever é cochichar por palavras a vida dos outros. Outro dito popular diz que quem cochicha o rabo espicha. Como a curiosidade é sempiterna em relação aos outros, quer entre escritores ou não, nunca reparei o quanto espichado se encontra o meu rabo, se ele em mim houver.
     Por isso, nobre leitor, o convido a espichar o pescoço para dar uma curiada em José e Maria que neste exato momento travam um diálogo existencial. Adentramos a casa deles, mais precisamente o seu quarto. Veja caro leitor, Maria está nua, quase em prantos; José está nu, totalmente em prantos, cabisbaixo, a olhar por entre suas pernas, Ele, esmorecido, mole, motivo de suas lágrimas e a das quase de Maria.
     “De que me vale tuas lágrimas José, diz Maria”. As lágrimas não são para tu, mulher, mas sim por Ele, por Ele estar morto, inútil. “Morto estás tu, homem”. Ele pode estar morto, mas eu não, mulher. “Estando Ele morto de nada me vale você vivo”. Como diz, mulher. “Se tu não podes matar minha fome, morta estarei eu, homem”. Então é para isso que te sirvo. “Serve-me também para fazer e guardar as compras, abrir uma garrafa, uma lata; mas de que me vale a comida que me entra pela boca se do outro alimento que aviva a alma, tu não me tens serventia”. Agora minhas lágrimas são pelas tuas palavras, mulher. “Lágrimas, lágrimas...”. Não grite, mulher. Alguém pode ouvir-nos. “Deixe ouvir-nos, quem sabe não estejam passando o que estamos passando”. Se estiverem não ouço gritos. “E eu lágrimas”. O que tu queres que eu faça. “Toma catuaba, coma amendoim...”. Eu já fiz isso. “Então, homem, reza por um milagre”. Que Deus te ouça, que Deus te ouça.
     Nós humanos, incluso o escritor destas linhas, achamos que Deus esteja a resolver os problemas da carne, como se os da alma não o desse tanto trabalho. Se assim ele agisse, cegos enxergariam, aleijados andariam, apesar de que a igreja católica vende o milagre para salvação tanto anímico quanto corpóreo, e hoje, como tudo evolui, são os evangélicos que fazem, por si próprio, o próprio milagre.
     Deixando de lado o adendo que em nada esclarece a história, seguimos curiando e cochichando, posto que não morremos por não sermos gato, e nem o rabo espichará por rabo não termos, ainda que em nossa terra, mulher para ser gata tem que ter um belo rabo, mas isso é outra história.
     Fosse como fosse, lá estava Maria de joelhos a rezar, enquanto José, no banheiro, folheava uma daquelas revistas em que gatas, ou seja, mulheres mostravam os atributos que tão bem é a cara do Brasil, e a Ele elevava quando Ele vivo era. Caro leitor importa mais para nossa história saber se as preces rogadas aos céus por Maria serão atendidas do que a mão-de-obra que José está tendo no banheiro, portanto curíamos Maria.
     “Pai elevadíssimo que estás no céu como na terra, criador de tudo que há, fizeste, por bem, ao criar o macho ter criado a fêmea, posto que tudo é dual. Pai, por isso lhe peço ajuda, faça com que meu marido volta a ser o que era antes, ou seja, fazei com que Ele renasça, porque se assim não for, morta sempre estarei, ou então, Pai, leva-me para a morada eterna”.
     Como não podemos curiar o que Deus faz por ele estar em todos os lugares e ao mesmo tempo em lugar nenhum, por mais paradoxal que seja, ou seja, se ele está, como ao mesmo tempo pode não estar. Para que fique entendido, ele deixa de estar, mesmo estando, quando nós nele não acreditamos. Posto isto, é dito que ele escreve certo por linhas tortas, então curíamos José para ver se as linhas tortas têm a certeza da escrita.
     “Mulher, milagre, Ele está vivo de novo. Graças a Juliana Paes”. Não blasfema, homem. O milagre é de Deus. “Sim, e que barro maravilhoso ele deve ter usado para fazê-la”. Foi minhas preces, tolo homem. Joga a revista fora. Deus pôs as mãos sobre tu, quero dizer, sobre Ele. “Não importa se foi Deus ou a deusa, o que importa é regalarmos”.
     Caros leitores cabem a nós, agora, deitarmos as pálpebras, pois se assim não fizermos, não estaremos mais matando nossa curiosidade, mas sim praticando voyeurismo. Deixamos José fazer uso do ressuscitado e Maria tirar proveito do mesmo, mas se há algum voyeurista entre os meus leitores, que fique à vontade e se apeteça, quanto a mim, eu darei aos olhos o desejo do sonolento, o descanso. Por isso não haverá nenhum relato do regalo dos dois, deixo a cargo da imaginação de cada um.
     Como foi dito que Deus escreve por linhas tortas, e que ele está mais a cuidar dos problemas da alma do que os da carne, o que o levou a ressuscitar o quê morto em José estava. Dito isso, cabe a nós investigarmos. Como já passaram mais de dez horas que José e Maria estão trancados, houve tempo suficiente para que eles regalassem, e como não ouvimos mais gemidos, nem ais e nem uis, abrimos os olhos e voltamos a curiar.
     Lá está Jose, feliz, com Ele ainda hirto após tantas horas de regalo; isso só é humanamente possível devido aos milagres de Deus. No seu rosto permanecia um sorriso brando, tal qual no de Lázaro ao ver o mundo novamente após Jesus tê-lo ressuscitado. No rosto de Maria havia uma serenidade, um contentamento desenfreado, um esticar de lábios de uma orelha a outra, tal qual criança sobre bolas de sorvete, com a boca lambuzada pela massa, a escorrer gelada pelo queixo.
     A história poderia terminar aqui com um final feliz, mas como sabemos que a vida está mais para um drama shakespeariano do que um romance açucarado, vide a história de Jesus, temos de desentortar as linhas para ver o quanto Deus escreve certo.
     Maria, mesmo com a fome saciada, queria mais e mais. A fome como a sede tem de ser controlada, pois o sedento de tanto ir ao cântaro acaba quebrando-o, e o esfomeado empanzinado.
     Ouvem-se, novamente, os gemidos de Maria. Mas os uis e ais agora eram de dor. Uma dor forte no coração. O regalo em demasia, a sede em excesso, a fome desenfreada fez com que Maria fosse ao cântaro, ao prato e a cama sem rédeas, a levando à morte. José chorava, não a morte de Maria, pois com os atributos que ele tinha, muitas Marias haveria de ter. Mas não, o seu choro era por os atributos não mais ter, por Ele morto, novamente, estar. Não houve outra solução para José do que pegar a revista e esperar que Juliana Paes fizesse, novamente, o milagre. Ele fez uso das mãos, para folhear a revista e para tentar dar vida a Ele.

Imagem clique AQUI

16 comentários:

  1. Excelente conto! José e Maria são muito comuns em nossa sexual-sociedade!

    Adoro seu estilo de escritos!

    Abração,

    Rodrigo Davel

    ResponderExcluir
  2. Caracole Éder...assim já é maldade com o pobre...
    Será que el nunca oviu falar do tal azulzinho...acha Playboy...fora que o pobre deve estar com caimbras nas mãos...rs
    melhor ele convocar outras beldades, porque senão Ele acaba enjoando da Juliana e ai não faz efeito...rs
    Um abraço amigo...força para o José...e gelo para a Maria...rs

    ResponderExcluir
  3. Myra a Anonima!
    voce nao acha que Deus tem mais o que fazer?:)))
    que texto!!!!!!!!!!!
    abraços

    ResponderExcluir
  4. Diz-se no meio científico que o que levou à evolução humana, foi aquilo que o difere e o torna único dentre os animais: a criatividade.

    Somos os únicos animais da terra possuidores de criatividade. Aquela que moveu a descoberta do fogo,e move suas mãos na criação de tão genial texto.

    Acho que você evoluiu um pouquinho mais que a espécie, Eder. Está um pouco adiante. (juro que falei com verdade, não é ênfase textual)

    Um beijo!

    ResponderExcluir
  5. Olá pessoa maravilhosa!!!
    Meu boa tarde com muita alegria sempre!!
    O seu texto nos mostra que devemos aumentar a lucidez para o nosso proceso evolutivo, isso é muito bacana, por isso admiro este espaço da sabedoria.
    com carinho
    Hana

    ResponderExcluir
  6. Foi milagre ou... (?)
    Seu contos sempre surpreende e sempre positivamente parabens sempre meu amigo...

    ResponderExcluir
  7. Ahahahahahaha... Amigo Eder... que post maravilhoso, criativissimo, divertidissimo... Bom, muito bom!
    Beijos, flores e meus eternos sorrisos!

    ResponderExcluir
  8. Oi Mano! Fiquei com dó do José! Essa Maria não deu refresco! Sempre criativo, passeando com maestria por todos os gêneros! Uma aula de escrita ler seus textos! Beijocas da mana, Deia.

    ResponderExcluir
  9. Criatividade e irreverência! Gosto do seu jeito de escrever. Bjs.

    ResponderExcluir
  10. Pois é, Eder, e, junto com uma banana, vc pode ganhar um belo abacaxi. Rsrsrs.. amei.

    ...(¨`•.•´¨) Querid[o .(¨`•.•´¨)  
    .`•.¸(¨`•.•´¨) amigo•.¸(¨`•.•´¨)
    .`•.¸.•´   Hj estou passando .•.¸.•´
    ).. .(¨`•.•´¨)( pra deixar este recadinho.
    ).. .(¨`•.•´¨)(In)felizmente
    ).. .(¨`•.•´¨) devolveram-me o
    ).. .(¨`•.•´¨) PÁGINAS DE POESIA
    ).. .(¨`•.•´¨) Meio nu, mas sem vírus
    ).. .(¨`•.•´¨) Estarei te linkando lá, novamente
    ).. .(¨`•.•´¨) em minha lista de favoritos,
    Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ❤✫♥ (◕‿◕)✿ ♥ que havia retirado,
    ).. .(¨`•.•´¨) seguindo orientações.
    (¯`*•.¸εїз¸.•*´¯) E,, como já havia criado o
    (¯`*•.¸εїз¸.•*´¯) “RECOMEÇAR”
    (¯`*•.¸εїз¸.•*´¯) continuarei com ele ativo tb.
    (¯`*•.¸εїз¸.•*´¯) Quem sabe, consigo a façanha
    (¯`*•.¸εїз¸.•*´¯) de manter os dois – nada prometo.
    (¯`*•.¸εїз¸.•*´¯)Obrigada pelo apoio de sempre.
    (¯`*•.¸εїз¸.•*´¯) Beijo imenso de muita saudade
    (¯`*•.¸εїз¸.•*´¯) Milla (¯`*•.¸εїз¸.•*´¯)

    ResponderExcluir
  11. Bom dia Eder,

    Que maravilha esse teu texto!!
    Imaginei ele em cena num palco, ficaria lindo, solto, irreverente e com uma dose na medida certa de santo e profano.
    Parabéns!!

    Beijo meu

    ResponderExcluir
  12. Amigo...quer dizer que nessa época não tinha o azulzinho...rs...bom...amendoin no caboclo...rrs
    Obrigado pela participação lá no Verseiro, carnaval quase sempre terminava em beijo...rs...hoje na maioria das vezes termina em filho...kkkk
    Um abraço na alma...bom fim de semana

    ResponderExcluir
  13. Eder,
    Abraço carinhoso!
    Gosto também do seu lado ousado e despudorado de escrever porque não perde o estilo inteligente e não cai no vulgar.

    ResponderExcluir
  14. Amigo querido!

    Que incrível este conto. Você, como já disse outra vez, possui uma imaginação muuuuito fértil. Que criatividade. O primeiro diálogo entre Maria e José é o máximo. Reparei no uso das maiúsculas...

    "...afinal escrever é cochichar por palavras a vida dos outros." Lindo!

    Beijo

    ResponderExcluir
  15. Me fez rir. Quantas ideias nesta sua cabecinha. hahahaha

    E que trabalho damos a Deus, não é mesmo? Deus quis assim, Deus resolve, Deus tá vendo, Deus é pai...

    Estava conversando com um grupo de adolescentes que tiveram filhos recentemente, e foi tudo porque Deus quis, como se percebe Deus tem trabalhado muito nesta área sexual. hahaha

    Um abraço.

    ResponderExcluir
  16. Oi Eder, através do blog da Van, Retalhos do que sou, cheguei aqui, bem nesse texto indicado por ela.
    Você escreve muito bem, prende a atenção, me fez entrar dentro da história e ver a situação...rsrs.
    Adorei.
    Meus parabéns!

    Abraços.

    ResponderExcluir