Quando a mente humana não percebe a luz que emana de um solo sagrado é porque não sabe mais em que chão pisa.
Aquela mão não lhe dava apenas a proteção, mas também o levava aonde os seus pensamentos permitiam. Aquela mão agora, desprendida da sua, tentava apoiar na parede para desacelerar a velocidade da queda. Aquela mão envolvida no sangue que espargia da cabeça tentava apoiar nele para evitar a queda. Aquela mão não o levaria mais aonde os seus pensamentos permitiriam, aquela mão não lhe daria mais proteção. O policial, com uma arma em uma das mãos, vasculhava o corpo morto em busca de provas para justificar o assassinato que acabara de cometer; não encontrando, ele plantou uma, e saiu passando a outra mão na cabeça do garoto que a rejeitou se desviando. Devido a repulsa, o garoto recebeu uma coronhada no queixo e foi lançado de encontro ao corpo morto do seu pai. Após a morte de seu pai, foi pelas mãos de sua mãe que ele voltou a ter segurança, mas durou pouco. Desgostosa, ela se foi, também, morta pela polícia. Mas foi pela mão, a pior mão, malévola, deseducativa, a mão do estado que ele mais sofreu. Por dois anos o peso desta mão exerceu influências negativas sobre ele o acompanhado até o fim dos seus dias. Aos seis anos, após fugir da FEBEM, o garoto buscou proteção na mão divina, mas o padre o aconselhou a procurar um abrigo governamental. Não se pode esperar muito da mão divina quando para se chegar a ela precisa da mão humana. Sem ter a quem pedir ajuda, o garoto enveredou por um caminho sem volta, o do tráfico. Mais do que mão, o tráfico foi braços, pernas, corpo, e, principalmente, mente. Com seis anos, o sofrimento lhe tirou qualquer capacidade de discernir o certo do errado. Ele foi alimentado pelo desejo de vingança, e pela mão que comia, a vingança era um prato cheio.
Trêmulo, o garoto não conseguia mirar em um dos policiais que se encaminhava para a igreja, os seus pensamentos presos ao passado não permitiam. Seus pais mortos pela polícia, os maus tratos na FEBEM, a rejeição do padre eram dores incuráveis, mas que precisavam de alívio. Ele se refez e se encaminhou para a igreja.
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