Segunda-feira. Não há coisa pior do que se sentir com cara de segunda. Feira, fui a balada como quem vai a feira, não comi nenhuma fruta, não achei nenhuma verdura. Duro é, para uma mulher que se acha carne de primeira, sair da balada como se fosse de segunda. Sexta só alegria, estojo de maquilagem em uso, no guarda-roupa o melhor vestido para sair, salto alto para se montar e bolsa a tiracolo para dar condições de se libertar, assim eu fui para o abatedouro. Abatida voltei por não ter uma caça e nem sair com um caçador. Dor de sábado, na aba do domingo indo fui à segunda e cheguei remoendo fel. Papel de rascunho amarrotado após o uso, sem serventia no cesto, sexta, foi esse o papel que me coube, de rascunho, e pior de tudo, nem usada fui. Fui com cara de segunda.
Tomei meu banho sem olhar no espelho. O desprezo cria monstros, olheiras, cabelos brancos, varizes, espinhas, celulites e estrias. Passei o meu Dove despretensiosamente para não fazer uso das mãos. Lavei novamente o rosto e fui ao trabalho sem perceber que havia me esquecido de passar a maquilagem, nem o batom vermelho escarlate eu passei. Realmente estava com cara de segunda. Deixei o Picasso em casa e fui de transporte público. Não há inferno pior para uma mulher de meia idade do que não ser desejada. No metrô, nenhum olhar faminto masculino para mim, nenhum olhar invejoso feminino também. Porém, morar nos centros urbanos tem as suas vantagens, principalmente quando se passa por um canteiro de obra.
Eu não ouvi o martelo tilintar na cabeça do prego, o serrote sangrar a madeira, a britadeira misturar a massa e nem tampouco o bate estaca fincar o concreto armado no chão, porém, o assovio seguido da palavra gostosa entrou nos meus ouvidos levantando o meu ânimo. Olhei para a figura que havia ousado tanto e se não tivesse um pouco de pudor, eu teria me atirado aos seus braços sujos de cimento e misturado o meu Dolce e Gabbana ao suor do seu trabalho. Contudo, eu saí dali tomada pela felicidade. Esperarei, novamente, a sexta-alegria.
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Sabe, eu curto segunda-feira. Dia bom para sair, beber, conversar e até namorar. A cidade esta mais silenciosa e as pessoas que circulam por ela nesse dia são mais articuladas.
ResponderExcluirGost.
Quando se está carente...precisa-se com urgência de uma mão pelo ego...Gostei muito do texto, realista e bem engendrado.
ResponderExcluirO meu afecto.
Ainda bem que sempre tem alguém para salvar a semana.
ResponderExcluirDelicia de texto como sempre.
beijos
Excelente post. Gostei muito e pensei em quantas vezes nos sentimos como em uma segunda-feira. Um rascunho sem uso, sem escrita, mas sempre vem alguém para nos lembrar que a vida vale a pena sempre e que o que é nosso está guardado.
ResponderExcluirUm beijo
Que delícia de texto!!! Eu aposto que não faltaram "olhares famintos", atraídos também pelo "cheiro" de Mulher! Eles ficaram pelo caminho, despercebidos na pressa de recomeçar a semana. Aliás, a cara de segunda resulta das escolhas, talvez porque a quarta, a quinta ou a sexta não foram escolhidas... a ousadia descansou... E quem sabe, até mesmo o domingo foi ignorado?! rsrsrs
ResponderExcluirMeu carinho,Samaryna!
O universo feminino é uma caixinha de surpresas... Um dia amenhecemos caça e no outro caçadoras de emoções.
ResponderExcluirAdorei o texto! Alías gosto muito de tudo que você tão bem literalmente nos envolve!
Um abraço carinhoso
Oi amiga...ahh...meu comntário vai ser um poema..rsrs
ResponderExcluirHoje é véspera de terça-feira
Ao chegar de ontem
optei por acordar de olhos fechados
é que ando querendo
permanecer sono por mais um dia
não que seja por preguiça
ou por total falta de alegria
é que sei lá, deu um tanto de vazio
um tanto de nem sei
na verdade eu não mais lembrava
que hoje era dia de não descansar
perdi o quadrante das horas
e acabei me abraçando aos fins de semana
ao me desfazer dos calendários
puxa vida! bem que hoje podia ser véspera de sábado
ou quem dera véspera de uma suposta quarta-feira de cinzas
mas, infelizmente não é...
dia impronunciável, indelegável
quase interminável, prefiro dizer
hoje é véspera de terça-feira
mas, passa rápido, o sorriso é valente...rs
e ainda por cima teimoso...
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ResponderExcluirMuito bom! A carência é terrível...
Gosto demais dos seus textos, amigo!
Beijos de luz e o meu carinho!!!
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Vou lendo o texto e me divido, entre observar a forma de escrever, o jogo com as palavras, o desenvolvimeto da ideia, sempre criativa, e muitas vezes me trazendo lembranças e realidade.
ResponderExcluirE é nisso que me divido, e sorrio. Lembrei de uma amiga que quando saímos para dançar ela diz que se sente num açougue, os homens com o copo de bebiba na mão, a obsevar, e ela carne pendurada a ser escolhida. Não sabe ela que já somos carne de segunda, mesmo numa sexta ou sábado - feira de carne. (Essa vou contar para ela na próxima saída. rsrs)
O ruim é quando não estamos escutando nem assobio de homem sujo de cimento. Valha-me Deus!!! rsrs
beijo
Voltei, ainda sorrindo. Vou trabalhar e volto correndo. rsrs Se eu soubesse escrever assim escreveria muitas crônicas do que passo e escuto nas danças. Um dia tento.
ResponderExcluirE o tempo está nublando, mas estou sorrindo.
abraço
Seu jeito peculiar de escrever, sempre nos leva a reflexões. A carência sempre nos atinge, uma hora ou outra, porém, não devemos deixar que isso abale a nossa estrutura (que está longe de ser frágil). Nada como um dia após o outro, a mulher tem mil recursos e muitas cartas na manga, sempre. Desesperar, jamais...Muitos beijos e assovios pra vc !!!
ResponderExcluirNão sei se o dia é importante,porque vivi muito tempo numa cidade em que pra curtir há opção de segunda a segunda,mas o que importa mesmo é a conotação interior que se dá quando se tem vontade de conquistar. Seus textos como sempre nos permitem uma variada interpretação,abraços daqui!
ResponderExcluirhahaha
ResponderExcluireu adorei. Amo seus contos. O toque de humor sempre presente.
Que seriam das mulheres se não fossem os canteiros de obras rsrs
Beijos!
Sem dúvidas um texto que nos leva a reflexoes...
ResponderExcluirMas importante é nos amarmos!
Beijos,
Samaryna, perdoe a demora!
ResponderExcluirOlhe, eu adoro seus textos. Você faz poesia com o que nos acontece no dia-a-dia e isto me encanta. E eu me identifico muito com o que escreves, amiga. E sim, a segunda feira... Mas ela nos trará a sexta-alegria novamente. Beijo