Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

segunda-feira, 14 de março de 2011

Estação verão


Amor fácil não dura mais do que uma estação, e este não durou um verão. O verão nos permite pouca roupa para nos mostrarmos, desde que não nos tornamos vulgar. A natureza foi benigna comigo, o que em mim excede, a maioria das mulheres buscam em clínicas, e por mais silicones que injetam, o homem ao tocá-las tem a sensação de estar apalpando uma "amoeba". Comigo não, a sensação não é artificial.

Quando uma mulher sai de vermelho tendo a sensualidade como vestido é para abater. Havia um mês que eu não pegava ninguém. Eu saí de vermelho e o mundo estava em lençóis, precisava urgentemente de uma cama. Sabe a sensação que você tem de não estar no lugar certo, eu tive quando fui para essa balada. Todos os homens ali presentes pareciam ter decorado frases de placa de caminhão. Não estavam tentando me conquistar, mas ofendendo a minha inteligência. Contudo, a fome de comer era maior do que a vontade de rejeitar o prato. E eu estava de vermelho tendo a necessidade como vestido. Quando o cara mais descolado da festa me falou que queria ser um touro para correr atrás de mim, eu fiquei imaginando sua mãe como vaca e me rachei de rir. Pior foi outro dizer que eu era a última bolacha recheada do pacote, aí é demais. Teve um idiota que me disse que eu era a nora que sua mãe havia sonhado, então, eu lhe medir dos pés a cabeça com os olhos e lhe perguntei se ele não estava muito grande para agradar a mamãe. E assim foi a noite toda. Quando estava indo embora, alguém me puxou pelo braço, disse-me que me reparou durante toda a noite e havia preparado um discurso para me conquistar, mas agora somente lhe vinha à cabeça frases de placa de caminhão, por isso se calaria para me admirar. E eu estava de vermelho e ele se vestia de uísque. Desnudei-me de todas as vestes para ser coberta de prazer. Foi o mais tórrido amor de verão. Na última noite da estação, eu saí da sua casa com o meu vestido preto, somente. Deixe minhas peças íntimas como souvenir. No verão o olfato se torna mais aguçado, deixei-o cheirando as peças e nunca mais o vi. Na rua, eu tive a sensação do vento outonal. Estava vestida de felicidade...


Imagem: www.gettyimages.com

9 comentários:

  1. Tão real os seus contos. Este conto estava ótimo para um bate papo, e eu iria lembrar as cantadas horrorosas que já ouvi. Não que eu tenha saído de vermelho para matar, muito pelo contrário. rsrs

    Estou gostando destes contos escritos de forma leve e com humor, mas com a seriedade que incluem críticas, avaliações, reflexões.

    abraço

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  2. Que delícia, menina!
    Que cheiro!
    Mesmo que distante ele insiste em me contaminar e
    mesmo que eu não tenha cheirado, imagino e sinto.

    Bjs.

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  3. A dizer que vermelho é uma das cores que mais gosto.Mas,seu conto é belo demais,cheio de graça e com o justo humor e ironia de uma pessoa inteligente,parabéns!

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  4. Delicioso te ler, engraçado, inteligente, bem construído. Seu conto dá imensa sensação de liberdade e autoconfiança (ai essa reforma me mata, é com hífen ou sem hifen agora?.

    Adorei!

    Beijos!

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  5. Oi Samaryna...essas cantadas são mesmo terríveis...rsrs...engraçado é que são tão rpetidas, batidas e mesmo assim os engraçadinhos de plantão usam e abusam dessas frases
    Bom humor ´fundamental...seus contos de alguma forma sempr tem uma pitadinha dele...
    Arrebentou no final...vestir-se de felicidade não é se sentir como a ultima bolacha do pacote...rsrs...é sim...sentir-se como o próprio pacote...inteira, realizada...
    Um abraço na alma
    Beijo

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  6. Estar vestida de felicidade não é pra qualquer uma! Saio maravilhada com o sabor gostoso das tuas palavras neste conto. Bjs.

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  7. Samaryna, que bom voltar aqui... Ah, mas que adorável crônica. Há um humor aguçado em suas linhas. Muito bom, menina. Gostei também das respostas na ponta da língua. Numa crônica isto é mais fácil do que na realidade - para mim - pois sou a maior faísca atrasada. Bom, e no final, deixar as roupas íntimas e estar vestida de felicidade... Que poético. Beijo, amiga.

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  8. Samaryna, agradeço a sua presença querida no meu blog. Estou lhe acompanhando também. Um grande beijo no seu coração, bom dia :)

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  9. _______________________________________


    Gostei! Um jeito direto de escrever, que não caiu no vulgar... Muito bom!

    Beijos de luz e o meu carinho...

    Zélia (Mundo Azul)
    _________________________________

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