Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Uma breve historieta sobre uma vida brega


   Eu tenho uma casa e tristezas, não apenas as dos solitários, mas também, as dos desesperados. E rio dissabores para logo em seguida preencher o meu rosto com rios de desgostos.
   Não sinto mais o cheiro do seu corpo sobre a minha pele. O odor de cebola e alho intricado nas minhas digitais encobre qualquer possibilidade de outro aroma, seja da Avon ou do Boticário. O cheiro de álcool que dos seus poros evola, juntamente com o seu hálito amanhecido, fere mais do que o corte que o machado faz na árvore, se as dores são iguais, os aromas diferem.
   Os caminhos que seus amigos de bar lhe ensinam não são trilhas fáceis de seguir, você ziguezagueia perdido e quando encontra o caminho de casa, ao entrar, sou eu que me perco de mim. Nossos gritos não abafam o romantismo cantado por Amado Batista, estridente, saído da caixa de som do carro estacionado na garagem do vizinho. E eu insisto nesse modus operandi brega, cozinhando os meus remorsos no coração enquanto a panela no fogo coze ossos com filetes de carne. Nos meus cabelos permanece o aroma do mal cozido, engordurando-os. E isso não é um retrato de uma vida brega, cuja trilha é de um cantor que ninguém conhece, Bartô Galeno, mas um álbum completo.
   Enquanto você pula de bar em bar atrás de bebidas e amigos, eu me planto no sofá mudando o canal da TV em busca de refúgio para uma diversão esquecida num futuro não concreto. Não aguento mais o riso fácil do Silvio Santos, a verborragia do Faustão e nem a insinceridade do Gugu, pois sei que na semana me cansarei das receitas da Ana Maria Braga. Se ao menos eu pudesse participar do Big Brother, não pelo prêmio, queria ser desejada sem nenhum pudor. E nem sonho mais os sonhos das mocinhas de novela, pois os mocinhos perambulam entre o bem e o mal, até a ficção é mais real que a vida.
   E pensar que, no início do namoro, nossas tardes no coreto, rodeados por crisântemos e tantas outras flores, ouvíamos a banda tocar Fernando Mendes, Odair José e Wando, enquanto você declamava poesias decoradas de algum folhetim com promessas de amor perfeito.
   Quantas noites enluaradas, deitados na grama, você desenhou com os dedos uma constelação de estrelas com promessas de não se esquecer de mim. Hoje minhas noites é para velar tua sonolência alcoólica. Sem céu, nem a possibilidade de vislumbrar uma felicidade tomando forma nas nuvens eu tenho; sem chão, os meus pés não têm a possibilidade de bailar; sem par, ponho-me a ouvir Waldick Soriano cantar "eu não sou cachorro não". Não, é a vida que é.

Foi AQUI que me inspirei para a feitura do texto. 

Recomendo clicar no nomes dos artistas, ouça no you tube e enriqueça a sua cultura, afinal, ser brega é chique.

Imagem clique AQUI

12 comentários:

  1. Oi, Eder. Não há diferença entre o brega e o chique para o amor. É um sentimento nobre por natureza, não importa se embalado por uma sinfonia ou por Amado Batista. Triste, mesmo, é a saudade que fica depois da partida. Adorei seu texto, um abraço!

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  2. uma perfeita descrição de uma vida comum, não brega. lembrei de Chico Buarque que retrata tão bem e poeticamente tipos comuns, que afinal são os que compõem a maioria do nosso povo.
    beijos

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  3. AH!!Eder...VC É DEMAIS... ADOREI...SUA BREGUISE...O prazer tem algo de cafona:
    de comprar jornal de domingo de
    chinelo de couro;
    de andar de camiseta de
    umbigo de fora;
    de declarar amor dizendo :
    eu te escolhi, tu me escolheu ?;
    de pôr cadeira na calçada
    para papear, para ver o mundo

    que passa, para calçadar
    o sonho, que a rua
    é minha praça,
    que o mundo é
    meu lugar.
    Cafonas do mundo
    me aceitem,
    tô cansado de impostar.

    Por Jorge Forbes
    BJS LINDO.

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  4. A música sempre fez parte da minha vida...
    E acho que o mais importante é ela nos tocar a alma...
    Se faz isso... Pouco importa se é clássica, rock ou brega... Ela nos leva a ter uma sintonia maior com as emoções e isso é o que vale!
    Adorei a postagem!

    Um beijo carinhoso para você!

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  5. a musica é uma coisa que precisamos muito... eu preciso do ritmo latinoamericano e das cançoes napolitanas, principalmente!
    bjs

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  6. Eder,

    é incrível como uma gota vira oceano quando desenvolvida por você.

    O texto ficou maravilhoso! Sua inspiração é maravilhosa!

    Dos cantores que você postou conheço bem quase todos, só não conhecia o Bartô Galeno e o Fernando Mendes, a música dele sim conheço com Caetano e acho linda.

    Um beijo grande, querido!

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  7. Eder, estou sorrindo. Fui ao banheiro aqui no trabalho e voltei cantando, "ele voltou, o bôemio voltou novamente..." e fiquei repetindo a música, e estou escutando Nelson Rodrigues....e eu adoro Wando,Odair José, e já ouvi Bartô Galeno...eu sou brega. kkkk

    Um texto que traz a realidade de muitas mulheres, de muitos casais, de sonhos, de dores, da bebiba, do não amor...assitir este time (Silvio Santos, Faustão, Gugu) num domingo é suicídio na certa. kkkk É por isso que é melhor ficar lendo blogs.

    Vou ouvir as músicas. Senti falta de um link no texto de Dauri para ouvir uma música lá, e aqui agora é para eu passar o dia. kkkk

    Um abração

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  8. OLá Eder...boas lembranças...rsrs...
    A Patricia Pilar se não me engano estava fazendo uma pesquisa sobre o Waldick, a idéia era fazer um filme sobre a vida dele e também mostrr o acervo musical da tantas músicas que não cairam na boca do povo...tipo um documentário...confesso que nem sei se oi filme saiu ou não...fora isso você mais uma vez conseguiu imprimir ritmo a sua escrita...Odair José era o bicho...rsrs...
    Gostei do palhaço lá no Verseiro...rs
    Um grande abraço e olha o livro hein...rs

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  9. Paixão tem a ver com breguice mesmo!! Faz parte, senão não é uma paixão de verdade... Eu adoro!! rs
    Texto delicioso, parabéns!!
    Bj
    Helô

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  10. A música faz história, tem aquelas q marcam época, aquelas q são discriminadas e aquelas letras q jamais deveriam estar ocupando nossos ouvidos. A música considerada brega é cheia de poesia. Tenha dias abençoados. Bjs

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  11. Oi Eder...
    Não diria uma vida brega...e sim vida que muitos vivem em qualquer lugar do mundo...e na maioria das vezes familia de renda baixa...São vidas comuns e como você diz ser Brega é ser chique vou lá conferir ...
    Ótimo Final de Semana!
    Beijos!
    San...

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  12. finalmente aqui, e obrigada por ter posto uma imagem minha!
    um gde beijos

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