Eu estou entre os quarenta e o vazio. Solteira. Emaranhada a solidão e a fantasia em interlúdios de uma dor intermitente. Procuro por mãos que me dêem carinho, minto, busco amor e sexo, não necessariamente nessa ordem. Ao não encontrá-las, deixo as minhas se perderem por entre as minhas virilhas. Após o gozo, rios de lágrimas preenchem o meu rosto afogando-me no vazio. Solidão é dor que não se mata sozinha, nem em multidão, acostuma-se a ela sem nunca alcançar a cura. Eu não me acostumei a minha.
Ainda recolho as meias sobre o chão que eu mesmo jogo para ter lembranças suas. Deixo as latinhas de cervejas misturadas com as sobras do jantar. As azeitonas comidas entre as não comidas, ainda guardo no pires da xícara de chá. Eu o tenho tão perto com esses seus hábitos pululando em minha memória. O lençol desalinhado sobre os travesseiros dá-me a impressão de que, se puxá-lo, encontrarei você; porém, o que me vem ao rosto é o cheiro de roupa de cama após o sexo, então me dou aos travesseiros cavalgando-os e o sinto dentro de mim.
A luz acessa do banheiro, o no break do computador ligado, o notebook sobre o sofá, deixo-os como você os deixava. Até comprei um sapato vinho - a sua cor preferida - e o deixo esquecido próximo da mesinha de centro da sala de estar. A pior companhia para uma solitária é a ilusão.
Lembro-me da sua insistência para que eu entendesse a série Jornada nas estrelas, lesse James Joice e comesse morango com catchup, para mim, três coisas incompreensíveis. Engraçado, hoje, eu entendo até o cumprimento do vulcano Dr. Spock.
A solidão é uma casa iluminada que não apaga de nós o foco escuro que nos encontramos. Em mim, há uma centelha a espera do pavio para a queima. Eu me encontro entre os quarentas e o vazio, sozinha e escura.
Quando se olha para trás, ao invés de nos ensinar, faz com que desejamos repetir toda a experiência, é sintoma de ingenuidade, ou então, imaturidade. Todas as portas, não importa, fechadas ou não, as tenho como abertas, aí me vem a pergunta: "Por que não as fechou?". Ao sair para sempre da minha vida, você deixou entrar a dor, ela instalou em mim fazendo-me sua moradia. Dizem que o sofrimento serve para nos ensinar, sou uma péssima aluna.
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Eder, eu digo, entre os cinquenta e o vazio e assim me coloco um pouco dentro de sua crônica.
ResponderExcluirTenho essa sensação, ingenuidade ou imaturidade, quando olho pro meu passado...ainda não a sei definir bem, mas um desejo de reviver emoções, mesmo sabendo que elas me deixaram na solidão.
Beijos de um lindo dia.
A dificuldade que o ser humano tem em viver A solidão, na realidade não é em solidão, é viver consigo mesmo. Quando nós não estamos com nossa vida cheia de coisas para fazer, a gente acaba tendo de ficar com a gente mesmo.Confundimos os desejos da alma com os desejos do corpo.
ResponderExcluirEstamos aqui para evoluir em nosso nível de consciência.E o vazio existencial tornou-se, na
contemporaneidade, um desafio para o homem. Na ânsia de não senti-lo, o ser humano busca
no consumismo, no individualismo e na falta de limites os ensejos para seu tamponamento
As mulheres que buscam preencher as bases com vento saem de seus relacionamentos frustrados,e se perdem na escuridão. Escuridão porque fecham seus olhos para a solução real do problema se completam com revolta, fazem de tudo para chamar a atenção, destroem sua imagem, se afundam nas bebidas e se perdem em um ciclo de baladas e festas insaciáveis, ai quando acham que encontraram alguém, continuam vazias e solitárias, e mais uma frustração acontece.
e ACABAM ENTRANDO NUM CIRCULO VICIOSO...A
Psicologia proporciona um verdadeiro mergulho na sua essência, possibilitando-o entender-se e aceitar-se tal como verdadeiramente é.
Um lindo dia pra ti.
Eder teu texto, tenho certeza, condiz com a realidade de muitas mulheres e homens também.
ResponderExcluirEu passei por um momento assim quando fiquei "órfã" do meu marido, mas superei esse "estar só" e para ser sincera hoje eu adoro ser dona da minha solidão que não tem nada de vazio, o que muitos chamam de solidão eu chamo de sossego, independência, liberdade acima de tudo, gosto, adoro ser assim..rs. Coisas da vida, me foram impostas e eu não quis mudar, esta bom assim.
Nossa olha eu falando de mim..rs
O teu texto está ótimo, sou tua fã.
Beijo meu
Depois volto para ler com mais calma e comentar. Nesta primeira leitura, achei gostei muito de algumas detalhes, de alguns trechos...mas fiquei lembrando de um texto que escrevi numa das vezes que estávamos escrevendo uns textos juntos, e o texto chama-se Entre a verdade e a dúvida. E escrevi o personagem masculino, falando da mulher foi embora...
ResponderExcluirVolto!! beijo
Incrível seu texto!
ResponderExcluirMe lembrou a música "22" da Lily Allen, procura ela para você escutar.
Ficou perfeito! Parabéns!
http://contosdouniversoparalelo.blogspot.com
pois acho que ador nao ensina nada...cada vez que acontece outra ou outra dor, é sempre a mesma dor!
ResponderExcluirabraço
Ui! Bem assim que é.. acho que os homens bacanas estão em extinção. Sei que eles existem, mas poucos. E mulheres são muitas nessa solidão, mas acho que somos nós mulheres que os desejamos assim, muitas delas. E agora temos os gays... nada contra eles, mas o que sobra para as mulheres? Ai, ai... tem que aprender a se dar valor antes de tudo e depois procurar dar valor para as coisas que importam. Tem muita mulher jogando homem bom ao relento e muitas se doando a quam não merece. Tenho uma irmã que casou-se aos 40, não por falta de oportunidades, mas porque ela sempre gostou dos errados. O cara bacana, para ela era o bobo. Preferia os espertos, os descolados... e depois dos 40 reolveu amarrar o jegue com um desses. Bem... durou 3 anos. Acho que ela nasceu para ser só. Não adianta querer compreender e se doar para os que não desejam isso. Talvez para esse tipo, ela seja a boba.
ResponderExcluirOi Eder,
ResponderExcluiracho incrível que alguém deixe a sua vida tão atrelada ao outro assim. A dor da perda não pode exceder a perda, nem apenas a falta do outro, mas nestes casos parece-me a falta de si mesma e não só do outro.
Um beijo
Eder, passando pra deixar minhas saudações diante do feriadão que começa aqui.Estarei fora do ar até semana que vem.Tudo de bom pra você e os seus!
ResponderExcluirSobre essa crise dos 'Enta'parece comum em muitas mulheres,mas para haver solidão ou sensação de vazio interior não sei se a idade seja o único fator que influencie.Hoje com todos os recursos multimediais não é difícil encontrar companhia,talvez não a ideal,mas quem disse que esta exista na realidade?!
Até +++!
Oi Eder!
ResponderExcluirEstou prá lá dos 40... Espero honestamente não encontrar esse vazio. Concordo com a Van!
Uma sexta maravilhosa p/ vcs! (vc tem uma família lindona!)
existem mulheres que se demoram em cultivar o passado, mas como dizem: a fila anda. ainda que só, qualquer pessoa, homem ou mulher, pode viver muito bem desde que na solidão se sintam bem acompanhados.
ResponderExcluirbeijos
Amigo Éder,
ResponderExcluir"A solidão é uma casa iluminada que não apaga de nós o foco escuro que nos encontramos." - ou que nos permitimos, acrescentaria.
Viver a solidão como uma escolha pessoal é um fato mas condicionar o "estar" sozinho pela ausência do outro pode ser muito arriscado. A felicidade ou a clausura depende unicamente das nossas escolhas.
Muito bom texto, Éder!
Um grande abraço
Tenha um abençoado final de semana!
Deus seja contigo
Amigão,
ResponderExcluirCreio que todos nós (quarentões) passamos por essa angústia que é sentir a solidão dentro do peito (que foi que fiz da minha vida até agora?).
Para mim, existem várias formas de separação: quando o(a) parceiro(a) morre, quando nos ignora e ficamos invisíveis, quando ignoramos nosso(a) parceiro(a) e quando separamos de verdade. Creio que todas essas formas de separação, são tristes e causam muitas dores...
Daí: "...levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima..."
Abraços :)
...Eder menino querido,
ResponderExcluireu acho que ficamos reféns da solidão
quando vinculamos nossa existência
ao outro que não é senão um mero
caminhante da estrada junto
a nós.
a partir do momento que entendemos este
estado de solitude,
o outro passa a ser para nós,
a soma e não a divisão.
acho que me fiz entender...rsrs
bjuuuuuuuuuuuuu
Estou meio solitário por opção estes dias a Família viajou e eu fiquei sozinho por aqui! Então estou aproveitando para curtir e atualizar um pouquinho as visitas linda Crõnica até o fundo musical da Takai ajudou!
ResponderExcluirUm abraço e ótimo Carnaval ou Feriado!
Tudo que vivenciamos nos traz algum aprendizado...
ResponderExcluirPodemos não enxergá-lo logo de cara,mas com o passar do tempo percebemos a lição.
Abraços