Ninguém havia me falado qual era a linha
que separava o sonho da realidade, porém, quando atravessei essa linha não
estava preparado para sair de uma e entrar na outra.
Meu
pai foi um grande fabricador de sonhos, aprendera com o meu avô a arte de
fabricar barcos e navegá-los pelos rios Grande, São Francisco e Preto transportando
mercadorias, contudo, foi quando aprendeu a arte da panificação que os sonhos
se realizaram.
Vivíamos na casa dos sonhos, enorme, ia de uma rua a outra. Na Rua Desembargador Montenegro ficava a
entrada da casa e na Rua paralela, Sete de Setembro, ficava a entrada da
fábrica de sonhos, a panificadora do meu pai. E existia um corredor enorme que
ligava a casa a fabrica, aquele corredor, cujos rastros, meu e de meu pai,
passados quarenta anos, ainda devem permanecer nele se ele ainda existir. São passos indo,
primeiro do meu pai, na madrugada, para a fábrica e
depois os meus seguindo-o para em seguida só os dele, pois ele me pegava no
colo e me colocava na rede, armada com esse intuito, no salão da fábrica.
Tentando driblar o sono, eu via uma névoa branca provocada pelo trigo cobri-lo na feitura da massa
do pão e, antes de homem-aranha, super-homem e batman, ele se transformou em
meu super-herói. Os passos de volta eram somente dele, pois eu ia dormindo em seu
colo. Enquanto a massa do pão descansava para a fermentação, seu corpo
descansava também para se preparar para a segunda etapa de sua lida. Amanhecia,
e dessa vez, íamos de mãos dadas para fábrica. As suas mãos amassavam a massa,
cortavam-na e enrolavam-na para o ultimo descanso e, enfim, ir ao forno à
lenha, enquanto as minhas esperava a assadura da massa para prover do bom
alimento.
As
mãos, aquelas mãos, que tão bem sabiam fazer o pão, abriram as portas de nossa
casa para a parentela estudar na melhor escola de nossa cidade. Aquelas mãos,
que tão bem deram o pão ao corpo, deram os livros para deleite da alma, sem nem mesmo conhecerem bem as letras.
Aquelas mãos, benditas mãos, com o suor de sua lida construíram um quarto acima
do telhado de nossa casa e o encheram de livros e revistas. Era lá que meu pai
descansava após a lida na madrugada enquanto eu atendia os freguês na padaria durante a manhã.
Foram doze anos que ele tentou me ensinar a fabricar sonhos, porém, um sonho
maior fez com que ele saísse do interior da Bahia e fosse tentar a sorte em
Brasília com toda a família, mas isso é uma outra história.
Aquele
quarto era o meu esconderijo quando voltava da escola, e, ali,
folheando as revistas, se não me engano, sétimo céu e contigo, deixei de ser
menino e passei a ser rapaz e deixei de ser rapaz e passei a ser homem com as mesmas mãos que folheavam as revistas.
Saí daquele pequeno mundo aos doze anos para conhecer a cidade grande e não
aprendi a fabricar sonhos.
Bem,
vou deixar as reminiscências de lado, pois Marina me chama. Quem é Marina? A
personagem do meu livro, Insondáveis pecados. Ela pede ajuda para ser salva das
garras do seu pai que a assedia. E ela esta no quarto, não naquele quarto, mas
em outro. Ela está me ajudando a construir um sonho.
Obrigado grande fabricador de sonhos, de ti herdei o valor à família.
Imagem Getty Images
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O bom de viver é esse: Os momentos que nos trazem alegrias e inspiração!
ResponderExcluirLegal o teu blog Eder!
Seguindo...
http://www.marciorgotland.com
Oi Eder
ResponderExcluirEu construí sonhos que se desmancharam com a morte, renasci para uma outra vida, mas sempre estão querendo me matar e eu peço trégua à morte e ela sorri.
Trechinho, talvez, de alguma postagem.kk
Lindo o seu conto
Beijos
Lua Singular
E assim vai construindo sonhos. Histórias são sonhos. Histórias de sonhos.
ResponderExcluirabraço
Lindo conto... os sonhos vão mudando conforme a passagem do tempo. Alguns construímos sozinhos, outros precisam de ajuda. A situação da moça assediada pelo pai é uma triste realidade.
ResponderExcluirUm abraço!
Interessantíssimo, caro amigo Eder, como voce fala sobre sonhos.
ResponderExcluirVários sonhos, desdobrados, sonhados, reais e em formatos.
Cada vez está melhor, evoluindo a escrita.
Beijos
Olá!Bom dia, Éder!
ResponderExcluirParabéns pela bela introdução... e ao convite para acompanhar Marina , personagem do livro, Insondáveis pecados...pode não ter aprendido a fabricar sonhos, mas , com certeza, está realizando um, escrevendo belas histórias......
... fabricador de sonhos, valor à família e Marina .. . o que temos visto, ultimamente, é um desperdício dos valores agregados à essa herança. Herança é para ser guardada e preservada. Multiplicada e somada. Herança diz respeito à valores. Para tanto, deve essa herança ser cuidada e preservada. O meu desejo é que os pais retornem aos seus valores e assumam os seus papéis. Que amem e dediquem-se aos seus filhos.
QUANDO isso acontecer, o respeito e a dignidade no lar e na sociedade serão restabelecidos. A violência/assédio contra os menores, será extinta.
...Agradeço pelo carinho, bom domingo,abraços!
Olá!Boa tarde, Éder!
Excluiragradeço pelo carinho da visita, muito obrigado, bela semana, abraços!
Somos o produto, que é a multiplicação de pai e mãe! Gostei muito!
ResponderExcluirPS.: acho que tirei o identificador de robô lá do meu blog , Éder! Andei dando um mexida no blog e nem havia percebido. Obrigada, aquilo é uma chatice. Se persistir, avise-me por favor!
Parabéns pelo seu belo talento de descrever sentimentos vividos através de belas palavras!
ResponderExcluirAmei conhecer o seu blog, é um tesouro muito grande.
Beijos, estou a seguir!
http://aspoderosas1.blogspot.com.br/
beleza isto de fabricar sonhos....maravilhoso texto..
ResponderExcluirbeijos
P>S pensei que ia aparcer meu nome na capa?! deve ter esquecido...
Oi Eder
ResponderExcluirGrandes mesmo são estes homens capazes de ensinar outros homens a sonhar, de torna-los aptos a realizar os próprios sonhos e mais tarde passar adiante este ensinamento de como fabricar sonhos.
Enquanto existem estes grandes homens, existem os destruidores de sonhos, aqueles que tiram das crianças a possibilidade de sonhar, como o pai de Marina.
Ao pensar que parte do conselho de medicina americano tem entendido e tem manifestado a posição de que a pedofilia não é um desvio, mas uma opção sexual. Imagino, se a partir desta ideia a pedofilia for um dia descriminalizada. Qual opção terão as crianças, quando um adulto decidir fazer sexo com elas porque esta é a sua opção sexual?
Beijos, Eder!
Não aprendeu a fabricar sonhos? Você é que pensa, meu caro. És um fabricador de sonhos dos bons e a palavra é a tua massa.
ResponderExcluirNão a propósito, é demais pedir pra você matar logo essa barata infame? Eu não sabia se lia o texto ou lascava uma chinelada no monitor.
Não a propósito, parte II, descobri que ainda não era tua seguidora por aqui. Reparei o mal percebido.
Um beijo, arigó fabricador de sonhos.
Então vamos seguir multiplicando haha.
ResponderExcluir''Ninguém havia me falado qual era a linha que separava o sonho da realidade, porém, quando atravessei essa linha não estava preparado para sair de uma e entrar na outra. ''
ResponderExcluirNossa! Eu amei isso! Vc escreve muito bem mesmo!
Lindo! Parabéns pelo texto! Diferente e único!
Bjus
http://overdoselite.blogspot.com.br/
Que bonito, Eder...
ResponderExcluirMais um texto brilhante e gostoso de ler... e Marina, a personagem do teu livro, espero que te realize esse novo sonho. Um abraço!
Gostei da metáfora dos sonhos! Muito bom, como um todo, Éder.
ResponderExcluirE pelo visto você foi um aluno exemplar, Eder. Adorei o conto e vc é um fabricador de sonhos nato. Basta ler seus textos. E agora vem mais coisa por aí com a Marina, que bom! Abraços.
ResponderExcluirÉder, o que realmente fica é o bom exemplo, aquele que planta e cuida até que os frutos surjam.
ResponderExcluirTenha uma abençoada terça.Bjs
Olá Eder
ResponderExcluirTudo O.K
Desculpe o transtorno
Beijos
Lua Singular
OI ÉDER!
ResponderExcluirESTE CARINHO COM O QUAL FALAS DE TEU "PAI" FAZEDOR DE SONHOS, CUJOS PASSOS NÃO SEGUISTE, É O MESMO QUE DEDICAS A TUA ESPOSA E FILHOS(AS), TENHO CERTEZA, POIS ISTO APRENDESTE COM ELE.
COMO É BOM, FALAR DO PASSADO, DO QUE FOMOS, DO QUE VIVEMOS, RECORDAR MOMENTOS QUE FAZEM PARTE DO QUE SOMOS HOJE.
ENTENDI TEU TEXTO COMO UMA HOMENAGEM A TEU PAI E ME EMOCIONEI.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Éder,bom dia e mais uma boa leitura iniciando por aqui incitando uma bela reflexão sobre valores cada vez mais escondidos na vida atual das famílias e que ao mesmo tempo nos faz esperar por um resgate da serenidade interior e social de acordo com o que vão vivendo e passando seus personagens.Aguardo a história de Marina!
ResponderExcluirOi Eder
ResponderExcluirPassando para agradecer o comentário
Um beijo
Lua Singular
ResponderExcluirEder, você escreveu lindamente esse conto. Sentimentos vivo e reais em forma de palavras. Fez-me trazer lembranças do meu querido pai. Parabéns! Esse conto toca profunda a sensibilidade de quem os lês. Um beijo e aguardando próximo.
Ótimo fim de semana!
Lembranças, exemplo, aprendizado. Assimilação de valores e desenvolvimento da capacidade de criar. Você recebeu muito e sabe fazer uso de tudo. Tem sensibilidade e a coloca de forma bela, em seus textos. Abraço.
ResponderExcluirMuito bom!! Esta linha entre sonho e realidade é muito difícil discernir mesmo... oh se é...
ResponderExcluirBeijos!!
Muito emocionante! Infelizmente, cada vez mais, deixamos mais de sonhar. Uns pela seca realidade que vivemos e outros por crimes, como no caso de Marina. Bem bacana Éder. Abraços e muitíssimo obrigado pela presença de sempre!
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