Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

sábado, 9 de novembro de 2013

Aquele quarto

   
  Ninguém havia me falado qual era a linha que separava o sonho da realidade, porém, quando atravessei essa linha não estava preparado para sair de uma e entrar na outra. 

   Meu pai foi um grande fabricador de sonhos, aprendera com o meu avô a arte de fabricar barcos e navegá-los pelos rios Grande, São Francisco e Preto transportando mercadorias, contudo, foi quando aprendeu a arte da panificação que os sonhos se realizaram.

   Vivíamos na casa dos sonhos, enorme, ia de uma rua a outra. Na Rua Desembargador Montenegro ficava a entrada da casa e na Rua paralela, Sete de Setembro,  ficava a entrada da fábrica de sonhos, a panificadora do meu pai. E existia um corredor enorme que ligava a casa a fabrica, aquele corredor, cujos rastros, meu e de meu pai, passados quarenta anos, ainda devem permanecer nele se ele ainda existir. São passos indo, primeiro do meu pai, na madrugada,  para a fábrica e depois os meus seguindo-o para em seguida só os dele, pois ele me pegava no colo e me colocava na rede, armada com esse intuito, no salão da fábrica. Tentando driblar o sono, eu via uma névoa branca provocada pelo trigo cobri-lo na feitura da massa do pão e, antes de homem-aranha, super-homem e batman, ele se transformou em meu super-herói. Os passos de volta eram somente dele, pois eu ia dormindo em seu colo. Enquanto a massa do pão descansava para a fermentação, seu corpo descansava também para se preparar para a segunda etapa de sua lida. Amanhecia, e dessa vez, íamos de mãos dadas para fábrica. As suas mãos amassavam a massa, cortavam-na e enrolavam-na para o ultimo descanso e, enfim, ir ao forno à lenha, enquanto as minhas esperava a assadura da massa para prover do bom alimento. 

   As mãos, aquelas mãos, que tão bem sabiam fazer o pão, abriram as portas de nossa casa para a parentela estudar na melhor escola de nossa cidade. Aquelas mãos, que tão bem deram o pão ao corpo,  deram os livros para deleite da alma, sem nem mesmo conhecerem bem as letras. 

   Aquelas mãos, benditas mãos, com o suor de sua lida construíram um quarto acima do telhado de nossa casa e o encheram de livros e revistas. Era lá que meu pai descansava após a lida na madrugada enquanto eu atendia os freguês na padaria durante a manhã. Foram doze anos que ele tentou me ensinar a fabricar sonhos, porém, um sonho maior fez com que ele saísse do interior da Bahia e fosse tentar a sorte em Brasília com toda a família, mas isso é uma outra história.

   Aquele quarto era o meu esconderijo quando voltava da escola, e, ali, folheando as revistas, se não me engano, sétimo céu e contigo, deixei de ser menino e passei a ser rapaz e deixei de ser rapaz e passei a ser homem com as mesmas mãos que folheavam as revistas. Saí daquele pequeno mundo aos doze anos para conhecer a cidade grande e não aprendi a fabricar sonhos. 

   Bem, vou deixar as reminiscências de lado, pois Marina me chama. Quem é Marina? A personagem do meu livro, Insondáveis pecados. Ela pede ajuda para ser salva das garras do seu pai que a assedia. E ela esta no quarto, não naquele quarto, mas em outro. Ela está me ajudando a construir um sonho.

   Obrigado grande fabricador de sonhos, de ti herdei o valor à família. 


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26 comentários:

  1. O bom de viver é esse: Os momentos que nos trazem alegrias e inspiração!
    Legal o teu blog Eder!
    Seguindo...

    http://www.marciorgotland.com

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  2. Oi Eder
    Eu construí sonhos que se desmancharam com a morte, renasci para uma outra vida, mas sempre estão querendo me matar e eu peço trégua à morte e ela sorri.
    Trechinho, talvez, de alguma postagem.kk
    Lindo o seu conto
    Beijos
    Lua Singular

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  3. E assim vai construindo sonhos. Histórias são sonhos. Histórias de sonhos.
    abraço

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  4. Lindo conto... os sonhos vão mudando conforme a passagem do tempo. Alguns construímos sozinhos, outros precisam de ajuda. A situação da moça assediada pelo pai é uma triste realidade.
    Um abraço!

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  5. Interessantíssimo, caro amigo Eder, como voce fala sobre sonhos.
    Vários sonhos, desdobrados, sonhados, reais e em formatos.
    Cada vez está melhor, evoluindo a escrita.

    Beijos

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  6. Olá!Bom dia, Éder!
    Parabéns pela bela introdução... e ao convite para acompanhar Marina , personagem do livro, Insondáveis pecados...pode não ter aprendido a fabricar sonhos, mas , com certeza, está realizando um, escrevendo belas histórias......
    ... fabricador de sonhos, valor à família e Marina .. . o que temos visto, ultimamente, é um desperdício dos valores agregados à essa herança. Herança é para ser guardada e preservada. Multiplicada e somada. Herança diz respeito à valores. Para tanto, deve essa herança ser cuidada e preservada. O meu desejo é que os pais retornem aos seus valores e assumam os seus papéis. Que amem e dediquem-se aos seus filhos.
    QUANDO isso acontecer, o respeito e a dignidade no lar e na sociedade serão restabelecidos. A violência/assédio contra os menores, será extinta.
    ...Agradeço pelo carinho, bom domingo,abraços!

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    1. Olá!Boa tarde, Éder!
      agradeço pelo carinho da visita, muito obrigado, bela semana, abraços!

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  7. Somos o produto, que é a multiplicação de pai e mãe! Gostei muito!
    PS.: acho que tirei o identificador de robô lá do meu blog , Éder! Andei dando um mexida no blog e nem havia percebido. Obrigada, aquilo é uma chatice. Se persistir, avise-me por favor!

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  8. Parabéns pelo seu belo talento de descrever sentimentos vividos através de belas palavras!
    Amei conhecer o seu blog, é um tesouro muito grande.
    Beijos, estou a seguir!
    http://aspoderosas1.blogspot.com.br/

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  9. beleza isto de fabricar sonhos....maravilhoso texto..
    beijos
    P>S pensei que ia aparcer meu nome na capa?! deve ter esquecido...

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  10. Oi Eder

    Grandes mesmo são estes homens capazes de ensinar outros homens a sonhar, de torna-los aptos a realizar os próprios sonhos e mais tarde passar adiante este ensinamento de como fabricar sonhos.

    Enquanto existem estes grandes homens, existem os destruidores de sonhos, aqueles que tiram das crianças a possibilidade de sonhar, como o pai de Marina.

    Ao pensar que parte do conselho de medicina americano tem entendido e tem manifestado a posição de que a pedofilia não é um desvio, mas uma opção sexual. Imagino, se a partir desta ideia a pedofilia for um dia descriminalizada. Qual opção terão as crianças, quando um adulto decidir fazer sexo com elas porque esta é a sua opção sexual?

    Beijos, Eder!

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  11. Não aprendeu a fabricar sonhos? Você é que pensa, meu caro. És um fabricador de sonhos dos bons e a palavra é a tua massa.

    Não a propósito, é demais pedir pra você matar logo essa barata infame? Eu não sabia se lia o texto ou lascava uma chinelada no monitor.

    Não a propósito, parte II, descobri que ainda não era tua seguidora por aqui. Reparei o mal percebido.

    Um beijo, arigó fabricador de sonhos.

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  12. Então vamos seguir multiplicando haha.

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  13. ''Ninguém havia me falado qual era a linha que separava o sonho da realidade, porém, quando atravessei essa linha não estava preparado para sair de uma e entrar na outra. ''

    Nossa! Eu amei isso! Vc escreve muito bem mesmo!
    Lindo! Parabéns pelo texto! Diferente e único!
    Bjus

    http://overdoselite.blogspot.com.br/

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  14. Que bonito, Eder...
    Mais um texto brilhante e gostoso de ler... e Marina, a personagem do teu livro, espero que te realize esse novo sonho. Um abraço!

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  15. Gostei da metáfora dos sonhos! Muito bom, como um todo, Éder.

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  16. E pelo visto você foi um aluno exemplar, Eder. Adorei o conto e vc é um fabricador de sonhos nato. Basta ler seus textos. E agora vem mais coisa por aí com a Marina, que bom! Abraços.

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  17. Éder, o que realmente fica é o bom exemplo, aquele que planta e cuida até que os frutos surjam.
    Tenha uma abençoada terça.Bjs

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  18. Olá Eder
    Tudo O.K
    Desculpe o transtorno
    Beijos
    Lua Singular

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  19. OI ÉDER!
    ESTE CARINHO COM O QUAL FALAS DE TEU "PAI" FAZEDOR DE SONHOS, CUJOS PASSOS NÃO SEGUISTE, É O MESMO QUE DEDICAS A TUA ESPOSA E FILHOS(AS), TENHO CERTEZA, POIS ISTO APRENDESTE COM ELE.
    COMO É BOM, FALAR DO PASSADO, DO QUE FOMOS, DO QUE VIVEMOS, RECORDAR MOMENTOS QUE FAZEM PARTE DO QUE SOMOS HOJE.
    ENTENDI TEU TEXTO COMO UMA HOMENAGEM A TEU PAI E ME EMOCIONEI.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  20. Éder,bom dia e mais uma boa leitura iniciando por aqui incitando uma bela reflexão sobre valores cada vez mais escondidos na vida atual das famílias e que ao mesmo tempo nos faz esperar por um resgate da serenidade interior e social de acordo com o que vão vivendo e passando seus personagens.Aguardo a história de Marina!

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  21. Oi Eder
    Passando para agradecer o comentário
    Um beijo
    Lua Singular

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  22. Eder, você escreveu lindamente esse conto. Sentimentos vivo e reais em forma de palavras. Fez-me trazer lembranças do meu querido pai. Parabéns! Esse conto toca profunda a sensibilidade de quem os lês. Um beijo e aguardando próximo.
    Ótimo fim de semana!

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  23. Lembranças, exemplo, aprendizado. Assimilação de valores e desenvolvimento da capacidade de criar. Você recebeu muito e sabe fazer uso de tudo. Tem sensibilidade e a coloca de forma bela, em seus textos. Abraço.

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  24. Muito bom!! Esta linha entre sonho e realidade é muito difícil discernir mesmo... oh se é...

    Beijos!!

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  25. Muito emocionante! Infelizmente, cada vez mais, deixamos mais de sonhar. Uns pela seca realidade que vivemos e outros por crimes, como no caso de Marina. Bem bacana Éder. Abraços e muitíssimo obrigado pela presença de sempre!

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