Eu –e--o, -o-o eu –e--o, -i--a a-i-a –au-a. –e—e- -ia-, -e-oi- -ue eu -o--ei -a –a-ia, eu –e--ei. -ai, -ai, sai. Opaió, consegui. Recomeçando.
Eu tento, como eu tento, minha amiga Paula. Nesses dias, depois que eu voltei da Bahia, eu tentei, mas só agora, após várias tentativas, as consoantes conseguiram acompanhar as vogais e formarem palavras. Sabe como é, minha amiga, de tanto ouvir axé, no meu cérebro pululam somente vogais, e como uma autêntica pernambucana, você sabe que todo baiano é adepto da religião de Dorival Caymmi, portanto, as vogais vêm em ritmo bem preguiçoso, mas mesmo assim não é alcançada pelas consoantes.
Somente agora, com muito esforço - apesar de ser estranho um baiano falar em esforço -, eu consegui.
Amiga, eu recomendo, vá à Bahia e traga ela dentro de si, você verá a si mesmo e aos outros de um modo diferente, porém, não faça como uma amiga minha que foi à Bahia e ao chegar lá desembestou a querer cantar axé. Até que para ela não foi difícil, bastou juntar algumas vogais, soletrar o encontro vocálico, e, pronto, meio caminho estava andado. O que pegou foi que ela queria dançar axé, também. Como pernambucana arretada, você sabe que além dos encontros vocálico a música tem na letra o ensinamento dos passos da dança. Então, com "ais e uis", alguns braços para cima, pernas pros lados, uma baixadinha aqui, uma levantadinha acolá, ela se embananou toda e meteu os pés pelas mãos e ficou entalada tal a contorcionista ao sair da caixa. O pior de tudo é que de tanto cantar axé, a palavra socorro saiu de sua boca sem nenhuma consoante, era um emaranhado de "os". Você sabe que para o baiano qualquer movimento é festa, eles a viram dizendo tanto "o" que pensaram que era uma performance e começaram a aplaudir. Tadinha da bichinha, tá até hoje sentada com as mãos entre as pernas em frente da casa cultural de Jorge Amado. Também pudera, ela é loira.
Querida Paula, o bom de ir à Bahia é que você trás tantas coisas, mesmo sabendo que não há necessidade de trazer, porém, com uma diferença, as coisas de lá são mais gostosas. Pois bem, eu trouxe rapadura, farinha, requeijão, toucinho, jabá, os doces da tia, ginetes, petas e caí de boca em tudo, desembestadamente. Fui parar no hospital. Depois dos exames de sangue e de urina, o médico me falou que eu estava com o colesterol alto, me encaminhou para o endocrinologista, para o nutricionista e antes de sair, apontando o dedo para mim, aporrinhou-me recomendando evitar comer gordura. Não tive dúvidas, ao chegar a minha casa marquei a consulta nos dois especialistas e abri uma matrícula na academia, para a minha esposa. Não podia correr risco.
Ia encerrar esta carta, como sempre faço, mandando-lhe um beijo, abreviando a palavra, porém, seria muitas consoantes, por isso vou me despedir no estilo bem baiano:
- Opaió, eu fui.
D.E. (Depois de Escrito): meus textos no gotas agora serão postado as quartas as quatorze e trinta, por isso não se avexe não, vixe. Se apoquentar, eu deixo um dengo para tu, deste baiano que acha você uma escritora porreta.
Bacana mesmo, só não me conformo com o tal do axé, é muito ruim para as tradições musicais bainas. É igual o funk, essa coisa horrorosa que invadiu o Rio de Tom, Cartola, Vinicius, Candeia, Noel Rosa, Clementina de Jesus e etc.
ResponderExcluirUm grande abraço.
Mano, assim não vale: requeijão baianoooo! Vixe, mas faz tempo por demais que não como! À amiga Paula, autêntica pernambucana, faço coro contigo: vá à Bahia e volte diferente, volte mais feliz! rsrs! Muitos beijos da maninha, Deia.
ResponderExcluirAi, ai, vixe, que esta carta foi boa demais de ler e sorrir, e o dengo final melhor ainda. Você acredita que naquele dia eu anotei - ir à Bahia levando a máquina digital. E hoje a tarde passei a limpo na agenda.
ResponderExcluirAgora essa gracinha com sua esposa, sei não visse, que baiano é muito cheio de onda. rsrs
E me deixou com uma fome danada, e eu ainda nem perdi os quilos extras que trouxe de Portugal.
Bom demais, e até quarta.
beijo. Valeu!
Caro Eder;
ResponderExcluirA Paula deve estar felississima com esta bela carta aberta, que nós pegamos um pedaço só pra provar, né!!!.
Outra verdade, verdadeira, é que ir à Bahia é um convite a que na volta se veja o Mundo com outras cores!...
E não menos verdade é que passar por aqui é uma terapia sem receita medical e que faz um bem danado à saúde!...
E também é verdade que aproveito para mandar um abração pro meu amigo Éder, que já não abraço à um tempão.
Grande abraço, amigo e professor da grande literatura bahiana.
Osvaldo
Como é bom brincar, como é bom levar a vida com bom humor, a carta ficou muito boa, até este modo de falar de axé faz a crítica certa desse tal cansativo axé.
ResponderExcluirOlá Éder... que aventura das boas narrada nessa carta para a Paula. Eu adoro viajar e conhecer novas culturas.
ResponderExcluirEu adoro estar aqui!
Um abraço carinhoso
Feliz da Paula por receber uma carta linda assim. Uma carta falando das delícias da Bahia. Ah, concordo, eu adorei Salvador. Ainda haverei de voltar. E esta fala bonita, nossa!!! Éde se apaixonar perdidamente. Eder, o post é especial e a Paula merece. Abraço para os dois.
ResponderExcluirRsrsrs... Que carta mais bonita ^^ Qualquer dia vou à praia e nado até ao Brasil...rsrsrs Dar umas voltas por aí! hihi
ResponderExcluirE você tem razão, finais felizes só mesmo em contos de fadas... Mas eu prefiro mesmo os infelizes, sempre ficam tão lindos e bem pintados nas histórias...rsrsrs Tenho de assumir que a maioria das histórias e romances que escrevo, lá está sempre um final infeliz... Mais forte que eu! hihi
Um abraço!
Obrigado pelo seu comentário na Quote da Semana, Eder...
Tudo de bom!
Formas diferentes de pronunciar as palavras e formas diferentes de sentir e de estar...é mesmo assim, o pluralismo é bonito e enriquece-nos...
ResponderExcluirCuriosa essa sua carta.
Beijos
Ainda bem que gostou da minha poesia ^^
ResponderExcluirEu sempre penso que toda a poesia se torna envolvente, eterna e profunda quando vem da nossa alma e simplesmente desagua sobre cada letra do verso... ^^
Um abraço,
Obrigado pela sua visita!
Vixe Santissima Eder, que a gula agora se apoderou do meu estromo...rsrs
ResponderExcluirNão é que fica dificil resistir a essas guloseimas todas...nem axé resolve, talvez nem mesmo uma academia..rs
Um abração na alma...bom fim de semana
Para mim a mais fácil de fazer foi a Ira, e a Gula também...rsrsrs
ResponderExcluirMas deixarei as que achei melhores para o fim ^^
Um abraço,
Ainda bem que gostou do meu poema!
Bem Eder o que gostei mesmo foi da matricua da patroa na academia, com certeza O SEU colesterol vai abaixar bastante. E cá entre nós o baiano é um povo diferente a gente sempre aprende alguma coisa nova por lá.
ResponderExcluirAdorei o texto
beijos
Dizem que o tempo do baiano é mais lento, é um deitar na rede e ver o tempo passando, sem muita pressa. Aí já é segunda-feira? Ah, tá. Aqui é. Só faltam 48 horas e 15 minutos para mudar o post.
ResponderExcluirRelendo a carta e os comentários. E o coração no batuque do maracatu..bum, bum, bum...escutou? Ou do som do forró...bum, bum...bum, bum
até quarta. rsrs
beijo
Bom,né?!
ResponderExcluirExcelente semana,boas energias,paz,saúde e luz!
bjs,
Mari
Pois é, Eder, a carta foi endereçada à Paula, mas já tomei emprestada. E não é que ainda não conheço a Bahia?!!! Já cruzei o céu baiano algumas vezes, já quase pernoitei no aeroporto, mas as imagens que sei são das mídias. Portanto, já estou me preparando para deliciar-me, de um jeito bem calmo, com as coisas boas da Bahia!
ResponderExcluirÉ claro que as guloseimas terão que ser vigiadas, afinal de contas, a família morais anda um "pouquinho" acima do peso (rsrs)!
Grande abraço meu amigo!
O importante é ser feliz e passar essa alegria, rindo ou fazendo poesia... (com consoantes ou não)... Bjs.
ResponderExcluirMeu Amigo do Coração...
ResponderExcluirVim para marcar presença novamente e dizer que seu lugar continua cativo em meu coração.
Um abraço carinhoso