Fui introduzido na leitura pelo
padeiro da panificadora do meu pai ainda na infância. Contumaz leitor de livros
de bolso de bang e bang, ele me mostrou um mundo onde não
se confundia os vilões com os mocinhos e vice-versa, tão diferente do
mundo real por ser da natureza do
homem a vilania e a hombridade no mesmo ser.
Costumo dizer que o meu pé não é
de laranja lima, mas de amêndoas. Antes mesmo de conhecer as letras e o
fascínio que elas exerceriam sobre mim, foi através da audição que um mundo
fantástico foi me apresentando pelo meu avô. Nas
tardes quentes do verão baiano, ele trazia o seu tamborete de jacarandá com
assento de couro de vaca, colocava-o sobre a sombra do pé de amêndoas em frente
da panificadora do meu pai, chamava-me e pegando-me pelos braços, colocava-me
em seu colo para em seguida me apresentar personagem cuja
bondade incutiu em mim a crença no ser humano, pois, mais do que ninguém, ele
fazia de seus heróis pessoas comuns. Meu avô desencarnou em 2001 aos
94 anos, deixou como herança o seu tamborete, mas riqueza maior ele deixou
incutida em minha alma, e é tão forte que o sinto vivo, passando com seu jeito
simples os seus ensinamentos, até os dias de hoje.
Nas
visitas que faço na casa dos meus pais no interior de São Paulo,
sinto como voltando ao passado, pois a minha família sempre será o meu ninho, o
meu refrigério. Quando meu pai pegou o tamborete e colocou ao lado da
rede que eu estava deitado com o meu filho e me disse que se arrependia de ter
saído da Bahia, mas o que lhe confortava era que nós, os seus filhos, não
seríamos o que somos hoje se na Bahia permanecêssemos. Percebi em
sua voz uma tristeza incontida e nos seus olhos perdidos no horizonte
uma tentativa de encontrar-me criança tendo-o como herói. Da mesma forma
que veio, ele se foi, levando o tamborete e entrando na casa. Vi
naquele gesto um pedido de desculpa por ter destruído os sonhos dos seus
filhos.
Eu estava construindo os meus
sonhos e não usava apenas areia e água, mas também tijolo, cimento e cal. Quando
a panificadora do meu pai, em Brasília, faliu, não apenas implodiu os meus
sonhos, desestruturou a família de seis filhos, pois ela foi dividida ao meio,
metade voltando para a Bahia, a outra metade, meus pais, eu e duas irmãs mais
velhas, indo se aventurar em São Paulo. Foi nesse momento que o meu herói
passou a ser vilão, e humano.
O meu vilão, semianalfabeto, foi
trabalhar de servente de pedreiro na construção civil, estudou, fez curso de
mestre de obra e exerceu essa profissão até se aposentar. Estruturou a família,
construiu a
casa da maioria dos filhos. Homem de mão forte, meu pai, nunca deixou de enfiar
as mãos na massa para dar alimento para o corpo com o pão, para a alma com os
livros comprados, e, aos quarenta e cinco anos, enfiou as mãos na areia, cal e
cimento para dá guarida.
O meu pai é um herói que não está nos
livros.
Imagem GETTY IMAGES
MEU QUERIDO QUE BEM VOCE TRANSMITE TEUS SENTIMENTOS! GOSTEI MUITO, MUITO!!! QUE AVO FORMIDAVEL! E TODOS VOCES!
ResponderExcluirGRANDES ABRACOS!!!
Quando alguns jovens não ouvem nem dão valor ao esforço de seus pais, tenho certeza que eles não imaginam como pode ter sido a juventude de seus progenitores. Conheço muitas e muitas pessoas que tiveram uma infancia, adolescencia e parte da vida adulta de muito sacrificio. Hoje há facilidades demais e valores de menos. Tivemos muitos herois. Existem outros herois, mas a ditadura do consumismo mostrado nas mídias provoca conflitos e cegueira.
ResponderExcluirbjs
Bonita história Eder,
ResponderExcluirComo tanto outros punhos anônimos que sustentam os filhos desse país.
Abraços!
Quem fantástico, Eder!
ResponderExcluirOs heróis são mesmo esses: os que não estão nas páginas... mas na vida :)
Abraço!
maravilha, meu amigo, maravilha!!! como é gostoso ler esta tua prosa, tão tenra, tão cheia de nostalgia, infância e verdade no ar!
ResponderExcluirOlá, amigo Éder
ResponderExcluirTive um pai fantástico também!!!
Meu avô por parte de mãe botou tudo fora da minha vó... deixou todo mundo sem nada mas todos venceram pela Graça de Deus...
Com o pai que teve vc não poderia deixar de ser sensível e tê-lo como um herói anônimo no meio de outros tantos...
Seja sempre feliz e abençoado!!!
Abraços fraternos de paz e bem
A riqueza que temos está no que vivemos e nossos heróis são os que admiramos... força e beleza leio aqui no seu texto.
ResponderExcluirBeijos!!
Oi Éder, sua crônica, além de muito bem escrita, fez desenrolar os fatos de uma forma que nos envolveu do começo ao fim. Você pôde com orgulho escrever essa crônica, mas eu jamais poderia, pois na sua idade tenra dos fatos do seu conto o inferno era minha morada.
ResponderExcluirAmei, você é genial
Sobrevivi e bem
Beijos
Lua Singular
Olá!Bom dia, Éder!
ResponderExcluirQue história linda... Há muitos heróis sem livro, desconhecidos, vencedores anônimos, que, convictos de seus conceitos, fazem acontecer, simplesmente porque têm um sonho e o coloca em prática, e imbuídos de sua missão, são grandes vencedores na vida e que deixam um legado muito além de posses e boas lembranças... o legado familiar...
agradeço pelo carinho da visita, muito obrigado, bela semana,abraços!
Que história tocante, Eder. E reflete a história de muitos pais guerreiros! E esses são melhores que os heróis dos livros. Abçs e boa semana!
ResponderExcluirEder. Acedi ao seu convite no G+ e vim ler a sua prosa, que me emocionou. Também tenho uma relação muito especial com os livros, embora não tivesse um avô assim querido e contador de histórias.
ResponderExcluirUm abraço
Ruthia d'O Berço do Mundo
http://bercodomundo.blogspot.pt/
P.S. Encontrei aqui vários amigos lá do meu cantinho e "amigo do meu amigo..."
Ótimo post Eder. Meu avô não me deu livros, mas, uma vez na minha infância, ele veio nos visitar em São Paulo e reuniu alguns dos netos em uma roda, à noite, para contar "causos" de assombração. Fui muito influenciado por aquele universo fantástico.
ResponderExcluirBela história. Valorizar àqueles heróis (que as vezes não se parecem tanto com heróis dos quadrinhos), os quais estão sempre ao nosso lado, os quais lutam por nossa felicidade, através do suor de seu rosto, das mãos pesadas e cansadas de seu trabalho.
ResponderExcluirBoa tarde, Eder!
ResponderExcluirQue história de vida linda... obrigada por compartilhar conosco, pois traz muito reflexão acerca dos verdadeiros heróis desse mundo, das marcas que podemos deixar nas pessoas e o quanto podemos ajudar a construir uma base sólida para um filho nunca se desviar de fato do caminho certo, mesmo quando tudo parece desmoronar.
Um abraço!!
Que linda a história de seu pai. "Essa vida é para quem coragem". A frase é do meu marido e adoro repeti-la. Abração! :)
ResponderExcluirQue bom poder voltar as visitas de vcs, hj
ResponderExcluirmeu dia foi melhor,
Vim deixar um abraço de agradecimento por todo
carinho que vc tem comigo, muito obrigado pelas
palavras que são deixadas na minha pagina
Que Deus abençoe ricamente sua vida, e amigos eu guardo no coração
Abraços de sempre.....Bjussssss
└──●► *Rita!!
Da farinha e do pão
ResponderExcluirAo cimento, chãos, paredes, tetos
Sempre celeste
Iluminado
Sendo e dando liga
Alimentado e sedimentando em si e na sua família
Os valores do trabalho, da coragem, do fazer, do ser
Um herói sem livros e com reconhecimento ainda bem
Tem muitos que nem isso tem
Aos dois, a nossa Bahia, aos padeiros e pedreiros
Minha saudação \o/
Maravilhosa história,Eder!Valeu! Adorei! abraços,chica
ResponderExcluirUma bela história bem família mesmo
ResponderExcluirE como sempre temos nosso herói, gostei
Bjossss
Vanessa------
OI EDER!
ResponderExcluirQUE COISA LINDA, AMIGO.
NOSSOS PAIS COMO NÓS COM NOSSOS FILHOS, DE REPENTE ATÉ ERRAMOS, MAS O QUE VALE É A INTENÇÃO E OS MOTIVOS QUE NOS LEVARAM E A ELES TAMBÉM PARA TEREM TOMADO ATITUDES QUE NUM CERTO MOMENTO NÃO REPERCUTIRAM DA FORMA DESEJADA, GERANDO RESULTADOS IMPREVISTOS.
MAS, O BONITO DE TUDO É O TEU RECONHECIMENTO PARA COM ESTE SER, QUE TE DEU O MELHOR QUE PODE, COM TODA A CERTEZA.
RECORDAÇÕES, SÃO UM BÁLSAMO PARA NOSSOS CORAÇÕES.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Certamente, o seu pai é um herói como não se encontra nos romances de bang-bang. Porque ele é real. E, cara, é pra ter muito orgulho de um pai assim! Parabéns pelo teu velho. Agora, sobre a parte da leitura: a gente aprender a fazê-la de diversas formas. Se estou a observar uma conversa, estou lendo as pessoas que dialogam.
ResponderExcluirUma linda história a do seu pai.
ResponderExcluirAdorei ,bom dia.
Oi Éder
ResponderExcluirPassando para agradecer o comentário
Beijos na alma
Lua Singular
Esses são os verdadeiros exemplos de força, honra, dignidade. Jamais são esquecidos. Abraço.
ResponderExcluirPessoas assim marcam nossa vida de uma maneira singular, não as esquecemos e continuamos o que elas plantaram.Linda vida. Bjss
ResponderExcluirQue lindo exemplo, pessoas assim nos marcam profundamente. Bjsss
ResponderExcluirO seu pai é do time dos verdadeiros heróis, dos que estraçalham vilões diários, os do cotidiano, que assustam e gostam quando o homem se encolhe dentro dos seus próprios medos.
ResponderExcluirQue coisa mais linda você escreveu, meu amigo arigó.
Encantada.
Beijo!
Emocionante!
ResponderExcluirEstes heróis que só conseguimos enxergar quando nós próprios nos tornamos heróis e descobrimos o quão forte foram aqueles que julgávamos fracos. O quanto a vida é capaz de desafiar-nos.
Exigimos muito de nossos pais, talvez por sempre os termos se dedicando ao máximo, não conseguimos ver que fizeram o melhor que podiam, até o dia em que nós somos obrigados pela vida a dar o nosso melhor, não mais receber, aí então percebemos como tivemos heróis ao nosso lado, sempre.
Mesmo aqueles heróis que não conseguiram fazer o que julgávamos ser necessário ser feito, ainda assim heróis.
Seu pai teve a coragem de recomeçar, se foi difícil para a família, imagine para ele?
Você é fruto de uma árvore muito resistente e traz em si a doçura do fruto e a resistência da raiz, uma combinação do feminino e do masculino que o geraram, além das folhas ao vento que brotaram do banquinho de couro de vaca.
Beijos, Eder
Nossos heróis verdadeiros são exatamente esses feitos de carne e osso, de cumes e vales. Esses que nos agregam pela exclusiva força do que são e representam pra nós. Seu pai é um herói pra ti, assim como, com certeza, és e sempre serás para os seus filhos. Histórias escritas a sangue e suor é que fazem nossos heróis. Gr. Bj. meu querido amigo!
ResponderExcluirLinda história Eder,
ResponderExcluirAlgumas recordações nos acariciam a alma, nos ensinam muito.
Verdadeiro exemplo teu pai. Realmente um herói que não está em livros.
Beijos e ótimo fim de semana!
Boa tarde e um lindo sábado pra vc!
ResponderExcluirVim deixar meu abraço pelo ano todo que você
esteve comigo, desejo que me 2014 nossa amizade
permaneça sempre com muito amor e nossos sonhos
e realizações venha com grande vitória, mais uma vez
agradeço por tudo que ganhei nesse Blog , volto em janeiro
Boas festas e um ano cheio de muita paz e luz!!!
Rita!
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