Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O mundo fantástico de Matheus

                                          imagem clique aqui


O menino ia feliz, chutando tampinhas de garrafa de refrigerante como se fossem estrelas, pois o seu chão era um imenso céu azul anil. Ele ia feliz, carregando uma mochila recheada de sonhos, um caderno de caligrafia com a capa do Homem-Aranha, um lápis do Ben 10 e a esperança de aprender todas as letras no primeiro dia de aula para, ao juntá-las umas com as outras, se fazer entender.

A sua felicidade se fazia ver nos olhos, posto que esses sorriam e muito mais ainda nos lábios, a sua porta de se mostrar feliz. Ao entrar no veículo escolar, ele não se entristeceu ou chorou, pois estudar não lhe era um castigo e nem obrigação, mas um desejo. Na rua, os muros grafitados eram uma janela de entrada para os sonhos: se via o Super-Homem, apontava dizendo, “Papai”; se via a Mulher Maravilha, ele agitava os braços gritando com uma voz com gosto de doce de jabuticaba: “Mamãe”.

Contudo, ao avistar o Homem-Aranha, ele silenciava e, se escondendo dos seus colegas, quebrava o punho, dobrava o dedo médio encantando-se com a rede de teias saindo do seu pulso. Falta-lhe o conhecimento sobre as letras para poder tecer uma história sem fim. Ao voltar do seu mundo de encanto, o rádio estava ligado, e ele, ainda percorrendo as bordas da teia, ouviu uma voz melíflua saindo do alto falante. Então gritou:

   - Tia, é ela, a Fadinha das letras. – Entusiasmado, agitou-se no banco do transporte escolar.
   - Comporte-se, Matheus, como todas as crianças, e não me perturbe com as suas fantasias. – Ranzinza, a Tia do veículo escolar disse-lhe, impondo o silêncio.

Matheus desceu do veículo, cruzou os braços, pôs um bico nos lábios, abaixou a cabeça, semicerrou os olhos e foi, entristecido, vestido com o mau humor da Tia do veículo escolar e, com o coração tecido em amarguras, se enfurnou nervoso tartarugando nos passos.

Apenas alguns passos dados e ele teve tempo suficiente para desnudar-se do que lhe entristecia, porém a alegria se tornou maior quando ele ouviu alguém lhe chamando.

   - Hei, menino de sorriso lindo e cabelos encaracolados, quer conhecer a Fadinhas das letras?
   - Quem está falando? – Matheus disse envolto em felicidade.
   - Hei, sou eu, aqui no alto, no primeiro galho da árvore.

   O menino olhou para cima, e entre surpresa e encantamento viu uma aranhazinha da cor do ouro.

   - Uma aranha que fala!?!? Você solta teia?
   - Sim, menino de sorriso lindo. Falo e teço.
   - Você é filha do Homem-Aranha?

   A aranha não se conteve e pulou de galho em galho, solta em risos.

   - Não, menino dos cabelos encaracolados, eu sou filha dos seus sonhos.
   - Aranha, posso falar uma coisa na sua orelha?

   A aranhazinha desceu por uma das teias mais finas e, aproximando da boca do menino, disse-lhe:

   - Fale, mas baixinho, senão a sua voz me arremessará para longe.
   - Eu queria ser igual a você. – Ciciou o menino na orelhinha da aranhazinha.
   - Mas você é, menino do sorriso lindo. Se sou filha dos seus sonhos, tudo é possível. A conversa tá boa, mas preciso ir, portanto ouça o que vou lhe dizer: “Ao entrar na escola, não vá direto, vire à esquerda em direção ao muro verde, e, sem medo, pule nele.”
   - No muro? – Perguntou o menino, incrédulo.
   - Sim. Do outro lado, você verá um pé de jabuticaba e atrás dele uma casa simples. É lá que mora a Fadinha das letras...

   Matheus não esperou a aranhazinha encerrar a frase e saiu em disparada, a passos de coelho, deixando para trás a mochila e levando consigo sonhos e felicidade.

   - Você não vem, Aranha? – O menino disse ao perceber que a aranhazinha não o acompanhava.
   - Menino de sorriso lindo e cabelo encaracolado, não esqueça, eu sempre lhe acompanharei. Eu estou em seus sonhos. – A aranhazinha gritou, pegando a mochila e desaparecendo entre as folhas da árvore.

Matheus, caraminholando debaixo dos seus caracóis, mal continha a emoção. “Conhecer a Fadinha das letras, e no primeiro dia da escola, será que é possível?”. Atravessou o pátio daquela velha casa do saber ligeiro como ele só, os pés flutuando pelo chão. Ao subir os treze degraus (Será que dá azar? Ele pensou) que o levavam para dentro do prédio, sentiu um frio subir-lhe a espinha. Lembrou-se da pequena e dourada aranhinha, e, com o sorriso de mel em seus lábios, virou à esquerda e seguiu sempre em frente.

Para sua surpresa, aquele corredor o levava, outra vez, para fora da escola. O suor corria-lhe o rosto, mas, incansável como era, não deu bola para a gotinha que teimava em brotar de sua fronte. Mais 10 metros e estava defronte... A UM ALTO MURO VERDE!

 -  Ora essa, ele exclamou. Alto desse jeito, como posso pular? Eu só tenho seis anos... 

(Esse conto foi escrito a quatro mãos - um hábito que eu e minha mana Déia do blog Rumo às fotos desenvolvemos há muito tempo, e que resolvemos retomar agora. Para entendê-lo por completo, leia a segunda parte do conto AQUI!)

10 comentários:

  1. Fui no blog de Déia, mas achei a letra muito pequena e clara, amanhã tento ler.

    Uma história envolvente, e agora quero ler o que está lá.

    Fico torcendo para que se transforme em um livro infantil, com imagens bem bonitas, do menino do sorriso bonito e do cabelo encaracolado.

    Sempre belos textos esta dupla nos proporcion

    abraço

    ResponderExcluir
  2. Amigão..

    Já fui ler a outra metade do conto no blog da amiga Déia. Mergulhei de cabeça e fico esperando novas estorinhas como essa... Linda!

    Abraços :)

    ResponderExcluir
  3. .

    . do sustento de uma mochila recheada de sonhos .

    .

    . aos lábios como porta de se mostrar .

    .

    . feliz .

    .

    . falo e teço .

    .

    . e não me esqueço . desta história feliz .

    .

    .

    .

    . um abraço,,, eder .

    .

    .

    ResponderExcluir
  4. Olá Éder, bom dia!
    Parabéns pelo conto/texto, muito bacana;já fui no outro bleg tb ler o restante e já segui também,já q vcs publicam em dupla.
    Grata pela carinhosa visita!
    Abracos

    ResponderExcluir
  5. Nessa volta, não poderia deixar de vir agradecer seu carinho no Solidão enquanto estive ausente, e é claro, me encantar com sua poesia. Um beijo, querido poeta.

    ResponderExcluir
  6. Que conto lindo, Eder!

    Revolveu minhas lembranças de um tempo mágico.

    Beijos!

    ResponderExcluir
  7. Uma história tão encantadora, doce e envolvente que a criança que há em mim debruçou-se na janela da memória pra ouvir.
    Parabéns aos dois.
    Beijokas.

    ResponderExcluir
  8. Eder! Ah, quantas saudades de você!
    Obrigada pelo carinho.

    Lindo texto - o mundo fantástico de Matheus... Você continua mesmo: maravilhoso na escrita... Ah, e esta música!

    Vou lá na Déia.

    Beijo
    Ila

    ResponderExcluir
  9. Adorei! As crianças são maravilhosas! Meu filho está em pleno despertar do conhecimento. Lê palavras e curtas frases desde os 4 anos, agora com 5 lê gibis, livros.. enfim, tudo o que aparece. E fantasia, como viaja. A curiosidade era tanta pela leitura que aos 4 anos ele fingia ler os gibis, inventava histórias e chorava quando alguém insistia em dizer que não sabia ler. Até que um dia ele leu de verdade. Como estava acostumado com as pessoas lhe dizendo que não sabia ler ainda, pensava não saber. E pulou de felicidade quando após ler o livrinho, tarefa da escola para mim, todinho sem eu saber que lia, eu lhe abracei e disse: filho, você já sabe ler! Agora sim, você lê tudo! Lê as histórias e as faz diferente. Mamãe, imagina se o fulano.... e assim foi, mamãe. Bonitinho demais!

    ResponderExcluir