Os pensamentos, as experiências de vidas relatadas das minhas personagens não são reflexos dos meus pensamentos e experiências, mas sim, peças do mosaico que forma o ser humano. Os meus textos não intentam a polêmica, mas nos chamar à reflexão. Deixo o meu email para quem quiser trocar ideias, compartilhar textos e interagir: gotasdeprosias@gmail.com

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Afastar-me-ei do blog por tempo indeterminado

                                       Meu amor, minha Flor de Liz, acredite, haverá o milagre.


   - Meu filho, Deus nunca nos dá a cruz com o peso maior do que podemos suportar.
   Quando minha mãe disse essa frase pela primeira vez, as perdas da nossa família eram tantas que senti todas as cruzes divinas ou não, desde a era Roma, sobre nossa família. Nunca quis saber como meus sete irmãos aguentaram as suas respectivas cruzes, a minha foi tão pesada que o meu afastamento de Deus durou desde a pré-adolescência até o início da vida adulta. O que eu não percebia era que Deus sempre esteve conosco e nunca deixou de nos mostrar a Sua presença, principalmente a mim.
   Quando, ainda criança, os Rios Grande e Preto, por quatro vezes, tentaram me tomar para si. Não foram mãos humanas que me salvou. Deus esteve comigo. Deus está comigo.
   Quando, ainda criança, um saco de trigo de sessenta quilos, caiu sobre o meu mirrado corpo e nada sofri, Deus esteve comigo. Deus está comigo.
   Quando, ainda criança, água fervente, acidentalmente queimou o meu corpo e nenhuma sequela ficou. Deus esteve comigo. Deus está comigo.
   Quando, agora adulto, a minha filha passando mal, eu e minha esposa, desesperados, esquecemo-nos de colocar a cadeirinha no banco traseiro do carro e dirigindo para o hospital, colidimos de frente com um ônibus, Deus esteve conosco. Ensanguentado, sai do carro e olhando o banco traseiro, vi todos os cacos do para-brisa no assento onde deveria estar a cadeirinha com a minha filha, Deus esteve conosco.  Minha esposa embaixo do banco do motorista, presa, Deus esteve conosco. Porém, ao ouvir o choro da minha filha no colo do cobrador do ônibus, sem nenhum arranhão, não tive dúvidas, Deus esteve conosco. Deus está conosco.
   Quando o meu filho nasceu prematuro e internado na UTI pré-natal, após vários antibióticos não surtirem efeito contra uma infecção, a médica dizendo que tentaria regredi a mesma com a velha penicilina, eu sabia, Deus está conosco. Após quinze dias de internação, a médica disse que a infecção havia regredido com a penicilina. Engano dela, o que ela não sabia era que Deus esteve conosco. Deus está conosco.
   Quando, viajando para visitar a minha mãe no interior, o carro lotado, ao pisar no freio, um dos pneus estourou e o carro girou no seu próprio eixo na autopista, uma voz sussurrou: - Tire os pés do freio e segura firmemente o volante. O carro aos poucos foi parando na quarta pista da autoestrada, próximo do acostamento. Não preciso dizer de quem era o sussurro. Deus esteve conosco. Deus está conosco.
    Sábado, dia oito de dezembro, esposa tinha ido ao médico levar os seus exames da tireoide para avaliação. Combinamos que as crianças ficariam com as tias e nos encontraríamos no shopping.  Estava indo tomar banho quando o telefone toca:
   - Vem me buscar, imediatamente.
   - Ainda não tomei banho.
   - Coloque qualquer roupa e venha logo.
   Senti um choro segurado depois da palavra logo. O telefone emudeceu, e por mais preparado que você esteja, o pior lhe passa pela mente.
   Chegando ao local combinado para buscá-la, a minha esposa se encaminhou para o carro cabisbaixa, abriu a porta e ao sentar, em lágrimas, me disse:
   - Estou com câncer na tireoide.
   As duas mãos postas no volante ali ficaram, imediatamente olhei para o céu. Uma sensação de vazio me dominou.  O silêncio se fez para dar vazão as lágrimas. O céu desceu sobre nossas cabeças, sem o apoio do chão, ficamos suspensos pelo medo. Liguei o carro, gotas de chuva caiam bem fracas. Estava na Avenida Interlagos, próximo a Igreja do Padre Marcelo, o semáforo fechou, novamente, olhei para o céu, as nuvens que nublava o dia foi se afastando e os raios solares foram enchendo o céu de luz.
   Sábado foi um dia pesado, de lágrimas e busca de um cirurgião de pescoço e cabeça. Os dias estão nos levando, e toda ação é de oração. E são as lágrimas a minha companheira. Preciso de silêncio. E de Luz.
   Por tempo indeterminado, estou encerrando as atividades no blogger. Desejo a todos um Feliz Natal e próspero Ano Novo.

                Neguinha, com Ele, tu podes. Caminhamos juntos, no fim do caminho haverá Luz.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Sobre as vontades


O que impulsionou o homem até aqui senão as vontades. Qual motivo maior de sua infelicidade senão as vontades irrealizáveis, afinal, todos nós temos os nossos limites. Controlar as nossas vontades é a chave para a escolha certa.
   Minha maior vontade é saber, por isso ouço mais do que falo, tenho um olhar distante e minucioso, para perceber o todo. Porém não intenciono a sabedoria, é fundamental deixar o recipiente do saber vazio. Como? Compartilhando. Existimos por saber dar e receber, sem essa troca, por maior vontade que existisse em nós, não seríamos suficientes sozinhos.
   De todas as vontades, a primeva, a busca do conhecimento simbolizada na apreciação do fruto proibido, ou, para os evolucionistas, simbolizada na descida do macaco da árvore, também, em busca de conhecimento, eu, desfeito das crenças, lhes pergunto, qual é a sua maior vontade. Meu recipiente do saber está vazio, enche-o com a sua sabedoria.

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   O próximo conto foi inspirado entre trocas de e-mails e comentários com a minha estimada amiga Cris, eis um exemplo abaixo.



humrum.. quer dizer que a personagem protagonista é loira e se chama Cris.. sei.. diria que qualquer coincidência aqui é mera semelhança né? Bom, qual o problema se for niilista e negativista? Não vejo nenhum, rsrs já que tenho um pé cravado nesse sentido. Meu querido, até o próprio fim é passivel de um recomeço, acredite. Deixa estar que tudo ficará bem, clichê né? Mas é tudo que nos resta em certos momentos, depositar nos chavões nossas esperanças! Gr. Bjoo! Faz a história da loira bem legal e afina bem o bico do sapato, qualquer coisa ela pode cravar ele no bandido da vez! Heheh!

   



quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página final


Ainda que eu falasse/A língua dos homens/E falasse a língua dos anjos,/Sem amor eu nada seria./É só o amor! É só o amor/Que conhece o que é verdade./O amor é bom, não quer o mal,/Não sente inveja ou se envaidece - Legião Urbana.

 
   O abraço, o choro, o pedido de perdão de Lucius enervou o seu pai que lhe pegou pelo pescoço e o arremessou de encontro à parede. Lucius estranhou a atitude e a força descomunal empregada por Petrus, sem saber se foi devido ao que ele lhe fez sugando o seu sangue, ou, pensou, talvez ele não fosse realmente o seu pai. Petrus, com a voz cavernosa e gutural, nada humana, lhe disse:

   - A desgraça de vocês, humanos, foi pensar que a bondade ia lhes salvar. São os atos maldosos que lhes tornam fortes. Vocês são, essencialmente, animais, e entre os animais, somente uma lei impera: a dos mais fortes. - Pegando Lucius pelo pescoço e o encostando-se à parede, Petrus sussurrou em seus ouvidos. - Desgraçado, você já viu um lobo chorar ao matar a sua presa, já o viu pedir perdão para a mãe ou o pai dessa mesma presa. Sabe por que ele não faz isso... - Não vai pensar que o motivo é ele não raciocinar, ou porque ele não tem sentimentos, pois tem, ele sente, ele sabe que a única forma de sobreviver é impondo a sua força. - Ele não faz isso porque para se impuser ele tem de demonstrar que é mau, é imperativa a maldade ao agir, e ela, a maldade intuirá ao derrotado o seu devido lugar. Por isso, covarde, deixar aflorar a maldade em si e a ponha para fora, seja forte! - Petrus jogou Lucius contra os escombros e, ao encaminhar em sua direção, mentalizou a sua verdadeira forma transmutando em o Senhor das Trevas. Quando o Senhor das Trevas retirou a bolsa contendo o seu plasma para inserir nas veias de Lucius, foi interrompido pela chegada de Furiosus trazendo Ariadna.

   O Senhor das Trevas foi tomando por um sentimento, até então não existido nele, ao notar Ariadna e, encaminhando até ela, ele retirou a sua venda. Ao mesmo tempo Furiosus virava-se após ter colocado a espada Divus de Hesediel em cima da mesa, e, vendo a cena, grita para o Senhor das Trevas não fazer aquilo, porém, ele não lhe deu ouvidos. Preocupado com o que poderia acontecer, Furiosus escondeu os olhos abaixando a cabeça e a colocou entre as coxas ao se curvar. Lucius, tomando pela raiva, correu em direção à mesa, pegou a espada Divus e a desferiu a esmo. Quando Furiosus percebeu já era tarde, o fio da espada arrancou-lhe as asas antes dele se levantar, tentou sacar a arma, mas, como estava esfacelando, essa voou da sua mão e caiu próximo de Lucius. Lucius não pensou duas vezes e, ao ver Furiosus virar pó e o seu espírito surgir como saído da escuridão, rolou no chão, pegou a arma e atirou em várias direções. As balas sabiam que ali só havia um espírito para ser capturado. Todas, ao mesmo tempo, se abriram libertando os tentáculos escuros que furiosamente capturou o espírito de Furiosus e travaram uma disputa inaudita por ele. Enfim, quando apenas uma bala restou, ele foi sugado para dentro dela e, tomando rumo incerto, ela se explodiu. No céu uma mancha escura espalhou-se e contraiu rapidamente desaparecendo.

   Indiferente ao que estava acontecendo em sua volta, como se estivesse enfeitiçado, o Senhor das Trevas somente tinha olhos para Ariadna. Seus olhos tomando a coloração vermelha se dilatavam ao percorrer o corpo níveo da filha dos deuses. Irresistível ao apelo sexual, o Senhor das Trevas moveu as suas mãos ao encontro do rosto de Ariadna e percebeu que elas alvejavam. Assustado com a aparente brancura, o Senhor das Trevas, acostumado com o negrume das trevas, notou que não era somente as mãos que alvejavam, mas todo o seu corpo. Pela primeira vez não sabia o que fazer, contudo, mesmo que soubesse, já não era dono de si, seu corpo não mais obedecia ao comanda da sua mente. O Senhor das Trevas, tomado por uma ira incontrolável, tentou alçar voo, não obstante, os seus pés estavam colados no chão, ele estava se transformando em uma estátua de sal. Lucius deu o golpe final o empurrando para o buraco aberto no meio da sala. Contraindo-se, o buraco fechou-se, espalhando pelo ambiente uma nuvem tênue acinzentada que assentou logo em seguida.


   Ariadna percebeu Lucius sentado na soleira da porta com olhar perdido no infinito. O cenário não era o dos melhores, a destruição era visível onde quer que se jogue o olhar, o aroma que se chegava ao nariz era de carne apodrecendo, os urubus formava uma mancha escura no céu, do nada surgiam animais atraídos pela carniça. Desolado, Lucius se via agora em um mundo sem esperança. Ele e Ariadna estavam sozinhos, sem poder contar com ajuda de ninguém. Cabisbaixo, ele se afundou em seus pensamentos procurando solução e abrigo, porém, eles estavam vazios.

   - Hesediel me disse que ficaríamos sozinhos, porém, não deveríamos nos desesperar. - Disse Ariadna ao se aproximar de Lucius, sentar na soleira da porta e tentar compartilhar dos seus pensamentos.

   - O que esperar do mundo como ele está, Ariadna. Só vejo destruição e dor.

   - Não muito diferente do que sempre foi. Hesediel me disse para pegar a sua espada...

   - Ariadna, não temos mais inimigos para combater. - Disse Lucius a interrompendo.   
   - Não, mas se não mudarmos a forma de pensar o mundo, como nos colocamos neste mundo, a Nova Geração estará fadada ao fracasso.

   - E o que a espada de Hesediel tem a ver com isso. - Perguntou Lucius demonstrando interesse.

    - Ele me disse que todas as respostas para as nossas dúvidas seriam achadas quando enfiássemos a sua espada Divus na casa do recém-nascido cujo sangue foi colhido para a minha feitura, ou seja, onde estamos.

   Lucius deu um pulo e adentrou à casa a procura da espada de Hesediel. Sabendo que foi o último a usá-la, ele a encontrou próxima da mesa. Ariadna veio logo em seguida e os dois acionaram o dispositivo Dio enfiando a espada no meio da sala.

  Um clarão inaudito tomou conta da sala, revolveu todos os escombros provocando um redemoinho e parou quando restava apenas um objeto no seu epicentro. O objeto, um livro, foi aproximando dos dois de acordo com a diminuição da intensidade da luz e quando se apagou, caiu nas mãos de Ariadna. Ela assoprou para tirar o pó do mesmo, porém uma crosta negra impedia de ler o título do livro, então ela levantou a barra do vestiu e o esfregou sobre a capa. As letras grafadas em ouro foram, aos poucos, surgindo na capa. Surpreendida ela não acreditou no que estava escrito.

   - A Bíblia Sagrada! - Disse levando a mão a boca para esconder o seu espanto.

   - Mas que resposta possamos achar aí, Ariadna? Você acha que a solução para os nossos problemas podem estar aí?

   Lucius mal terminou de falar e a Bíblia voou da mão de Ariadna abrindo as suas folhas nervosamente de um lado para o outro, ininterruptamente. Enfim quando parou em uma das páginas, luzes lhe cobriram dando mais clareza ao que estava escrito, então, Ariadna leu em voz alta:

   - Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.

   - Do que nos vale isso se nós temos só a nós. - Disse Lucius, enfadonho.

   - Se a Geração que acabou de findar tivesse praticado esse ensinamento, ela não teria sido exterminada, cabe a nós ensinarmos a próxima para que ela não tenha esse mesmo fim.

   - De que vale esse ensinamento se o mal corre em nosso sangue.

   - O bem também. Lucius, onde o amor viceja, o mal não vigora. Tanto o mal como o bem não é exterior ao homem, está dentro dele, e cabe a ele exteriorizar um ou outro.


Página 8

Introdução

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Nota do autor: Toda essa história não passa de uma fantasia, porém, há nela uma verdade, o bem e o mal nasce de nossas ações, por isso, aconselho clicar aqui e descobrir a solução para nossos males e conhecer mais um pouco aonde o escritor se inspirou para escrever esse conto. Espero vocês lá.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 8


 Eu rabisco o sol que a chuva apagou/Quero que saibas que me lembro/Queria até que pudesses me ver/És parte ainda do que me faz forte/E, pra ser honesto,/Só um pouquinho infeliz... - Legião Urbana.
 
Ao pousar próximo da casa branca com portas amarelas, Hesediel desatou a cinta de proteção desprendendo Ariadna do seu corpo e sentiu o odor sulfúreo. Sabendo que anjos Shaitans estavam próximo devido ao cheiro, Hesediel a puxou de volta para próximo de si e sacou da sua espada Divus. O que Hesediel não via era que os anjos Shaitans não foram atraídos por ele, mas pela beleza de Ariadna, e assim que eles a olhavam nos olhos, transformavam-se em estátua de sal para logo em seguida se esfacelarem em pó. Aos poucos todos se vergaram à sua beleza em uma espécie de êxtase coletivo. Furiosus, longe dos olhos de todos e sobrevoando sob o céu iluminado, sem mais o manto negro a cobri-lo, pois todos os anjos Shaitans havia virado pó, observava Hesediel e Ariadna. Agora, entendendo o porquê de Iratus ter virado estátua de sal, ele colocou uma venda em seus olhos, voou rente ao chão, desviou da espada de Hesediel jogada a esmo e com as garras dos pés capturou Ariadna pousando-a em um gancho de um dos prédios mais alto.

   Sua respiração ofegante desejava vingança, contudo, ao cheirá-la, os seus desejos já eram outros, não obstante, ele sabia que o Senhor das Trevas a queria também. Furiosus retirou a venda e a colocou em Ariadna atando fortemente. O vento desnudava Ariadna, a sua pele alva refletida pelo sol causava fascínio em Furiosus. Ele se aproximou de Ariadna e sentiu o calor do seu corpo transpassando pelos seus poros como gotículas de água que ao estourarem, deixavam no ar um aroma refrescante e suave. Arrebatado pela concupiscência, Furiosus, com as garras dos seus pés sobre o corpo de Ariadna arrancou as suas peças íntimas. Apesar de não ter conhecimento sobre geometria, desenho artístico, poesia e mais precisamente de como o artista se inspira para no barro moldar o sentido de perfeição, Furiosus ficou tão bestificado diante de tanta beleza que descontrolado passou a língua entre os dois seios de Ariadna sugando os seus mamilos em seguida, depois desceu a língua até o vórtice do seu sexo preparando para consumar os seus desejos. Ariadna confundia-se entre a repugnância e o prazer, sem saber se pedia para parar ou continuar, contudo, ele parou, não por que ela o pediu. Furiosus afastou-se perturbado, olhou as curvas de Ariadna e sobre o efeito delas não percebeu Hesediel aproximando-se com a espada em punhos. Quando ele ia retirá-la do gancho para mentalizar a forma humana e no chão consumar os seus desejos, sentiu o golpe de espada nas costas.

    A cegueira impediu que o golpe de Hesediel fosse certeiro e arrancasse as asas de Furiosus. Mesmos com dores, Furiosus soergueu, empunhou a espada, fechou as asas e, tresloucado, foi em direção a Hesediel. Sentido que não havia arrancado as asas de Furiosus, Hesediel sabia que só teria aquela oportunidade e como a desperdiçou, desejava morrer vendo a sua amada, Ariadna, mesmo sabendo que seria a primeira e última vez. Furiosus não tinha a honra dos grandes guerreiros, nenhum anjo Shaitan a tinha, tampouco, sabia reconhecer o derrotado para lhe dar uma boa morte. Ele cravou, covardemente, a espada nas costas de Hesediel, perfurando o seu coração, assim, sabia que a dor só encerraria com a morte do seu espírito. A violência do golpe foi tão desproporcional que os dois desceram vertiginosamente, e ao cair no solo, cada um foi para um lado, rolando sem destino. Hesediel ficou preso pela espada cravejada no seu corpo e presa no chão. Furiosus, com o corpo dolorido, estatelou-se entre os mortos que serviam de banquete para urubus.

   A maior desonra para um anjo é ser morto por um humano ou por outro anjo transmutado em humano. Hesediel sabia o que lhe aguardava e não tinha força para lutar contra. Furiosus levantou pisando nos corpos dos mortos a procura de Hesediel. Quando o achou, cerrou os olhos, mentalizou a forma humana, acelerou os passos, e, transmutado, o pisou no pescoço, arrancou a sua espada Daemo, ergueu as asas de Hesediel e as cortou violentamente. Lestamente, Furiosus mentalizou a forma angelical, e, transmutado, sacou a sua pistola e descarregou o pente atirando a esmo, ele sabia que uma das balas acharia o espírito de Hesediel.

   Desmaterializado, Hesediel levitou ao encontro de Ariadna, presa no gancho de um dos prédios. As balas zuniam no ar, algumas ricocheteavam nos prédios, capturavam alguns espíritos desgarrados e explodiam em seguida, outras procuravam o espírito de Hesediel. Os desejos impulsionavam cada vez mais o espírito de Hesediel aos braços de Ariadna, e, finalmente, quando o espaço entre os dois não deixava brecha para um fio de cabelo passar, o ar em torno dos dois se tornou gélido. O frio começou a petrificar o corpo de Ariadna quebrando o clímax, o estremecimento da sua espinha fez com que o espírito de Hesediel se afastasse, atentando para os seus atos.

   Os desejos em si não nos levam ao pecado, mas o controle sobre os mesmos sim, e são as escolhas, em recusá-los ou consumá-los que se conhece o pecador. O salvamento pode vir pelo arrependimento, e, dependendo do julgador, redundará em condenação ou não.

    Arrependido, Hesediel orou, não que buscasse um salvamento para si, mas porque ele agiu contra os seus princípios cristãos, o de amar sem apego ao físico.

   Ariadna começou a sentir tremores pelo corpo, os seus dentes batiam um nos outros descontroladamente, os dedos das mãos e dos pés arroxeavam, antes que a sonolência lhe tirasse qualquer possibilidade de pedir ajuda, ela gritou socorro desesperadamente. Quando a ajuda veio, ela adormecia com as pupilas dilatadas.

   O espírito de Hesediel sabia que se intensificasse a sua luz, seria achado pelas balas, porém, tinha a certeza que a sensação de frio que Ariadna estava sentindo foi provocada por ele a ter desejado fisicamente. Os deuses a estavam castigando para atingi-lo.

   O céu foi tomado por um clarão inaudito, a luminosidade se expandiu e contraiu atraindo as balas. Na contração, Hesediel levantou os braços de Ariadna aquecendo as suas axilas, depois as pernas e braços, e por fim abraçou-a soltando-a assim que ela se refez. Ele já notara que a claridade irradiada pelo seu corpo ativou o sistema de busca das balas atirada por Furiosus, por isso afastou de Ariadna assim que ela se recuperou.

   As balas fizeram um circulo em volta do espírito de Hesediel, abriram suas pontas soltando tentáculos escuros que o envolveu e travaram uma disputa para ver quem o tinha para si. Algumas esmoreceram, desistiram e foram atrás de outros espíritos desgarrados; outras apagaram seus tentáculos e perderam o seu poder de captura, pois o espírito de Hesediel ainda tinha um pouco de luz e resistia. Enfim, quando restava apenas uma bala, Hesediel sabendo que sairia derrotado, se entregou. Os tentáculos escuros arrastou o espírito de Hesediel para dentro de si, fechou a sua abertura e se explodiu. A luminosidade que se via no céu era maior que a do espírito de Hesediel quando se expandiu e se contraiu, porém, foi perdendo a sua intensidade rapidamente tal qual a vela bruxuleando no castiçal que aos poucos se apaga devido o pavio estar chegando ao fim.

   Como os anjos Shaitans não expressam a sua alegria com sorrisos, Furiosus, ao ver um pequeno ponto de luz no céu após a explosão, abriu as suas asas, bateu no peito várias vezes e urrou de felicidade, pois sabia que o espírito de Hesediel havia morrido. Ariadna, refeita da hipotermia, teve tremores no corpo ao ouvir os urros, e o pavor foi ainda maior quando sentiu as garras de Furiosus retirá-la do gancho. Furiosus voou alto, deu a volta em torno do prédio, embicou em direção a espada Divus de Hesediel, pegou-a do chão com as garras da mão direita e voou para cima dando voltas no prédio, novamente. A satisfação de ter a espada como prêmio pela vitória foi demonstrada com vários urros ensurdecedora. O grito de pavor de Ariadna por Furiosus passar rente aos objetos projetando seu corpo em direção aos mesmos, não se fez audível por ter sido abafado pelos urros. Furiosus, carregando em pleno voo a arma com um novo pente com balas de captura de espíritos, voou em direção à casa branca com portas amarelas onde se encontravam o Senhor das Trevas e Lucius.

Continua quarta-feira às 12hs00min

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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 7

Quando tudo está perdido/Sempre existe uma luz/Quando tudo está perdido/Sempre existe um caminho/Quando tudo está perdido/Eu me sinto tão sozinho/Quando tudo está perdido/Não quero mais ser/Quem eu sou - Legião Urbana.
  
   Imagens intermitentes do passado vieram a mente de Iratus assim que o espírito do recém-nascido entrou na lareira, a sua mente as processava tentando achar algo despercebido. Quando Furiosus derrubou a lareira, a sua mente o levou de volta ao passado e ele se viu entre as labaredas observando Hesediel no momento que fazia a coleta de sangue do recém-nascido. Ele processou a cena minuciosamente, prestando atenção em todos os detalhes, então, viu Hesediel enfiar a pena na sola do pé do recém-nascido, coletar e acondicionar o sangue em uma ampola, depois se viu embrenhar mais ainda por entre as labaredas, receoso em ser descoberto. Inopinadamente, as imagens do passado escureceram em sua mente e ele somente conseguiu ver um grande telão preto rodeado por fogo. Controlando as suas emoções, sentido ser queimado, Iratus mentalizou a sua imagem do passado saindo de dentro das labaredas, incendiando o grande telão preto para uma nova tela com camada branca surgir e aos poucos ir ganhando cor, revelando o exato momento em que Hesediel injetava o plasma dos deuses no recém-nascido. Trazido lestamente de volta ao presente, ele percebeu que não adiantaria contar a Furiosus o que havia acontecido, pois a raiva, além de impedi-lo que escutasse, o impelia a outra ação, a destruição da casa. Iratus procurou por Lucius e o viu próximo aos escombros, empunhando a espada, puxou-o pelo braço e o sangrou. Girou em torno da sala e encontrou o que precisava. Foi em direção ao corpo do pai do recém-nascido estendido no chão, preso a cruz pela espada de Furiosus. Ao arrancá-la, ele chamou a atenção de Furiosus para si, rolou com os pés o corpo sobre a cruz e espargiu sobre a mesma o sangue de Lucius embainhado em sua espada.

   Iratus já sabia o que ia acontecer, no entanto, ele ficou tão surpreso quanto Furiosus pela intensidade da luz iluminada sobre a cruz e apenas pequenas sombras formadas na ponta. Nas veias de Lucius corria em maior quantidade o sangue plasmado dos deuses do que o sangue plasmado do Senhor das Trevas, e a culpa era sua por não ter percebido Hesediel injetar o plasma dos deuses no recém-nascido.

   Iratus não deu ouvidos aos gritos de Furiosus para que ele não fizesse o que pretendia, pois antevia o pior. Os gritos foram em vão, passaram despercebidos por ele e se perderam no vento. Cego e inconsciente, ele agiu por instinto. Iratus, proferindo palavras desarrazoadas, partiu com a espada Daemo em punhos para cima de Lucius.

   Um buraco se abriu no chão revolvendo os escombros na sala e arremessando Lucius para longe. Um odor sulfúreo saiu do seu interior e a sala foi tomada por um calor insuportável. Iratus freou desesperadamente com os pés e percebendo que não pararia antes de cair no buraco, cravou a sua espada no chão e esta o arrastou para próximo do precipício. Quando ele se ergueu e tentou descravar a espada, uma imensa sombra surgiu diante de si.

 

   Os olhos amendoados, o rosto redondo, o nariz pequeno e afilado, os lábios grossos e úmidos, a pele sedosa, os cabelos volumosos e cacheados, o pescoço longo, os ombros largos, Hesediel, na forma humana, os soube ao tocá-los com as mãos, no entanto, antes que o desejo o levasse a querer saber mais do que pudesse, ele recolheu as suas mãos e mentalizou a forma angelical.  Ao se transmutar em anjo, ele ouviu Ariadna dizer que a cor dos olhos estava entre o azul céu e o verde mar. Hesediel levou as asas aos olhos como se desejasse ter a visão, e antes que outros desejos tomassem conta de sua mente, ele aguilhoou ao cumprimento da sua missão guardando a espada Divus na bainha e o recipiente Lux no coldre, colando o corpo de Ariadna ao seu, amarrando a cinta de proteção em volta dos seus corpos, abrindo as asas e alçando voo.

   O vestido de algodão branco de Ariadna bailava no ar de acordo com o sentido do vento, ora deixando as suas coxas sem pelos à mostra, ora não. Hesediel, mesmo não enxergando, sentia o contato da pele de Ariadna revelar em sua mente a fotografia do seu corpo nu. Por mais que ele se concentrasse na sua missão, a atração que sentia por ela o desarrazoava. Os suores e os tremores pelo seu corpo, o aceleramento das batidas do seu coração eram provas que ela o atingia. Havia algo nela que abalava os imortais, ele não quis saber o que era. Acelerou as batidas das asas, pegou uma corrente de ar e embicou rumo à terra, antes que o peso do corpo aumentasse devido a sua concentração ser desviada para o desejo ou os tremores o desnorteasse.

  

   Furiosus anteviu essa cena, pois sabia que o Senhor das Trevas não deixaria Iratus assassinar o seu filho, afinal, muito mais do que pela herança sanguínea, os seus ensinamentos, Lucius aprenderia pela convivência. Os seus gritos de não atacar foram em vão, se perderam no vazio. Iratus selou o seu destino e diante do buraco, próximo a sua queda, ele viu a sombra se transmutar e descravar a sua espada Daemo do chão e cravá-la no seu coração. Ele sabia que assim não morreria, se o Senhor das Trevas quisesse eliminá-lo, bastaria ter cortado as suas asas, se não o fez era porque queria fazê-lo sofrer.

   O Senhor das Trevas cravou mais ainda a espada em Iratus varando as suas costas, quando a tirou girando, Iratus sentiu a raiva do seu senhor. Vociferando e com o ódio espremido entre os dentes, o Senhor das Trevas o agarrou pela gola, olhou dentro dos seus olhos na tentativa de encontrar o medo e como não achou, selou o seu fim com um beijo na boca. O Senhor das Trevas esperava que Iratus pedisse clemência, como nenhuma palavra saiu da sua boca, ele o arremessou para cima, desejando que a sua queda fosse dolorida e lenta. Iratus varou o telhado e lembrou que Furiosus havia lhe dito, assim que eles começaram a treinar com os Guerreiros Shaitans, que a morte é bela.

   Ele não voava como um anjo Shaitan, mas impulsionado pela força impregnada pelo Senhor das Trevas, não sabia se iria encontrar com a morte na ascendência ou descendência. Quando ele a viu, ela tinha os olhos amendoados, não sabia se eram azuis céu, ou verdes mar, os cabelos cacheados pareciam fios de ouro, a pele alva sem um fio de cabelo ressaltava a sua beleza. Iratus encontrou a morte e ele não estava nem na ascendência, nem na descendência, pois estava parado, transformado em uma estátua de sal.

   Quando Ariadna recuperou do susto, nunca imaginou tanta feiura em um anjo. Iratus caiu vertiginosamente sem se esfacelar com o atrito. Hesediel, sem poder enxergar, pediu a Ariadna que descrevesse o que estava vendo. Ela lhe contou da queda do anjo negro e da destruição do plano terreno. Sabendo que o anjo negro só poderia ser Furiosus ou Iratus, Hesediel pousou para preparar o ataque, ou mais apropriado dizer, a defesa.

   Iratus caiu em pé próximo ao precipício na sala e se esfacelou transformando-se em uma nuvem negra que adentrou a escuridão do buraco. O sentimento de dor pela perda não havia entre os anjos Shaitan, pois a ausência de luz os impedia de sentir. Furiosus não esperou a ordem de ataque do Senhor das Trevas, o seu olhar já dizia o que tinha de fazer. Ele deu a volta em torno do precipício na sala e saiu voando pelo buraco no telhado aberto quando Iratus foi arremessado.

   Lucius despertou tendo diante dos seus olhos o seu pai, Petrus. Deu-lhe um abraço efusivo, logo em seguida chorou compulsivamente, e ainda choroso, pediu-lhe perdão pelo que havia feito. 


Continua domingo às 12hs00min


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domingo, 25 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 6


  Para que servem os anjos?/A felicidade mora aqui comigo/Até segunda ordem/Um outro agora vive minha vida/Sei o que ele sonha, pensa e sente/Não é coincidência nem é indiferença/Sou uma cópia do que faço/O que temos é o que nos resta/E estamos querendo demais - Legião Urbana.

 No piso havia frisos devido o arrastar da cadeira de ferro provocados pela inquietude de Petrus. Quando a porta passou voando sobre a sua cabeça, ele não acreditou no que viu diante de si. As transformações em Lucius foram tantas que sobressaía a forma humana, muito mais do que a forma Shaitan, se não fosse as asas, diria que ele era humano.

   Pai e filho se olhavam como se tivesse diante de um espelho. Para Petrus, aquilo era incompreensível, esperava encontrar um recém-nascido e diante de si estava um homem com asas. Lucius não fez essas especulações, pois o seu instinto Shaitan aflorou bestialmente.

   Furiosus não teve escolha, teria de impedir o processo de transformação humana em Lucius, mesmo sabendo que também pararia o processo de transformação Shaitan. Percebendo que o instinto Shaitan aflorava em Lucius, ele o empurrou ao encontro do pai antes que o instinto humano o retivesse.

   Os anjos Shaitans formando o manto negro sob o céu estavam agitados, aguardava a ordem de ataque pressentindo que sobre o céu algo de pior poderia lhes acontecer. Inerente a tudo isso, Furiosus e Iratus apraziam a voracidade com que Lucius atacou o seu pai, o efeito do espírito da parteira não foi tão devastador.

   Lucius havia fincado as suas presas no pescoço do seu pai, abrido as asas levantando voo em direção ao quarto e parando a meia altura do mesmo. Fez isso para os dois anjos Shaitans não perceberem as lágrimas de arrependimento que escorriam dos seus olhos, porém, algo mais forte o induzia a sugar todo o sangue do seu pai. Quando terminou, desejou pousar o corpo sobre a cama, contudo, levantaria suspeita, então ele o largou. O corpo do seu pai caiu no piso estremecendo o quarto, o seu corpo estremecia por dentro horrorizado com o ato que acabara de cometer. Satisfeitos, Furiosus e Iratus saíram juntamente com Lucius em direção a casa do recém-nascido cujo sangue foi extraído para a feitura de Ariadna, mas antes, Furiosus  soprou o corno do Senhor das Trevas espargindo sobre a cidade o pó do sono e em seguida deu ordem de ataque aos anjos Shaitans.

   Assim que os anjos Shaitans se dispersaram, o céu ganhou as suas cores naturais, mais mesmo assim, embaixo dele permanecia a escuridão. O ataque foi calmo e indolor devido o efeito do pó, os espíritos, também entorpecidos, foram se encaminhando para o recipiente Tenebrae sem oferecer resistência. Aos poucos, as cidades foram caindo e o silêncio sepulcral foi tomando as ruas, de vez em quando quebrado pelos ventos que levavam objetos soltos.

 

   Em Protokus, Hesediel passava para Ariadna todos os seus conhecimentos, como acionar e manejar o recipiente Lux e a espada Divus, o que ela deveria fazer caso os anjos Shaitans o eliminasse e como proceder no plano terreno. Cego, ele sabia que seria dominado facilmente pelos anjos Shaitans Furiosus e Iratus, caberia a ela resistir, e ele fez questão de frisar a força de seu olhar, como se ela não soubesse disso. Essa culpa de ter matado os deuses, ela carregaria consigo até o fim dos seus dias, porém, algo nela regozijava com esse feito, como se o ato maldoso, muito mais do que a sua consequência, a morte dos deuses, alimentasse nela uma força oculta necessitando aflorar. O sangue plasmado do Senhor das Trevas agia em seu corpo da mesma maneira que o sangue plasmado da deusa Cípria agia no corpo de Lucius, era o bem e o mal travando uma batalha silenciosa. E quem quer que saia vencedora, seria a Nova Geração que usufruiria dos louros da vitória de um ou do outro.

 

   Quando Furiosus, Iratus e Lucius chegaram à casa branca com portas amarelas marcada com a estrela e a cruz, anjos Shaitans tentavam penetrá-la e não conseguiam. Lá dentro os pais do recém-nascido, apegado ao crucifixo, lia o Livro Sagrado, pois nele estava a salvação.

   Furiosus abriu as suas asas e agigantou diante dos outros anjos Shaitans, assustados, eles fugiram em busca de outras presas. Furiosus retirou do estojo a pena que ele arrancou da asa de Hesediel, colocou o plasma do Senhor das Trevas na mesma e passou sobre o desenho da estrela com a cruz no sentido contrário que ela fora desenhada. O plasma do Senhor das Trevas enegreceu o desenho e foi encrustando nos veios da madeira que, aos poucos, perdeu o seu viço e em seguida esfarelou até se torna um amontoado de pó sobre o chão.

    Diferente de Iratus, a maldade era latente em Furiosus, feroz na forma angelical e humana, porém, suave na forma animal. Ele não pensou duas vezes ao sacar a espada Daemo, como se estivesse diante de seu pior inimigo, cravou-a nas costas do pai do recém-nascido perfurando o seu coração, soltou o berro do vitorioso, levantou-o com a espada e a cravou na cruz que estava pregada na parede da sala. Iratus pegou a mãe pelos cabelos e a pôs de pé. Ela, com as palmas das mãos postas uma contra a outra, orava o Pai nosso quando recebeu o golpe da espada no pescoço. Furiosus ia disparar a sua arma para eliminar o espírito dos dois, mas voltou atrás, pois os mesmos não mereciam a sua munição, então acionou o recipiente Tenebrae, contudo, os Servos dos deuses os haviam levado para Esperantus. Lucius, passivo, assistia a carnificina indeciso entre participar ou lutar contra tudo aquilo.

   O recém-nascido foi erguido do chão por Iratus e entregue a Furiosus que o despiu analisando o seu corpo pelo olfato, sentiu o sangue quente pulsar nas veias, vociferou mostrando as suas presas e estranhou quando ele sorriu, aparentando que não tinha medo, então, o jogou no ar esperando que Lucius voasse em sua direção e o tomasse para si sugando o seu sangue.

   Lucius demorou a levantar voo e atacar, contudo o grito de Furiosus ordenando que fizesse o ataque o tirou da condição passiva. O instinto Shaitan o fez levantar voo em direção ao recém-nascido o tomando para si. Quando Lucius cravou as suas presas no pescoço do recém-nascido sugando o seu sangue, as suas asas começaram a incrustar em sua pele até desaparecer de uma vez, depois, foi as asas do pé, e por fim, as presas. Seu corpo caiu e antes de atingir o piso da sala foi aparado pelo espírito do recém-nascido que o repousou perto da lareira.

   Furiosus bateu asas desesperados derrubando os objetos da sala, entre eles estavam o Livro Sagrado e o crucifixo. O voo descontrolado atrás do espírito do recém-nascido derrubou tudo que  encontrou pela frente, porém, o espírito já havia entrado na boca da lareira e saído pela chaminé. No telhado da casa, os Servos dos deuses o aguardavam. Em uma ação tresloucada, Furiosus tentou a última manobra chocando-se contra a lareira e a levando ao chão juntamente com a chaminé, porém o espírito do recém-nascido não estava entre os escombros. O grito do derrotado ecoou longe.


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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 5


Pra você juntar/E queria sempre achar/Explicação pro que eu sentia./Como um anjo caído/Fiz questão de esquecer/Que mentir pra si mesmo/É sempre a pior mentira,/Mas não sou mais/Tão criança a ponto de saber tudo - Legião Urbana.

   Tartarugando de um lado para o outro, ora espreitando pelo buraco da fechadura, ora tentando escutar, com o ouvido direito colado a porta, o que se passava dentro do quarto, Petrus, por duas vezes, tentou entrar, mas receoso de infringir a ordem dada pela parteira, sentou-se e inquieto permaneceu com os olhos vidrados na porta.

   Os flashes da lâmpada em intervalos intermitentes, devido ao seu defeito, não permitiam a parteira ter a nitidez das imagens que lhe chegava aos olhos, por isso ela foi à janela e a abriu para ter mais luminosidade. Do lado de fora da casa, a escuridão era mais intensa. Ela perscrutou com os olhos até aonde as suas vistas permitiam e reparou que o nevoeiro havia desaparecido, não obstante, ao olhar para o céu, o viu coberto por um manto negro, então, a razão tomou conta dela fazendo notar que algo de estranho estava acontecendo ali, desde o momento que chegara, ela só presenciou trevas e destruição.

   Se a parteira tivesse obedecido à razão, desprenderia os pés do chão e passos a passos teria caído fora dali, não que isso a salvasse, pois lá fora o cenário era pior, porém, iria com a sensação que tentou se salvar, contudo, o recém-nascido lhe prendia ali, inquietava-a não saber o que lhe aconteceu.

   As sombras distorcidas refletidas nas paredes do quarto não a amedrontavam, pois sabia que na escuridão, o medo criava monstros. Percorreu os olhos por todo o quarto até pará-los em um borrão enegrecido pendurado no caibro. Cerrou os olhos, apurou as vistas para melhor enxergar e não acreditou no que viu. Trêmula, suas pernas não aguentou o peso do corpo e a levou ao chão, desacordada.

   O nevoeiro havia baixado, a cidade, aparentemente, voltava ao normal, porém permanecia em escuridão total, sob o céu anjos Shaitans, formando um infinito manto negro, aguardava ordens para atacar. Dentro da casa, Furiosus e Iratus esperavam os instintos animalescos de Lucius vir à tona para provar o início da sua maturação.

   Entre os dois anjos Shaitans se encontrava Lucius pendurado no caibro de cabeça para baixo, segurando-o com as garras dos pés, o seu corpo estava maturando, asas se delineavam embaixo da pele tentando vir à luz. Contudo, havia uma luta licenciosa do sangue humano para estancar a maldade que o plasma do Senhor das Trevas operava no seu corpo, a escuridão ainda não havia atingido o seu espírito. Quanto maior a quantidade de outro sangue humano que não fosse da sua linhagem familiar, mais rápida seria a aceleração do processo de maturação, consequentemente, Lucius adquiriria aspectos diabólicos.

   Furiosus sabia que o corpo desacordado da parteira no chão pulsando sangue cálido por suas artérias não seria o suficiente para acelerar o processo de maturação. O da mãe, morta na cama, Lucius não poderia usar, pois ele foi usado na sua feitura. O do pai só se fosse necessário, mesmo sabendo que ele desaceleraria o processo, no entanto ele precisava de tempo até eles chegarem à casa marcada com a cruz e a estrela. O sangue do recém-nascido completaria o processo de maturação.

   Duas cadeiras de ferro com assento e encosto entrelaçados por fios de polietileno nas cores azul e vermelho; uma televisão desligada colocada sobre um tampo de madeira jacarandá adaptada a um pé de mesa de ferro de máquina de costura Singer servindo como rack; um cesto de vime contendo algumas revistas de fofocas sobre celebridades em um dos cantos da parede eram as únicas mobília da sala; mais adiante o buraco na parede, Petrus, com a mente presa na preocupação do nascimento do seu filho, não percebeu. Afoito, folheava as páginas da revista umedecendo os dedos em sua língua, sem dar atenção para o que estava escrito. A espera o inquietava. Impaciente, ele cruzou as pernas da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, amiúde. Ao entrecruzar as pernas, Petrus fazia um ruído agudo devido o movimento da cadeira de ferro no piso. Imperceptível a qualquer mortal que estivesse a poucos metros dali, o ruído não era para quem tem ouvidos apurados. Lucius o ouviu, o seu instinto animalesco estava apurado, ele já sabia que precisava de sangue para a sua maturação. O destino da parteira, Furiosus e Iratus já sabiam que estava selado, o de Petrus acabara de saber quando Lucius mostrando as suas presas apontou em direção da porta.


   Lá fora, na rua, o vento levantava a poeira do chão, o nevoeiro tinha dispersado havia tempo, o sol estampava no céu o seu brilho, porém, o manto negro impedia o seu reflexo. Cálido e totalmente escuro, o dia surgia com os seus sons característicos vindos das casas: latidos de cães, cantos de galos, balidos de ovelhas, mugidos de gados e os cantos entoados pelos pássaros. Aos poucos, de dentro das casas, surgia o ruído de água percorrendo os canos, o chiado ao romper as torneiras ou o da descarga do vaso sanitário. Noutras casas apresentava o ruído característico de chuveiro ligado, sinal de que, aparentemente, a vida tomava o seu curso normal. Contudo, uma única casa não apresentava esses ruídos, e a parteira seria testemunha do que ocorreria ali.


   Furiosus retirou o pente de balas de sua arma e inseriu o pente com cravos. Movimentando o dedo indicador, ordenou a Iratus que erguesse a parteira. Iratus desprendeu do caibro imediatamente e voou em direção ao chão, abraçou a parteira, ainda desacordada, com as duas asas levantando voo, suspendeu-a no ar, abriu os seus braços e a largou. Imediatamente fechou as suas asas, embicou e desceu com os pés juntos, parou no ar assim que a parteira começou a cair, flexionou os joelhos e arremessou os pés em direção do tórax dela. Com o impacto, a parteira voou na ascendente indo de encontro à parede. Lestamente Iratus espargiu o pó do sono para ela não despertar; enquanto isso, Furious disparava a sua arma pregando mãos, braços, pernas e pés da parteira na parede. Com as garras dos pés Iratus fez a sangria no pescoço da parteira. Lucius, até então quieto, teve seu instinto aguçado pelo cheiro de sangue fresco. Com os caninos à mostra, ele se jogou no pescoço da parteira.

   O ruído despertou em Petrus a curiosidade, ele foi em direção à porta e abaixou a maçaneta tentando abri-la, um pó denso espargiu do buraco da fechadura deixando sonolento. Sem poder de ação, Petrus prostrou na cadeira de ferro.

   Aos poucos a luz lhe foi tirada dos olhos como se tivesse faltado energia, porém era a vida que lhe faltaria em poucos instantes. A parteira não acreditou no que estava vendo, o recém-nascido que até poucos minutos atrás estava pendurado no caibro, agora era um menino a lhe sugar o sangue. Quando finalmente ele a soltou, tirando os cravos que a prendia na parede, ela viu o seu corpo espatifar no chão. Seus olhos agora enxergavam com clareza, o menino se tornou um rapaz, horrendo, com garras nos pés e mãos, caninos tão afiados como um picador de gelo e asas querendo brotar de sua pele. Ela se perguntou quem era aquele menino, e por qual motivo ele aceleradamente se transformou em um rapaz com aparência diabólica. Antes que as respostas lhe aparecessem diante dos seus olhos, ela viu um halo de luz e de dentro dele surgir os Servos dos deuses que vieram lhe buscar, pois ela era um espírito de luz. Mesmo assim, ela lutou para não ir, precisava salvar aquele rapaz. Então, por escolha própria, ela ficou.

   Furiosus armou o recipiente Tenebrae para capturar o espírito da parteira, uma sombra enegrecida saiu do mesmo perscrutando a esmo, porém não o encontrou. Diante deste imprevisto, ele acelerou os seus afazeres para finalizar a sua missão. Armou o caldeirão Diabolus, picou a raiz de valeriana cultivada nos campos do Senhor das Trevas, adicionou o plasma do mesmo, acionou o sistema vibratório enfiando a espada Daemo no lugar apropriado, depois ligou o processo de maceração e por fim o de evaporação. Após alguns segundos, Furiosus tinha pó o suficiente para espargir sobre a cidade. Cismado, ele foi lá fora, olhou minuciosamente a rua buscando movimentos suspeitos, fixou o olhar no manto negro e reparou certa inquietude nos anjos Shaitans. Ao entrar à casa, não perdeu tempo e retirou o pente da arma, e deste todas as balas, inseriu nelas o plasma do Senhor das Trevas e as fechou recolocando no pente e este na arma, destravou a pistola e a guardou no coldre. Sabia que o anjo Hesediel não tardaria a chegar com a sua protegida. Ao pensar nisso, uma gota de suor escorreu do seu rosto, Iratus, atento aos movimentos de Furiosus, percebeu, e sentiu o mesmo medo, porém, a sua sudorese eram nas mãos.

   Iratus colocava o caldeirão Diabolus desarmado na sua mochila, enquanto Furiosus colocava o pó do sono no corno do Senhor das Trevas fechando o bocal, a sua arma no coldre direito e o recipiente Tenebrae no coldre esquerdo, quando foram surpreendidos pelo espírito da parteira adentrando o quarto em forma espiral e atingindo Lucius no peito. Lestamente, Furiosus destravou o coldre esquerdo armando o recipiente Tenebrae e o arremessou em direção a Lucius. Assim que o recipiente Tenebrae deslizou pelo chão, de dentro dele saiu uma sombra enegrecida com tentáculos na ponta agarrando o espírito da parteira e o desprendendo do peito de Lucius. A sombra e o espírito lutavam freneticamente derrubando tudo que encontravam pelo quarto. Furiosus pensou em usar a sua arma para extinguir de uma vez por toda o espírito da parteira, mas reteve o impulso, pois desperdiçaria munição em um espírito sem valor, aquelas balas tinham dono, o espírito de Hesediel, além disso, Tenebrae daria conta do recado.

   A sombra abraçou totalmente o espírito e este tal uma vela quando vai perdendo o lume quando o pavio chega ao fim extinguiu-se deixando um tênue fio de fumaça que dispersou no ar. Ao abaixar para pegar o recipiente Tenebrae, Furiosus percebeu transformações em Lucius. Sem perder tempo, Lucius se arremessou em direção à porta arrombando-a.


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domingo, 18 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 4

Gostaria de não saber destes crimes atrozes/É todo dia agora e o que vamos fazer?/Quero voar pra bem longe mas hoje não dá/Não sei o que pensar e nem o que dizer/Só nos sobrou do amor/A falta que ficou - Legião Urbana.

   Hesediel chegou à Protokus, a cidade dos deuses e foi recebido com grande alegria por Aplu, o deus da luz. Hesediel relatou a sua aventura no plano terreno e, sem delongas, entregou o sangue. O conclave dos deuses não demorou muito e foi determinado que Cípria, a deusa da beleza, seria encarregada da feitura de Ariadna. Aplu lhe entregou a ampola com o plasma de todos os deuses para ser misturado ao sangue do bebê e então inserido no barro. Cípria, movida pela vaidade, achou por bem que Ariadna deveria ter apenas o seu plasma para assim alcançar a beleza suprema.

   No momento da sua feitura, não se sabe se devido ao plasma de Cípria ou devido a pureza do sangue humano, Ariadna foi contemplada por uma beleza rara, destas que quaisquer adjetivos conhecidos, se usados, não a descreveria propriamente como tal. A sua beleza caberia muito mais do que numa simples exclamação adjetiva, a impossibilidade de verbalizá-la se dava por ser indescritível. Porém, mesmo assim, se se ousassem, por maior conhecimento que tivessem da língua, estariam ocorrendo em erros. A maneira mais correta de descrever a beleza de Ariadna era a admirando com os olhos, seja por olhos mortais ou imortais. Aos olhos mortais apenas a sublimação, aos dos imortais, muito mais do que isso, a admiração seria a sua ruína. Nas veias de Ariadna também corria o plasma do Senhor das Trevas.

   Os deuses somente tinham olhos para Ariadna, estavam cegos, não tiveram tempo o suficiente para sair do estado de contemplação. Perdidos em um labirinto cujo fio da meada se perdeu no caminho, a inação tomava conta deles. Quando Aplu percebeu o que estava acontecendo já era tarde demais. Até ele foi fisgado, tinha pouco tempo para agir. Os deuses, um a um foram virando totens inúteis, pedras de sal.

   Aplu saiu de seu trono e se arrastou até Hesediel, bestificado ao ver os deuses se transformarem em estátua de sal e depois se dissolverem no ar, não compreendia como aquilo estava acontecendo, havia algo de errado, mas o quê, se perguntou. Repentinamente veio em sua memória, a brasa rolando no carpete no momento que ele ia retirar o sangue do bebê. Hesediel balançou a cabeça por não acreditar no que estava passando por sua mente: "O Senhor das Trevas havia agido. Será?" Pensou em voz alta.

   Aplu, antes de qualquer ação de salvação, pois não a tinha, cegou os olhos de Hesediel para todo ser imortal. Ariadna, enquanto não encontrasse aquele que deu o sangue para a sua origem, era imortal. Por isso Hesediel não a via e nem tampouco poderia ser atingido por sua beleza mortal. Incumbido de levar Ariadna para o plano terreno, Hesediel saiu do Templo dos deuses,  viu Aplu se transformar em estátua de sal,  depois explodir em uma imensa luz, se apagar aos poucos, e, enfim, se transformar em um ponto negro no meio do nada. O criador sucumbiu à criatura, os deuses estavam mortos.


   Anjos Shaitans vigiavam Petrus intentando matá-lo, porém, refém da necessidade maior determinada pelo Senhor das Trevas, eles teriam de guiá-lo ao encontro do médico, pois o sangue dele era necessário para a maturação de Lucius, o filho do Senhor das Trevas.

   Os pés infrenes de Petrus, acelerados pela urgência em achar alguém que pudesse fazer o parto da esposa, não lhe permitiu que se lembrasse de levar algum lume. Perdido no nevoeiro, ele pensou em voltar à sua casa para pegar uma lanterna, contudo, seria um ato insensato, não obstante a sua esposa estava para dar a luz.

   Serpenteando pelas ruas próximas ao centro comercial, Petrus virou à esquerda e tomou rumo norte. Aguilhoado à desesperança, ele se viu em uma bifurcação sem saber para aonde ir. Pensando que a sorte não lhe sorriria, esmoreceu. Clamou ajuda à providência, desesperado. Mais do que a sorte, ou mesmo a ajuda da providência, quem o socorreu foram os anjos Shaitans ao provocar uma ventania dispersando o nevoeiro. Seus olhos se abriram em direção à casa do médico como se ela estivesse surgida de repente. As batidas, amiúde, na porta da casa do médico avermelharam as juntas dos seus dedos. Cansado, sem resposta, ele ia saindo quando a porta se abriu e uma mulher surgiu indicando a casa de uma parteira moradora da rua de trás. Ao virar e tomar rumo à casa, a mulher se transformou em um anjo Shaitan, entrou à casa e ajudou os seus dois colegas que estavam sugando o espírito de outro anjo Shaitan - com o recipiente Tenebrae - por ter desobedecido as ordens do Senhor das Trevas e matado o médico.

   Ao demorar duas horas para encontrar a casa do médico e mais cinco minutos para chegar à casa da parteira, Petrus já divisava nos seus pensamentos o infortúnio, a desgraça acontecendo, a morte batendo a sua porta e levando a sua esposa grávida. Contudo, a parteira lhe deu novas esperanças.

   Quem sempre recebeu aqueles que vieram à luz, não se perderia na escuridão provocada pelo nevoeiro. Pouco mais de vinte minutos, ele chegou à sua casa tendo como lume e guia a parteira. Sem delongas, a parteira entrou no quarto e ordenou que Petrus aguardasse na sala.

   A lâmpada, presa pelo fio elétrico ao caibro do telhado, piscava em interlúdios intermitentes. Dois metros além, Furiosus, Iratus e entre eles, Lucius, no mesmo caibro, observavam atentos aos movimentos da parteira no quarto. Os lençóis ensopados de sangue misturado ao líquido amniótico significava que o rebento veio à luz, porém, a parteira não o encontrou. Ao examinar a mãe procurando a pulsação em seu pescoço com os dedos, ela percebeu marcas. Sem pulsação no pescoço e pulsos, o corpo frio e rígido, a pele leitosa com manchas arroxeadas eram provas suficientes da sua morte; contudo, ela não conseguia compreender o porquê do recém-nascido não estar ali, pois o parto havia sido feito. Ou então, pensou, era ela que não conseguia enxergar devido o defeito na lâmpada.

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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Apocalipse 2012 - Página 3

Vamos celebrar a aberração/De toda a nossa falta/De bom senso/Nosso descaso por educação/Vamos celebrar o horror/De tudo isto/Com festa, velório e caixão/Tá tudo morto e enterrado agora - Legião Urbana.

   A mulher parecia uma peça de coxão mole amarrada por panos, tendo duas maminhas como seios coladas na frente, dois cupins colados atrás como bunda. As suas carnes balançavam de acordo com os seus passos. Não percebia o perigo que estava correndo. O anjo celestial Hesediel, com a força do pensamento, penetrou na sua alma, percebeu que todos os seus desejos eram movidos pela concupiscência, e então levantou voo. Distou tanto dela que não percebeu Iratus a possuindo, primeiro o corpo, depois a alma. Após ter a sua alma consumida pelo anjo Shaitan, os ossos da mulher estavam inertes no chão envolvidos pelos pruídos dos panos devido o frenesi sexual dos dois.

   Hesediel pousou no prédio mais alto da cidade, equilibrou-se na torre para não cair, pois o prédio estava em ruínas, percorreu os olhos pela cidade e viu fumaça fumegando pela chaminé de uma das casas brancas com portas amarelas. Apurou bem os olhos e viu uma pequena cruz pintada na chaminé. Sem perder tempo, ele abriu as asas e levantou voo em direção à casa. Aproximando-se da janela, ele fechou as asas e plainou com as pequenas asas dos pés. Hesediel foi acometido por uma felicidade inaudita ao ver um recém-nascido, e de acordo com o que via a sua felicidade transbordou em lágrimas. Ele viu o Livro dos dias em cima da escrivaninha, acima dela uma cruz cristã e no colo da mãe, pasmem, o último exemplar conhecido do Livro Sagrado com todas as suas escrituras. A mãe lia para o recém-nascido uma das escrituras, falando sobre a vida Daquele que derramou o último sangue puro para a salvação da Atual Geração. Em vão? Essa pergunta Hesediel não fez a si, mas aventou-a no pensamento.

   Ainda em êxtase devido à cena vista, a saber, a reunião familiar e a leitura das escrituras do Livro Sagrado, tão incomum hoje em dia, Hesediel não hesitou, aquela família era a que mais se aproximava do sangue puro, então, incrustou todas as asas na sua pele ao pensar na forma humana, se condicionou à invisibilidade e entrou na casa. Iratus, assistindo a tudo, levantou voo, entrou pela chaminé, se condicionou a invisibilidade, também, e se escondeu entre as labaredas.

   Hesediel se encaminhou para aonde a família estava reunida, retirou a pena com ponta de ouro e distraído por uma brasa que rolou da lareira, não percebeu Iratus espargir no recém-nascido o pó do sono e em seguida injetar o plasma do Senhor das Trevas. Após apagar o incêndio que se precipitava no carpete, Hesediel voltou-se para o recém-nascido e enfiou a pena na sola do seu pé, retirou o sangue necessário, o guardou na ampola e injetou o plasma dos deuses para purificá-lo e protegê-lo de qualquer ataque dos anjos Shaitans, afinal ele seria necessário para a disseminação da Nova Geração. Iratus, para não ser percebido se escondeu mais ainda entre as labaredas e não percebeu quando Hesediel injetou o plasma dos deuses no recém-nascido. Com o processo de purificação, o sangue do recém-nascido perdeu o genótipo humano, em suas veias corriam o sangue plasmado dos deuses. Hesediel foi até a porta, abriu-a e com a mesma pena retirou um pouco do seu próprio sangue e a marcou pelo lado de fora desenhando uma estrela com uma cruz no centro. Assim a família estaria protegida até a sua volta com Ariadna. Neste momento Iratus sai de entre as labaredas e assisti todos os movimentos de Hesediel atenciosamente. Hesediel voltou os olhos para a sala e percebeu que o recém-nascido, sorrindo, não tirava os olhos dele. Iratus, entre as labaredas também não. Hesediel foi até o bebê, beijou-lhe o rosto e saiu. Iratus saiu do seu esconderijo, perscrutou o ambiente e teve um mau presságio, pensou em destruir tudo ceifando a vida de todos, só não fez isso por que precisava da autorização de Furiosus. Partiu para comunicá-lo o ocorrido.

   O céu permanecia encoberto com o manto negro, anjos Shaitan retirava a vida de pessoas e animais aleatoriamente. Todos caíam diante da espada Daemo sem reagir, alguns oravam pedindo salvação aos céus, outros corriam desesperados tentando achar uma rota de fuga impossível. Mas não haveria salvação para ninguém, antes de os deuses abandoná-los, foram eles que abandonaram os deuses, selando a própria sorte. Hesediel, sabendo do destino da Atual Geração, abriu o recipiente Lux, ativou a espada Divus, acionou o botão Dio e a apontou para o céu levantando voo. Alguns anjos Shaitan resolveram enfrentá-lo, mas não tiveram muita sorte, pois estavam lutando contra o anjo da morte, desprovido de qualquer dó. Todos sucumbiram diante da espada de Hesediel virando pó, os seus espíritos capturados pelo recipiente Lux sofreram um processo de purgação das forças negativas e foram enviados para a região Esperanthus. Os outros anjos Shaitans, desprovidos de coragem, desistiu da luta abrindo passagem para Hesediel. O céu se apresentou azul e iluminado, Hesediel estava em casa.


   Iratus relatou a Furiosus o que Hesediel fizera na casa azul de portas amarelas, detalhadamente, somente não lhe contou o que ele próprio fizera. Furiosus gargalhou e disse: "Ele desenhou uma estrela com uma cruz para proteger a família? Esse anjo é muito tolo". Então, ele colocou a pena arrancada da asa de Hesediel, quando estava na forma animal gato, no seu estojo, sabendo que ela lhe seria útil. Furiosus enfiou a pena de sua asa no buraco do pescoço da grávida aberto anteriormente retirando todo o seu sangue e o colocou, juntamente com o plasma do Senhor das Trevas, no corno do mesmo. Com o corno em mãos, Iratus armou o caldeirão Diabolus, colocou o mesmo no compartimento Bio do caldeirão, acionou o sistema vibratório enfiando a espada Daemo na abertura apropriada. O caldeirão girou elipticamente da esquerda para a direita e em intervalos intermitente fez o giro ao contrário. Ao término do ciclo, Furiosus retirou do corno um líquido viscoso e enegrecido acondicionando-o numa seringa, retirou a ponta da sua asa e a acoplou na mesma. Então, Iratus colocou a sua asa direita sobre a barriga da grávida tornando o feto visível para que Furiosus enfiasse a agulha no cordão umbilical inserindo todo o líquido da seringa. O feto sofreu um choque e trêmulo abriu os olhos, a escuridão se faria à luz. Com as duas asas postas uma ao lado da outra, Furiosus recebeu o recém-nascido, pegou a espada Daemo acionando-a e cortou o cordão umbilical cauterizando-o. A mãe deu o seu último suspiro de vida pronunciando o nome do seu filho, Lucius. O filho do Senhor das Trevas havia nascido, a besta estava entre nós. Furiosus, Iratus e Lucius se esconderam na penumbra do quarto pendurados no caibro de cabeça para baixo esperando o pai de Lucius, pois ele precisava de sangue humano para a sua maturação. E o pai traria, pois o seu sangue só se usaria em caso extremo.
 
Continua domingo às 12hs00min
 
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